sábado, 13 de agosto de 2011

Brasil discorda dos EUA sobre saída de Assad


Publicado em 11/08/2011 na Gazeta do Povo

George Sturaro, professor de Relações Internacionais do Centro Universitário Curitiba (Unicuritiba).

As tentativas de negociação que Índia, Brasil e África do Sul (grupo denominado Ibas) vêm tentando fazer com o governo sírio são apresentadas como um esforço para conter a violência no país, mas também têm sido criticadas pelas grandes potências por serem muito concessivas. George Sturaro, professor de Relações Internacionais do Centro Universitário Curitiba (Unicuritiba) concedeu entrevista por e-mail à Gazeta do Povo sobre essas negociações diplomáticas.
O tipo de negociação dos Ibas com Bashar al-Assad é o procedimento-padrão na diplomacia? Insistir tanto na conversa em vez de aplicar sanções?

Esse tem sido o procedimento- padrão da diplomacia brasileira.
No Ministério Relações Exteriores, prevalece o entendimento de que sanções são uma faca de dois gumes. Ao isolar o país-alvo, as sanções políticas podem dificultar futuras negociações, além de servir de pretexto para a radicalização. Já as sanções econômicas podem afetar mais as populações que os governos.

Essa negociação não dá margem para o governo sírio ganhar tempo e insistir no regime autoritário?

Sim, dá tempo para o governo sírio recuperar-se, mas também para rever suas posições. Lembremos que o presidente Assad reconheceu que a repressão aos protestos foi desproporcional. Ademais, algumas das reivindicações dos manifestantes, como a ampliação da participação política, foram de fato incluídas na agenda do governo sírio.

Enquanto as grandes potências já falam na renúncia de Bashar al-Assad, porque o grupo Ibas insiste em uma negociação moderada? Há interesse econômico?

Não há interesse econômico. Representantes do Ibas foram à Damasco em busca de “capital político”. Índia, Brasil e África do Sul reivindicam um lugar entre os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU. Para sustentar essa reivindicação, eles têm de mostrar serviço, isso é, eles têm de mostrar que são relevantes para a segurança internacional.
Joana Neitsch


O chanceler brasileiro, Antonio Patriota, questionou ontem a avaliação dos Estados Unidos de que a Síria estaria melhor com a saída do ditador Bashar Assad do comando do país.
Ontem, representantes dos países do Ibas (Brasil, Índia e Áfri­­ca do Sul) tiveram um encontro em Damasco com Assad e seu chanceler, Walid Muallem, e re­­forçaram a mensagem da de­­cla­­ração do Conselho de Seguran­­ça da ONU condenando a violência praticada por “todos os lados”.
“Tem que ter um pouco de prudência também na aplicação do remédio, pra que o remédio não mate o paciente. Tem que ser um remédio na dose certa”, afirmou Patriota sobre a saída de Assad. Na avaliação do chanceler, “alternativas ao governo atual podem ser até mais problemáticas”.
“O que você faz? Tira o Bashar Assad e quem assume? O Exér­­cito? Outras forças que podem ser mais radicais, forças mais progressistas? Como é que [elas] conseguem implementar um plano de reforma?”, questionou o mi­­nistro.
Apesar da expectativa de que a violência cesse no país, o chanceler brasileiro reconheceu a necessidade de a Síria manifestar “por fatos, não só com palavras” os compromissos assumidos.
“O padrão de comportamento [do regime sírio] nas últimas se­­manas recomenda um grau de ceticismo”, afirmou.
A missão do Ibas segue agora para a Turquia, onde a situação na Síria será mais uma vez discutida.
O chanceler turco, Ahmet Da­­vutoglu, esteve recentemente com o ditador sírio e reforçou pedidos como maior acesso de jornalistas ao país e eleições presidenciais no próximo ano.
O Brasil está sendo representado pelo embaixador Paulo Cor­­deiro, subsecretário-geral para Oriente Médio do Itamaraty.

Um comentário:

  1. Realmente estou de acordo com a tese do MRE em algum ponto,não que eu esteja totalmente a favor da forma que ele expressou,porque sei também que tem muito interesse político envolvido,nesta decisão do ministro das relações exteriores do Brasil o Antônio Patriota,é o caso da cadeira permanente do conselho de segurança da ONU,citado pelo entrevistado. Não se pode destituir um governo sem ter um outro pré-estabelecido ou uma junta política capaz de conter os revoltosos e instalar a paz entre os mesmos,observando suas reivindicações dentro da sociedade local,colocar qualquer pessoa no momento de que se passa uma revolução,na posição de chefe de estado não é a forma correta de ser resolvida todo este embaraço político-social,porque se assim for feito poderá ocorrer uma guerra civil entre os grupos étnicos,muito comum no pós-revolução,e isto tem que ser tratado com muita cautela pelas partes envolvidas,a não ser que o regime ditadorial esteja cometendo um genocídio com a sua população,que se revolta contra o seu regime ai sim,este mandatário tem que ser destituído o mais rápido possível e o mesmo ser julgado em um tribunal internacional pelos crimes de genocídio,ao meu ver a medida correta a ser tomada tanto pela ONU,como pela Comunidade Internacional seria a realização de eleições presidenciais a curto prazo,mas isto com uma decisão tomada em assembleia de todo o complexo diplomático do estado,e dos acordos firmados entre as partes envolvidas,para não parecer um golpe de estado. A questão das sanções econômicas providas pela ONU,como o próprio entrevistado falou afeta muito mais a população do que os governos,é apenas uma multa leve que mais adverte do que pune os culpados e isto na minha concepção alimenta ainda mais a impunidade do regime ditadorial,colocando em xeque a paz mundial.

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