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terça-feira, 30 de novembro de 2021

Volta ao Mundo em 7 Dias - Notícias de 22/11 a 28/11

Por Manuela Paola

  • Estados Unidos da América
    O Internacionalize-se lamenta em informar que Virgil Abloh, designer mundialmente aclamado, faleceu no último domingo (28) aos 41 anos, em decorrência de angiossarcoma, um raro tipo de câncer que atinge o coração. Virgil foi o primeiro diretor criativo negro a trabalhar para a francesa Louis Vuitton, além de ter inovado o mundo da moda e fundado a marca Off White. 
    O designer norte-americano lutava há anos contra a doença, mas preferiu mantê-la em segredo das mídias, ao mesmo tempo que era diretor de muitas instituições de moda, arte e cultura. Virgil contribui fortemente para todas essas áreas e fará, certamente, muita falta para o mundo todo. 

  • África do Sul
    Em 18 de novembro, uma médica sul-africana descobriu uma nova variante do coronavírus, batizada de ômicron. Os pacientes infectados apresentaram sintomas leves, como cansaço, dores no corpo e dor de garganta, não sendo necessárias internações. A médica, Angelique Coetzee, afirma que os países podem estar lidando com ômicron sem mesmo perceber, por isso não é necessário que haja pânico por parte das autoridades, ao menos por enquanto. A variante já tem casos confirmados em todos os continentes, e países como Brasil, Canadá, Estados Unidos, Irã e regiões da Europa já aumentaram as restrições para passageiros que chegam do continente africano; alguns países, como Israel, até mesmo fecharam suas fronteiras a estrangeiros, o que deixou muitos passageiros presos nos aeroportos na África do Sul. 

  • Honduras
    Neste último domingo (28), Honduras elege os novos representantes do governo. Além de votar para a presidência, a população vai escolher 28 deputados para o Congresso Nacional, 298 prefeitos e 20 deputados para o Parlamento Centro-Americano. A eleição acontece em meio a incertezas e tensões, visto o histórico de instabilidade política do país. Nas últimas eleições, o atual presidente Juan Orlando Hernández foi eleito mesmo com denúncias de fraude. 
    Mesmo com 14 candidatos, apenas dois têm as maiores intenções de voto: Nasry Asfura, do Partido Nacional, e Xiomara Castro, do Partido Liberdade e Renovação; se eleita, será a primeira presidente mulher do país. 
Xiomara Castro. Foto: Yoseph Amaya/Reuters

  • Peru
    Arqueólogos da Universidade Nacional de San Marcos encontraram uma múmia com idade entre 800 e 1.200 anos no sítio arqueológico de Cajamarquilla. Junto com o corpo, foram descobertos objetos que seriam oferendas para o falecido. Pieter Van Dalen Luna, um dos arqueólogos, estima que o esqueleto seja de um homem entre 25 e 30 anos. 

    Além deste acontecimento, o país sofreu um forte terremoto - de 7,5 graus de magnitude - no norte do Peru, na região amazônica. De acordo com as autoridades, não houve vítimas. 

  • Suíça
    Um referendo, em resposta à nova variante ômicron, estabeleceu o passaporte sanitário na Suíça. Negacionistas insatisfeitos com o resultado organizaram protestos, criticando fortemente a nova lei. Os manifestantes se encontraram em frente ao Parlamento e à sede do governo, com forte segurança, que inclusive bloqueou a praça em que a manifestação deveria acontecer. Além disso, políticos receberam ameaças de mortes, o que os fez precisar de proteção policial. Desde outubro, como muitos outros países da Europa, a Suíça vem sofrendo com surtos de infecções por covid-19 por conta da variante delta. A taxa de vacinação do país é de 65%, ficando atrás de muitas nações da Europa.

Referências
ÔMICRON tem sintomas leves até agora, diz médica que descobriu a variante. G1. 28 nov. de 2021. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-59455619.
COVID-19: descoberta da variante ômicron deixa milhares de turistas bloqueados na África do Sul. G1. 27 nov. de 2021. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/11/27/covid-19-descoberta-da-variante-omi cron-deixa-milhares-de-turistas-bloqueados-na-africa-do-sul.ghtml.
HONDURAS elege novo presidente em clima de tensão. G1. 28 nov. de 2021. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/11/28/honduras-elege-novo-presidente-em- clima-de-tensao.ghtml.
HONDURAS volta às urnas em eleição marcada por repressão e anticomunismo. Brasil de Fato. 28 nov. de 2021. Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2021/11/28/honduras-volta-as-urnas-em-eleicao-mar cada-por-repressao-e-anticomunismo.
VIRGIL Abloh, designer da Louis Vuitton e da Off White, morre aos 41 anos em decorrência de um câncer. G1. 29 nov. de 2021. Disponível em: https://g1.globo.com/pop-arte/moda-e-beleza/noticia/2021/11/28/virgil-abloh-designe r-da-louis-vitton-e-da-off-white-morre-aos-41-anos-em-decorrencia-de-um-cancer.ght ml.
VIRGIL Abloh morre aos 41; artista criou Off White e mudou a Louis Vuitton. UOL. 28 nov. de 2021. Disponível em: https://www.uol.com.br/nossa/noticias/redacao/2021/11/28/designer-da-louis-vitton-e -da-off-white-virgil-abloh-morre-aos-41-anos.htm.
TERREMOTO DE 7,5 graus atinge região amazônica do norte do Peru. UOL. 28 nov. de 2021. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/videos/2021/11/28/terremoto-de-75-graus-atinge-regiao-a mazonica-do-norte-do-peru.htm
MÚMIA de até 1.200 anos é encontrada por arqueólogos no Peru. UOL. 28 nov. de 2021. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2021/11/28/mumia-peru-800 -anos.htm
MÚMIA de pelo menos 800 anos é encontrada por arqueólogos no Peru. CNN. 28 nov. de 2021. Disponível em: https://cnnbrasil.com.br/internacional/mumia-de-pelo-menos-800-anos-e-encontrada -por-arqueologos-no-peru/
SUÍÇA aprova passaporte sanitário da Covid em meio a fortes tensões com negacionistas. UOL. 28 nov. de 2021. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/afp/2021/11/28/suica-aprova-passaporte-s anitario-da-covid-em-meio-a-forte-tensoes-com-negacionistas.htm

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino

Por Fernando Yazbek e Vinícius Canabrava

    No dia 29 de novembro é celebrado o Dia Internacional da Solidariedade com o Povo Palestino. Hoje é importante relembrar as palavras proferidas pelo ex-presidente Sul-africano, Nelson Mandela: “A Liberdade só será completa, quando ocorrer a liberdade do povo palestino.” Há exatos 74 anos, a Assembleia Geral das Nações Unidas adotou a resolução 181, conhecida como resolução da partilha, que previu a criação de dois Estados em território palestino, o Estado da Palestina e o Estado de Israel. Ocorre, entretanto, que desde seu surgimento, Israel nunca escondeu suas ambições expansionistas e segregacionistas na região. O que se vê, sete décadas depois, é a substituição do colonialismo inglês pelo israelense, interligados desde 1917 pela Declaração Balfour. 
    Foram travadas 6 guerras entre os países árabes e o recém-criado Israel. Já na primeira delas, que acabou em 1949, 700 mil palestinos deixaram seus lares (LIMONCIC, 2005). Desde então, há uma estimativa de que 50% dos palestinos vivem fora da Palestina, número que tende a crescer (LABADI, 2018). Esses trágicos dados são positivos para o governo israelense, já que esse objetiva a criação de um Estado demograficamente judaico (LIMONCIC, 2005).
    Essas pessoas, vítimas de um processo de ocupação de sua própria nação vivem, muitas vezes, em condições preocupantes, sem acesso à saúde, educação e até mesmo comida. A Agência das Nações Unidas para Assistência aos Refugiados Palestinos auxilia ao menos 5 milhões de pessoas nos territórios palestinos e em outros 3 países no Oriente Médio, fornecendo serviços de saúde, educação e assistência social. Porém, pela primeira vez a agência está sem dinheiro, já que apenas recebeu 130 milhões de dólares dos 400 milhões necessários para efetivar suas ações. 
    Somado a isso, as autoridades israelenses são imparáveis e incansavelmente atacam os direitos humanos do povo palestino. É comum bairros palestinos serem demolidos para que colonos passem a ocupar a região, como ocorreu em Sheikh Jarrah, em meados de 2021. Até mesmo o acesso à água é controlado por Israel, desde 1967, conforme a Anistia Internacional. O controle é feito de tal forma que não atende as necessidades básicas dos palestinos e tampouco é justa, já que os recursos hídricos são compartilhados. Em Gaza, 95% da água é imprópria para o consumo, mesmo assim, não é possível trazer água da Cisjordânia para a região. A regulação de Israel é tão cruel que, enquanto um palestino consome 73 litros de água por dia, muito abaixo do recomendado pela Organização Mundial da Saúde, de 100 litros, um cidadão de Israel consome 300 litros. 


    Ataques também são feitos a tradições palestinas. Conforme a Al Jazeera, entre 80 e 100 mil famílias palestinas dependem financeiramente da coleta de azeitonas para a produção de azeite. Contudo, colonos israelenses já perpetuaram 58 ataques a plantações palestinas até o dia 17 de outubro. Além de queimarem as plantações, os fazendeiros também sofrem agressões. Os invasores, que não são punidos, reprimem não apenas economicamente o povo palestino, mas também culturalmente, já que a colheita de azeitonas é uma tradição centenária. 
    Por fim, além de constantes ataques a mulheres, crianças, idosos e civis Israel não poupa esforços em desrespeitar locais sagrados, como a Mesquita de al-Aqsa. Segundo o The Guardian, um ataque ocorreu no local no mês do Ramadã, o mais sagrado para o Islã. Soldados de Israel invadiram o local, atiraram contra fiéis e jogaram bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral na Mesquita. 
    Posto isso, é evidente que este conflito já deixou de ser apenas político: o governo de Israel está, de forma nada sútil, exterminando a cultura e o povo palestino de seu território natal. Uma tragédia humanitária está acontecendo neste momento e pouco se faz para evitá-la. Já é tarde demais, erros irreparáveis já foram feitos, famílias perderam casas, mães tiveram que assistir ao velório de seus filhos e se a situação seguir assim, logo só restarão lamentos. No dia da Solidariedade ao Povo Palestino, mais do que nunca, é crucial reconhecer a necessidade de um Estado Palestino livre e soberano. 
    Ao redor do mundo, o dia do começo da ocupação sionista é lembrado com solidariedade aos árabes expropriados. Comemorações são feitas anualmente na sede da ONU, em Nova Iorque, e nos escritórios em Viena e em Genebra. E hoje a Assembleia Legislativa do Estado do Paraná não ficou para trás.
    O deputado estadual Hussein Bakri (PSD), líder do governo, discursou em apoio a Causa Palestina na Sessão Plenária desta segunda-feira (29). O parlamentar ganhou um keffyeh – característico lenço árabe – das mãos de Ualid Rabah, presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil. O presente veio direto da Terra Santa, como um regalo da própria Organização pela Libertação da Palestina. 
    A importância da data é tamanha que até o deputado Professor Lemos (PT), líder da oposição ao governo de Bakri, se juntou as homenagens. Em seu tempo de fala em plenário, leu na íntegra a Carta da Federação Palestina sobre o Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino: 
    “Novamente, a Comunidade Internacional, a ONU, os povos, nações e países, governos e parlamentos, a sociedade civil e suas organizações se mobilizam em solidariedade ao povo palestino, para que este tenha o que todos os demais povos têm: um estado soberano, no qual sua população viva em paz e segura, sem ocupantes estrangeiros, sem apartheid, sem massacres, sem cercos, sem destruições, sem prisões e torturas, sem as expulsões e confiscos de sua terra, que cristalizam um processo de limpeza étnica implacável, desumano e jamais conhecido na história humana. 
    O que se dá na Palestina é tão grave, uma experiência racista tão preocupante, inclusive como precedente histórico e legal, que levou a ONU a declarar um dia especial para a solidariedade ao povo palestino, o dia 29 de novembro, por meio da Resolução 32/40-B, aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 29 de novembro de 1977. 
    Esta data foi escolhida porque, 30 anos antes, na mesma data, a mesma ONU aprovou a Resolução 181, recomendando partilhar a Palestina histórica, em que viviam harmonicamente há milênios palestinos de fés cristã, muçulmana e judaica, criando em seu lugar dois novos estados: um, em apenas 42,9% do território, para o povo palestino originário, 1,4 milhão de pessoas, ao menos 2/3 da população, e outro, com 56,5% do território, para apenas 700 mil pessoas, as professantes do judaísmo e apenas 1/3 da população, ou menos, a maioria estrangeira, recém-chegada à Palestina. E 0,6% seria Jerusalém, uma área internacional administrada pela ONU. 
    O movimento sionista, surgido na Europa no século anterior para a criação de um estado exclusivamente judeu em qualquer parte do mundo, mas que em 1897 escolhe a Palestina para esta experiência, não gostou, pois queria toda a Palestina, conforme interpretava fosse a promessa britânica de um “lar nacional judeu”, contida na Declaração Balfour, de 2 de novembro de 1917. 
    Descontentes com o arranjo da ONU, os sionistas, já fortemente armados, deram início aos ataques às populações palestinas, desarmadas e desprevenidas do que poderia vir, para aterrorizá-las e levá-las ao êxodo, destacando-se os promovidos contra Lifta e Deir Yassin, a noroeste e oeste de Jerusalém respectivamente. 
    Lifta teve sua população expulsa em 28 de dezembro de 1947, um mês após a aprovação da Resolução 181, quando terroristas do grupo Haganah invadiram a cidade, mataram um comerciante e outros seis moradores num café. Houve também sete feridos. 
    Já Deir Yassin foi invadida e limpada etnicamente, a 9 de abril de 1948, pelos grupos Irgun, Lehi, Haganah e Stern, terroristas para os ingleses, que depois formaram o exército israelense. Perto de 300 moradores foram assassinados, quase todos mulheres, crianças e idosos. 
    Este foi o teste do modelo que viria a ser aplicado em larga escala após 14 de maio de 1948, quando os sionistas se autoproclamam estado e declararam-se Israel, à margem da ONU, que havia suspendido a aplicação da Resolução 181 devido aos massacres de que havia sido informada. 
    No estalar de 15 de maio é dado início à limpeza étnica da Palestina: 774 cidades e povoados palestinos ocupados, dos quais 531 totalmente destruídos; 70 massacres cometidos, com mais de 15 mil mortos, incontáveis feridos e mutilados e dois terços da população originária, a palestina, expulsa pelos estrangeiros recém-chegados. Considerados os 76% da Palestina tomados a força neste processo, são levados a êxodo desta porção territorial, de acordo com dados da ONU, 725 mil dos 900 mil palestinos que viviam no que passa a ser Israel. Ou seja: 81% de toda a população palestina é morta ou expulsa para nascer, pela violência, Israel. 
    De lá para cá o sofrimento do povo palestino não cessou. Atualmente, contra as resoluções da ONU e o Direito Internacional, especialmente o humanitário, as forças de ocupação acentuaram o confisco de terras, as restrições aos agricultores palestinos, prendem cada vez mais palestinos que lutam pela autodeterminação, cercam as cidades palestinas, com destaque para a região de Gaza, e incrementam o processo de limpeza étnica, combinado com um regime de segregação racial, designado como de apartheid pelas mais importantes organizações de direitos humanos do mundo e investigado pelo Tribunal Penal Internacional como crime israelense de lesa-humanidade. 
    Em vista disso, e porque foi a partir de uma ação da própria ONU que a catástrofe palestina teve início, é que ganha importância a solidariedade internacional para com o povo palestino. Esta solidariedade precisa crescer ao ponto de levar Israel a aceitar o direito à autodeterminação da Palestina e ao cumprimento das resoluções da ONU para a Questão Palestina. 
    Se a solidariedade internacional levou ao fim do regime de apartheid na África do Sul, assim como do colonialismo, a mesma levará paz à Palestina e ao fim do sofrimento de seu povo. 
    Por fim, esta Federação agradece ao povo brasileiro e a suas autoridades pela solidariedade prestado ao povo palestino. Uma Palestina livre fará o mundo melhor para todos os povos e nações.” 

Referências
Palestine refugees UNRWA. UNRWA. Disponível em: <https://www.unrwa.org/palestine-refugees>. Acesso em: 29 Nov. 2021. 
Nações Unidas marcam Dia Internacional de Solidariedade com o Povo Palestino. ONU News. Disponível em: <https://news.un.org/pt/story/2020/11/1734242>. Acesso em: 29 Nov. 2021. 
LIMONCIC, F. Israel, Palestina e a Língua do P: (Paz), Paus e Pedras no Meio do Caminho. Disponível em: <http://www.cedep.ifch.ufrgs.br/pdf_cedep/israel-palestina.pdf>. Acesso em: 29 nov. 2021.
BBC NEWS. Por que os palestinos estão perdendo suas casas em Jerusalém Oriental - BBC News Brasil. BBC News Brasil. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/internacional-58118262>. Acesso em: 29 Nov. 2021. 
The Occupation of Water. Amnesty International. Disponível em: <https://www.amnesty.org/en/latest/campaigns/2017/11/the-occupation-of-water/>. Acesso em: 29 Nov. 2021. 
LABADI, Taher. The Palestinian Diaspora and the State-Building Process. Arab Reform Initiative. Disponível em: <https://www.arab-reform.net/publication/the-palestinian-diaspora-and-the-state-building-process/>. Acesso em: 29 Nov. 2021. 
HOLMES, Oliver ; BEAUMONT, Peter. Israeli police storm al-Aqsa mosque ahead of Jerusalem Day march. the Guardian. Disponível em: <https://www.theguardian.com/world/2021/may/10/dozens-injured-in-clashes-over-israeli-settlements- ahead-of-jerusalem-day-march>. Acesso em: 29 Nov. 2021. 

quarta-feira, 24 de novembro de 2021

Deus mercado, receba esta oferenda.


    O financista Pablo Syper inaugurou, no dia 16 de novembro, uma escultura em forma de touro em frente ao prédio da Bolsa de Valores em São Paulo. Réplica cuspida e escarrada da obra que enfeita Wall Street, reduto pecuniário de Nova Iorque, o animal dourado tenta representar uma retomada no valor dos papéis negociados nas corretoras. Isto porque o ataque do touro, expressão bastante usada pelos vendelhões, se dá de baixo pra cima, levantando a presa pelos chifres. O dólar comercial bate, dia sim dia não, acima dos R$ 5,50. Enquanto isso, a IBOVESPA registrou, no dia seguinte da instalação taurina, o seu menor patamar em mais de um ano, perto dos cem mil pontos, somando baixa de 13,5% em 2021. 
    Gilson Finkelsztain, o homem que abre e fecha o zíper da Bolsa, defendeu a presença simbólica dos cornos auríferos em frente ao seleto mercado, pois, segundo ele, representam a força e a resiliência do povo brasileiro. Finkelsztain, por suposto, deve saber que nem 3% deste povo heroico bradam pelos pregões. Na semana debutante do bovino brilhante – shiny bull, para os mais chegados –, foi divulgada uma pesquisa do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional do Ministério da Saúde mostrando que somente uma em cada quatro crianças entre 2 e 9 anos comem três vezes ao dia no Brasil. 
    Os gastos com alimentação, segundo o IBGE, consomem mais de um quinto da renda dos brasileiros mais pobres. Não bastasse a pandemia, o preço do arroz subiu mais de 50% e o do botijão de gás, quase 40%. A carne de boi – não de touro – acompanha a média do gás de cozinha na alta inflacionária e faz com que boa parte dos quase 15 milhões de desempregados recorram aos ossos e carcaças descartados de frigoríferos e açougues. Em São Paulo, sede da Bolsa brasileira, o último Censo de 2019 dá conta de que são quase 25 mil moradores de rua na capital financeira mais rica do hemisfério sul, mais do que a capacidade do Estádio do Canindé. 
    Nada disto parece preocupar os toureiros da arena especulativa. O que os faz bambear as castanholas são os as incertezas nos precatórios, o minério de ferro na China e a inflação dos Estados Unidos. Pretensos touros, fogem da bandeira vermelha como o diabo da Santa Cruz, embora o deus deles seja outro e estrangeiro. Nem o profeta Paulo Guedes, inspirado de toda ortodoxia liberal, consegue domar este boi-bandido. 
    A elite financeira brasileira é apátrida em conteúdo e cafona na forma. “Americanalizados”, importaram tudo o que há de ruim antes de trazer algo minimamente bom. As caricatas réplicas da estátua de Bartholdi vendendo quinquilharias, o obeso “M” amarelo iluminando a miséria e o touro de ouro da Bolsa são as prendas (ou targets) despachadas (em day-trade) ao invisível Deus Mercado. Rogam para que os ceguem com cabrestos frente ao tangível que passa debaixo da própria tabuleta. 


segunda-feira, 22 de novembro de 2021

Volta ao Mundo em 7 Dias - Notícias de 15/11 a 21/11


  • Rússia
    Nesta segunda-feira (15), a Rússia realizou um teste de armas anti-satélite tendo como alvo um satélite russo não utilizado. Logo após o teste, autoridades norte-americanas disseram que o mesmo havia deixado um campo de destroços na órbita baixa terrestre e que estes destroços colocam em perigo a Estação Espacial Internacional e representará um perigo às atividades espaciais por anos. 
    Na terça-feira (16) o ministério de defesa da Rússia comunicou que os destroços do teste não representaram e não representam um perigo para as estações espaciais e nem satélites em órbita, acusando os Estados Unidos de hipocrisia pela declaração sobre o teste. De acordo com a Rússia, “durante vários anos” Moscou vem pedindo aos EUA e outras potências espaciais para que assinem um tratado para evitar o uso de armas no espaço.

  • Áustria
    Temendo uma 5 onda de covid, a Áustria será, a partir desta segunda-feira (22), o primeiro país da Europa a retornar medidas de lockdown nacionais, após o governo já ter imposto um confinamento apenas aos não vacinados. Essa decisão do governo austriaco gerou revolta entre a população e neste sábado (20), milhares de manifestantes foram às ruas em protesto com cartazes contendo mensagens como: “Não à vacinação" e “abaixo a ditadura facista”. 
    Vale a pena notar que a Áustria possui um índice de população totalmente vacinada de 66%, um dos menores da Europa ocidental. A visão de ceticismo em relação à vacina na Áustria é encorajada pelo partido da liberdade, de extrema direita e terceiro maior no parlamento. 

Milhares vão às ruas de Viena, na Áustria, em protesto contra novo lockdown — Foto: Lisa Leutner/AP 


  • Paquistão
    Nesta quarta-feira (17), o parlamento do Paquistão aprovou uma nova lei que prevê á pessoas condenadas mais de uma vez por abuso sexual a possibilidade de condenação a castração quimica. Para tal, há a determinação de criação de cortes especiais no país para acelerar os julgamentos de crimes sexuais e garantir que estes sejam decididos em até quatro meses. 
    De acordo com o texto da lei: “A castração química é um processo devidamente notificado por normas instituídas pelo primeiro-ministro, pelo qual a pessoa fica impossibilitada de praticar relações sexuais por qualquer período de sua vida, será determinado pelo tribunal e vai ocorrer por meio da administração de drogas, que será realizada por meio de um quadro de profissionais médicos”.

  • Belarus
    Nesta sexta-feira (19) em entrevista à BBC o presidente da Belarus, Alexander Lukashenko, afirmou que é “absolutamente possível” que as forças armadas da Bielorrúsia tenham ajudado migrantes á entrar irregularmente na União Européia, principalmente na Polônia, Letônia e Lituânia. A entrada de migrantes tem desencadeado uma grande crise político-diplomática no bloco europeu e aparentemente é resultado de uma retaliação de Belarus por ter sofrido sanções da UE. 
    O presidente também deixou claro na entrevista que migrantes não serão barrados em suas fronteiras: "Se eles continuarem a vir, não vou impedi-los. Porque não estão vindo ao meu país, estão indo aos de vocês (Europa Ocidental)", declarou, queixando-se de que "o Ocidente parou de falar conosco e de trabalhar conosco". 

  • EUA
    Nos EUA, o jovem Kyle Rittenhouse, responsável pela morte de duas pessoas durante um protesto contra o racismo em Kenosha (2020), foi inocentado pelo tribunal do júri por agir em legítima defesa nesta sexta-feira (19). O jovem respondia por homicídio, por colocar a vida de outras pessoas em risco e por carregar uma arma de fogo sendo menor de idade (Na época do crime, Kyle tinha 18 anos). 
    Os pais de Anthony Huber, um dos homens assassinados, comunicaram que estavam de “coração partido” e a decisão do Júri “envia uma mensagem inaceitável de que civis armados podem incitar a violência matar pessoas". 

Kyle Rittenhouse, adolescente acusado de assassinato em protesto contra o racismo, em foto de 18 de novembro de 2021 — Foto: Sean Krajacic/The Kenosha News via AP, Pool 



Referências
Rússia confirma realização de teste com míssil anti-satélite e ataca EUA. https://economia.uol.com.br/noticias/efe/2021/11/16/russia-confirma-realizaca o-de-teste-com-missil-anti-satelite-e-ataca-eua.htm. Acesso em 22 de novembro de 2021.
“Milhares vão às ruas na Áustria em protesto contra novo lockdown”. G1. Acesso em 22 de novembro de 2021. 
“Parlamento do Paquistão aprova lei para castrar quimicamente os condenados por abuso sexual”. G1, https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/11/18/parlamento-do-paquistao-apro va-lei-para-castrar-quimicamente-os-condenados-por-abuso-sexual.ghtml. Acesso em 22 de novembro de 2021.
“Líder de Belarus admite ter facilitado entrada de migrantes na UE, alimentando crise com o bloco”. Terra, https://www.terra.com.br/noticias/mundo/lider-de-belarus-admite-ter-facilitado- entrada-de-migrantes-na-ue-alimentando-crise-com-o-bloco,d86efa0cca4b44 713d04fc1d1c57762eniowgxf5.html. Acesso em 22 de novembro de 2021. 
“Tribunal decide que jovem que matou 2 em protesto antirracista nos EUA agiu em legítima defesa”. G1, https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/11/19/acusado-de-matar-2-em-prote sto-antirracista-nos-eua-e-declarado-inocente-pela-justica-americana.ghtml. Acesso em 22 de novembro de 2021. 


terça-feira, 16 de novembro de 2021

Volta ao Mundo em 7 Dias - Notícias de 08/11 a 14/11

Por Alécia Alves

  • Escócia
    Após quase duas semanas de negociações na Conferência das Partes (COP26) em Glasgow, a reunião dos líderes mundiais acabou por resultar em alguns acordos firmados no sábado (13). Na convenção foram discutidas diversas questões dentro do tema Meio Ambiente, inclusive promessas que haviam sido feitas na COP25, os temas mais caros eram: os meios para conter o rápido avanço do aquecimento global; o uso de combustíveis fósseis, a redução da emissão de gases do efeito estufa e como compensar ou ressarcir os países mais vulneráveis pelos danos sofridos até então. 
    Uma das partes do acordo considerada mais importante versa a respeito do uso de combustíveis fósseis, esse tema não havia sequer sido abordado nas COPs anteriores. A proposta inicial seria eliminar o uso dos combustíveis fósseis gradativamente, mas por pressão da Índia, China e Irã e para que o texto não fosse descartado por completo, no lugar de “eliminar” o uso do carvão passou-se usar-se a palavra “reduzir”, permitindo, dessa forma o seu uso contínuo.


    As grandes críticas a respeito da conferência e dos acordos firmados se dão em cima do fato de que mais uma vez os Estados mais vulneráveis, aqueles que menos poluem e ainda assim mais sofrem com as mudanças climáticas, seguem sendo ignorados e sem receber nenhum tipo de ressarcimento pelos danos causados pelas grandes potências durante séculos. Uma promessa havia sido feita na COP25 em Paris a respeito da criação de um fundo de 100 bilhões anuais para financiar as nações em desenvolvimento a partir de 2020, mas a promessa não foi cumprida, o que deixou os representantes desses países indignados. 
  Segundo Rachel Cleetus do Programa de Clima e Energia da União de Cientistas Preocupados: “A decisão final da COP26 está esmagadoramente comprometida pelos países que mais contribuíram para a crise climática e mais uma vez negam justiça para os países em desenvolvimento vulneráveis ao clima”. 
    Além disso, não houve grandes avanços na ambiciosa meta também proposta na COP25 de Paris em limitar o aquecimento global a até 1,5C, sendo postergado para COP27 no Egito. Na prática, o que ficou acordado (sendo acatado de forma variável pelos países) foi: o apoio ao desenvolvimento de tecnologia limpa através do financiamento das indústrias de queima de combustíveis fósseis; a redução e até mesmo eliminação do uso de combustíveis fósseis e o manifesto da soja do Reino Unido por parte das empresas da região em não utilizar soja de proveniente de desmatamentos a partir de jan. de 2020. 

  • Belarus
    Cresce a crise migratória na fronteira entre Belarus e União Européia, trazendo muita tensão entre os governos de MInsk, Moscou, Varsóvia e representantes da UE. Já foram mais de 30 mil tentativas de cruzar as fronteiras de Belarus para o território Europeu desde segunda-feira (8). Lukashenko, atual presidente de Belarus, tem sido acusado de fomentar esse processo ajudando a promover o tráfico de pessoas como uma forma de pressionar o bloco europeu, a Russia também tem sido acusada de participar.


    As autoridades polonesas afirmam que os imigrantes chegaram preparados para o frio e escoltados por agentes do regime de Minsk, os imigrantes não são dos países fronteiriços, mas em sua maioria do Oriente Médio, especialmente do Iraque e da Síria. Não é a primeira vez que Lukashenko é acusado de tirar proveito da fragilidade dos imigrantes para causar inquietação nas fronteiras, dessa vez, essa seria uma forma de retaliação pelas sanções mais recentes que Belarus vem sofrendo pela UE. 
    A União Europeia pretende impor novas sanções, desta vez incluindo as companhias aéreas que têm colaborado com o governo de Minsk no tráfico aéreo de pessoas ativamente ou por omissão. Lukashenko por sua vez ameaça cortar o trânsito de gás natural e de outros bens exportados pelo país para a UE caso haja novas sanções. Enquanto tudo isso ocorre, os imigrantes passam por situações de miséria, dependendo de ajuda de moradores locais e ONGs para sobreviver. 

  • China
    Foi publicado pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos na quarta-feira (10) o relatório anual a respeito dos investimentos feitos pela China no desenvolvimento das forças armadas. A partir dos dados oferecidos pelo relatório é possível observar que Pequim está em um processo fervoroso de expansão, foram observados diversas novas bases nucleares e testes de mísseis hipersônicos com capacidade nuclear, estima-se que até 2027 o Estado obtenha em torno de 700 ogivas nucleares, e pelo menos 1000 até 2030, atualmente a China possui em torno de 250 a 300 ogivas. Não há muita transparência por parte do governo Chinês relativamente a seu programa atômico, mas os especialistas concordam em apontar que esta é uma projeção iminente. Pequim respondeu ao relatório acusando-o de ser manipulativo. 
    Na prática, o receio internacional é que haja um desequilíbrio da Nova Ordem Mundial e um incentivo de mais investimento por parte das demais potências nucleares em um contexto de tensões entre Washington sobre taiwan e o mar da China Meridional. Embora os Estados Unidos e a Rússia estejam tecnicamente bloqueados pelo acordo New Start, que estabelece um limite de mobilização de até 1550 ogivas, eles ainda obtém um arsenal muito superior às demais potências nucleares e é essa diferença que a China aparentemente busca diminuir ou eliminar. 

  • Áustria
    Devido a uma nova onda de infecção pelo COVID19 em pessoas não vacinadas, o governo austríaco optou por impor lockdown àqueles que ainda não tiverem tomado as doses da vacina. O lockdown deve iniciar na segunda-feira (15), os não vacinados não poderam sair de casa a não ser para serviços essenciais como trabalhar, ir ao mercado ou vacinar. Apenas 65% da população está vacinada e as autoridades temem que haja novas mortes e novo colapso dos serviços de saúde. O controle será feito por fiscalização não anunciada previamente. A medida foi recebida com protestos pelos ativistas do movimento antivacinas. 



Referências
COP26 termina com acordo climático; veja o que deu certo e as falhas nas negociações. CNN INTERNATIONAL. 14 de nov. de 2021. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/cop26-termina-com-acordo-climatico-veja -o-que-deu-certo-e-as-falhas-nas-negociacoes/.
“Passo importante, mas não o suficiente”, afirma Guterres sobre acordo da COP26. ONU NEWS. 13 de nov. de 2021. Disponível em: https://news.un.org/pt/story/2021/11/1770432.
EU agrees new sanctions on Belarus over border crisis. ALJAZEERA. 15 de nov. de 2021. Disponível em: https://www.aljazeera.com/news/2021/11/15/eu-agrees-new-sanctions-on-belarus-a mid-border-crisis.
O que ocorre na fronteira de Belarus com a Polônia? Entenda o que está em jogo no conflito migratório. EL PAÍS. 11 de nov. de 2021. Disponível em: https://brasil.elpais.com/internacional/2021-11-11/o-que-ocorre-na-fronteira-de-belar us-com-a-polonia-entenda-o-que-esta-em-jogo-no-conflito-imigratorio.html.
Os poloneses que optam por não olhar para o outro lado: “Os imigrantes bebem água como se fosse o fim do mundo”. EL PAIS. 14 de nov. de 2021. Disponível em: https://brasil.elpais.com/internacional/2021-11-14/os-poloneses-que-optam-por-nao- olhar-para-o-outro-lado-os-imigrantes-bebem-agua-como-se-fosse-o-fim-do-mundo. html.
Fome, frio e morte na fronteira entre a Polônia e Belarus. EL PAÍS. 12 de nov. de 2021. Disponível em: https://brasil.elpais.com/internacional/2021-11-12/fome-frio-e-morte-na-fronteira-entr e-a-polonia-e-belarus.html.
China sacode a velha ordem nuclear mundial. EL PAÍS. 08 de nov. de 2021. Disponível em: https://brasil.elpais.com/internacional/2021-11-08/china-sacode-a-velha-ordem-nucle ar-mundial.html 
China diz que relatório dos EUA sobre arsenal nuclear é 'manipulação'. ESTADO DE MINAS INTERNACIONAL. 05 de nov. de 2021. Disponível em: https://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2021/11/05/interna_internacional,13 20158/china-diz-que-relatorio-dos-eua-sobre-arsenal-nuclear-e-manipulacao.shtml.
Austria orders nationwide lockdown for unvaccinated. ALJAZEERA. 14 de nov. de 2021. Disponível em: https://www.aljazeera.com/news/2021/11/14/austria-orders-nationwide-lockdown-for- unvaccinated. 



terça-feira, 9 de novembro de 2021

CÁTEDRA: Fogo no campo de refugiados de Mória completa um ano

Por Amanda Souza*

    Vindos da Europa e do Oriente Médio, é muito comum que os refugiados sonhem e busquem uma vida digna e salubre, porém a maioria passa grande parte do período de pós migração morando nos campos de refugiados, que são lugares construídos por ONGs, Estados ou Organizações Internacionais para acolher essas pessoas até que sejam aceitas por algum país, ou seja, um lugar de passagem. Entretanto, os campos de refugiados acentuam cada vez mais as vulnerabilidades da comunidade refugiada. 
    Os campos de refugiados funcionam como uma verdadeira cidade. Possuem espaço para comércio, escola, enfermaria e um conjunto enorme de cabanas que abrigam seus moradores. Olhando desse modo parece ser um ótimo lugar para se viver, mas a insalubridade presente no local é muito grande. As cabanas não são preparadas para receber famílias tão grandes e se tornam apertadas; há poucos banheiros e não possuem água encanada. Além das condições físicas, muitos dos direitos não são garantidos, como a educação, a liberdade e a proteção. Crianças de vários níveis escolares têm aulas conjuntas - quando possível - pois na maior parte dos campos há falta de professor e material. 
    Os campos de refugiados funcionam como uma verdadeira cidade. Possuem espaço para comércio, escola, enfermaria e um conjunto enorme de cabanas que abrigam seus moradores. Olhando desse modo parece ser um ótimo lugar para se viver, mas a insalubridade presente no local é muito grande. As cabanas não são preparadas para receber famílias tão grandes e se tornam apertadas; há poucos banheiros e não possuem água encanada. Além das condições físicas, muitos dos direitos não são garantidos, como a educação, a liberdade e a proteção. Crianças de vários níveis escolares têm aulas conjuntas - quando possível - pois na maior parte dos campos há falta de professor e material.
    Um dos maiores campos de refugiados do mundo foi o Campo de Mória, que se situava na Ilha de Lesbos, na Grécia. O fato de sua existência está no passado, pois em 2020 houve um incêndio decorrente de uma briga entre os moradores que colocou o campo abaixo e, por isso, o governo teve de construir outro campo para abrigar todos aqueles que perderam o lar temporário. Após o desastre, a Grécia recebeu dinheiro da União Europeia para construir um novo campo, mas o mesmo ainda não foi finalizado. Esse campo promete ser moderno e suprir todas as necessidades dos refugiados, mas já encontra dificuldades em sua construção em relação a luz, água encanada e demais exigências. O atual Mória 2.0 está sendo construído próximo ao mar, o que não é muito vantajoso, visto que é uma região com maré alta e fortes ventos, que em determinadas épocas do ano podem impactar diretamente na construção. Diante disso, muitos dos 17 mil refugiados que viviam em Lesbos antes do incêndio já foram realocados em outros campos, e hoje restam cerca de 3,5 mil refugiados na ilha, segundo a ACNUR. 
    O Campo de Mória foi criado em 2015 para abrigar pessoas que buscavam entrar na Europa continental através da Turquia. O campo foi, então, estabelecido em uma ilha grega, onde estavam sem a permissão de sair até que fossem aceitos na Grécia continental. Entretanto, essa permissão demorou e demora muito tempo para ser efetivada, fazendo com que o acampamento atingisse um limite de moradores além do limite, visto que cada vez mais pessoas eram abrigadas. O acampamento foi projetado para ser um lar temporário de cerca de 2.800 pessoas, mas a população de Mória atingia quase quatro vezes esse número, portanto a comida era racionada, os banheiros eram divididos para cerca de 150 pessoas e os chuveiros para 500. O campo foi considerado o mais insalubre de toda a Europa. Mas, além da insalubridade, é um lugar muito violento, ainda que abrigue muitas crianças, resultando em relatos de menores que não dormem por medo das brigas. A violência tem diversos motivos, um exemplo é a xenofobia entre xiitas, sunitas, árabes, afegãos e curdos. A presença de diversas culturas convivendo diariamente em um lugar sem a garantia de seus direitos não tem sido positiva. Outro exemplo da situação de agravamento dos campos são moradores que desenvolveram doenças relacionadas ao uso do gás lacrimogêneo, pois o artifício é utilizado para dispersar as brigas. 
    A crise de refugiados na Europa perdeu o controle e a ilha de Lesbos se transformou em uma verdadeira prisão para muitas pessoas que buscam se refugiar em algum país europeu visando a proximidade com seu país anterior, mas as exigências e o interesse no fechamento das fronteiras européias dificulta a saída do campo e a busca de uma vida próspera fora de seus países. E infelizmente, os campos de refugiados se tornaram um local de moradia a longo prazo, quando na verdade deveriam ser um local de passagem para uma nova vida. 

*Amanda é estudante do curso de Relações Internacionais do UniCuritiba e faz parte da Cátedra Sérgio Vieira de Mello - UniCuritiba.

Referências
GRÉCIA afirma que novo campo para migrante em Lesbos estará pronto em cinco dias. G1. 13 set. de 2020. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2020/09/13/grecia-afirma-que-novo-campo-para-migrant es-em-lesbos-estara-pronto-em-cinco-dias.ghtml.
GALERIA de fotos: O antes e o depois do incêndio no campo de refugiados de Mória. El País. 17 set. de 2020. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2020/09/15/album/1600155951_785104.html.
TRAGÉDIA no campo de refugiados em Mória completa um ano com os mesmos problemas. Dom Total. 09 set. de 2021. Disponível em: https://domtotal.com/noticia/1538254/2021/09/tragedia-no-campo-de-refugiados-em-moria-c ompleta-um-ano-com-os-mesmos-problemas/


segunda-feira, 8 de novembro de 2021

Volta ao Mundo em 7 Dias - Notícias de 01/11 a 07/11

  • Iraque
    Um ataque terrorista à residência do primeiro-ministro iraquiano, Al-Khadimi, causou espantou o mundo. Um drone carregado de explosivos foi responsável pela explosão, que aconteceu no sábado (06/11). O ataque é considerado uma aproximação da violência à chamada Zona Verde de Bagdá, local em que se encontram órgãos internacionais e embaixadas, principalmente por conta da eleição parlamentar de outubro. O presidente norte-americano Joe Biden e o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, condenaram o ataque e o uso da violência. 

  • Itália
    Após os recentes acontecimentos envolvendo manifestações contra a presença do presidente brasileiro Jair Bolsonaro no país, a Itália vira assunto novamente, desta vez pelos julgamentos em massa de membros da máfia italiana. Somente no sábado, foram 70 membros da ‘Ndrangheta, máfia dominante da região da Calábria, condenados. Os julgamentos estão ocorrendo com pluralidade numerosa de réus e dessa vez, contou com 91 acusados. 355 réus ainda aguardam o julgamento do que foi uma prisão massiva e estima-se que isto pode perdurar por ainda dois anos. As acusações englobam os crimes de tentativa de homicídio, lavagem de dinheiro, tráfico de drogas, extorsão e porte ilegal de armas. 

  • Europa
    A Organização Mundial da Saúde alertou que a Europa se tornou, mais uma vez, o epicentro dos casos de COVID-19. O representante da Organização na Europa alertou que até fevereiro, podem ocorrer um milhão de novas mortes no continente. O motivo principal é a ineficiência dos programas de vacinação, que vem cada vez mais estagnando e em alguns países não abrangeu a segunda dose. Além disso, o relaxamento de todas as medidas de proteção sanitária também tiveram grande impacto na reversão do processo que vinha ocorrendo até então. Na Rússia, mais especificamente, os registros de casos de contaminação de COVID atingem novos recordes, com o número de casos superando as estatísticas do ano anterior, quando teve início a pandemia. O aumento dos casos é motivado também pelo baixo percentual de vacinados no país, aproximadamente 33,8%, e pela desconfiança da população com as vacinas oferecidas pelo governo. 

  • Brasil
    O Brasil virou manchete internacional por diversos motivos, o primeiro e mais vergonhoso por conta do uso de violência por parte dos seguranças do presidente Jair Bolsonaro em visita à Roma. Na Itália por conta da cúpula do G20, o presidente foi ao encontro de apoiadores e hostilizou diversos jornalistas que o questionavam acerca de sua falta de presença em alguns eventos principais do G20. Além disso, os seguranças do presidente proferiram socos contra um dos jornalistas, além de utilizarem-se de violência contra outros.
    Além disso, ocorreu esta semana o leilão para exploração e oferta do 5G no Brasil. Neste primeiro momento, o leilão rendeu um montante de R$ 46,790 bilhões e foi considerado pela OCDE como o maior leilão de 5G ocorrido até o momento – resta esperar que o dinheiro arrecadado não seja direcionado, como vem sendo prática governamental, à mesadas dos familiares e apoiadores presidenciais -. Os especialistas explicaram que o sucesso do leilão foi motivado pelo grande número de faixas anunciadas, das quais as tradicionais empresas Vivo, Claro e Tim arremataram maior parte. 

  • Venezuela
    O Tribunal Penal Internacional abriu investigações contra a Venezuela por acusações de crimes contra humanidade em decorrência das ações de repressão à manifestações contra o atual governo ocorridas em 2017. Tamanha a brutalidade policial empregada para calar os manifestantes, que foram 100 os mortes durante as ações. Em realidade, uma investigação por parte do TPI vem sendo cobrada há tempos, para averiguar os acontecimentos e as violações de direitos ocorridas.

  • Nicarágua
    O Presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, se prepara para uma provável vitória no que é considerado um turno suspeito de eleições. Diversos os países que já se posicionaram contra a votação deste turno eleitoral, por conta das suspeitas de fraude e repressão à oposição. Ortega vem trabalhado a dominância do Congresso e de outras instituições governamentais do país de forma manipuladora há tempos e sancionou leis que viabilizaram a prisão de diversos opositores de seu governo. O atual presidente governa a Nicarágua desde 2017, ao lado de sua esposa, atual vice-presidente, e já anunciou sua vitória como sendo uma “vitórias contra o terrorismo” antes mesmo do resultado das urnas. 

  • Marília Mendonça
   Na sexta-feira, 05 de novembro, um acidente fatal tirou a vida da cantora de sertanejo Marília Mendonça, do piloto e co-piloto, além do tio e assessor de Marília, Abicieli Silveira Dias Filho e o produtor Henrique Ribeiro. O grupo de 5 pessoas viajava em um avião de pequeno porte para a cidade de Caratinga, no interior de Minas Gerais, onde Marília faria um show na mesma sexta-feira. A aeronave colidiu com um cabo de uma torre de distribuição de energia. O ocorrido foi noticiado por diversos veículos de informação ao redor do mundo, como The New York Times, Washington Post, La Repubblica e Spiegel. Marília deixou um legado maravilhoso na música brasileira, além da pessoa maravilhosa que sempre demonstrava ser. O Internacionalize-se deixa aqui seus sentimentos a todas as famílias que sofreram com esse acidente. 

Referências
ATAQUE com drone atinge casa do primeiro-ministro do Iraque, que escapa ileso. G1. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/11/06/primeiro-ministro-do-iraque-esc apa-de-atentado-em-bagda-dizem-militares.ghtml.
BIDEN condena ‘ataque terrorista’ contra primeiro-ministro iraquiano. G1. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/11/07/biden-condena-ataque-terrorista -contra-primeiro-ministro-iraquiano.ghtml.
JUSTIÇA da Itália condena 70 membros da máfia à prisão. G1. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/11/07/justica-da-italia-condena-70-me mbros-da-mafia-a-prisao.ghtml.
COVID: WHO warns Europe once again at epicentre of pandemic. BBC News. Disponível em: https://www.bbc.com/news/world-europe-59160525.
CASOS de Covid-19 sobem na Rússia, que tem baixa taxa de vacinação. G1. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/11/06/casos-de-covid-19-sobem-na-ru ssia-que-tem-baixa-taxa-de-vacinacao.ghtml.
ICC top robe Venezuela over alleged crimes against humanity. BBC News. Disponível em: https://www.bbc.com/news/world-latin-america-59159025.
NICARAGUA: Daniel Orega on course for controversial fourth term. Al Jazeera. Disponível em: https://www.aljazeera.com/news/2021/11/7/daniel-ortega-seeks-fourth-term-in-c ontroversial-polls.
BOLSONARO hostiliza repórteres em Roma, e segurança agride jornalistas. G1. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/10/31/bolsonaro-hostiliza-repoteres-e m-roma-e-seguranca-agride-jornalistas.ghtml.
5G vem aí: entende por que o leilão do brasil foi o maior do mundo. TILT Uol. Disponível em: https://www.uol.com.br/tilt/noticias/redacao/2021/11/07/5g-vem-ai-por-que-o-leil ao-do-brasil-foi-o-maior-do-mundo.htm.
LEILÃO do 5G: conheça as 6 novas operadoras de telecomunicações do Brasil. CNN Brasil. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/business/leilao-do-5g-conheca-as-6-novas-operad oras-de-telecomunicacoes-do-brasil/.
MARÍLIA Mendonça morre aos 26 anos em queda de avião em Minas Gerais. G1. 05 nov. 2021. Disponível em: https://g1.globo.com/pop-arte/musica/noticia/2021/11/05/marilia-mendonca-mor re-apos-queda-de-aviao-em-minas-gerais.ghtml