Juliano da Silva Cortinhas
O agravamento da crise financeira mundial, decorrente da redução da nota da dívida dos EUA pela agência Standard & Poor’s, ganhou as manchetes mundiais. Com o anúncio da decisão, as bolsas de valores de todo o mundo despencaram e os efeitos para as principais economias do sistema internacional são preocupantes. Porém, apesar do foco principal dos analistas estar nos possíveis efeitos da crise, as perguntas mais relevantes que devem ser feitas não se referem, somente, a que consequências a crise pode produzir, mas às suas razões e origens. Somente sabendo como a crise surgiu e se agravou nos últimos dias será possível encontrar soluções mais duradouras para seus efeitos.
Em primeiro lugar, é importante esclarecer que a crise que se observa é consequência de más políticas econômicas adotadas ao longo das últimas décadas, quando os países desenvolvidos passaram a privilegiar os interesses de investidores, provocando uma flexibilização cada vez maior dos mercados financeiros ao redor do mundo. Como consequência, surgiram crises profundas, como a provocada pela falência de empresas como a Enron, no início dos anos 2000, e a desencadeada a partir da quebra do Banco Lehman Brothers, em 2008. A emissão de títulos subprime nos EUA, por exemplo, está relacionada a esse processo de desregulamentação do sistema financeiro internacional. Com menos regras sendo impostas aos investidores, maiores suas possibilidade de ganhos.
Também decorrente desse processo de desregulamentação é a atual crise orçamentária dos Estados Unidos, que têm um déficit tão grande que há um temor de que mesmo a maior economia do mundo não consiga pagar suas dívidas, o que levou à redução do rating de longo prazo do país.
Novamente, o rebaixamento não causou o choque de confiança que afetou os mercados mundiais, mas é consequência de más gestões econômicas, que agora se somam a uma crise política profunda. O diferencial do momento, que levou à decisão da agência, é a demonstração dada pelo governo estadunidense de sua incapacidade de gerenciar a economia do país, devido à total ausência de consenso entre os partidos. Poucas vezes na história dos Estados Unidos, observou-se um nível tão alto de divergência entre Democratas e Republicanos.
A crise, portanto, não é somente econômica (qualquer analista internacional poderia prever que o momento em que o Congresso precisaria aumentar o limite do déficit estava chegando). A partir dos debates observados nas últimas semanas ficou claro que a crise atual é também política, o que torna o problema muito mais grave, pois o governo estadunidense não tem as ferramentas para solucionar os problemas econômicos do país.
Desde o início dos anos 70, a partir da renúncia de Nixon e, principalmente, com o fim da Guerra Fria, decisões tomadas em consenso pelos dois partidos (chamadas de bipartidárias pelos analistas políticos dos EUA) se tornaram cada vez mais raras. Em poucas ocasiões, porém, as divisões entre Republicanos (que querem diminuir o tamanho do Estado e reduzir a cobrança de tributos para grandes empresas) e Democratas (que entendem que não pode haver uma redução dos gastos estatais, a não ser na Defesa, e entendem que há a necessidade de aumento da carga tributária) foram tão profundas.
Apesar da pouca importância que a decisão da Standard & Poor’s tem em termos reais, os mercados financeiros, que trabalham com especulação, também percebem a gravidade da crise e, por isso, a queda generalizada nas bolsas ao redor do mundo. A crise tende a se estender por muitos anos, não só pelos números desastrosos apresentados pela economia dos EUA, mas, principalmente, pela falta de capacidade do governo daquele país de encontrar soluções de curto, médio e longo prazo. O deadlock político instalado em Washington tende a se aprofundar ainda mais.
Quanto ao Brasil, aparentemente, os anos de maior regulação dos mercados nacionais nos protegeram da crise especulativa. Apesar de todos os países do mundo serem sensíveis à crise, parecemos, até o momento, menos vulneráveis a ela.
Juliano da Silva Cortinhas é professor licenciado do UNICURITIBA e professor visitante na University of Delaware.
Artigo originalmente publicado no Jornal Gazeta do Povo, em 14 de agosto de 2011.
É verdade e de fato que a crise nos USA não é só econômica e sim política também,muito comum nos sistemas de democracias modernas,mas ai entra em cena o jogo de cintura do governante,a capacidade de alianças políticas nas câmaras,que me parece que o legislativo americano está praticamente dividido com relação as ações do governo Obama,por outro lado Obama foi eleito a base de muitas promessas ao povo americano,e que até agora não surtiu efeito,primeiro não tirou o país da crise e tampouco cortou gastos públicos suficiente para amenizar a crise,continuou alimentando as guerras do Bush,o desemprego continua em alta,as barreiras comercias não amenizou nem um pouco e demais outros ítens de importância,que o mesmo teria que ter visto com bons olhos,sei que isto foi muito complicado,no momento que ele recebeu o país,praticamente quebrado da era Bush,mas foi uma forma como os americanos depositaram esta confiança no então Obama,pois já estavam cansados da política do governo anterior,que praticamente tinha deixado a nação estagnada no que diz respeito a economia e desenvolvimento do país. A desconfiança e a perda de credibilidade dos investidores,e das outras nações que possuem títulos do tesouro americano,é sem dúvidas uma posição de proteção e cautela,diante de uma crise extrema desta natureza,pois ninguém quer sair perdendo nestes momentos de nervosismos financeiros,apesar que não tem como não sair com perdas,pois estamos diante de uma economia mundial globalizada,como se fosse uma engrenagem,onde quebrando um dente desta engrenagem praticamente trava todo o movimento circular,provocando assim distúrbios econômicos em todo o mundo. Neste momento de dólar desvalorizado vem outra questão àtona,os títulos americanos e o comércio internacional em si,são os mais prejudicados,com esta desvalorização do dólar,são perdas irreparáveis e que diga a China que deu uma espécie de últimato aos EUA para que os mesmos criassem uma moeda com maior valorização frente ao dólar,pois neste momento para os chineses o dólar não é mais a moeda ideal e confiável para manter comércio internacional com os americanos,e justamente eles que detêm a maior parte dos títulos americanos. Fica uma questão no ar e o futuro do Obama como será pós crise? ele como primeiro presidente negro dos EUA,teria ao meu entender feito um governo voltado para dentro do país,mantendo ideais de crescimento econômico,driblando de alguma forma a crise do país,com políticas agressivas,e também a sustentação do status de potência perante o mundo.
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