domingo, 30 de outubro de 2011

MERCOSUL: uma crítica construtiva.

Por Carlos-Magno Esteves Vasconcellos

A integração econômica, política, social e cultural dos países latinoamericanos é uma necessidade incontornável para o desenvolvimento dos países da região. A integração a que me refiro tem de se realizar como um processo agregador, incorporador, solidário. Nessa perspectiva, a integração deve ser construída a partir de consensos regionais, nascidos e costurados pela grande massa das populações e trabalhadores dos países nela envolvidos.  A integração dos países latinoamericanos deve, também, servir para fortalecer e efetivar o potencial criativo dos homens e mulheres que aí vivem, assim como fomentar o seu desenvolvimento sócio-econômico e cultural. Unidos e solidários talvez consigamos realizar o sonho de prosperidade social que acalentamos desde nossa “independência política” e que até hoje não alcançamos pelo caminho do individualismo.
Mas essa não é a integração que está em curso no momento. A integração atual, lançada por iniciativa dos presidentes Sarney (Brasil) e Alfonsín (Argentina) nos anos de 1985 e 1986, e selada com a assinatura do Tratado de Assunção de 1991, nasceu – assim como as demais experiências frustradas do passado – como um projeto das elites econômicas e políticas carcomidas de Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. Além disso, como o próprio nome indica (MERCOSUL – Mercado Comum do Sul), trata-se de uma iniciativa meramente econômica, cujo objetivo principal é arrancar as economias da região de uma crise estrutural de grandes proporções que as persegue desde o início da década de 1980. As populações dos países envolvidos estão completamente marginalizadas do “processo integracionista”.
O Brasil, com a maior e mais sofisticada economia da região, é o país mais interessado no avanço e sucesso do processo integracionista tal como vem sendo conduzido há pouco mais de vinte anos. O país vem empenhando grandes esforços financeiros e políticos para sustentar o processo. É, de longe, o país mais ativo e propositivo na construção do Mercosul. Mas as elites econômicas dos demais países integrantes desse projeto também estão engajadas em sua construção, porque é um projeto conservador, e não transformador. Vinte e poucos anos após seus primeiros passos, a integração latinoamericana não conseguiu modificar em nada a posição dos países da região na divisão internacional capitalista do trabalho.
As avaliações sobre a integração latinoamericana são meramente quantitativas. Fala-se muito do aumento do comércio e dos investimentos intra-regionais. O planos e realizações de alargamento e melhoria das infra-estruturas econômicas, principalmente dos sistemas de transporte, também são tidos como uma grande conquista da integração. Mas tudo isso é de inspiração burguesa, projetos cujo objetivo é o revigoramento econômico dos países da região. Projetos que visam dar sustentação ao modelo econômico excludente que prevalece desde sempre na região.  
As populações latinoamericanas não se pensam, não se conversam, não dialogam. Por isso, estão marginalizadas do processo de integração ora em andamento. Quem as dirige são as elites econômicas, autóctones e estrangeiras. Mas essas têm um olhar enviesado, de classe, excludente. Os trabalhadores e suas condições de trabalho e de vida, os jovens e seus sonhos de lazer e cultura, os artistas e os intelectuais inundados de criatividade são pouco relevantes em seus planos.
As relações de produção e a superestrutura da sociedade burguesa contemporânea – sobretudo a democracia burguesa tal como a conhecemos – tornaram-se estreitas demais para responderem aos anseios de desenvolvimento das forças produtivas que ajudaram criar. Elas terão de ceder, mas não cederão pela mecânica do acaso. Da mesma forma que um dia foram erigidas, hoje terão de ser desconstruídas pela ação dos homens e mulheres da região. É esse o grande desafio que se apresenta diante dos povos latinoamericanos, e disso dependerá o futuro de sua integração.        

Carlos-Magno Esteves Vasconcellos é doutor em Economia pela Escola Superior de Economia de Varsóvia, Polônia, professor das disciplinas de Economia Política Internacional e Empresas Transnacionais do Curso de Relações Internacionais do UniCuritiba.

Um comentário:

  1. A integração do ponto de vista econômico e cultural é sem dúvida um avanço muito grande dos países do cone sul, mas com ressalvas devido muitas diferenças de culturas e de economias também, que com o passar dos tempos se houver sucesso nesta integração com certeza estas discrepâncias entre os estados deverá ser reduzida se os mesmos compartilharem entre si os objetivos, metas e regras estabelecidas no tratado. Apesar de tudo esta integração deverá levar anos para que se tenham os primeiros resultados em todos os pontos estratégicos estipulados neste tratado, e ao mesmo tempo é uma questão de sobreviver perante o cenário internacional dos estados, pois é uma tendência do mundo atual esta unificação de economias, moedas, culturas, ordenamentos jurídicos e comércio internacional em tempos de globalização. Por outro lado as crises do sistema capitalista forçam os estados a formar alianças para se protegerem, alianças estas que estão se intensificando em todos os cantos do planeta. É importante ressaltar aqui que o próprio sistema capitalista constrói armadilhas para destruir ele mesmo e se caso os estados não se estruturarem entre si, e formar blocos para “combater” e se “defender” (competitividade), perante os outros, a tendência é ruir as economias dos mesmos, que é a base forte de sustentação das sociedades dos estados e do equilíbrio das camadas sociais da sociedade civil.

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