terça-feira, 2 de maio de 2017

Teoria das Relações Internacionais: Sobre o Realismo Ofensivo de John Mearsheimer

Artigo apresentado na disciplina de Teoria das Relações Internacionais 1, do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba, ministrado pela professora Dra Janiffer Zarpelon.



Katlen Carvalho da Silva 

     O realismo ofensivo de Mearsheimer é uma variável do realismo político e tem como a sua lei máxima a sobrevivência do Estado, que é o ator mais importante do Sistema Internacional. Essa teoria é uma abordagem estrutural que crê ser imutável a anarquia internacional. Para Mearsheimer os Estados nunca estariam satisfeitos com o poder que possuem e sempre iriam em busca de maximizar seu poder, procurando alcançar a hegemonia que seria a chave para manter a segurança e garantir a sobrevivência. Os Estados, para defender seus interesses nacionais, agem de forma agressiva no sistema anárquico internacional. E tendem sempre a ampliar suas capacidades militares e o seu poder. Este é dividido em dois: o poder concreto e o poder potencial. O autor também defende, como os outros realistas, a balança de poder e cria um conceito fundamental para a teoria: o poder parador da água.
Na teoria realista, o autor diz que os Estados são atores racionais e assim sendo sabem que outro Estado pode ter mais poder do que ele porque os outros também visam a maximização do poder. Uns têm capacidade militar ofensiva maior do que a de outros. Esses comportamentos e poderios geram temor no cenário internacional, pela questão de defesa, segurança e sobrevivência, por causa disso os Estados se auto ajudam para garantir os fatores que Mearsheimer indica como fundamentais.
O poder é divido pelo autor em dois: o poder concreto e o potencial. O primeiro se dá pelas forças armadas e território. Já o segundo é pelo contexto econômico e populacional. É o poder potencial que caracteriza o concreto, pois é através da economia, da influência, riqueza de um Estado e número populacional que a parte militar se fortalece, já que sem dinheiro não há como investir na indústria bélica e sem população não há trabalhadores para estimular a economia e defender o país na busca pela sobrevivência. Por isso, fatores como tecnologia, economia, matéria-prima são considerados importantes.
 Para o realista a hegemonia é um ponto importante porque quanto mais forte é um Estado, mais segura será a unidade estatal. O dilema de segurança também é um ponto importante para ele, pois quando um Estado se arma para se defender, os outros entendem este movimento como uma tomada ofensiva. Então, o outro Estado também se armará, afim de garantir sua sobrevivência. O equilíbrio de poder instaura a chamada “paz armada”, na qual a sensação da paz (ou “ausência de conflitos”) é garantida por meio do poder bélico.
            Sobre a questão de segurança, defesa e sobrevivência Mearsheimer cria o conceito de “poder parador da água”, em que a maior dificuldade estratégica que os países enfrentam são os oceanos pela ausência da manutenção dos custos militares. Já que não é somente como no fator terrestre que se pode, relativamente, controlar os fatores e estipular custos e estratégias “facilmente”. Nos oceanos há vários fatores como locomoção, tempo, custos que podem impedir conflitos entre potências em regiões separadas, pois a distância enfraquece as capacidades, embora faça com que os conflitos regionais ocorram normalmente.
            Mearsheimer também defende a questão da balança de poder regional, pelo poder parador da água porque é difícil, exatamente pelos motivos citados acima que uma balança de poder mundial ocorra sem que as regionais estejam equilibradas. Nos equilíbrios regionais há hegemonias que surgem por esforços externos, pela necessidade de se sobrepor dos outros Estados para garantir a sua sobrevivência nacional. Para que essas hegemonias regionais ocorram é necessário que haja uma competição entre as hegemonias e dessa competição uma delas se sobreponha, e essa será a de maior poder. Depois de resolvida, a hegemona fará o que puder para evitar o aparecimento de outra hegemonia na região, que possa a desbancar de seu posto.
            O autor dá vários exemplos de hegemonas regionais, na balança de poder multipolar temos: na América do Sul (Brasil, Argentina e Colômbia), na América do Norte (EUA), na Europa Ocidental (Alemanha, França e Reino Unido), na Eurásia (China, Rússia e Índia), Oriente Médio (Arábia Saudita, Israel e Irã). Basicamente são as maiores potências existentes. Porém, o autor abre a questão das alianças entre potências extra regionais, uma potência da Eurásia pode fazer uma aliança com outra potência da América do Sul, sem que haja um comprometimento em relação a balança de poder mundial, por causa do poder parador da água. Em caso de conflitos é bem improvável que uma potência fora da balança regional irá ajudar sua aliada a não ser que seja realmente benéfico para ela.
            O autor também fala sobre os tipos de balança de poder geral. A balança de poder bipolar, em que há duas hegemonias mundiais competindo entre elas e se equilibrando mutuamente no Sistema Internacional, evitando conflitos e gerando uma certa “paz”. A balança multipolaridade equilibrada, que é quando não há um hegemona global em potencial e não há Estado que possa se sobrepor as forças mais equilibradas. E por fim a balança multipolaridade desequilibrada em que há alguém que se sobrepõe dos demais e é um hegemona em potencial no meio de várias outras potências.
            Mearsheimer então expõe três estratégias para garantir a sobrevivência do Estado-Nação no Sistema Internacional e se tornar um hegemona: aumentar o poder, conter o agressor e enfraquecer os Estados-Nações. Primeiro para aumentar o poder há quatro formas:  por meio da guerra, para angariar território e expandir seu poder territorial e de influência; pelo incitamento oportunista, que se dá por “baixo dos panos’, quando uma potência influência outra a entrar em guerra com alguém, e não é visível como fez Otto Von Bismark no processo de formação da Alemanha, fazendo acordos com um Estado para entrar em guerra com outro por benefícios e fazendo acordos com o outro para entrar em guerra com o primeiro negociado, sem saber das negociações prévias; por meio da sangria, que nada mais é do que gerar conflitos indiretamente porém visivelmente, como por exemplo EUA e Afeganistão, EUA e Iraque; e finalmente pela chantagem, chamada de diplomacia suja nos termos de Thomas Schelling.
            O segundo ponto de conter o agressor pode ocorrer por dois meios, pela balança de poder ou pela transferência de custos. Pela balança de poder é como o nome já diz pelo equilíbrio com as outras potências, um bom exemplo disso é EUA e URSS durante a Guerra Fria, onde equiparavam seus poderios militares e tecnológicos, pelo menos até que um deles se sobrepusesse. Já a transferência de custos funciona diferente, pois geralmente ocorre quando uma potência menor pede auxílio a uma maior em prol de algum benefício para ela. Por exemplo, o Brasil necessita defender a Amazônia de uma invasão da Colômbia, porém a Colômbia supera ele em poderio militar e o Brasil não teria como bancar um conflito. Ele então recorre aos Estados Unidos para que eles defendam a Amazônia pelo Brasil, em troca de benefícios futuros dos EUA em relação ao Brasil.
            O último item é o enfraquecimento dos Estados, que pode se dar por bandwagoning ou por apaziguamento. O bandwagoning é quando há alianças com países mais poderosos dentro do sistema regional, afim de enfraquecer os possíveis inimigos. Uma aliança entre Brasil e Argentina pode fazer com que outros países do sistema regional temam antes de entrar em conflito com os dois. Já o apaziguamento que é considerado pelo autor algo caracterizador de um Estado fraco, é adotar a política de evitar conflitos, hoje é a Suíça, que é um Estado neutro que não se envolve em disputas e conflitos.
            A tese de Mearsheimer ao meu ver é uma tese válida para os dias atuais, pois cada vez mais fica visível os interesses egoístas dos Estados em prol deles mesmos sem muitas vezes se importar com os danos de outros países. O realismo ofensivo hoje é assustadoramente utilizado para ganho de poder perante os outros países. Hoje se vê uma balança unimultipolar no qual os EUA são a potência hegemona em potencial, mas que é “contido” por outras potências.
            Considerando que o realismo ofensivo de John Mearsheimer é uma versão do realismo estrutural de Kenneth Waltz, a política internacional é a política das Grandes Potências, por isso que a questão da maximização do poder relativo dos Estados é fundamental para Mearsheimer, lembrando que o Estado é o único ator do SI. As cinco premissas do pensamento do autor hoje em dia são muito utilizadas.
  1. O Sistema Internacional é anárquico;
  2. Não existe uma autoridade central além dos Estados, logo, as unidades nacionais são independentes e soberanas;
  3. As potências possuem capacidade militar ofensiva, que lhes permite atingir e possivelmente destruir umas às outras;
  4. Os Estados nunca podem ter certeza sobre as intenções alheias, portanto, a sobrevivência é o objetivo primário dos atores internacionais.
  5.  Os Estados são atores racionais.
Concordo com o autor quando diz que nenhuma potência se contentará com as divisões de poder feitas no sistema porque os Estados são racionais, mas também são egoístas e pensam primeiro em seus interesses para depois pensar nas consequências para o sistema e para o mundo. Podemos ver desde sempre essa tendência de olhar para si e depois para o mundo, questões de sustentabilidade, meio ambiente, sobrevivência humana, doenças, fome, miséria estão em ascendência na sociedade líquida. O autor diz que cálculos de capacidade não determinam o vencedor em uma guerra, nem projeções antecipáveis sobre qualquer grau de certeza significativo acerca do poder relativo dos Estados. Este grau de incerteza, segundo ele, leva as grandes potências a reconhecerem que a melhor maneira de garantir a segurança é assegurando a hegemonia do SI.
Portanto, há o sistema de self-help, de ajuda mutua entre os Estados e cooperações a fim de mudar um pouco o modus operandi como estava. Hoje as discussões sobre as consequências das ações egoístas dos Estados estão tomando cada vez mais centro de discussão, pois por mais que a teoria de John Mearsheimer seja aplicável aos dias de hoje, não significa que é a melhor opção para todos. Considerando a quantidade de guerras que poderiam ter destruído definitivamente a humanidade, do jeito em que as decisões estavam sendo tomadas seria somente uma questão de tempo até que o mundo como conhecemos fosse aniquilado para sempre.

John Mearsheimer nasceu em 1947, Nova York. É professor de Ciência Política e codiretor do Programa sobre Política de Segurança Internacional da Universidade de Chicago, onde leciona desde 1982. Mearsheimer é autor de cinco livros sobre questões de segurança e política internacional, além de possuir dezenas de artigos e capítulos em revistas acadêmicas, livros, jornais, etc. Em 2001, publicou a obra “The Tragedy of Great Power Politics”, no qual abordou uma das vertentes mais relevantes das teorias contemporâneas de Relações Internacionais: o Realismo Ofensivo.

*Katlen Carvalho da Silva: estudante do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba.

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