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quarta-feira, 29 de abril de 2020

O combate à pandemia no continente africano

A situação referente ao COVID-19 vem se agravando em todo o mundo. Hoje (21) são mais de 2,5 milhões de casos, e como consequência do surto os sistemas de saúde, inclusive os mais sofisticados, estão cada vez mais pressionados e colapsando, inclusive. É nesse cenário de alta disseminação da doença que as organizações se mostram preocupadas com a situação da África e seu futuro pós-pandemia.

     O primeiro caso na África aconteceu em 14 de fevereiro no Egito. Hoje, a doença já atingiu mais de  19 mil pessoas, em 52 dos 54 países, tendo mais de 1000 mortes, assim como constatado pela diretora da OMS na África, Matshidiso Moeti, em conferência. A UNECA, Comissão das Nações Unidas para a África, afirma que as consequências humanitárias e econômicas da pandemia serão profundas no continente, especulando até 300 mil mortos e 29 milhões de pessoas em condição de extrema pobreza. No âmbito econômico é previsto uma baixa de 2,6% de seu PIB, tendo uma baixa em suas exportações com o fechamento das fronteiras.

Não é à toa a grande preocupação internacional quanto a África, já que o continente é berço de um quadro catastrófico de outras doenças, como AIDS, sarampo, malária e ebola, e também da desnutrição. Apesar de sua população ser relativamente jovem, com 60% das pessoas abaixo dos 25 anos, essas encontram-se em situações precárias de vida, vivendo em lugares superlotados e sem saneamento básico, o que dificulta os países africanos de acatarem as medidas básicas recomendadas pela OMS, Organização Mundial da Saúde, para o controle da disseminação. 

Além disto, a  África possui um sistema de saúde muito precário, sem estrutura e profissionais qualificados. Para tentar reduzir esta dificuldade, o continente conta diariamente com a ajuda de muitas Organizações Internacionais e de equipamentos doados, além de importar 94% de seus produtos farmacêuticos. No entanto, a atuação filantrópica bem como as importações foram limitadas pelas medidas de fechamento de fronteiras adotadas em todo o mundo, o que gera consequências diretas aos países africanos.Os conflitos vivenciados no continente sobrecarregam mais ainda a situação dos centros de saúde, como medida para o combate a esse problema, o Secretário Geral da ONU pediu cessar-fogo dessas batalhas e o foco na “verdadeira luta”, que todos estão enfrentando, no entanto não obteve ainda muitos resultados.

O grande número de doenças na África acaba dificultando a diferenciação no diagnóstico do COVID-19, razão pela qual a OMS distribuirá testes aos países africanos e assim espera-se um aumento nos números da doença, que pode estar sendo subestimado pela falta de testes.  No entanto, o foco no combate do covid-19 não permite que sejam deixadas de lado ou negligenciados os outros surtos epidêmicos enfrentados pelos africanos. 

Se por um lado, mostra-se necessário e urgente tomar medidas para o desaceleramento e equilíbrio dos casos nessa região, a experiência da África no gerenciamento de outras emergências de saúde pode ser compreendida como um aspecto positivo e promissor, pela utilização e inovação dos métodos já utilizados para conter outros surtos. 

No combate ao Covid-19, muitos países do continente africano já adotaram o distanciamento social, fechamento de escolas e outros ambientes públicos, controle maior das fronteiras, e determinação de toques de recolher. As principais metas dos países são: manter a segurança e saúde dos profissionais, evitar carregamento dos centros de tratamento, evitar o pânico e garantir que todos recebam instruções e informações verídicas sobre a pandemia.

Nesse momento a “solidariedade e ação coletiva” são fundamentais, como afirmado pela diretora regional da OMS. Assim, o papel das organizações internacionais é cada vez mais importante nos países africanos. Toda ajuda possível é necessária para manter o funcionamento da rede de saúde já que sozinha a África não tem estrutura para a pandemia, com a mobilização de fundos e mobilização de voluntários para atuar na linha de frente do continente. 

        O Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial estimaram 114 bilhões de dólares necessários para ajudar na contenção do vírus na África, no entanto ainda faltam 44 bilhões para atingir essa meta. Outras organizações também estão tomando medidas que possam influenciar positivamente nos efeitos causados pela pandemia à África, como por exemplo o G20 que suspendeu o pagamento das dívidas por um ano e a ACNUR, Agência da ONU para refugiados, que intensificou seus esforços nas áreas de conflito. Para evitar uma catástrofe maior e diminuir os danos, é preciso agir em conjunto, já que este é um problema que toda a humanidade está enfrentando lado a lado.


Referências

Ao menos 300 mil pessoas podem morrer de Covid-19 na África. Agência Brasil. Disponível em: <https://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2020-04/ao-menos-300-mil-pessoas-podem-morrer-de-covid-19-na-africa>.

Como está o continente africano nesta pandemia do Covid-19? Instituto D'or: pesquisa e ensino. Disponível em: <https://www.rededorsaoluiz.com.br/instituto/idor/novidades/como-esta-o-continente-africano-nesta-pandemia-da-covid-19>.

COVID-19 na África Ocidental: foco nos mais vulneráveis e aprendizados do passado. Médico Sem Fronteiras. Disponível em: <https://www.msf.org.br/noticias/covid-19-na-africa-ocidental-foco-nos-mais-vulneraveis-e-aprendizados-do-passado>.

Mortes por Covid-19 na África crescem 60% em uma semana, diz OMS. G1. Disponível em: <https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2020/04/16/mortes-por-covid-19-na-africa-crescem-60percent-em-uma-semana-diz-oms.ghtml>.



terça-feira, 28 de abril de 2020

Redação Internacional: O Brasil nas machetes do mundo na semana de 19/04 a 26/04 de 2020



                                       



O Brasil,  mesmo sendo um dos países que menos testa no mundo, chegou nesta semana à casa dos 50 mil infectados pelo covid-19. Só de mortes confirmadas já são mais de 4 mil. Bateu-se recorde de fatalidades por coronavírus num só dia, passando de 400 óbitos. A doença, que chegou da Europa e da Ásia pelos aeroportos das grandes cidades, afetou primeiramente os ricos e os hospitais particulares. O vírus agora passou a se interiorizar pelo país e pelas periferias, causando mais danos em proporção aos pobres, com menos acesso ao saneamento, aos hospitais, e sem as condições para o isolamento social necessário. As consequências da pandemia para quem vive na precariedade foi o assunto da mídia inglesa sobre o Brasil, apesar da crise política interna que substituiu o coronavírus nas manchetes e discussões.


 Daily Mail destacou a fala do prefeito manauara, Arthur Virgílio Neto (PSDB), de que a situação no Amazonas, de “calamidade absoluta”,  não está sendo levada a sério pelo presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores. Em Manaus, há registros diários de dezenas de mortes de jovens de 20 a 30 anos. Para o tabloide, situação no norte do país põe em risco comunidades indígenas “extremamente vulneráveis” e faz do Brasil um possível próximo maior foco mundial da covid-19. A reportagem traz uma seleção de fotografias impactantes que relevam o drama dos velórios esvaziados, das valas comuns e dos hospitais saturados. 

Também na Inglaterra e com a mesma riqueza de detalhes que o concorrente, The Guardianfez uma reportagem extensa sobre a “favelização” do vírus no Rio de Janeiro. Diante do impasse sobre a flexibilização da quarentena entre o governador Wilson Witzel (PSC) e o presidente Jair Bolsonaro, os residentes das comunidades ficam “confusos e expostos”. Com a economia parada, os que já têm poucos recursos ficam ainda mais desamparados, ainda mais em condições de moradia precárias, com várias pessoas sob o mesmo teto. O jornal classifica a favela da Rocinha como uma das "comunidades mais vulneráveis [ao coronavírus] em toda a América Latina”. 
 Ainda no The Guardian nesta semana, foi retratado o dilema de quem precisa sair de casa para alimentar e prover a família convivendo com o medo de trazer, junto ao sustento incerto, a doença para dentro de casa. As três reportagens inglesas são bastante densas, repletas de entrevistas com moradores locais, com boas análises da conjuntura política brasileira e ilustrada por fotografias que mais parecem capa de diário de guerra. 
No entanto, como não poderia deixar de ser diferente, o maior acontecimento politico brasileiro dos últimos tempos tomou do coronavírus as manchetes estrangeiras: na sexta-feira (24), o ex-juiz da operação Lava-Jato, Sérgio Moro, pediu demissão do cargo de ministro da Justiça e Segurança Pública, apontando interferência do Palácio do Planalto em investigações da Polícia Federal. Com a especial atenção que deu ao Brasil esta semana, o The Guardian tratou a saída de Moro como um “revés" ao executivo “de extrema-direita” brasileiro. Tratando da dubiedade da figura de Moro, herói para uns e odiado por outros na sociedade polarizada, o jornal consegue fazer um especificado relato das correlações de forças politicas que culminaram na interferência na Polícia Federal e, consequentemente, na demissão do ex-juiz. Por fim, depois de perpassar pela prisão do ex-presidente Lula e do “gabinete do ódio” de Carlos Bolsonaro, a matéria mostra os panelaços em resposta àa saída de Moro.
                       OThe New York Timesdeu que Moro é “um dos políticos mais populares do país” e que em seu discurso de despedida “repreendeu extraordinariamente” o governo. Replicando a reposta de Bolsonaro, que chamou Moro de “vaidoso, interessado e desonesto”, o Times anuncia o aprofundamento do isolamento do presidente junto à população e a ex-aliados, sendo Moro o oitavo ministro a cair em 15 meses de administração e o segundo em duas semanas.



 Se a imprensa britânica explorou muito bem o espalhamento da covid-19 pelo Brasil, a mídia argentina deu especial destaque à personalidade de Sergio Moro. Com um perfil minucioso do paranaense, Clarín mostrou como o magistrado “decidido, preparado e bem resolvido” se “deslumbrou” pela operação anti-corrupção italiana “Mãos Limpas”. Sua popularidade, segundo o jornal, construída em métodos heterodoxosda aplicação da lei e na “parcialidade política” chegou ao auge quando ordenou a prisão do ex-presidente petista Luiz Inácio Lula da Silva. Mesmo gozando da fama, a matéria lembra que Sergio Moro disse, em 2016, que jamais entraria para a política. Para o jornal argentino, o agora ex-ministro “falhou com seus próprios dizeres” e está “cansado”. 



A mídia catari lembra que a crise política concomitante a sanitária no Brasil ganha novos rumos com a saída de Moro da esplanada ministerial. Al Jazeera, principal emissora árabe, salientou que, além de Bolsonaro sofrer seu “maior baque tradução minha)” desde que assumiu a presidência, o litígio do poder pode se instaurar nos meios jurídicos. Lembrando do procurador geral Augusto Aras, que ameaça investigar Sergio Moro pelas declarações que deu contra o presidente, a reportagem fala de “graves acusações” dos dois lados que podem levar a “sérios riscos políticos e legais”. A matéria ainda fala da sucessão de perdas de aliados que sofre Bolsonaro, desde governadores, a congressistas e ministros, em especial Paulo Guedes, da economia, que “não tem respondido aos pedidos de comentários”. 
            Por fim, o português Público parece concordar com o árabe Al Jazeera na análise que faz das demissões e omissões dos antes tidos como “super-ministros” Moro, na pasta de justiça e segurança, e Guedes, na fazenda. O jornal sublinha que o plano econômico para enfrentar a crise apresentado pelo governo nesta semana foi capitaneado pelo ministro General Braga Netto, e não por Paulo Guedes, dono da pauta. Público alerta a guinada governamental para as alas militares e ideológicas - do “guru” Olavo de Carvalho -, escanteando os antigos lastros de sustentação de Bolsonaro junto ao eleitorado comum e ao mercado financeiro que eram, na campanha, o liberalismo de Guedes e a “moralidade” de Moro.


            No meio da pandemia, falar de acontecimentos políticos pode parecer um alívio para quem só ouvia contar o número de mortos. Noutros tempos, haveria multidões nas ruas, entrevistas “quebra-queixo” lotadas e empurra-empurra no congresso nacional. Mesmo ofuscado dos holofotes por Moro, o coronavírus não cessou. Enquanto as medidas de auxílio de renda se mostram débeis, há quem precise furar a quarentena para comer. Não bastasse o colapso sanitário, o imbroglio entre o presidente e seus super-ministros mergulham o Brasil em novas super-crises. 


quinta-feira, 23 de abril de 2020

Guerra, paz e saúde: a necessidade do cessar-fogo em meio à pandemia


Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a pandemia do COVID-19 já atingiu a marca de 2 milhões de pessoas infectadas e o número de mortos, infelizmente, já beira os 170 mil, — expondo a fragilidade de nosso sistema e a necessidade de aperfeiçoamento em diversas áreas da sociedade. A pandemia tem tomado conta dos principais noticiários, que, incansavelmente, reproduzem números e estimativas do novo coronavírus, alertando sobre os perigos da doença e indicando formas de prevenção, o que tem silenciado outros inúmeros problemas no planeta, fazendo-nos esquecer do mundo que há para além do nosso isolamento. Foram apagadas do noticiário questões como o refúgio, a violência doméstica e a guerra, o que acaba nos distanciam da realidade dolorosa de muitas pessoas. 

Esse é o caso da guerra na Síria, cujos acontecimentos foram objeto de reportagens e comoção ao redor do mundo desde o seu início em 2011, mas que em meio a pandemia acabou caindo em esquecimento, quase como se subitamente o país entrasse numa paz duradoura — o que definitivamente não aconteceu. A guerra no país já dura 10 anos e até agora deixou cerca de 384 mil mortos e pelo menos 25 milhões de refugiados, mostrando a imensidão de seus efeitos e a vulnerabilidade em que se encontra a sua população. De acordo com a Médicos Sem Fronteiras, o sistema de saúde sírio está em colapso e as condições de vida e higiene não são capazes de suportar uma emergência como o novo coronavírus. Não é, no entanto, somente a Síria que se encontra em meio ao caos causados pelos conflitos armados: segundo o Uppsala Conflict Data Program, em 2018 os números de conflitos armados estatais e não estatais somavam 130, e os números de mortes totalizaram 72 495 vítimas.

 Da mesma forma, dados do Armed Conflict Location & Event Data Project (ACLED), indicam que em 2019 os eventos de violência política chegaram a 91 448, enquanto as mortes em razão desses eventos somaram um total de 126 047 fatalidades no mesmo ano. Ainda conforme o ACLED, os países focos dos conflitos armados em 2019 foram a Síria, a Ucrânia, o Afeganistão, o Iêmen, a Índia, a Nigéria e a Somália, sendo que a Síria teve o maior número de eventos de violência política em 2019, enquanto o Afeganistão registrou o maior número de mortes em razão de conflitos armados. Além disso, conflitos com início mais recente se intensificaram, como é o caso do Myanmar e da República Democrática do Congo, expondo mais uma vez a fragilidade da paz. 

O desafio que a COVID-19 apresenta aos países é imenso, e, se até mesmo nos países desenvolvidos há dificuldade em controlar a pandemia, a ameaça é ainda maior em Estados em guerra. Isto porque os conflitos armados afetam diretamente os sistemas de saúde desses países, e o enfraquecimento do sistema é inevitável nessas situações. Além disso, o escasso acesso a itens básicos de higiene, como a água, dificulta a prevenção de doenças e colocam em risco a saúde de suas populações de maneira significativa.

Assim, urge a necessidade de ações de paz e diplomacia, de modo que as populações não sejam ainda mais expostas ao novo perigo que a pandemia representa. Nesse sentido, no último mês o secretário-geral da ONU, António Guterres, veio a público pedir um cessar-fogo global. Em seu pronunciamento, Guterres ressalta a continuidade de inúmeras as lutas e guerras ao redor do mundo mesmo com a pandemia em plena expansão. O secretário-geral fala ainda sobre as consequências econômicas e políticas da pandemia que intensificam conflitos em curso e colocam em risco a frágil paz de algumas localidades, o que dificultaria a luta contra o novo coronavírus. Num esforço pela paz, juntaram-se ao porta-voz das Nações Unidas figuras de alto escalão, como o Papa Francisco, que durante a celebração de uma Missa, reforçou a necessidade de um cessar-fogo, ressaltando a importância do diálogo na resolução de conflitos. Além do Pontífice, a União Europeia declarou apoio ao cessar-fogo na Síria, assim como o presidente francês Emmanuel Macron. 

É claro que a construção da paz não é simples, e em sua fala, Guterres reconhece as “enormes dificuldades” na implementação de uma trégua para deter conflitos que se deterioram há anos, nos quais “a desconfiança é profunda”. Ainda assim, após o apelo de António Guterres, diferentes atores de países em conflito declaram apoio ao cessar-fogo — mesmo que temporariamente — como foi o caso de grupos rebeldes no Camarões e nas Filipinas, do O Exército de Libertação Nacional na Colômbia, e da coalizão militar liderada pela Arábia Saudita no Iêmen, que também declarou um cessar-fogo temporário. 

Contudo, não bastam discursos para a concretização da paz, uma vez que os efeitos dos conflitos armados são reais e não apenas discursivos. Assim, apesar das dificuldades enfrentadas na execução de ações para a paz, a resolução desses conflitos se faz indispensável na contenção do vírus e na proteção da vida. Dessa forma, os esforços devem ser mútuos e concretos, não se restringindo somente à palavras, mas em ações em prol da sua rápida solução diplomática — sendo o cessar-fogo um primeiro passo para a paz.

Referências
ARTIGO: Apelo a um cessar-fogo mundial. Nações Unidas. 23 de março de 2020. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/artigo-apelo-a-um-cessar-fogo-mundial/>.
Chefe da ONU pede mais esforços diplomáticos para atingir cessar-fogo em meio à pandemia. Nações Unidas. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/chefe-da-onu-pede-mais-esforcos-diplomaticos-para-atingir-cessar-fogo-em-meio-a-pandemia/>.
Coalizão dirigida por Riade no Iêmen anuncia cessar-fogo por coronavírus. Estado de Minas Internacional. 08 de abril de 2020. Disponível em: <https://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2020/04/08/interna_internacional,1137085/coalizao-dirigida-por-riade-no-iemen-anuncia-cessar-fogo-por-coronavir.shtml>. 
Covid-19: Bruxelas defende cessar-fogo na Síria. Plataforma Média. 30 de março de 2020. Disponível em: <https://www.plataformamedia.com/pt-pt/noticias/politica/covid-19-bruxelas-defende-cessar-fogo-na-siria-12003461.html>. 
COVID-19: Urgent action needed to counter major threat to life in conflict zones.  International Committee of the Red Cross. Disponível em: <https://www.icrc.org/en/document/covid-19-urgent-action-needed-counter-major-threat-life-conflict-zones>.
Francisco reitera apelo por cessar-fogo global. Vatican News. Disponível em: <https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2020-03/papa-francisco-angelus-pede-fim-guerras.html>. 
Guerra na Síria entra no 10° ano com Bashar al-Assad refém de seus aliados. G1. 15 de março de 2020. Disponível em: <https://g1.globo.com/mundo/noticia/2020/03/15/guerra-na-siria-entra-no-10deg-ano-com-bashar-al-assad-refem-de-seus-aliados.ghtml>. 
ONU reporta primeiras respostas positivas a apelos de cessar-fogo. Estado de Minas Internacional. 26 de março de 2020. Disponível em: <https://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2020/03/26/interna_internacional,1132822/onu-reporta-primeiras-respostas-positivas-a-apelos-de-cessar-fogo.shtml>.
Por coronavírus, guerrilha colombiana decreta cessar-fogo. G1. 30 de março de 2020. Disponível em: <https://g1.globo.com/mundo/noticia/2020/03/30/por-coronavirus-guerrilha-colombiana-decreta-cessar-fogo.ghtml>.
Síria: o impacto que a COVID-19 pode ter em Idlib. Médicos Sem Fronteiras. 09 de abril de 2020. Disponível em: <https://www.msf.org.br/videos/siria-o-impacto-que-covid-19-pode-ter-em-idlib>.

terça-feira, 21 de abril de 2020

Redação Internacional: O Brasil nas machetes do mundo na semana de 12/04 a 19/04 de 2020


                                     


Por Fernando Yazbek

A primeira morte por covid-19 no território nacional se deu no final de janeiro, mas só foi registrada oficialmente no dia 17 de março. Passado um mês do primeiro  dado de óbito, o Brasil já registra mais de duas mil e trezentas mortes, sendo o décimo primeiro país com maior número de mortos pelo novo coronavírus. A semana, que foi marcada pelo marco inédito de 200 mortes em média por dia, também foi marcada por incertezas e instabilidades políticas. Na quinta-feira (16), se concretizaram os rumores da demissão do ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM), que vinham sussurrando nos bastidores há dias. A sucessão ministerial balançou entre Claudio Lottenberg, do Hospital Israelita Albert Einsten, e o oncologista Nelson Teich, próximo ao secretário de comunicação Fábio Wajngarten e do empresário Meyer Nigri, ambos judeus que aproximaram o presidente Jair Bolsonaro da comunidade judaica, como apontou a revista Veja.
            Nelson Teich assumiu a pasta, diferentemente de Mandetta, com afinamento total com as ideias do presidente de se acabar com o isolamento social o mais rápido possível. O novo ministro, embora possa ter facilidades no trato político-ideológico com o governo, vai enfrentar um desafio difícil de ser enfrentado com o negacionismo. 
                                   
Maior agência de notícias do mundo, a Reuters manchetou estudo de que Brasil pode estar com número de casos da pandemia doze vezes maior do que os divulgados pelas autoridades. A reportagem indica que apenas 8% dos casos podem estar sendo contabilizados e que há uma dificuldade em se fazer testes em massa pelo tamanho territorial do país. Os britânicos ressaltam que a pandemia reinstalou tensão política no Brasil, principalmente entre a “extrema direita” que subjuga o vírus e as autoridades sanitárias que “urgem por medidas mais drásticas”.
                                   
                                 
            El País subiu o tom nas críticas ao governo brasileiro. Não é a primeira vez que a mídia espanhola alerta sobre as atitudes de Bolsonaro, mas nunca antes fora chamado de “patético”. A matéria ainda destaca que um eventual fracasso de um líder como este pode “incendiar o mundo”. O jornal espanhol demonstra certa incredulidade quando noticia a demissão do ministro Mandetta no meio da pandemia e faz uma profunda análise dos atores políticos - militares, evangélicos e familiares - no Palácio do Planalto. O ex-ministro da saúde, para o El País, desfruta de grande popularidade por simplesmente apelar à ciência e ao isolamento social, ao contrário de seu chefe. 
                               
                                        
   Mesmo com os acalorados adjetivos do jornal El País, nenhum outro foi tão contundentemente contrário ao governo brasileiro quando o norte-americano The Washigton Post. Quando coloca vidas em risco por desprezar dos potenciais destrutivos do covid-19, o chefe de estado se torna o pior mandatário do mundo. O presidente da república ainda foi chamado de “populista de direita” e voltou a ser comparado com “déspotas” da Nicarágua, Turcomenistão e Bielorússia. O editorial pediu para que Donald Trump telefonasse para seu aliado político e o pedisse cautela.

      O inglês The Guardian foi na mesma linha do El País, mas destacou que Bolsonaro deu apenas um "discurso rápido” após demitir o ministro da saúde durante a crise sanitária. O jornal também destacou os “panelaços” por todo o país pela permanência de Mandetta.

    Le Figaro, na França, e Clarín, na Argentina, reproduziram que a demissão do ministro já era esperada. De Buenos Aires se alerta, porém, que a dança das cadeiras “envolve riscos”, já que o Brasil sobe na curva de casos e de mortes. Nelson Teich, substituto de Mandetta, é mais abordado pela mídia parisiense, que o coloca como cotado ao ministério antes mesmo da eleição de 2018.
                                  
                                 
                                  
Mas nem tudo o que se leu sobre o Brasil na mídia internacional neste últimos dias foi sobre a tragédia política e sanitária. A The Economisttratou de outro drama conhecido - e amado - pelos brasileiros: as novelas. A revista lembra que nem mesmo a ditadura militar brasileira interrompeu a rotina de 6 episódios semanais nas telinhas brasileiras. Durante a Copa do Mundo e as Olimpíadas do Rio, as atrações esportivas também tiveram que dividir a atenção dos telespectadores que não perdiam a trama de “Amor à Vida” em 2014 e de “Verdades Secretas” em 2016. Para se ter uma ideia da dimensão da pandemia que enfrentamos, somente o coronavírus fez com que a Rede Globo, principal canal brasileiro de televisão, mandasse para casa seus nove mil funcionários envolvidos nas produções e reprisasse novelas antigas. 
                                 




Referências:



segunda-feira, 20 de abril de 2020

Médicos Sem Fronteiras e a luta transfronteiriça contra o COVID-19


Médicos Sem Fronteiras reconhece casos de abusos sexuais em 2017



Por Maria Letícia Cornassini


A recente pandemia do COVID-19 vem se alastrando pelo mundo nestes últimos meses e, por conta dela, obviamente, aumentaram-se as barreiras de segurança impostas por cada país. Em especial, muitos países optaram pelo fechamento e fronteiras, sejam elas aéreas, terrestres ou marítimas. Mas, se por um lado o fechamento destas fronteiras serve como medida para retardar a disseminação do vírus, por outro, jogou um holofote para os problemas que vinham acontecendo às margens dos Estados. O que faz um migrante que ficou preso entre fronteiras, como acontece no México? Ou o que acontece com os refugiados da guerra na Síria? Como essa parcela da população mundial consegue adotar medidas e cuidados para o combate do vírus, quando há barreiras fronteiriças impostas a eles? 

     Nestas situações, a organização humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF), em uma atuação quase que solitária, figura como ente de combate ao COVID-19 e tenta lidar com os efeitos da pandemia em comunidades carentes, acampamentos de refugiados e zonas de guerra. A organização Médicos Sem Fronteiras teve sua origem em 1971, com o intuito de prestar assistência médica e humanitária àqueles afetados por conflitos armados, desastres naturais, epidemias e desnutrição. Ainda, a organização francesa recebe 96% de seu orçamento de forma independente, através de doações, e já conta com mais de 45 mil profissionais, espalhados pelo mundo inteiro. Tem como missão, além do auxílio médico humanitário, trazer visibilidade às situações de vulnerabilidade e dificuldade com que se deparam, e que muitas vezes são negligenciadas pela comunidade internacional. 

        Durante a crise imposta pelo COVID-19, o MSF vem atuado através de prioridades que são estabelecidas frente aos diferentes contextos. Em alguns países, a atuação da organização é no sentido de reforçar e proteger os profissionais de saúde da região, além dar continuidade ao combate de doenças que já alastravam os territórios, como por exemplo a malária e o sarampo. Já, em países que já estão lidando com a pandemia de forma mais intensa, a organização aponta que seus esforços são voltados a evitar que se sobrecarreguem os sistemas de saúde. Vale lembrar que, por conta do fechamento das fronteiras, muitos dos profissionais que compõem a organização não conseguem viajar aos países mais afetados para prestar auxílio.

       Através de suas redes sociais, o MSF reporta as atividades sendo feitas mundialmente para controlar a pandemia e prestar auxílio aos mais necessitados. Na Tanzânia, em especial em Nduta, onde a organização é o único serviço de prestação de assistência médica, estão sendo construídas áreas para triagem e isolamento de casos suspeitos. Na Itália, o foco da atuação é frente as parcelas de risco da população, principalmente os idosos –aqui, vale lembrar que o governo italiano chegou a optar por não prestar atendimento critico a pacientes com mais de 80 anos- através do atendimento em casas de repouso e lares de idosos. Na fronteira do México com os Estados Unidos, solicitantes de asilo que vivem em abrigos também dependem dos serviços médicos da organização. Na Espanha, o MSF montou hospitais de campanha para aliviar o sistema de saúde espanhol e na França, atua oferecendo assistência a migrantes e moradores de rua. 

     O MSF traz um enfoque especial ao contexto da pandemia na Guerra da Síria. Isto porque, muitas das medidas de proteção recomendadas não são cabíveis na situação vivida nos acampamentos de refugiados. Sobre a Síria, a organização faz um adendo referente ao sistema de saúde. Por muitos hospitais terem sido afetados nos conflitos armados, o atendimento médico torna-se ainda mais difícil. 

    Em realidade, a pandemia do Coronavírus alastrou o mundo de forma que não se poderia imaginar. Sistemas de saúde de Estados na lista de mais desenvolvidos do mundo não foram capazes de aguentar a demanda imposta pelo vírus. Nestes momentos, esquecemo-nos de parcelas da população mundial que, em situação normal, já passam por crises humanitárias que exigem esforços globais. E é principalmente nestes momentos que o Médicos Sem Fronteira continua fazendo jus à sua máxima, de ação médica acima de tudo, e leva assistência médica às comunidades e parcelas e necessidade, até mesmo quando seus Estados não conseguem. 
    De fato, a organização põe em prática o nome sob qual foi fundado, e transcende fronteiras no combate à pandemia, sempre no intuito de abraçar o mundo. 



Referências:
https://www.msf.org.br/nossa-historia
https://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2020/03/17/interna_internacional,1129623/coronavirus-na-italia-vitimas-acima-de-80-anos-serao-deixadas-morrer.shtml

segunda-feira, 13 de abril de 2020

Redação Internacional: O Brasil nas machetes do mundo na semana de 05/04 a 12/04 de 2020









Na semana em que o Brasil ultrapassou o número de mil mortes pelo novo coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro mais uma vez desrespeitou o isolamento social e contrariou o ministro da saúde Luiz Henrique Mandetta a ponto de quase demiti-lo. Abraham Weintraub foi mais uma dor de cabeça nos sintomas que acometem o país. O ministro da educação culpabilizou a China pela pandemia e a acusou de se beneficiar economicamente da conjuntura. Weintraub ainda ridicularizou o sotaque dos chineses que falam português, trocando os “R” pelos “L”, como o personagem Cebolinha da Turma da Mônica.  A imprensa internacional, quando não noticiando novos casos e complicações da pandemia, pauta a outra crise instaurada no Brasil: a política.



          A revista inglesa The Economist estampou Bolsonaro de joelhos diante da bandeira brasileira mergulhando a cabeça numa representação do vírus. A edição traz uma lista de atitudes presidenciais contra as recomendações das autoridades de saúde e chega a cogitar “insanidade”. O tom do Economist é bastante forte quando compara Bolsonaro à “déspotas” da Bielorrúsia, Turcomenistão e Nicarágua, também negacionistas da pandemia. Quando ignora o isolamento social, Bolsonaro se isola politicamente e isto pode ser o “começo de seu fim”, finaliza a revista inglesa.




          Ainda no Reino Unido, o The Guardian repercutiu a primeira confirmação de morte pelo covid-19 de um índio ianomâmi, de 15 anos, no Brasil. A reportagem lembra que os indígenas vêm sendo contaminados por doenças trazidas pelo homem branco desde o século XVI e que o coronavírus tem o potencial de dizimá-los. O contágio se deve ao avanço da mineração ilegal realizada em áreas de reserva indígena, atividade estimulada pelo governo Bolsonaro.



          Atravessando o Canal da Mancha, a imprensa francesa agrupou Jair Bolsonaro ao premiê húngaro Viktor Orbán e ao presidente estadunidense Donald Trump como “líderes populistas”, que em seus “esteriótipos” conseguem inventar “teorias da consipiração” para “negar a realidade”. Le Parisien cita que tanto Bolsonaro quanto Trump vão tentar a reeleição e que pensam mais em atribuir o colapso das economias aos adversários do que em salvar vidas de seus próprios eleitores. 





          Público, jornal português, traz entrevista com o governador do estado do Rio de Janeiro Wilson Witzel (PSC) em que o ex-juiz trata Bolsonaro como alguém passível de responder ao Tribunal Penal Internacional (TPI) por desrespeitar as normas da Organização Mundial da Saúde. Witzel defende que o presidente "tem-se oposto à posição assumida pela esmagadora maioria dos países no combate à pandemia” e que as responsabilidades políticas da crise serão de Bolsonaro. O governador também levantou suspeita, para o periódico, sobre sanidade mental do presidente da república, mas diz não ser psiquiatra ou psicólogo. Público lembra que Witzel e Bolsonaro eram aliados na campanha de 2018, embora agora já sejam considerados rivais dentro da direita brasileira para 2022.




          O vizinho La Nación foi outro veículo internacional a destacar a falta de responsabilidade do presidente brasileiro que saiu pelo comércio brasiliense "gerando aglomerações”. O jornal argentino foi o que mais deu destaque aos rumores desta semana de que o ministro da saúde Luiz Henrique Mandetta poderia ser demitido por Bolsonaro. La Nación destaca que o bom trabalho do sanitarista o rendeu grande popularidade, o que fez com que o governo desse “marcha ré” na demissão do chefe da pasta de saúde.






          O desrespeito do ministro da educação Abraham Weintraub para com o povo chinês foi pouco noticiado nas manchetes internacionais fora do Brasil e da própria China. O Xinhua trata o incidente como “um episódio desagradável” de declarações “absurdas e desprezíveis” e de “conotação racista” que causaram influências negativas no desenvolvimento saudável das relações bilaterais entre China e Brasil. Repudiando fortemente Weintraub, é interessante perceber que a manchete da notícia é bastante otimista e que a falta de educação ministerial é tratada somente no meio da reportagem.





          A mídia norte-americana continua empregando suas notícias sobre a América Latina muito mais nas questões venezuelanas, equatorianas e nicaraguenses que brasileiras. Ainda assim, o Financial Times teve tempo de pincelar a crise brasileira. Aqui, a pandemia é agravada pelas brigas políticas entre órgãos da saúde e a família Bolsonaro, cujo patriarca é chamado de “líder populista” por ignorar as recomendações de enfrentamento ao vírus, por procurar intrigas com o parlamento e com seu ministro da saúde.

          Longe do pico da doença e ainda com menos casos do covid-19 que Itália, Espanha, Estados Unidos e China, as manchetes internacionais mostram que a epidemia de ignorância ainda é a mais preocupante no Brasil.



Referências:

https://www.economist.com/the-americas/2020/04/11/jair-bolsonaro-isolates-himself-in-the-wrong-way