Antonio Gramsci (1891-1937)
Ana Paula Lopes Ferreira
Ao longo deste ensaio discutiremos o conceito de hegemonia a partir da concepção de Antonio Gramsci, com o objetivo de mostrar brevemente como esse conceito pode definir as relações no âmbito interno dos Estados.
Para chegar a definição de hegemonia, tal como conhecemos hoje, o estudioso reformulou a definição do poder de Maquiavel, além de ter influência direta das ideias que circulavam nos debates da Terceira Internacional no início do século XX.
Gramsci, assim como Maquiavel, procurava entender os acontecimentos políticos e culturais da Itália. Enquanto Maquiavel se ocupava com problemas como a unificação dos territórios que um dia passariam a ser a Itália atual, Gramsci procurou entender a sociedade capitalista, além de buscar um fim para o fascismo italiano presente nas décadas de 1920 e 1930. O conceito originalmente foi desenvolvido pra explicar as relações de classe no âmbito interno do Estado italiano fascista, que era então o objeto de estudo do filósofo em sua época.
Gramsci parte da definição maquiavélica de poder, para construir a definição de hegemonia. O “poder” para Maquiavel era ilustrado com a imagem de um centauro, um ser mitológico metade homem, metade animal, que metaforicamente representa a combinação necessária de consenso e coerção, ou seja, uma dicotomia de poder implicada no uso da força ou ameaça do uso da mesma e na liderança moral e intelectual. Enquanto o consenso prevalecer sobre a coerção, a hegemonia será mantida, caso contrário será apenas dominação pelo uso da força.
Segundo Gramsci, a supremacia de um grupo social em relação a outros se manifesta de dois modos: a liderança intelectual e moral, por meio de ideologias, cultura e preceitos morais, ou por meio da coerção.
A liderança intelectual e moral seria o poder de um grupo fazer com que os outros aceitem e acatem suas decisões, fazendo com que seus interesses sejam os interesses de todos. A classe dominante só consegue ser aceita como legítima pelas classes subordinadas porque sustenta sua hegemonia apoiando-se no consenso que alcança através de meios ideológicos, como a “difusão” da sua cultura e de seus valores. Ou seja, através do soft power.
O Estado também é composto por estruturas políticas da sociedade civil, como igrejas, sistema educacional e imprensa, que ajudam a criar comportamentos e expectativas na sociedade civil coerentes com a ordem social hegemônica vigente (COX, p.104). Esse conceito de liderança intelectual vem da ideia de superestrutura de Marx, que é composta pelos elementos da consciência, e possui a responsabilidade de conferir legitimidade, no plano das ideias, para legitimar os interesses da classe dominante.
Já o segundo modo, o aspecto coercitivo pode ser uma forma de mostrar a supremacia de um determinado grupo ou classe social sobre os demais. Mas quando há necessidade do uso da violência, ou seja, da coerção, é porque o consenso não prevalece, ou seja, não há hegemonia e assim há a dominação pura e simples.
Para Gramsci, a hegemonia é um sistema de alianças entre vários grupos ou classes sociais, onde o grupo ou classe dominante exerce o seu poder devido a sua capacidade de transformar os interesses particulares em interesses de todos. O “exercício” do poder hegemônico no âmbito nacional ocorre quando um grupo dominante controla a máquina estatal e seus meios de produção, do mesmo modo como monopoliza o uso legítimo da força, além de liderar e influenciar a sociedade civil.
Por fim, a visão de hegemonia de Gramsci é algo que vai além de dominação pura e simples, constitui algo mais complexo e abrangente, é uma liderança legitimada por aparatos ideológicos usados por determinados grupos sociais em relação a outros grupos.
Ana Paula Lopes Ferreira é acadêmica do 7º período do Curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Curitiba.
Bibliografia:
Cox, Robert W. Gramsci, Hegemonia e Relações Internacionais: Um ensaio sobre o método In: Gill, Stephen (org) Gramsci, materialismo histórico e relações internacionais, Rio de Janeiro, Ed. UFRJ, 2007.
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