Alexandre Pereira Santos e a Gabriela Pereira da Cunha
Os anos que tiveram Fernando Henrique Cardoso no governo, seja como Ministro da Fazenda ou como Presidente da República, foram de extrema mudança, uma vez que vínhamos de cinco planos econômicos frustrados e era inequívoca a necessidade de combate à inflação. FHC havia iniciado o Plano Real ainda no governo do presidente Itamar Franco, em que era Ministro da Fazenda, e ao contrário de todos os outros planos que haviam sido implementados, conquistou o seu objetivo, ou seja, diminuiu a inflação, e devolveu o poder de compra para a população.
Os anos que se seguiram foram de grande instabilidade mundial, com crises nos mais diversos países, atentando para duas, a mexicana e a russa. Mesmo com esses complicadores, o governo FHC conseguiu trazer estabilidade e criar instituições que fazem do Brasil hoje um dos líderes da economia internacional e um dos países que lideram o crescimento mundial em um momento de grande instabilidade trazida pela crise europeia.
O maior desafio de FHC ao tentar ‘modernizar’ o Brasil foi privatizar empresas que não possuíam a mesma vitalidade em investimentos de antigamente. Desse modo, empresas como Vale do Rio Doce e o Sistema Telebrás entre outras, foram vendidas ao capital privado e/ou tiveram uma reestruturação que aceitasse os investimentos externos. Porém, no caso da Vale mais precisamente, houve um complicador: os fundos de pensão. Ou seja, mesmo que a iniciativa privada tomasse seu controle, essa empresa ainda possui ligações com o setor público, tornando a política um fator decisivo nas decisões dessas empresas. Eis um dos maiores legados indesejáveis que temos até hoje. Companhias privadas com alta ligação estatal.
As privatizações foram consideradas a solução para dinamizar a economia, pois as estatais eram inchadas e não tinham poder de investimento. Algumas privatizações são contestadas até os dias atuais, mas é inegável o ganho de eficiência trazido por essa medida. Na telefonia, vivíamos em uma época em que alugar uma linha era opção de investimento o que demonstra a falta de linhas em que nos acostumamos a viver, enquanto que atualmente há uma explosão de linhas sendo possível contabilizar mais celulares do que pessoas no Brasil. O mesmo se aplica a Embraer e a Vale do Rio Doce, a primeira possuía bons aviões, mas não conseguia se posicionar globalmente, e a segunda sempre foi uma referência de grandeza das empresas estatais, mas passava por um momento de decadência. Com o capital privado, essas duas companhias se posicionaram e hoje são, cada uma em seu setor, referencias globais em eficiência e qualidade.
Outra marca do governo FHC foram as altas importações de bens, que até aquele momento eram novidade no mercado interno, garantidas pela paridade Real x Dólar. Com essa situação, o brasileiro seja ele pessoa física ou jurídica detinha um poder de compra jamais experimentado, dessa forma modernizaram a indústria nacional com os equipamentos trazidos do exterior. Há nessa época um grande incentivo pra que novas companhias de automóveis migrassem para o Brasil, sendo o caso da Renault, Peugeot entre outras, que aproveitaram essa demanda para se estabelecerem por aqui. Esse foi o maior beneficio da paridade Real x Dólar, o ganho de poder de compra das pessoas e das empresas brasileiras com interesse em bens externos; o problema foi a continuidade dessa política frente à instabilidade internacional que condicionava a manutenção dessa política ao aumento das taxas de juros, fazendo com que um instrumento para conter a inflação, a SELIC, “fosse usada como politica cambial”. Ao seu fim percebe-se a diminuição das reservas internacionais brasileiras e com o fim da chamada Âncora Cambial decretado, o dólar teve sua disparada ao seu preço natural de comércio e finalmente as exportações começariam a voltar a ter um espaço maior.
Os oito anos do governo FHC foram de muita turbulência exterior, o Brasil passava por uma necessidade de se abrir ao mundo depois de uma ditadura muito duradoura e primeiros anos de governo civil não muito bem estruturados. O mundo estava entrando em uma fase jamais vista; após muitos anos, todos os países ‘importantes’ do globo fariam parte do comercio internacional. A Rússia finalmente estaria aberta ao mundo, mas essa abertura veio junto de muitas situações contraditórias levando setores estratégicos desse país, como mineração e petróleo, cair em mãos não muito responsáveis, que por meio de corrupção e influência política ganharam grandes empresas estatais a preços ínfimos. O Japão, após décadas de taxas de crescimento assustadoras passou a ter uma economia desacelerada e na década de 90 vivenciou a sua década perdida. Temos crises na Ásia, com os tigres Asiáticos e no México e até mesmo na Argentina, nossa vizinha.
Citando todos esses fatores externos, o governo FHC conseguiu ainda assim estabilizar o Brasil de forma que pudesse almejar saltos maiores em longo prazo e deu ao nosso estado uma cara nova para discutir com os grandes atores mundiais. Nesse período o Brasil passa a ser não somente um país de grandes ambições, mas também de vontades que poderiam ser alcançadas, e os frutos dessa política econômica e fiscal apresentada pelo FHC começam a serem sentidos no governo seguinte.
Fontes:
Folha de São Paulo
Exame
SILVA, Maria Luiza Falcão, Plano real e Âncora Cambial. Revista de Economia Politica. Brasil,2002
Alexandre Pereira Santos e a Gabriela Pereira da Cunha são estudantes do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba
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