Por Amanda Souza e Phietra Laidens*
Carolina Larriera é economista argentina, formada por Harvard, que trabalhou nas
Nações Unidas por um longo período, ingressando inicialmente como estagiária e em
seguida designada para o Timor-Leste para atuar na pacificação do país, trabalhando em
um projeto de concessão de microcrédito. Durante esse período, conheceu Sérgio Vieira de
Mello, seu companheiro e o qual se refere até hoje como grande amor da sua vida. Em
2003, contra suas vontades, seguiram para o Iraque, para uma operação de paz perigosa,
dado o contexto pós-2001. O objetivo da operação era a queda do ditador Saddam Hussein
e a instauração da democracia no país. Contudo, em agosto a sede das Nações Unidas,
situada em um hotel na cidade de Bagdá, foi alvo de um atentado, de autoria da Al Qaeda,
resultando em 200 feridos, 22 mortos, sendo um deles Sérgio de Mello.
Carolina seguiu para a missão no Iraque a pedidos de Sérgio, pois mantinham uma
união e naquele mesmo ano estavam se preparando para oficializar seu relacionamento em
um casamento. Desde o atentado, Carolina relata a negligência advinda da ONU, uma
Organização Internacional de renome a qual se dedicou por tantos anos de trabalho. Ela
conta que no mesmo dia em que Sérgio veio a óbito, foi evacuada de Bagdá, esperando
acompanhar o corpo de Sérgio até o Rio de Janeiro, cidade natal do diplomata e onde onde
sua família morava. Contudo, eles foram separados, Carolina teve que pegar diversos voos
e teve suas bagagens extraviadas, chegando ao Brasil somente ao final das despedidas,
quando logo o corpo seguiu para a Suíça para ser enterrado contra a vontade de Carolina e
da mãe do diplomata, Gilda.
O corpo de Sérgio foi enviado à Suíça pois a ONU reconheceu como atual cônjuge
do diplomata sua ex-esposa, visto que o processo de separação entre eles não se havia
findado. Por conta disso, Carolina, que era a atual companheira de Sérgio, não foi assumida
como tal, mesmo vivendo um relacionamento aos olhos da ONU, acompanhando sempre o
diplomata em eventos oficiais.
Desde 2003, Carolina reside na cidade do Rio de Janeiro, com Gilda (que infelizmente faleceu este ano aos 103 anos), com quem
criou junto, no ano de 2008, o Centro Sérgio Vieira de Mello, onde mantiveram a história de
Sérgio viva, perpetuando seu legado e o fazendo presente até hoje. O Centro tem como
objetivo democratizar o ensino da diplomacia para os jovens sem acesso, como
desenvoltura da oratória, etiqueta, ensino sobre negociações e resoluções de problemas.
No dia 20 de outubro deste ano, a Cátedra Sérgio Vieira de Mello do Centro
Universitário Curitiba teve a honra de receber Carolina para uma conversa sobre sua
trajetória e do Sérgio nas Nações Unidas. A exposição foi um momento especial para todos
os presentes no evento, pois Carolina é nitidamente a história viva de vários fatos recentes.
Muito mais do que ver Carolina continuar o legado de Sérgio, tivemos a oportunidade de
conhecê-la além do que livros, filmes e documentários contam, um ser humano humilde,
acessível, compreensivo e com disposição de mudar o mundo. Com certeza, depois desse
momento, todos que ouviram as palavras de apoio que ela transmitiu, saíram inspirados a
continuar com a chama para mudar o mundo acesa.
ZAIDAN, Patrícia. Carolina Larriera quebra o silêncio após 14 anos de injustiças. Cláudia,
2020. Disponível em: <https://claudia.abril.com.br/noticias/carolina-larriera/>
LARRIERA, Carolina. Twitter. Disponível em:
<https://twitter.com/harvardchick/status/1255674117656805381>.
*Amanda e Phietra são acadêmicas do curso de Relações Internacionais do UniCuritiba e fazem parte da CSVM - UniCuritiba.
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