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quinta-feira, 26 de outubro de 2023

Entrevista Professor Rafael


Entrevista realizada no dia 17/10/2023: Júlia Gardi
Transcrição: Ana Laura Sales 

Graduação em Relações Internacionais pelo Unicuritiba, na época Faculdades Integradas Curitiba, não era centro universitário, e mestrado e doutorado em sociologia política.

Como que o senhor se tornou professor aqui no em Curitiba?

Eu já tinha vontade de ser professor no Unicuritiba, mas por questões profissionais eu acabei saindo de Curitiba e fui para o interior do Paraná, lá também atuando como docente, e também nessa parte de consultoria. Surgiu uma oportunidade, no ano de 2017, para fazer uma banca no Unicuritiba, eu vim realizar e acabou dando certo. 

E quando despertou o interesse no senhor de cursar Relações Internacionais?

Olha... Isso despertou na época que eu estava fazendo Engenharia Química na universidade federal e por um acaso eu acabei tendo contato com o curso de Relações Internacionais. Se eu não me engano, foi por uma reportagem, alguma coisa assim. Então eu acabei conhecendo uma pessoa que lecionava no Unicuritiba que me contou que a Unicuritiba estava abrindo curso de Relações Internacionais. Depois disso eu tranquei Engenharia Química e resolvi fazer Relações Internacionais.

O senhor gosta da sua área de atuação (Lecionar)? 

Gosto, gosto bastante. E eu encaro a questão da docência muito mais como uma vocação do que propriamente mais uma ocupação profissional. É claro, é uma ocupação profissional, mas está muito mais relacionado a uma vocação, uma vontade de estar à frente, tanto de processos com as turmas e alunos, como também ser responsável pela formação deles. E eu tive muitos exemplos ao longo da minha carreira, da minha vida escolar, então aquilo acabou ficando e meu pai também era professor, então, já estava meio ali no caminho.

Há quantos anos o senhor atua como professor?

Puxa vida... 2006 para 2023, então há 17 anos.

Teve um momento gratificante na sala de aula que te marcou? 

Sim, eu acabo tendo esses momentos a cada semana. Às vezes, porque não é só um movimento de turma, mas é também quando alguns alunos vêm, conversam comigo, e eles falam “poxa professor, nunca tinha percebido desta forma esse assunto ou esse conteúdo”. Então, eu sempre tenho esses momentos. Até eu me considero até um sortudo, porque isso acontece com frequência.

Agora são perguntas mais gerais: como foi o caminho desde a sua formatura do senhor até hoje?

Eu me formei em 2004, e eu me lembro que eu já queria exatamente ir para o mestrado. Então, como me formei no meio do ano, eu acabei ficando meses me preparando para o mestrado, o que acabou dando certo. Em 2005 eu comecei o mestrado que foi até 2007. O mestrado tem 2 anos e eu fiquei com total dedicação ao mestrado. Em 2007, tirei exatamente o título de mestre. E depois, eu pensei “puxa, agora quero trabalhar”. E essa minha decisão é o que acabou me levando exatamente para o interior do Paraná. E assim, tive ocupação tanto na área de acadêmico como na área de mercado. Então hoje muitas coisas que eu falo em sala de aula vêm exatamente dessa experiência de dia a dia de mercado e até mesmo dia a dia de vida acadêmica. É um caminho longo... Eu fiquei um tempo mais focado em trabalho. Até que 2011 eu resolvi fazer o doutorado, e eu tentei fazer fora do país, já estava completamente tudo alinhado pra eu ir pra fora, mas aí eram questões de família, enfim, o que acabou fazendo que eu não fosse, então melhor exatamente eu fazer aqui um doutorado, no Brasil mesmo. E foi isso, não me arrependo. Aí eu tinha pensado assim, lá no pós-doutorado eu faço em outro lugar. Mas foi isso. Foram muitos erros, acertos, angústias... O pessoal acha às vezes que foi uma trajetória reta, mas não. Teve várias curvas, dá umas paradas, às vezes volta um pouco e depois vai para frente e é assim. Acredito que seja a vida assim de todo mundo, de uma certa maneira.

Existe algum momento ou experiência que ocorreu na durante a faculdade que o senhor lembra com carinho? 

Poxa, tive vários... Mas um que me marcou foi quando nós tivemos aqui um evento que era exatamente sobre Israel e Palestina e nós estávamos exatamente no período da segunda intifada Palestina. E meu orientador na época era um professor extremamente estudioso exatamente dessa questão de Israel e Palestina. E foi organizado um evento em que haveria um debate: de um lado dois professores representando a OA, perspectiva de Israel, e do outro lado dois professores colocando a parte sobre a Palestina.  E, curiosamente, eu não era professor, era aluno e eu era a segunda parte da Palestina. Então assim, pra mim, aquele momento foi bastante especial, até porque também marcou muito porque foi a primeira vez que eu acabei participando de um debate de uma maneira mais séria e, mesmo assim, como um aluno. Um aluno de graduação, acho que eu estava no sexto período, mais ou menos... Esse evento me marcou bastante.

Tem alguma habilidade, alguma coisa que o senhor adquiriu durante a faculdade que ajuda bastante agora?

Sim. Eu tinha um sócio que falava assim: “RI junta as pontas. Consegue articular um assunto em outro, um evento em outro, um ator em outro”. E partindo dessa frase dele, não, a coisa que eu mais falo em sala de aula é que nós, pela nossa formação, a gente tem uma visão sistêmica, a gente não olha as coisas que acontecem só por uma lente, de uma determinada disciplina ou de uma perspectiva econômica. A gente tem um olhar holístico, e isso é um diferencial. Na minha opinião, da área, mas que acaba trazendo um diferencial no mercado de trabalho, porque muitas vezes os demais profissionais são muito especializados, eles não conseguem ver além daquele caixinha de conhecimento deles e nós, de Relações Internacionais, já saímos da graduação com essa habilidade, uma competência, até ouso dizer que é muito importante nessa visão externa.

Teve alguma situação desafiadora durante esse tempo de carreira do senhor?

Sim, devido exatamente por necessidade profissional, eu tive que aprender uma série de outros conteúdos que eu nunca imaginei que teria que aprender. Eu tive que aprender contabilidade, isso na prática, e no primeiro momento foi um “deus nos acuda”. Mas eu acho que o momento desafiador é quando você tem que, por uma questão de necessidade, aprender novos conteúdos, e que muitas vezes não estão vinculados a nossa formação. Esse é o principal desafio. Para muitos de nós é um desafio muito grande, porque, a gente às vezes tem lacuna de formação, não aprendeu bem determinadas disciplinas. Então às vezes alguma coisa aqui toca nessa lacuna, para gente é um bicho muito maior do que é na verdade.

O senhor poderia comentar como é sua rotina?

Eu acordo super cedo, então às 5:45 da manhã eu já estou acordando. Eu preparo a minha filha para ir para a escola junto com a mãe dela, elas vão juntas...A minha esposa trabalha e a minha filha estuda no mesmo lugar. Enfim, se eu tenho aula na instituição eu vou, e normalmente às tardes são os momentos de preparação, leitura, acompanhar o que está acontecendo, e outras coisas que são vinculadas à disciplina. E na parte da noite, dou aulas, faço orientação de TCC, e é isso. 

E o senhor tem algum conselho para os alunos? 

O conselho que eu digo é: não fecha a cabeça para absolutamente nada, principalmente para as disciplinas. Conhecimento. Eu sei que às vezes falam “por que eu devo estudar essa disciplina?”, e quando a gente menos espera, você precisa daquilo que você viu, aí você volta lá na graduação. E muitas vezes a gente paga por essas escolhas ruins de não dar bola, não entender a matéria, ser mais pragmático, tirar a nota e acabou. Só que, às vezes, esse conhecimento vai se transformar em essencial, primordial. Em outro momento da vida, a gente nunca sabe... O que eu digo: nunca descarte um conhecimento, nunca descarte uma disciplina, por mais que a gente não goste, porque isso é muito importante. E é porque isso em algum momento a gente pode precisar. Pode, não quer dizer que vá, mas pode precisar.

E tem alguma lista de livros que o senhor gostaria de deixar? 

Olha, eu leio tudo, só não gosto desses livros Best-sellers, entendeu? Gosto muito de literatura russa, especialmente Dostoiévski, esse pessoal do século 19, século 20. Gosto também de James Joyce, Thomas Mann, também leio Fernando Pessoa... Na literatura nacional, eu leio Guimarães Rosa... Mas assim, não tenho uma lista assim pessoal. Agora eu sempre falo assim: clássico é clássico, não é à toa, porque os autores são realmente muito bons e nos levam exatamente a uma reflexão que faz um diferencial na vida da gente, permite uma reflexão, enfim, ou até mesmo um bom momento de leitura, né? Que faça até mesmo a gente rir em alguns.


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