terça-feira, 19 de abril de 2011

Os novos donos da bola

Danilo Almeida

Eximidas as justas exceções, nunca foi tarefa das mais fáceis encontrar um espaço público de discussões aprofundadas e avalizadas sobre a agenda internacional, onde a pluralidade predominasse sobre o discurso único e o contraditório sobrepujasse as verdades estabelecidas. De outro lado, a construção deste espaço também sempre foi tarefa desafiadora: a distância cultural em relação a alguns acontecimentos e a falta de instrumental adequado para a interpretação dos fatos se somavam a restrições de tempo e espaço – além de outras, como aquelas impostas por interesse.
Não à toa, contudo, a maioria dos verbos acima está conjugada no passado. Ainda que pesem algumas dificuldades, a internet e suas redes sociais têm se mostrado definitivas quanto à capacidade de construção de territórios de maior legitimidade, pertinência, eficácia e participação. No que concerne à reflexão a respeito das relações internacionais, não é diferente.
É um fruto do momento de transformação pelo qual passa a comunicação social em si. Foi-se o tempo em que o interesse do emissor da mensagem prevalecia sobre a audiência. Não que a passividade predominasse nos receptores (e isso a chamada “teoria dos estudos culturais” mostrou muito bem), mas a posse dos meios, até então escassos, criou relações desiguais.
Deste modo, o acesso a um serviço de caráter público acabou distante, limitado. Por mais estimulada que estivesse, a audiência dispunha de poucos recursos para expressar sua opinião ou sua discordância – enfim, sua ideia. A sensação de se sentir representada nem sempre era satisfeita.
A internet, então, se disseminou, e as relações se alteraram: a audiência hoje não apenas se faz valer como também influencia o emissor da mensagem. Virou uma teia de lógica caótica, um processo irreversível no qual a “bola” não está mais apenas nas mãos de uma pessoa – geralmente, do dono dela, que agora não é uma figura assim tão essencial como em outrora.
É vez de se fazer representar, de se expressar e de ser ouvido. A proliferação das redes sociais e dos blogs evidencia esse momento. Mais do que isso, ilustra a distribuição do poder de comunicação, o que permite a pluralidade de seus efeitos. Acima de tudo, alavanca a mobilização da sociedade.
Por isso tudo, vida longa ao Internacionalize-se!


Danilo Almeida é jornalista especialista em Jornalismo Internacional pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)

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