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terça-feira, 31 de outubro de 2023

Entrevista Patricia Tendolini

Entrevista e transcrição por: Laysa Giovana 


Nome completo: Patrícia Tendolini Oliveira 


Qual é a sua formação acadêmica? 

  

Sou graduada em Economia, pela USP e tenho o meu mestrado em Administração, pela UFPR.  


Ocupação atual: 


Professora e coordenadora dos cursos da área de Gestão e Negócios aqui no Unicuritiba


Pensava em se tornar professora no início da faculdade? 


É claro que não. É uma história bem curiosa, eu entrei para fazer economia e nem passava pela minha cabeça ser professora, e algumas pessoas chegavam a comentar sobre, eu respondi “não, vocês estão loucos”... E fui até trabalhar em banco quando eu estava terminando a faculdade, e ser professora foi bem por acaso, e esse por acaso já faz 23 anos. 


Há quantos anos atua como professora?E no Unicuritiba? 


Eu comecei em 2000 em uma outra faculdade, mas logo no ano seguinte eu já vim para cá, então faz 23 anos que eu sou professora e 22 anos aqui no Unicuritiba.


Como se tornou professora e posteriormente professora no Unicuritiba?


Eu estava fazendo mestrado em Administração na UFPR, e na época eu tinha uma bolsa da Capes, e quem tinha bolsa da Capes não podia trabalhar. Então nos 2 anos que eu fiquei fazendo mestrado eu sobrevivia desse programa de bolsa. Só que a bolsa Capes são 2 anos apenas, então quando eu estava terminando o mestrado, só faltava defender, pensei “preciso arranjar um trabalho, mas que não exija muito, que não seja 8 horas por dia”. E aí eu fui para essa faculdade, ela nem existe mais, fechou faz uns dois anos mais ou menos. Fiz um processo seletivo, passei e comecei a dar aula, foi meio que um "bico", só que eu gostei. E aqui no Unicuritiba, na época tinha um colega do mestrado que começou a dar aula aqui e aí quando abriu uma vaga para dar aula no curso de Administração, ele veio falar comigo, mas eu lembro que na época eu era super nova, tinha acabado de terminar o mestrado. E eu pensei “nossa, Curitiba”. Não era nem Unicuritiba, era Faculdades Integradas Curitiba. "Nossa, mas eles são muito bons, e eu tinha acabado de começar". E eu pensei “vamos fazer uma banca, então”. Eu lembro que, na época, eram 5 professores na banca e eu passei, para  originalmente dar uma matéria, mas aí surgiram mais. Mas no começo só de administração, depois que eu vim pra RI, uns 3 ou 4 anos depois.


Como ocorreu a ligação com o curso de Relações Internacionais tendo formação em economia e qual sua percepção sobre isso?


No começo, minhas aulas eram no curso de administração apenas. E em 2002, logo depois, eu comecei a trabalhar numa instituição do estado, o Tecpar; eu trabalhava o  dia inteiro na empresa, e dava aula aqui e na outra faculdade, à noite, tinha três trabalhos nessa época. E aí eu lembro que vira e mexe surgia o convite para dar aula de RI, da coordenadora na época. Eu falava não, porque eu tinha a empresa e tal, daí chegou um determinado momento que eu falei “não, eu tenho que decidir se eu sou economista que trabalha em empresa ou sou professora”. E aí eu decidi sair da empresa, até porque ela não era concursada, quis ficar com a aula e aí vim dar aula para RI e eu peguei mais aulas. Isso deve ter sido lá por 2004, mais ou menos.


Existe algum momento na sala de aula que te faça pensar que é gratificante ensinar?


Sim… todos. Porque eu falo, hoje eu só tenho uma turminha, que é a de sexta-feira à noite e sinto muita falta disso, de mais aulas. Esse semestre quando veio para mim o horário, sexta à noite eu pensei “ah, não!”. Mas é muito bom estar em sala de aula. E mesmo sendo sexta-feira à noite, ver que o pessoal está lá e que faz pergunta e que fica, é muito bom. Então, eu gosto muito de sala de aula. Quando eu vim para coordenação eu sofri muito com isso, e até foi uma das coisas que eu perguntei na época “mas eu vou poder continuar dando aula, né?” Eu quero continuar dando aula porque é ali que a gente está em contato com vocês, alí que  a gente sente a sala de aula. 

É muito importante que a gente esteja dando aula, até para ver as transformações. Eu falo que, quando a gente dá aula para vocês hoje, é completamente diferente do aluno que a gente dava aula 20 anos atrás, pessoas completamente diferentes, perfis totalmente diferentes, então a gente precisa estar lá para conhecer vocês, pra sentir. Então, estar em sala de aula pra mim é sempre muito bom, mesmo na sexta-feira à noite.  Eu gosto muito de estar em sala de aula. Eu sou muito mais professora do que coordenadora; coordenadora eu estou, professora eu sou. 


Quando despertou o interesse de ser um profissional da área de economia?


Foi tudo por acaso. Eu sempre conto essa história: eu estava para fazer o vestibular - isso sempre acontece com todo mundo - na época do colégio eu gostava das ciências humanas, história, geografia etc. Mas eu gostava das exatas também, adorava matemática. Eu fiquei lá pesquisando que tipo de curso que junta as duas coisas, porque, geralmente, ou é humanas, ou exatas, e aí eu fiquei “meu Deus, o que vai juntar tudo isso numa coisa só?” E eu lembro que quando eu fui preencher o primeiro formulário de vestibular, que foi o da Unicamp - eu sou de São Paulo, então eu fiz todos os vestibulares por lá – e na Unicamp eles não tinham curso de administração, que era uma coisa que passava na minha cabeça. E escolhi economia, então. Fiz 4 vestibulares: da Unicamp, da USP, da Unesp e da PUC de São Paulo, e quando vieram os outros eu nem pensei mais, se eu fosse escolher economia em um, eu faria economia em tudo. Bem, aquela tomada de decisão madura, né rs? Fazer a coisa que junta o que a gente gosta, que é que geralmente todo mundo faz.  


Como você se sente sendo uma mulher no ambiente acadêmico, principalmente se tratando de estar em uma posição de liderança?


Na verdade acho que eu vou contar uma história, só para contextualizar, porque teve uma vez, eu já era coordenadora de RI, em 2017 mais ou menos, que a gente tinha o Congresso de Direitos Humanos, e a professora que organizava o Congresso me chamou para falar sobre as mulheres no ambiente de trabalho. Quando ela me chamou, eu pensei “mas sobre o que que eu vou falar?” Ela queria que eu falasse sobre machismo, assédio… e aquilo despertou em mim o pensar sobre isso, e aí eu fiquei pensando nas duas semanas até o Congresso se eu já tinha sido assediada, se eu já tinha sofrido machismo. E eu nunca tinha percebido isso, porque eu nunca tinha parado pra pensar, e quando eu pensei…  “Caramba, é diário isso!” É que a gente está sempre no automático alí e não percebe, e quando eu parei pra pensar, é claro que você sofre machismo, é claro que você é assediada, e quando eu vejo meninas dizendo que se inspiram na gente, “Ah, a gente se inspira em você,nas outras professoras” a gente fica muito feliz. E eu parei pra refletir nesse congresso, é claro que tem, e é claro que a gente tem que se ajudar, se abraçar, a gente tem que dar as mãos. E aí caiu a ficha, e aí você vê tudo diferente, porque você percebe que de fato acontece, você consegue ver essa diferença de geração para geração e, às vezes, quando vocês falam que nós somos inspiração, isso é muito legal. Claro que tem precursoras muito antes da gente, eu não sou tão velha assim, mas saber que algumas meninas de vocês se inspiram na gente, e não falo só por mim, tenho certeza que tô falando pela Natali, pela  Priscila, por todas nós, isso é muito legal. Saber que, poxa, elas estão olhando para a gente, então temos que fazer cada vez melhor, porque elas têm que olhar para o melhor 


Existe algum momento ou experiência durante a sua formação que tenha te marcado de forma especial?


Eu sempre vou citar um professor que eu tive na época da faculdade, professor João Sayad, maravilhoso. Eu sempre coloco ele, eu estou muito longe de ser o que ele é, mas eu sempre coloco ele como exemplo porque ele era um cara que tinha absolutamente tudo. Tudo assim, ele era dono de um banco, então tinha tudo. E aí ele ia para a faculdade, a aula começava às 7:30 da manhã, e dava a melhor aula do mundo. Quando eu olhava para ele, eu falava assim na época “mas o que esse homem tá fazendo aqui?”, ele não estava ali por dinheiro, não. Ele estava absolutamente fazendo o que ele gostava. Então essa é uma experiência que eu sempre lembro dele. Eu falo “nossa, eu não vou chegar lá” mas esse era um cara incrível porque não era dinheiro, não era nada. Ele estava ali simplesmente porque ele gostava, ele fazia tão bem aquilo que ele virou favorito da turma, todo mundo amava ele de paixão. 


Quais as aptidões e conhecimentos desenvolvidos no curso que mais o ajudam na sua profissão atual? 


Na verdade eu acho que não só no curso de economia, porque o curso de economia para mim, de verdade, fica tão longe, lá em mil novecentos e alguma coisa, mas acho que vale para qualquer curso dessa área de sociais aplicadas, economia, administração… na verdade, uma faculdade de uma maneira geral, é o aprender a pensar. Ontem eu estava conversando com um professor, ele parou de dar aula recentemente, ele perguntou como é que tá, agora com ChatGpt, deve estar difícil; e eu falei que mais ou menos, porque o ChatGpt até traz uma resposta mas você consegue imaginar o professor Andrew falando sobre um assunto e o ChatGpt?” São coisas completamente diferentes. Então, a faculdade dá para a gente essa habilidade de pensar, e aí fico muito triste quando vejo alunos que não fazem isso. Pensem que, na verdade, quando você está em contato com o professor ele está abrindo caminhos. Muitos alunos não percebem isso, vai lá fazer prova, tira 7 e fica feliz. Os que percebem, são os que voam depois. E eu percebi que a faculdade abriu caminhos porque, pensa o que você era antes da faculdade e o que você vai ser depois. São 4 anos que transformam completamente o ser humano que está alí, sabe? Porque você vira adulto e você vira uma pessoa que sabe pesquisar, sabe ir atrás, vira uma pessoa pró ativa, vai atrás de emprego, vai atrás disso e daquilo. A faculdade dá isso pra gente, essa capacidade de a gente ir atrás, e não é só a minha, acho que qualquer faculdade tem esse poder de transformar a gente. Eu fico triste quando os alunos não aproveitam isso. Poxa, você está aqui, são 4 anos. Em um dia você era um menino do ensino médio, lembra quem era você no ensino médio, e veja no que você vai se tornar quando você se formar, é uma coisa completamente diferente. São 3, 4 ou 5 anos em que ocorre uma transformação profunda na vida de vocês, e a faculdade ajuda nesse processo.


Que conselhos ou orientações você daria aos alunos que estão atualmente cursando Relações Internacionais? 


Eu sempre falo sobre o curso, e eu  acho que é uma palavrinha, que tem um duplo sentido. Aproveitem. Aproveitem porque vocês estão - não vou dizer nos melhores anos da vida de vocês porque isso é meio clichê e cada momento da vida da gente é especial por alguma razão. Mas vocês estão naquele momento de transição em que vocês tem festa, tem balada, tem amigos, e isso é sensacional. Eu tenho amigas até hoje, lá em São Paulo, elas que fazem parte da minha vida. Então assim, aproveitem esse lado social, a vida não é só a faculdade, mas aproveitem o outro lado também. Aproveitem que vocês estão tendo contato com pessoas incríveis que são os professores de vocês, aproveitem os projetos que são oferecidos. Eu olho para trás, as duas partes, se eu pudesse voltar, eu teria aproveitado mais. Tanto a parte das festas, quanto a parte da faculdade em si. Não que eu não tenha aproveitado, mas aproveitar mais de ir para festas, ir pra balada, ir para isso, ir para aproveitar. E aproveitado mais esses professores… eu era uma pessoa absurdamente tímida, e aí, de repente, “poxa, por que eu não fiz aquela pergunta no final da aula para aquele professor? Por que não participei daquele projeto porque eu achava que eu não ia conseguir estudar direito? Por que eu não fiz aquele estágio que tinha lá dentro para fazer porque era voluntário e eu não quis fazer?” Então eu acho que vocês estão no momento, porque depois começa a trabalhar e fica louco. Esse é o momento que vocês tem para aproveitar as duas coisas plenamente. Na balada, a parte social, mas a faculdade e tudo aquilo que ela oferece para vocês, que é a aula em si, mas também é o professor, é o projeto, é a iniciação científica, é o curso. A faculdade não é só sentar e escutar, a faculdade é todo esse resto, e isso é muito importante também. Então aproveitem.


Teria algum/alguns livros ou autores para recomendar? Sendo voltado para a área de Relações Internacionais ou algo que tenha te marcado. 


A histórica da Riqueza do Homem - Leo Huberman

Fui apresentada a esse livro durante o Ensino Médio e a partir daí, despertou em mim o interesse e paixão pela história, e talvez tenha sido o primeiro livro que li que tratava de economia. Talvez graças a esse livro é que estou aqui hoje.

Capitães de Areia - Jorge Amado

Li esse livro na adolescência e ele me apresentou um mundo real e completamente diferente do mundo em que eu vivia. Já reli umas duas vezes e logo, logo vou reler de novo.






 

quinta-feira, 26 de outubro de 2023

Entrevista Professor Rafael


Entrevista realizada no dia 17/10/2023: Júlia Gardi
Transcrição: Ana Laura Sales 

Graduação em Relações Internacionais pelo Unicuritiba, na época Faculdades Integradas Curitiba, não era centro universitário, e mestrado e doutorado em sociologia política.

Como que o senhor se tornou professor aqui no em Curitiba?

Eu já tinha vontade de ser professor no Unicuritiba, mas por questões profissionais eu acabei saindo de Curitiba e fui para o interior do Paraná, lá também atuando como docente, e também nessa parte de consultoria. Surgiu uma oportunidade, no ano de 2017, para fazer uma banca no Unicuritiba, eu vim realizar e acabou dando certo. 

E quando despertou o interesse no senhor de cursar Relações Internacionais?

Olha... Isso despertou na época que eu estava fazendo Engenharia Química na universidade federal e por um acaso eu acabei tendo contato com o curso de Relações Internacionais. Se eu não me engano, foi por uma reportagem, alguma coisa assim. Então eu acabei conhecendo uma pessoa que lecionava no Unicuritiba que me contou que a Unicuritiba estava abrindo curso de Relações Internacionais. Depois disso eu tranquei Engenharia Química e resolvi fazer Relações Internacionais.

O senhor gosta da sua área de atuação (Lecionar)? 

Gosto, gosto bastante. E eu encaro a questão da docência muito mais como uma vocação do que propriamente mais uma ocupação profissional. É claro, é uma ocupação profissional, mas está muito mais relacionado a uma vocação, uma vontade de estar à frente, tanto de processos com as turmas e alunos, como também ser responsável pela formação deles. E eu tive muitos exemplos ao longo da minha carreira, da minha vida escolar, então aquilo acabou ficando e meu pai também era professor, então, já estava meio ali no caminho.

Há quantos anos o senhor atua como professor?

Puxa vida... 2006 para 2023, então há 17 anos.

Teve um momento gratificante na sala de aula que te marcou? 

Sim, eu acabo tendo esses momentos a cada semana. Às vezes, porque não é só um movimento de turma, mas é também quando alguns alunos vêm, conversam comigo, e eles falam “poxa professor, nunca tinha percebido desta forma esse assunto ou esse conteúdo”. Então, eu sempre tenho esses momentos. Até eu me considero até um sortudo, porque isso acontece com frequência.

Agora são perguntas mais gerais: como foi o caminho desde a sua formatura do senhor até hoje?

Eu me formei em 2004, e eu me lembro que eu já queria exatamente ir para o mestrado. Então, como me formei no meio do ano, eu acabei ficando meses me preparando para o mestrado, o que acabou dando certo. Em 2005 eu comecei o mestrado que foi até 2007. O mestrado tem 2 anos e eu fiquei com total dedicação ao mestrado. Em 2007, tirei exatamente o título de mestre. E depois, eu pensei “puxa, agora quero trabalhar”. E essa minha decisão é o que acabou me levando exatamente para o interior do Paraná. E assim, tive ocupação tanto na área de acadêmico como na área de mercado. Então hoje muitas coisas que eu falo em sala de aula vêm exatamente dessa experiência de dia a dia de mercado e até mesmo dia a dia de vida acadêmica. É um caminho longo... Eu fiquei um tempo mais focado em trabalho. Até que 2011 eu resolvi fazer o doutorado, e eu tentei fazer fora do país, já estava completamente tudo alinhado pra eu ir pra fora, mas aí eram questões de família, enfim, o que acabou fazendo que eu não fosse, então melhor exatamente eu fazer aqui um doutorado, no Brasil mesmo. E foi isso, não me arrependo. Aí eu tinha pensado assim, lá no pós-doutorado eu faço em outro lugar. Mas foi isso. Foram muitos erros, acertos, angústias... O pessoal acha às vezes que foi uma trajetória reta, mas não. Teve várias curvas, dá umas paradas, às vezes volta um pouco e depois vai para frente e é assim. Acredito que seja a vida assim de todo mundo, de uma certa maneira.

Existe algum momento ou experiência que ocorreu na durante a faculdade que o senhor lembra com carinho? 

Poxa, tive vários... Mas um que me marcou foi quando nós tivemos aqui um evento que era exatamente sobre Israel e Palestina e nós estávamos exatamente no período da segunda intifada Palestina. E meu orientador na época era um professor extremamente estudioso exatamente dessa questão de Israel e Palestina. E foi organizado um evento em que haveria um debate: de um lado dois professores representando a OA, perspectiva de Israel, e do outro lado dois professores colocando a parte sobre a Palestina.  E, curiosamente, eu não era professor, era aluno e eu era a segunda parte da Palestina. Então assim, pra mim, aquele momento foi bastante especial, até porque também marcou muito porque foi a primeira vez que eu acabei participando de um debate de uma maneira mais séria e, mesmo assim, como um aluno. Um aluno de graduação, acho que eu estava no sexto período, mais ou menos... Esse evento me marcou bastante.

Tem alguma habilidade, alguma coisa que o senhor adquiriu durante a faculdade que ajuda bastante agora?

Sim. Eu tinha um sócio que falava assim: “RI junta as pontas. Consegue articular um assunto em outro, um evento em outro, um ator em outro”. E partindo dessa frase dele, não, a coisa que eu mais falo em sala de aula é que nós, pela nossa formação, a gente tem uma visão sistêmica, a gente não olha as coisas que acontecem só por uma lente, de uma determinada disciplina ou de uma perspectiva econômica. A gente tem um olhar holístico, e isso é um diferencial. Na minha opinião, da área, mas que acaba trazendo um diferencial no mercado de trabalho, porque muitas vezes os demais profissionais são muito especializados, eles não conseguem ver além daquele caixinha de conhecimento deles e nós, de Relações Internacionais, já saímos da graduação com essa habilidade, uma competência, até ouso dizer que é muito importante nessa visão externa.

Teve alguma situação desafiadora durante esse tempo de carreira do senhor?

Sim, devido exatamente por necessidade profissional, eu tive que aprender uma série de outros conteúdos que eu nunca imaginei que teria que aprender. Eu tive que aprender contabilidade, isso na prática, e no primeiro momento foi um “deus nos acuda”. Mas eu acho que o momento desafiador é quando você tem que, por uma questão de necessidade, aprender novos conteúdos, e que muitas vezes não estão vinculados a nossa formação. Esse é o principal desafio. Para muitos de nós é um desafio muito grande, porque, a gente às vezes tem lacuna de formação, não aprendeu bem determinadas disciplinas. Então às vezes alguma coisa aqui toca nessa lacuna, para gente é um bicho muito maior do que é na verdade.

O senhor poderia comentar como é sua rotina?

Eu acordo super cedo, então às 5:45 da manhã eu já estou acordando. Eu preparo a minha filha para ir para a escola junto com a mãe dela, elas vão juntas...A minha esposa trabalha e a minha filha estuda no mesmo lugar. Enfim, se eu tenho aula na instituição eu vou, e normalmente às tardes são os momentos de preparação, leitura, acompanhar o que está acontecendo, e outras coisas que são vinculadas à disciplina. E na parte da noite, dou aulas, faço orientação de TCC, e é isso. 

E o senhor tem algum conselho para os alunos? 

O conselho que eu digo é: não fecha a cabeça para absolutamente nada, principalmente para as disciplinas. Conhecimento. Eu sei que às vezes falam “por que eu devo estudar essa disciplina?”, e quando a gente menos espera, você precisa daquilo que você viu, aí você volta lá na graduação. E muitas vezes a gente paga por essas escolhas ruins de não dar bola, não entender a matéria, ser mais pragmático, tirar a nota e acabou. Só que, às vezes, esse conhecimento vai se transformar em essencial, primordial. Em outro momento da vida, a gente nunca sabe... O que eu digo: nunca descarte um conhecimento, nunca descarte uma disciplina, por mais que a gente não goste, porque isso é muito importante. E é porque isso em algum momento a gente pode precisar. Pode, não quer dizer que vá, mas pode precisar.

E tem alguma lista de livros que o senhor gostaria de deixar? 

Olha, eu leio tudo, só não gosto desses livros Best-sellers, entendeu? Gosto muito de literatura russa, especialmente Dostoiévski, esse pessoal do século 19, século 20. Gosto também de James Joyce, Thomas Mann, também leio Fernando Pessoa... Na literatura nacional, eu leio Guimarães Rosa... Mas assim, não tenho uma lista assim pessoal. Agora eu sempre falo assim: clássico é clássico, não é à toa, porque os autores são realmente muito bons e nos levam exatamente a uma reflexão que faz um diferencial na vida da gente, permite uma reflexão, enfim, ou até mesmo um bom momento de leitura, né? Que faça até mesmo a gente rir em alguns.


terça-feira, 24 de outubro de 2023

Dia das Nações Unidas

 


Por Alécia Alves, 2023

Dia das Nações Unidas

O Dia das Nações Unidas é celebrado em 24 de outubro, mesma data em que há 78 anos a Organização das Nações Unidas (ONU) foi oficialmente estabelecida, após a ratificação da Carta da ONU, pelos Estados Unidos, China, França, Reino Unido e a ex-União Soviética. A ONU é a entidade mais importante do mundo em termos de cooperação internacional e seus principais objetivos são: manter a paz e a segurança internacionais, fomentar a amizade e as boas relações entre as nações, defender a cooperação como solução para os problemas internacionais, promover e estimular o respeito aos direitos humanos (especialmente a partir de 2006, com a criação do Conselho de Direitos Humanos) e ser um centro destinado a harmonizar a ação das nações para a consecução desses objetivos comuns. Atualmente, 193 Estados coadunam com estes princípios e são membros da Organização.

A ideia de estabelecer uma organização que fosse capaz de efetivar a manutenção da paz e segurança foi ambiciosa no momento de sua criação, em 1945, quando da finalização da Segunda Guerra Mundial. Fato é que tal perspectiva continua sendo ambiciosa até hoje, 78 anos após a sua criação. É importante lembrar que, naquele momento, o mundo encontrava-se devastado pelas atrocidades da guerra, quando então idealizou-se a Organização e, por consequência, os Estados mais influentes, à época, requereram um status diferenciado dentro da Organização: assim, Estados Unidos, China, França, Reino Unido e ex-União Soviética passam a ser membros permanentes do Conselho de Segurança. Ao longo dos anos, a Organização passou por diversas mudanças, adaptando-se em momentos históricos e amparando cada vez mais temas além da manutenção da paz e segurança.

A ONU não é uma organização supranacional, mas intergovernamental, ou seja, ela não está acima da soberania dos Estados e funciona como um fórum de discussão onde seus representantes se reúnem para debater temas importantes, chegando a decisões de forma conjunta. Dessa forma, busca-se evitar que estes temas sejam tratados de forma unilateral e/ou arbitrária, gerando conflitos de poder e o domínio de Estados autoritários sobre outros. Destas reuniões, resultam recomendações ou resoluções que são tomadas pelos seus Estados-membros. A sua estrutura central conta com seis órgãos principais e originários: a Assembleia Geral, o Conselho Econômico e Social, o Conselho de Segurança, o Conselho de Tutela, o Secretariado e a Corte Internacional de Justiça. O Brasil, historicamente, realiza o discurso de abertura das sessões ordinárias anuais da Assembleia Geral, muito por influência e empenho brasileiro em estabelecer os trabalhos da Organização.

 

Atualmente, questões relacionadas à geopolítica e segurança global colocam à prova a credibilidade da instituição, especialmente pelos entraves no Conselho de Segurança e, principalmente, desde a invasão dos Estados Unidos ao Iraque, em 2003, já que este Estado não respeitou a falta de aprovação do Conselho para a intervenção militar. No entanto, apesar de sofrer com diversas críticas, teorias conspiratórias, problemas estruturais e contradições, a ONU cumpre seu papel, uma vez que os Estados seguem recorrendo à Organização como principal fórum de discussão, provando-se, tal ponto, por não termos, até então, passado por uma terceira guerra mundial. Uma das suas maiores realizações é ter colaborado para criação de um conjunto de leis internacionais, convenções e tratados que visam impulsionar o desenvolvimento econômico e social, bem como promover a paz e a segurança em âmbito global.

Muitos dos tratados promovidos no âmbito da ONU são a base da legislação que governa as relações entre as nações e da Constituição Federal e de diversas leis internas dos seus Estados membros. Embora o trabalho da ONU nesse campo nem sempre seja plenamente reconhecido, ele tem um impacto significativo no cotidiano dos cidadãos em todo o mundo. A Carta das Nações Unidas insta a Organização a desempenhar um papel na resolução de disputas internacionais por meios pacíficos, arbitragem e processos judiciais (Artigo 33) e a promover o desenvolvimento contínuo do Direito Internacional e sua regulamentação (Artigo 13). Ao longo dos anos, em torno de 500 tratados multilaterais foram depositados junto ao Secretariado Administrativo das Nações Unidas, cujos quais abrangem uma ampla variedade de temas, incluindo direitos humanos, desarmamento e proteção ambiental.

 Em última análise, vale destacar que a ONU é a instituição mais significativa e uma das mais consistentes do mundo quando em temas diversos, tendo, até mesmo, garantido a emergência da personalidade jurídica internacional às organizações internacionais. Com diversos órgãos internos, responsabilidades e ações, a ONU possui uma atuação urgente e indispensável desde o seu surgimento, quando da finalização da Segunda Guerra Mundial, em um contexto de bipolaridade global e com o objetivo de prevenir conflitos internacionais.  Esta é uma data importante para celebrar e lembrar a importância desta instituição, trazendo luz e esperança para a resolução dos desafios que precisam ser superados e, principalmente, para pressionar Estados-membros frente o respeito às suas resoluções, valores e, sobretudo, caminhos pautados na paz para que se possa reverberar em termos de resolução de conflitos.


REFERÊNCIAS:

A Carta das Nações Unidas. Nações Unidas Brasil, 2007. Disponível em: https://brasil.un.org/pt-br/91220-carta-das-na%C3%A7%C3%B5es-unidas URL. Acesso em: 22 de outubro de 2023. 

Harleman, Tenente Coronel Christian. Uma Introdução ao Sistema das Nações Unidas: Orientações para Servir em uma Missão de Campo da ONU. 1ª Edição, 2001. Williamsburg, VA 23185 USA. Disponível em: https://cdn.peaceopstraining.org/course_promos/intro_to_un_system/intro_to_un_system_portuguese.pdf

Marconi, Cláudia A. O Conselho de Segurança da ONU e os impasses quanto à reforma: dos obstáculos institucionais à falta de coesão do pleito dos emergentes.  A ONU aos 70: contribuições, desafios e perspectivas, Boa Vista, Universidade Federal de Roraima, p. 215-244, 2016. Disponível em: https://igarape.org.br/wp-content/uploads/2017/01/A_ONU_aos_70.pdf



segunda-feira, 23 de outubro de 2023

Entrevista Andrew Traumann

 



Entrevista e Transcrição por: Eduarda Ysabelle dos Santos Pinheiro


Nome completo: Andrew Patrick Traumann


Qual é a sua formação acadêmica? 


Sou formado em História pela UEL (1998-2002), Mestre em História e Política pela UNESP, e doutor em História, Cultura e Poder pela UFPR. 


Ocupação atual: Professor Universitário na Unicuritiba e coordenador do curso de Pós-Graduação em História do Oriente na PUC-PR. 


Obras publicadas: "Os colombianos"; "Os militares e os Aiatolás. Relações Brasil - Irã (1979-1985)". 



Há quantos anos atua como professor na Unicuritiba? 

14 anos. 


Como se tornou professor na Unicuritiba?


Ah, é uma história interessante. Depois de concluir meu mestrado, fiquei desempregado e eu tinha acabado de me mudar para Curitiba. Sou de Rolândia, na verdade, uma cidade pequena no interior do Paraná. Meu pai havia falecido, assim como a minha mãe. Sem ter o que fazer, um dos meus irmãos, o mais próximo de mim, me disse: "por que você não faz um blog?”. Aí acabei aceitando. E naquela época tinha uma ferramenta chamada Blogger, então comecei a fazer por ali, mas de forma totalmente despretensiosa, comentando assuntos de Oriente Médio. Até que um dia, a TV Assembleia, me chamou para um debate, e lá estavam dois ex-professores da Unicuritiba, o professor Wilson e a professora Ângela Moreira, e aí foi um debate sobre a vinda do presidente do Irã para o Brasil. Eu acho que eu me saí bem nesse debate, pois na sequência, a Ângela me chamou dizendo que o professor Wilson, que era o professor de História das RI 's, acabou saindo e ficou disponível uma vaga que estava selecionando candidatos.  Realizei a prova e como se diz, o resto é história. Eu estou aqui desde agosto de 2010. 


Pensava em se tornar professor no início da faculdade? 


É que assim, quem se forma em história não tem muita opção. Não é um campo como o de R.I que tem o Direito, comércio nacional, economia, história. Se há tantas coisas, né? É que em história ou você é professor, ou você é professor. Eu me refiro ao Brasil, tá? Porque a gente sabe que em outros países existem outros campos, como museologia, tem aqueles que conseguem até ganhar muito dinheiro sendo consultores de séries, etc; mas aqui no Brasil não, você dá aula ou você dá aula, e eu confesso que na época eu fui meio deixa a vida me levar, assim, sabe? Eu fui fazendo, eu não sabia se eu queria dar aula, mas também sabia que eu não tinha outra opção. Até que cheguei no quarto ano, onde eu tive história contemporânea, a qual é a minha área até hoje, e aí foi que eu me apaixonei. Nesse momento, foi que eu conheci um professor que eu faço questão de citar o nome dele, que é o Francisco César Alves Ferraz, que até hoje é, meio que assim, o cara que me deu todos os passos.

No começo, eu tinha muito medo de falar em público, minhas primeiras aulas aqui foram horríveis.Eu não tive o que fazer, você tem que tá ali dando aula todo dia, até que chega uma hora que vira normal. Comecei a gostar, entendeu? Porque no começo eu tinha muito medo. Sabe quando vocês vão apresentar um seminário nervosos? É, então, a minha sensação era essa, o coração saindo pela boca, medo de falar alguma besteira e tal, medo de dar um branco, eu sentia isso também.


Existe algum momento na sala de aula que te faça pensar que é gratificante ensinar?


Todos os dias. Eu adoro dar aula. É o que eu mais gosto de fazer na vida. Onde eu me sinto mais à vontade é quando estou com os alunos. 


Quando despertou o interesse de ser um profissional de história/ relações Internacionais?


A História veio do meu pai, ele não tinha formação acadêmica, mas lia muitos livros, ele era autodidata. Nós éramos em 5 irmãos, então leitura era algo de todo dia. Já Relações Internacionais, veio com o meu interesse em história contemporânea. Tiveram vários acontecimentos que acabei presenciando, como a queda do Muro de Berlim, a Guerra do Golfo. Então por ter presenciado muitas situações, isso acabou me levando a cada vez mais querer estudar sobre atualidades e relacionando com a uma visão histórica.


Existe algum momento ou experiência durante a sua formação que o tenha marcado de forma especial?


Acredito que o meu encontro no último ano de curso com o professor Francisco,onde me apaixonei pela história contemporânea.


Quais as aptidões e conhecimentos desenvolvidos no curso que mais o ajudam na sua profissão atual? 


Eu tive um professor na UEL, onde ele me ensinou a pesquisar, as ferramentas de pesquisa.Como que você seleciona uma bibliografia. Uma dúvida que os alunos têm: como eu sei o que é importante e o que não é? Então eu sempre utilizo essas ferramentas para ajudá-los. Sempre digo aos alunos: “ Vocês têm que manter em mente qual é o seu questionamento do qual você quer responder no TCC”. 



Que conselhos ou orientações você daria aos alunos que estão atualmente cursando Relações Internacionais? 


Primeiramente, escolham (para o TCC) um tema que gostem. Os alunos que escolhem temas que eles tem uma paixão a respeito, acabam se saindo muito melhor do que aqueles que não gostam, pois esse não gostar acaba refletindo no seu texto. 


Quais livros ou autores o senhor teria para recomendar?

Não somente para alunos de Relações Internacionais mas também para quem tem interesse na área. 


Um livro que me marcou durante a graduação foi “A Era dos Extremos”, de Eric Hobsbawm. Para mim, ele é um grande autor da história contemporânea.Saindo um pouco da história, recomendo muito os livros de uma coleção da Editora Vozes, que é “História das Relações Internacionais”, e também “Política Externa do Brasil”. 

Tem uma autora que é a Priscila Pecequilo, da UNB, que já palestrou aqui na Unicuritiba alguns anos atrás, e ela é internacionalista. Suas obras foram uma das primeiras que eu li que foram escritas por uma internacionalista, pois antes eu lia principalmente obras de historiadores. 

Outro livro que eu gosto é “ Ascensão e Queda do comunismo", do Archie Brown.  Tem um outro que é sobre Israel, “Muralha de Ferro”, do Avi Shlaim. É um excelente livro, pois ele é israelense e pegou documentações para escrever seu livro.Recomendo também a “ Maldita Guerra", de Francisco Doratioto. 

E outro que eu utilizo muito em sala de aula é o Civilização Ocidental, de Marvin Perry, que parece um manual, onde vai desde a Antiguidade até a queda do Muro de Berlim. Não é de forma aprofundada, mas acaba sendo bem interessante. 

Para finalizar, “História dos Estados Unidos", de Leandro Karnal, e o “ Revolução Francesa", de Jules Michelet. Pois todos os meus alunos sabem que eu gosto muito da Revolução Francesa e adoro essa disciplina, e também adoro falar sobre a história dos Estados Unidos. 









sexta-feira, 20 de outubro de 2023

Entrevista Professora Natali





Entrevista a Professora Natali realizada no dia 11/10/23 por:  Júlia Gardi

Transcrito por: Ana Sales
Revisado por: Nathaly Yohanna Limberger

As primeiras perguntas serão a respeito da carreira da professora: qual sua formação?

Eu sou formada em Relações Internacionais e Integração pela Universidade Federal de Integração Latino Americana – UNILA. Tenho especialização em Relações Internacionais Contemporâneas e mestrado em Ciência Política, e atualmente faço doutorado também em Ciência Política; mesmo que meu mestrado e meu doutorado seja em Ciência Política, a minha pesquisa sempre se concentra mais no campo das Relações Internacionais.

Como a senhora se tornou professora aqui no Unicuritiba?

Definitivamente foi um longo caminho. Não vou dizer que entrei na graduação querendo ser professora, foi algo que fui descobrindo com o tempo. Até depois que eu me formei, passei um ano sem saber direito o que eu queria fazer, saí da graduação muito perdida, mas comecei a fazer um MBA em gestão de projetos, que é algo super administrativo e eu não tive uma experiência agradável. Quando saí da faculdade, percebi o quanto sentia falta de estar em um ambiente universitário. 

Foi só então que, a partir disso, decidi ser professora. Me preparei para fazer um mestrado na UFPR, fui aprovada, e vim pra Curitiba. Em seguida comecei a pensar em como poderia me tornar professora.

Primeiro, comecei a trabalhar na UNINTER (Centro Universitário Internacional), que é outra instituição que tinha Relações Internacionais aqui em Curitiba. No entanto, sempre quis trabalhar aqui na Unicuritiba. 

Acabei indo num encontro de Relações Internacionais, conheci a professora Patrícia que estava acompanhando outros alunos enquanto eu apresentava um trabalho. Creio que foi dessa forma que ela igualmente soube da minha existência, já que eu estava trabalhando em outra instituição e realizando um mestrado na UFPR.

Um ano e meio depois, abriu uma vaga no Unicuritiba e a professora Patrícia me convidou, perguntando se eu tinha interesse em dar aula em geopolítica. Passei pelo processo seletivo por uma banca e fez com que eu chegasse aqui; então foi meio que um pouco orientada minha carreira para ser professora. 

Ao conhecer a professora Patrícia, pude mostrar pra ela um pouco o tanto que eu gostava de RI, o tanto que eu gostava de dar aula, que eu já tinha alguma experiência e, quando surgiu uma oportunidade, ela lembrou de mim, fazendo com que eu pudesse chegar até aqui.

E quando foi despertado seu interesse de ser uma profissional em Relações Internacionais?

Acho que minha resposta será bem clássica. Temos dois profissionais de RI: aqueles que nasceram em Relações Internacionais e que sempre tiveram interesse e já realizaram até intercâmbio em outras oportunidades, e aqueles que não sabem exatamente o que irão fazer.

Às vezes brinco com carinho dizendo que RI é a administração das humanidades, por abranger de tudo um pouco as coisas que gosto como business, história e direito. No entanto, pra mim a ideia surgiu ao final do ensino médio, onde eu não sabia muito bem o que iria cursar já que estava justamente entre esses três cursos.

No final, acabei escolhendo RI por conta da universidade. Sempre quis estudar na UNILA, pois já tinha lido sobre a existência do projeto de uma universidade internacional. Morei por muito tempo no Paraguai, e como o curso mantinha muito contato com a fronteira, achei que ele atendia o que eu gostava.

É um curso que tem muita história, tem um pouco de Direito, tem geopolítica, e tinha tudo que eu gostava basicamente. E também um pouco por conta da vontade que eu tinha de estudar na UNILA, mas acho que foi meio que na procura de uma área que tivesse mais a minha cara, já que eu sabia que não gostava de exatas e não era muito das biológicas, e engenharias jamais!

Na época eu também quis fazer jornalismo, e isso foi outra coisa que me influenciou a escolher RI. No entanto, quando fui fazer faculdade, na época não era exigido um diploma para seguir a carreira de jornalista, então não vi fundamento em realizar esse curso. Posteriormente, me deparei com RI, que reunia diversos itens que eu era apaixonada por me aprofundar.

Foi meio que a junção de estar procurando encontrar algo que fizesse sentido pra mim e que me levou a Relações Internacionais, mesmo sendo uma área pouco falada na época, já que você não observava isso normalmente nas feiras educacionais.

Agora uma pergunta mais pessoal: o que você diria caso perguntassem se a senhora gosta de ser professora?

Gosto muito de dar aula, e sempre achei muito legal essa questão da sala de aula onde você irá trabalhar com algo que você vai estudar bastante trazendo conteúdo novo aos alunos; e isso é algo muito “autoral”, algo muito seu. Quando você está dando uma aula, há liberdade de preparar tudo isso e simultaneamente você pode estar sempre estudando, e logo após que determinado conteúdo é passado em aula, já vai existir um artigo publicado sobre aquilo gerando material para que outras pessoas façam outras coisas.

Gosto muito da sala de aula, de ter esse contato com os alunos,onde estamos sempre em processo de aprendizagem. Na minha concepção, a coisa mais fantástica de ser professor é a convivência, onde você pode ver os alunos e as alunas utilizando as coisas que você dá em aula para começar a formar já sua própria cabeça e começar a voar já bem mais longe do que nós.

Além de questões mais simples, de personalidade, eu gosto da liberdade de dar aula,  de ter o controle da sala de aula, de estar sempre estudando. Meus professores foram muito importantes na minha trajetória, me incentivando a viajar - já que eu morava muito no interior; então acho muito divertido essa possibilidade de que os professores possam ajudar os alunos que ainda estão se encontrando.

Há quanto anos você atua como professora?

Comecei a trabalhar como professora há cinco anos atrás, em 2018. Minha primeira sala de aula era composta por cerca de 90 alunos, e foi algo extremamente desafiador por conta da quantidade de estudantes.

Na época, eu tinha apenas 25 anos! Ainda estava em processo de aprendizagem como professora, sem contar que algumas vezes eu tinha até alunos mais velhos do que eu. Apesar de tudo, acredito que consegui me sair bem.

Existe algum momento em sala de aula que faça você pensar como é gratificante ensinar alunos?

Sim, definitivamente existe - principalmente quando você vê seus alunos curiosos ou trazendo reflexões que você sequer tinha pensado ainda, ou até mesmo quando fazem perguntas que eu não sei responder. Isso mostra o grau de abstração de como vocês também vêem coisas que eu não vejo. Também amo quando estamos em uma discussão muito interessante e os alunos trazem perguntas muito difíceis de serem debatidas, mas sem deixarem de fornecer opiniões. Creio que são esses os principais pontos que mais sinto prazer em lidar e presenciar.

Há algum momento ou experiência na faculdade que te marcou de alguma forma?

É evidente de que eu realmente tive alguns momentos bem importantes como, por exemplo, a greve no período que estudei na UNILA e também a dificuldade no processo de adaptação na instituição tendo em vista a mistura entre alunos brasileiros, paraguaias, argentinos e chilenos - principalmente para mim, que vim do interior. Foi difícil, mas também foi muito importante para a minha formação profissional aprender a confrontar determinadas coisas que você tinha conhecimento de que eram verdade, mas após observá-las por um outro ponto de vista, não eram tanto assim.

Querendo ou não foi uma coisa que me fez ficar angustiada por estar ali, pelo menos no começo ao longo do primeiro semestre; então creio que posso dizer que isso realmente me marcou, não no sentido de me fazer querer desistir. A UNILA me trouxe essa amplitude de experiência sem viajar e sem ir pra muito longe.

E mesmo sem ir pra muito longe, eu continuava a 200 quilômetros de casa, aos 18 anos, vendo situações novas todos os dias, convivendo com muitas pessoas diferentes de diversas classes sociais e países que se comunicavam em outro idioma. Ter passado por essa experiência ajudou bastante a abrir minha cabeça e me tornar uma pessoa muito mais tolerante, e creio que foi uma das mais marcantes que eu tive ao longo dos meus estudos na faculdade.

Agora uma pergunta mais sobre seu dia a dia: quais são as principais responsabilidades e tarefas na ocupação de ser professora?

Acho que a primeira delas é preparar aula, tendo em vista que eu tenho um apreço muito grande pelo processo de esquematização. Gosto bastante de me atualizar e selecionar boas bibliografias para  compartilhar com os alunos.

Também tenho as orientações de TCC, então orientar, corrigir os trabalhos dos alunos. Eu também coordeno as atividades da Cátedra, então atualmente lido com cerca de 40 voluntários promovendo eventos uma vez ou outra. 

Além disso, sempre vai surgir uma ou outra responsabilidade variada como organizar visitas, responder perguntas e sanar dúvidas dos alunos fora de aula.

A senhora já teve alguma outra experiência desafiadora?

Complementando o que mencionei anteriormente sobre ser professora de uma turma com mais de 90 alunos em 2018, passamos por uma situação bem polêmica na época que foi a eleição do presidente Bolsonaro na época. A turma era bastante polarizada, e houveram momentos bem complicados onde foi necessário lidar com alunos posicionados de maneira extrema. Definitivamente foi algo muito desafiador na minha formação como professora, mas definitivamente foi um aprendizado importante pra mim.

Também posso falar que a pandemia foi outra experiência complicada, apesar de já estar trabalhando dando aulas a distância em outra instituição, isso evidentemente não deixa de ser muito diferente do ensino remoto com as aulas síncronas.

Comecei a minha carreira no Unicuritiba no meio da pandemia, dando aula pra uma turma que eu não sabia nem quem eram os alunos, que eu não tinha sequer visto os rostos deles. Tinha colegas professores que eu nunca havia encontrado pessoalmente ou conversado, e isso foi muito dificultoso no início do trabalho em uma instituição nova. Sem contar que, pela tela de um computador ou de um celular, não tinha nunca como saber o que as pessoas estavam passando do outro lado, suas reais expressões e opiniões - fui obrigada a preparar um disciplina fora daquilo que estava acostumada a incentivar e ensinar aos alunos dentro de sala de aula.

Como foi a experiência sendo mulher dentro do ambiente acadêmico? Houve alguma dificuldade ou questão a ser comentada?

Não irei dizer que já sofri ou fui prejudicada de alguma maneira nessa questão, mas sim, já houveram momentos em que tive que me impor pois senti que não estava sendo respeitada intelectualmente por alguns colegas em determinadas situações.

Fiz mestrado e doutorado na Universidade Federal num programa de pós-graduação com professores excelentes. Na época, só haviam professores homens, e isso foi bem controverso para mim pois estava acostumada com a diversidade docente da UNILA.

Não tinha noção de que iria chegar lá e não teria aula com uma única professora, então pra mim esse acontecimento foi um choque bem grande; sem contar no corpo discente que percentualmente era muito mais composto por homens do que mulheres.

Nesse sentido, é evidente de certas ações e comentários negativos em relação ao respeito às mulheres vai ficando cada vez mais normalizado, chegando a um ponto onde ações do tipo nem sempre são feitas por maldade; as pessoas acabam tendo ali um certo coleguismo e corporativismo somente masculino.

Por conta dessas situações, houveram momentos em que foi necessário me impor, no sentido de mostrar que eu era capaz tanto quanto qualquer outra pessoa ali presente. Estando em um ambiente assim, precisamos ocupar os espaços de maneira adequada e sempre demonstrar que ali existe alguma falta de respeito, tendo em vista que as vezes pode ser apenas um descuido em certas falas.

Portanto, digo que essa experiência foi também um aprendizado que melhorou bastante desde 2018, mas que, infelizmente, ainda faz parte da realidade brasileira - quiçá mundial! -, onde nos encontramos em um processo de constante mudança em relação a isso.

Qual conselho a senhora gostaria de deixar aos alunos que estão atualmente cursando RI?

Considerando o caráter do curso de Relações Internacionais, que é tão diverso e compreende tantas possibilidades e o fato de que não há um manual aos internacionalistas determinando a eles o que fazer, sugiro que é essencial experimentar coisas e possibilidades dentro da área. Fazendo isso, vocês irão perceber o que vocês realmente gostam, tendo a possibilidade de investir nisso posteriormente.

O curso de Relações Internacionais, na minha concepção, é uma base muito boa para atuar no mercado profissional. No entanto, é sempre necessário prestar atenção em todos os detalhes presentes e experimentar diferentes coisas ao decorrer do curso. A partir do momento que você acha algo que gosta, você vai ter mais liberdade de começar a investir em pensamentos relacionados a quais especializações você vai poder fazer no futuro, estágios que vocês podem se aplicar, e pensar em diversos outros assuntos para que quando vocês finalmente saiam do curso possam começar a visualizar com outros olhos o que vocês querem seguir, levando em conta seus gostos individuais e no que acreditam que possuem mais aptidão de realizar; e, obviamente, o que vai empregar vocês. 

Você tem alguma recomendação de livros que te marcaram durante a faculdade ou na sua atuação como professora?

Tem um livro que eu gosto muito que é Inside Outside International Relations as Political Theory, do R. B. J. Walker, que é um livro básico pós-estruturalismo das Relações Internacionais, onde é apresentado uma crítica ao realismo e a construção das Relações Internacionais, a partir dessa ideia de anarquia. 

Também vale a pena citar em o livro do autor argentino Walter Mignolo, The Darker Side of Wertern Modernity: Global Futures, Decolonial Options - que é um livro que discute como falamos de modernidade, sobre como o lugar de progresso não discute o que foi o colonialismo, que é encontrado no trabalho de Anibal Quijano. Temos também um artigo falando e se aprofundando sobre colonialidade chamado Colonialid y Modernidad Racionalidad.

Vale a pena pesquisar sobre os livros de duas autoras nigerianas que sou apaixonada pela literatura e escrita: Chimamanda Ngozi Adichie e o livro é Meio sol amarelo, que conta a história da guerra de Biafra que é a guerra civil nigeriana; e a Ayòbámi Adébáyò com o livro Fique comigo que possui uma história fantástica e sensacional.

Finalizando essa parte de literatura, gostaria de indicar um livro que todos deveriam ler pelo menos uma vez na vida: Desonra, que fala sobre a África do Sul pós Apartheid. Foi escrito por J.M. Coetzee, que recebeu o prêmio Nobel por sua publicação, realizando um excelente trabalho.