Páginas

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Primavera Árabe! E os Emirados?

Por Amanda Marques da Silva*


“(...) capacidade para fazer ou resistir à mudança” ou em outras palavras, de “conseguir o que queremos”[1] são umas das possíveis definições de poder apresentadas por Joseph Nye Jr. E na Primavera Árabe conseguimos visualizar como as diferentes utilizações desse poder podem realmente garantir a manutenção de regimes políticos, ainda que com pressões internas e externas a esse território.



Emirados Árabes Unidos, localizado no Golfo Pérsico, é uma confederação composta por sete monarquias, equivalentes a principados, regidos por um Presidente eleito pelos emirati[2]. Uma monarquia, ainda que próxima cultural e geograficamente dos países em que a onda revolucionária foi mais intensa, não vivenciou com toda a plenitude as manifestações. Todavia, houve uma antecipação por parte do governo central em abafar qualquer possível foco de revolução interna, tanto com políticas mais brandas quanto com uma repressão mais violenta.
Os EAU não tiveram manifestações internas, mas se anteciparam concedendo benefícios à população por meio de políticas de bem-estar social. Assim como foram utilizadas de medidas sociais e econômicas, também foram colocadas em prática a repressão de forma exagerada, com prisões de potenciais influenciadores de revoltas, mostrando claramente o que passou a ser ameaça para o governo no poder. Uma pauta com demandas reformistas rejeitadas pelo poder central e a imensa desigualdade socioeconômica de Abu Dhabi e Dubai em relação aos outros emirados, poderiam ser a chave para o descontentamento generalizado, promovendo a oposição à monarquia. No entanto, nenhuma das tensões, ainda que regionalizadas, questionou o direito das famílias reais ao governarem o país.
Havia a necessidade em legitimar um governo monárquico, diante dos acontecimentos no mundo árabe, por parte dos emirados. E além das tensões citadas anteriormente, ainda existiam iniciativas de grupos islamistas radicais, possivelmente aliados com a “Irmandade Muçulmana”. Ainda que esses grupos islamistas não constituíssem uma ameaça real à manutenção da monarquia emirati, pois não contam com o apoio da sociedade, representavam uma tentativa de desestabilizar o regime, utilizando-se de ações internas e externas para perturbar as monarquias do Golfo Pérsico. Em reposta a essas ameaças, os EAU agiram com mais violência e praticaram dezenas de prisões de islamistas.
            O regime autocrático arrisca perder a legitimidade diante da população, quando se utiliza de demasiada repressão, e não se pode negar que os Emirados exageraram em políticas violentas. Se agiram com tamanha rigidez com movimentos que nem conquistaram a população local, até “onde” iriam as aspirações emirati em defesa do regime monárquico?




REFERÊNCIAS

CORREA, Humberto M. Legitimidade como estratégia: legitimação política nos Emirados Árabes Unidos (EAU). 67f. Monografia (Graduação) – Instituto de Relações Internacionais, Universidade de Brasília. Brasília, 2014.

NYE Jr., Joseph S., O Futuro do Poder. – São Paulo: Benvirá, 2012.

FONTE DA IMAGEM: disponível em: http://jronaldoleite.blogspot.com.br/2010/01/dubai-inaugura-maior-predio-do-mundo.html, acessado em 1 de outubro de 2015.






[1] NYE, Joseph S. (2012) página 26.
[2] Emirati – representantes de cada emirado, que se reúnem em conselho a cada cinco anos, para eleger o novo presidente e vice-presidente para os Emirados Árabes Unidos.




* Amanda Marques da Silva é graduanda do 7° período do curso de Relações Internacionais. Este texto foi desenvolvido como parte da disciplina de Análise das Relações Internacionais.

sábado, 22 de agosto de 2015

A Crise Grega e a Renúncia de Alexis Tsipras




O Primeiro-Ministro grego Alexis Tsipras,que renunciou esta semana
                                                                                                
 Por Devlin Biezus*

Eleito em janeiro de 2015, Alexis Tsipras assumiu como primeiro ministro da Grécia, país vítima da crise de 2008 quando sua economia começou a entrar em depressão e assim precisou recorrer a empréstimos tanto do FMI quanto do Banco Europeu para solver suas dívidas. 
Para conseguir esses empréstimos o país teve que se submeter a políticas de austeridades de ajuste fiscal as quais influenciam negativamente no bem estar social de sua população como menores investimentos na área da saúde, cortes nos benefícios sociais, diminuição do salário mínimo e restrição à aposentadoria, medidas que são extremamente impopulares e tiveram como consequências protestos e manifestações que criticavam tais políticas.

terça-feira, 21 de julho de 2015

O papel da cultura em uma negociação internacional



Camile Wiederkehr[1]

“Há muitos mundos. Cada um é diferente. Cada um é importante. E é preciso aprender com eles, porque esses outros mundos, essas outras culturas, são espelhos em que podemos ver a nós mesmos, e graças a isso, podemos nos entendemos melhor - porque não podemos definir a nossa própria identidade até tê-la confrontado a dos outros, como comparação” (tradução livre) — R. Kapuscinski, Travels with Herodotus, p. 264.


Diante da recente notícia do acordo com o Irã celebrado entre Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido, França e Alemanha com o objetivo de limitar o programa nuclear daquele país, após longos anos de negociação, destaca-se a importância do debate e da compreensão cultural na esfera diplomática.
Como profissionais das relações internacionais, sabemos que quanto mais informações tivermos sobre os países que estudamos, mais acurada será nossa análise, pois para melhor compreender um fato devemos analisá-lo sob diversos ângulos. Em um processo de negociação não é diferente: é importante compreender os aspectos culturais do país da pessoa com que você está negociando além de saber a língua que ela fala. Em um mundo globalizado, interagir com pessoas que são culturalmente diferentes é uma realidade cada vez mais presente.
SegundoTHOMAS e INKSON (2006), cultura é comportamento, inclui nossos valores, crenças, ética, linguagem, modelos de pensamento, normas, regras, estilos de comunicação; é o produto da interação entre pessoas, de determinado grupo que valida sua maneira de ser frente aos demais, portanto é dinâmica, interacionista e tem seus aspectos positivos e negativos. Ao entendermos nossa própria cultura, podemos fazer comparações iniciais com outras, para distinguir as áreas de possíveis acordos e desacordos.
Cabe mencionar que a cultura afeta tantos as negociações em âmbito público quanto privado, tanto indivíduos, como Estados.Para uma melhor compreensão das atitudes e valores das sociedades, vale mencionar pesquisa realizada por Geert Hofstede (1991) que analisou a cultura de sessenta países, ocidentais e orientais, abrangendo colaboradores de uma corporação multinacional norte-americana. Em seu estudo, Hofstede destacou a importância da cultura nacional na explicação das diferenças em atitudes e valores em relação ao trabalho. 
Desta forma, podemos afirmar que cada país tem um traço cultural muito forte que é percebido não somente no ambiente familiar de um indivíduo, mas também, no ambiente social e profissional. Em uma negociação internacional, é importante ter conhecimento das características (econômicas, políticas, culturais...) de cada mercado.
Destarte, não seria indicado a imposição de opiniões ou conceitos num debate entre pessoas de diferentes culturas; é preciso aprender a negociar com parcimônia e tolerância para evitar possíveis frustrações.
De acordo com MANZUR (2010), para uma negociação eficaz, deve-se estar aberto à diversidade e não se deve deixar que preconceitos ou estereótipos prejudiquem a negociação. Por exemplo, um negociador pode pensar que ser direto e enfático numa negociação seja algo positivo, pois em seu ponto de vista, isso significaria economia de tempo e dinheiro. Entretanto, algumas culturas prezam por longas conversas e cerimônias antes de chegar a um acordo.
Diante de todo o exposto, observa-se que para aumentar as chances de sucesso numa negociação intercultural, faz-se necessário estudo prévio com o objetivo de compreender melhor a outra parte. Deve-se realizar uma análise global, envolvendo as mais variadas esferas de uma sociedade, sejam elas econômicas, políticas, sociais, culturais, entre outras.


Referências:

 

HOFSTEDE, Geert. Culture and organizations.Intercultural cooperation and its importance for survival. New York, McGraw-Hill, 1991.

KAPUSCINSKI, Ryszard. Travels with Herodotus. Translated by Klara Glowczewska. Random House, 2007.

MANZUR, Tânia Maria Pechir Gomes. Negociações Internacionais:um conceito possível, eficácia e eficiência no processo.Boletim Meridiano 47, Vol. 11, n. 119, 2010.

THOMAS, David e INKSON, Kerr. Inteligência cultural. Rio de Janeiro, RECORD, 2006. 




[1] Pós-graduanda em Direito Público pela Escola da Magistratura Federal do Paraná.  Graduada em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Graduada em Relações Internacionais pelo Centro Universitário Curitiba. E-mail de contato: camile_w@hotmail.com.

terça-feira, 14 de julho de 2015

O Significado do Acordo Nuclear Iraniano



Chanceleres de China,França,Alemanha,União Europeia,Irã,Rússia,Reino Unido e EUA hoje em Viena : após muitas idas e vindas,o Acordo foi assinado.
                                                                                           
Por Andrew Patrick Traumann*

Hoje em Viena,após três prorrogações de prazo  finalmente o P5+1 (os 5 países membros do Conselho de Segurança mais a Alemanha),chegaram a um entendimento com o Irã acerca de seu programa nuclear.O numero de prorrogações de prazo  demonstravam  uma grande vontade política da dupla Obama/Kerry para que o Acordo saísse. A oposição norte-americana repetiu incansavelmente o mantra “No deal is better than a bad deal”, enquanto Obama com as bênçãos de Clinton, dizia que “A good deal is better than no deal at all”. Mesmo que o Senado ou a Câmara norte-americanos não aprovem o Acordo ,Obama poderá vetar o “Não” por se tratar de Acordo Executivo e não de um Tratado Internacional. Apenas se o “Não” obtiver dois terços dos votos no Senado o veto pode ser derrubado,o que é improvável,pois colocaria os EUA numa situação delicada frente a  Reino Unido,França,Alemanha,China e Rússia,os demais signatários do Acordo.

Mas o que está em jogo? Muita coisa : de um lado temos um país ansioso para sair de um isolamento internacional de 36 anos ,com mais da metade da população formada por jovens,muitos deles com nível superior e  que buscam emprego e estabilidade econômica. No Irã existe uma enorme expectativa acerca de como seria a vida sem as sanções. Os jornais iranianos diariamente noticiam a vinda de investidores ocidentais ansiosos pelas novas oportunidades que se abrem . 

Para começar o Irã receberá  de volta cerca de US$ 150 bilhões de dólares que estavam bloqueados em contas nos EUA e Europa,voltará a ser um player no mercado petrolífero mundial. Com a quarta  maior reserva de petróleo do mundo e a terceira de gás natural,as expectativas são altíssimas e tem sido alimentadas por um regime que vem sendo questionado pela jovem classe média urbana,que nem havia nascido quando houve a Revolução e que deseja uma política mais aberta no que tange as liberdades individuais. O governo,por sua vez, aposta na melhoria dos índices econômicos para conquistar essa parcela do eleitorado hostil ao regime,uma vez que quando a economia vai bem,a tendência é o enfraquecimento da oposição.

Para que as sanções contra Teerã sejam suspensas,o Irã aceitou descartar 98% do material nuclear que possui ,desativar dois terços de suas centrífugas,não enriquecer urânio por quinze anos,serão impedidos de comprar e vender armas por cinco anos e mísseis balísticos por oito.


Já para os EUA,os interesses são antes de tudo estratégicos : o Irã seria um aliado-chave de Washington para tentar solucionar a Crise na Síria,uma vez que são aliados do presidente Bashar Al Assad. Também seriam um parceiro na luta contra o Estado Islâmico na própria Síria e no seu ex-rival histórico e hoje aliado Iraque,poderia influenciar o Hezzbollah no Líbano (uma vez que é seu principal financiador) e levar a uma solução negociada no Iêmen,todos países onde há alguma forma de conflito envolvendo grupos xiitas. Um Irã sofrendo inspeções constantes da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) ,aceitando condições geralmente  impostas a países derrotados em guerras sem realmente ter tido a necessidade de levar o país a uma aventura militar,parece ser mais uma vitória da diplomacia de Obama. 

*Andrew Patrick Traumann,Doutor em História,Cultura e Poder pela UFPR é Professor de História das Relações Internacionais no UNICURITIBA.

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Ir a campo: uma estratégia adequada e um esforço necessário dentro das Relações Internacionais


Gustavo Glodes Blum¹

A construção do conhecimento, tal qual conhecemos nos meios acadêmicos ou aqueles que estão para além da ciência ocidental, é algo muito complexo. Há que se ter em vista que,

o conhecimento, palavras derivada do latim cognescere, que significa ‘procurar, saber, conhecer’, partimos do pressuposto, como já afirma Japiassu² de que se trata ‘da apropriação intelectual de determinado campo empírico ou ideal de dados, tendo em vista dominá-lo e utilizá-lo. (SPOSITO, 2004, p. 14).

Desta forma, o conhecimento poderia ser debatido enquanto o processo de “produção intelectual (...) em suas mais diferentes investigações, na busca de realizar uma leitura da realidade objetiva” (SPOSITO, op. cit., p. 15). Reunião de dados, análise, investigação, estabelecimento da base bibliográfica, justificativa da pesquisa e de seus recortes: tudo isso faz parte da produção do conhecimento teórico, científico. Seria algo como buscar praticar uma leitura do mundo a partir das lentes estabelecidas pela ciência.

Porém, o conhecimento não está restrito apenas às leituras academicistas e científicas da realidade, como a própria Universidade enquanto instituição nos faz pensar. A busca pela análise da realidade não é feita apenas na academia. Falando a respeito da ciência geográfica, por exemplo, Paul Claval (2010) fala, a um público específico, mas que pode servir de metáfora para todas as ciências: todos os seres humanos são geógrafos, por desenvolverem conhecimento próprio a respeito de questões como orientação, localização, distância, percepção, entre outras.

As Relações Internacionais, por sua vez, também passam por esse problema: não apenas na questão da empregabilidade, que já pudemos expor e debater neste mesmo espaço, mas também em sua construção teórica, esse campo de conhecimento recebe influências das mais diversas áreas. A própria formação acadêmica dentro das RIs permite este debate, ou seja, a contraposição não apenas de várias ciências dentro do mesmo campo de conhecimento, como História, Direito, Economia, Ciência Política, a própria Geografia, entre outras, mas também, e muitas vezes, a contraposição de correntes teóricas dentro das próprias ciências que a compõem.

Muitas vezes, porém, esta discussão pode parecer isolada, sobretudo para os alunos que estão no início do curso e até mesmo para alguns profissionais que não estão familiarizados com as RIs. Afinal, infelizmente, esta ainda não é uma profissão vista como tendo uma “cadeira” específica (e, em minha humilde opinião, não deveria, pois seria cortar as possibilidades de ação e análise). O Bacharel em Relações Internacionais não é um economista, não é um historiador, não é um cientista político, não é um sociólogo.

E, muitas vezes, essa contraposição pode ser vista como uma falta de aprofundamento em determinadas questões. Porém, e acredito piamente nesta possibilidade, é a característica integralizadora do profissional de RI – sua capacidade de agregar uma série de informações e práticas dentro de um mesmo escopo – que permite a sua diferenciação. Talvez por isso, realizar campos nas RIs talvez seja uma boa estratégia e um esforço necessário, algo que tem sido pormenorizado e negligenciado dentro de nossa área.

Um dos grandes desafios em Relações Internacionais é justamente esta integralização. Ao utilizar este termo, me refiro à capacidade de experenciar e compreender uma série de informações na construção do devido conhecimento. Enquanto domínio das informações e utilização para algo, nas Relações Internacionais, o grande desafio é, justamente, criar a materialização dos anos de estudo e dos grandes debates teóricos. Materializa-se o estudo em Relações Internacionais numa possível perspectiva: a realização de aulas em campo ou trabalhos de campo.

As duas situações propostas são diferentes. Se, por um lado, a aula em campo depende de um trabalho de campo previamente realizado pelos organizadores, as duas têm dinâmicas muito diferentes: a aula em campo permite confrontar a teoria e a prática, enquanto que o trabalho de campo se baseia na busca, in loco, das informações, sensações e paisagens que compõem o objeto. E são estas duas alternativas que permitem integralizar, justamente, o ensino e a prática das Relações Internacionais.

Enquanto um curso com forte carga teórica, a oportunidade de confrontar a teoria e a realidade das RIs é algo essencial na formação de bons bacharéis para a área. A teorização, por si própria, é algo fundamental. Porém, se ela se vale por si própria, acaba criando uma das coisas mais fundamentais do curso: a possibilidade de criar uma ligação, uma ponte, entre a arregimentação de informações de diversas áreas diferentes, e a experiência da realidade cotidiana.

É apenas através desta análise que o acúmulo de diversas informações de integralizam. Para citar apenas um exemplo da área da geografia, o avanço da fronteira agrícola no Brasil, ou seja, a derrubada da Floresta Amazônica nas regiões Norte e Centro-Oeste do Brasil, está tão diretamente relacionada com a falta de água que tem recentemente se abatido por sobre os estados do Sudeste do Brasil quanto com o comércio internacional de commodities. Porém, se isso é possível de ser analisado na teoria, apenas com o encontro face-a-face com estes efeitos da globalização é que o conhecimento, então separado nas “caixinhas” das diferentes matérias da grade curricular, se integralizam.

Tornar as RIs mais reais, mais relacionadas à vivência das pessoas: aí está o desafio qualitativo para que a expansão deste campo de conhecimento possa ter impacto direto na vida das pessoas, e, inclusive, mais reconhecido como um âmbito relevante e importante de análise. Caso esse salto não seja dado, estaremos fadados a nos tornarmos uma área restrita à “Torre de Marfim”: tão distante da realidade humana que nos distanciaremos até da possível humanidade que há na ciência.

Referências

CLAVAL, Paul. Terra dos homens: a geografia. São Paulo, SP: Contexto, 2010.
SPOSITO, Eliseu S. Geografia e filosofia: contribuição para o ensino do pensamento geográfico. São Paulo: Editora UNESP, 2004.
¹ Gustavo Glodes Blum é professor de Geografia Política e Geopolítica do curso de Relações Internacionais do UNICURITIBA, Mestre em Geografia pela UFPR e Bacharel em Relações Internacionais pelo UNICURITIBA.

² JAPIASSU, H.; MARCONDES, D. Dicionário básico de Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1990.

quarta-feira, 20 de maio de 2015

O Brasil e os Refugiados

“Foi a primeira vez que vi uma Copa, e torci pelo Brasil. Lá na Síria não tem Copa. Também não tem metrô. O que eu não gosto aqui é que não existem muitas pessoas que falam árabe”, Yara, 9 anos. – Refugiada que chegou ao Brasil sem família e sem saber falar português. (Fonte: http://www.adus.org.br/2014/08/o-brasil-sob-o-olhar-de-criancas-refugiadas/)

Por Victoria A. Karam*

A ideia de refúgio faz parte da sociedade há muito tempo, desde a idade média quanto tinha um alto teor religioso, diferentemente do que ocorre atualmente. Através da implementação de um sistema diplomático, o refúgio passa a ter um caráter estatal, de acolhimento de pessoas de um país em outro.
A Convenção sobre o Estatuto dos Refugiados de 1951 definiu refugiado como qualquer pessoa que por medo de ser perseguida – por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opinião política – deixa o país de sua nacionalidade, uma vez que não se sente segura. Porém, ao longo dos anos esse conceito tornou-se insuficiente, tendo em vista que fora criado de forma limitada geograficamente – só era válido na Europa – e o temporalmente, já que só era aplicado para ocorrências anteriores a 1º de janeiro de 1951.
A partir disso foi assinado o Protocolo Adicional de 1967, que acabou com essas limitações (temporal e espacial), passando a ser considerado refugiado qualquer pessoa na situação acima descrita. Em 1984 esse conceito foi mais uma vez ampliado, na América Latina, pela Declaração de Cartagena, que o complementou com a ideia de que também são refugiados pessoas que deixaram seus países por terem tido sua vida, segurança ou liberdade ameaçadas devido à violência generalizada, ataques estrangeiros – que tornam impossíveis as condições necessárias de uma vida digna – conflitos internos e violação dos direitos humanos. Como se vê, todas situações que interferem na ordem pública e tornam impossível a sobrevivência em determinados países, expandindo portanto o conceito de refugiado para além dos fatos ocorridos antes e durante a Segunda Guerra Mundial (BARRETO, 2010).
O Brasil é conhecido por ter um comportamento diferente de outros países ao tratar-se de refugiados. O Estado providencia os documentos para que essas pessoas possam trabalhar, mas na prática não realiza ações que promovam a inserção e integração dessas pessoas na cultura brasileira. Os refugiados tem dificuldades em aprender português e a inserção no mercado de trabalho fica a cargo do próprio refugiado ou de ONG’s que auxiliam nessa tarefa. Ao longo dos últimos anos os pedidos de refúgio em território brasileiro aumentaram significativamente e o país passou a receber mais haitianos, sírios, congoleses, colombianos, entre outros.
Em 2005, durante sua visita ao Brasil, o Alto Comissário da ONU para Refugiados, António Guterres, definiu o país como "um país de asilo e exemplo de comportamento generoso e solidário", ou seja, é um país que recebe muitos estrangeiros, mas apesar de ser “generoso e solidário” não está pronto para suprir a demanda por pedidos de refúgio. Atualmente, são mais de 7.200 refugiados – segundo dados de 2014 do CONARE – Comitê Nacional para os Refugiados, de mais de oitenta nacionalidades, concentrados, a grande maioria, em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Curitiba, todos com direitos à documentação, em busca de trabalho e uma condição digna de vida e sobrevivência.
Em agosto de 2014, um projeto de lei foi apresentado pelo Ministério da Justiça, visando determinar a situação dos apátridas no Brasil, assim como determinar seus direitos e obrigações. Apatridia é a condição de um indivíduo que não é considerado como um nacional por nenhum Estado. O projeto foi elaborado em parceria com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) e deve ser levado à votação no Congresso Nacional em breve.
Já em âmbito estadual, foi criado pela Lei n. 18.465, em abril de 2015, o “Conselho Estadual dos Direitos dos Refugiados, Migrantes e Apátridas do Paraná”, o qual é vinculado à Secretaria de Estado da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos e possui caráter consultivo e deliberativo, tendo o envolvimento de representante de diversos órgãos públicos e de membros da sociedade civil organizada, visando melhorar as condições dos refugiados, assim como a integração deles na sociedade brasileira.

*Victoria A. Karam  é graduanda dos cursos de Direito e Relações Internacionais do Centro Universitário Curitiba - UNICURITIBA. 

Referências:


ACNUR, Dados sobre refúgio no Brasil. Disponível em http://www.acnur.org/t3/portugues/recursos/estatisticas/dados-sobre-refugio-no-brasil/:  acesso em 10 mai 2015.

ARAÚJO, Nádia de; ALMEIDA, Guilherme Assis de (Coord.). O Direito Internacional dos refugiados: uma perspectiva brasileira. Rio de Janeiro:  Renovar, 2001.

BARRETO, Luiz Paulo Teles F. (Org.) Refúgio no Brasil. A Proteção Brasileira aos Refugiados e seu Impacto nas Américas. Brasília: ACNUR/Ministério da Justiça, 2010.

FISCHEL DE ANDRADA, H. H; MARCOLINI, A. A política brasileira de proteção e reassentamento de refugiados: breves comentários sobre suas principais característi­cas. Revista Brasileira de Política Internacional, 45, n. 1, 2002.

JUBILUT, L. L. O direito internacional dos refugiados e sua aplicação no ordenamento jurídico brasileiro. São Paulo: Método; ACNUR; 2007.

MILESI, R. Refugiados – realidade e perspectivas. Brasília: Edições Loyola,2003.

ONU.    Estatuto dos Refugiados de 1951.
_____. Declaração de Cartagena de 1984.
_____. Protocolo Relativo ao Estatuto dos Refugiados de 1967.

UNHCR. Reconciling Migration Control and Refugee Protection in the European Union: a UNHCR Perspective. Geneva: UNHCR. 2000


segunda-feira, 18 de maio de 2015

China, Política Brasileira e Desenvolvimento Econômico na Semana Acadêmica do Curso de Relações Internacionais do UniCuritiba

Por Carlos Magno Esteves Vasconcellos[1]



Na semana passada, o Curso de Relações Internacionais do UniCuritiba realizou, nas dependências da instituição, a sua Semana Acadêmica relativa ao primeiro semestre de 2015. Na oportunidade, além de um interessante debate entre atuais acadêmicos e ex-alunos do Curso e hoje profissionais atuantes e bem sucedidos no mercado de trabalho, foram realizadas outras três palestras com temáticas de grande relevância para os internacionalistas, a saber: A ascensão econômica da China e seus reflexos na geopolítica mundial contemporânea; Política e democracia no Brasil, 30 anos depois da redemocratização; Repensando o desenvolvimento econômico: a instrumentalização pela empresa pública – a experiência da Petrobrás, ou a atração do capital estrangeiro.  

sexta-feira, 15 de maio de 2015

PROFISSÃO: INTERNACIONALISTA

Desafios e oportunidades para uma carreira em Relações Internacionais

Gustavo Glodes Blum¹


*Este texto traz algumas reflexões promovidas durante a Semana de Relações Internacionais do Centro Universitário Curitiba – UNICURITIBA, na palestra intitulada “O internacionalista no mercado de trabalho: uma perspectiva a partir de experiências reais”. Na mesa, enquanto palestrantes, tivemos a honra de contar com a presença de Bruna Zulauf, Marina Sperafico, Daniel Dall’Agnol e Felipe Salomão, a quem agradecemos pelos depoimentos que permitiram a escrita deste texto.

     Da mesma forma como o Brasil, durante muito tempo, foi chamado de “país do futuro”, desde a sua fundação no país, em 1974 na Universidade de Brasília, a profissão de Relações Internacionais tem sido chamada “a profissão do futuro”. Será que, assim como o Brasil, esta profissão já chegou ao seu encontro inadiável com o seu momento de ascensão social?

     Nossa tese, dentro deste pequeno texto que se destina tanto aos estudantes de Relações Internacionais já inseridos nos cursos de graduação ao redor do Brasil, quanto àqueles que estão em dúvida sobre se devem ou não seguir essa carreira num vestibular que está se aproximando, é de que sim, mas também depende do esforço de cada profissional formado pelo curso.

     Hoje, são inegáveis os sinais cotidianos de que se vive, em muitas partes do mundo, numa realidade que se pode chamar de globalizada. Esta realidade está baseada não apenas na ideia de que haja um contato cada vez maior entre pessoas de todas as partes do mundo, mas também que os processos de funcionamento – econômicos, políticos, sociais, culturais, ambientais – dependem cada vez mais da conexão de vários pontos diferentes do globo para que se completem.

     Através do avanço das redes técnicas de circulação ou de comunicação, o contato entre diferentes culturas e os processos derivados destes contatos, tanto comerciais como políticos, favorece a ação de um profissional que seja capaz de facilitar este tipo de intercâmbio. São poucas as profissões que são capazes de vivenciar, em diversas oportunidades cotidianas, em direto, as consequências de todos os acontecimentos mundiais.

     Já que está baseado em uma multidisciplinariedade com relação à sua ementa, o curso de Relações Internacionais permite que o seu profissional consiga sistematizar, em sua análise e sua ação, uma série de conhecimentos que podem parecer esparsos. Através das matérias estruturantes do curso – Ciência Política, Direito, História, Economia e Geografia Política – o aluno é capaz de ter uma visão holística da sociedade mundial, sendo capaz de estabelecer as similitudes e diferenças. Isso o torna apto e preparado para atuar com relação a essas sociedades, facilitando, justamente, o intercâmbio de informações e produtos necessários nessa nova era global.

     Porém, e apesar desta aptidão, há certa reticência a partir do mercado de trabalho com relação aos estudantes e profissionais de Relações Internacionais. Ao mesmo tempo em que há um glamour com relação à profissão, que é vista como uma ótima oportunidade para se conhecer os diversos países do globo em viagens eternas regadas a champagne (ainda que saibamos que não é esta a realidade), esta boa vontade permanece aí.

     Num determinado momento de nossa conversa sobre a profissão, um aluno nos perguntou: o quê diferencia o profissional, e o quê faz com que uma empresa, uma universidade, um órgão público, prefira um aluno de Relações Internacionais a outro candidato com uma formação mais específica? Ao fim e ao cabo, por que contratar um estagiário de Relações Internacionais se podem contratar um de Administração, de Economia, de Direito etc.?

     É aí que entram dois aspectos básicos da formação do internacionalista. Todos os estudos desenvolvidos nos anos de formação do curso, a forma em desenvolver as análises sobre as estratégias dos Estados, empresas, organizações internacionais, entre outros dos diversos atores das RIs, permitem ao internacionalista obter uma leitura estratégica a respeito de diversos temas.

    Para além da possibilidade de agir enquanto um diplomata corporativo, por exemplo, representando institucionalmente a empresa dentro e fora do país, o internacionalista se enquadra muito bem em funções que exigem a construção de cenários, seleção de variáveis relevantes e tomada estratégica de decisões. Ainda que, durante a graduação, este tipo de pensamento esteja focado no Sistema Internacional, na atuação profissional esta visão holística pode ser percebida facilmente, se adaptando em razão da facilidade de mobilidade social do internacionalista, desde muito cedo acostumado com a diversidade cultural, sexual, política e acadêmica.

     Ainda assim, e apesar de todas essas capacidades, o profissional de Relações Internacionais que está localizado fora dos grandes centros econômicos, políticos e culturais do Brasil encontra dificuldades para se inserir no mercado de trabalho. Ou, ainda que se insira, não será dentro de uma vaga de emprego típica de Relações Internacionais. O problema é que, fora destes mesmos centros, a possibilidade de existirem tais vagas é muito pequena. Falando a partir de onde estou baseado, a cidade de Curitiba, posso afirmar que se existirem mais de dez vagas específicas para Relações Internacionais, estarei surpreso.

     É aí que entra a ação específica do profissional. É o estudante e o profissional de Relações internacionais que devem se mostrar disponíveis para o trabalho, divulgando as suas habilidades. Aproveitando-se da sua formação enquanto um comunicador – afinal, pode-se afirmar que nossa formação se enquadra, dentre outras, numa ação destinada à comunicação política e estratégica – deve ser utilizada para que consiga alcançar as suas possibilidades. Da mesma forma, é aqui que o glamour acaba: a entrada nem sempre é pela porta da frente.

     Assim como no caso de diversas outras profissões, o caminho é longo e árduo. No início, o profissional fará diversas coisas que são típicas de início de profissão – assim como um médico começa a sua carreira enquanto plantonista, e um estagiário da área do Direito começa carregando processos em direção ao Fórum da sua cidade. Mesmo assim, devido ao seu dinamismo, é a partir destas atividades iniciais que se inicia uma possibilidade de começar de baixo e ir abrindo espaços por dentro das empresas: a diplomacia não precisa ser apenas corporativa, mas também se aplica ao próprio profissional, que pode explicar internamente o quê é capaz de fazer.

     Ao mesmo tempo, suas formações complementares (as línguas que se fala além do inglês e do espanhol), cursos específicos e interesses em campos especializados dentro das RIs se torna o trunfo do profissional. Tal qual como nas monografias a serem feitas ao final do curso, a grande gama de temas de ação dentro das Relações Internacionais permite ao profissional se especializar naquilo que mais tem interesse – desde o setor financeiro, até a ação destinada à questão ambiental, passando por todos os possíveis temas entre estes dois. É possível afirmar que existem várias possibilidades dentro da mesma “plataforma”, e um campo inesgotável de especializações possíveis.

     Portanto, cada profissional de Relações Internacionais acaba sendo um diplomata de si, da empresa em que trabalha, mas, principalmente, do curso de graduação como um todo. Nosso fortalecimento passa pela ação conjunta, e a empregabilidade em RI faz parte de uma dinâmica conjunta de todos os profissionais da área: ao mesmo tempo em que nos fortalecemos no mercado, fortalece-se a área, e se cria uma retroalimentação conjunta que só tem a beneficiar a todos.

     Por fim, uma palavra final a respeito pela riqueza múltipla das RIs: está na nossa formação acreditar em algum grau de cooperação. É por isso que temos um contato tão fácil com profissionais de diversas outras áreas. Ao invés de um exclusivismo profissional, é a chance dos Internacionalistas de, num mundo em grande parte globalizado, apoiarem não a divisão de atividades em “caixinhas”, mas estimular a cooperação com cientistas políticas, economistas, historiadores, jornalistas, geógrafos, juristas, etc.

     Quem sabe não podemos ser a ponta de lança numa nova fase, de disseminação do conhecimento e colaboração entre diversas áreas, numa nova rede de ação profissional e construção teórica e prática de um novo mundo.




¹ Gustavo Glodes Blum é Internacionalista formado pelo Centro Universitário Curitiba (UNICURITIBA), e Mestre em Geografia pela Universidade Federal do Paraná. Atualmente, faz parte do Corpo Docente do curso de Relações Internacionais do UNICURITIBA com foco nas áreas de Geografia Política, Geopolítica e Política Internacional Contemporânea.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

A Ira de Deus: as Origens do Mossad

            Logotipo do Mossad. A inscrição em hebraico cita  Provérbios 11:14 :  "Sem diretrizes a Nação cai; o que a salva é ter muitos conselheiros."

Por Tatiana Bettega*

O Estado de Israel é um dos maiores enigmas políticos do cenário internacional. A sua criação anômala em uma terra de terceiros afetou não apenas os palestinos – habitantes nativos da terra, deserdados de suas posses em face de outro povo – como toda a região do Oriente Médio e o mundo como um todo. Consegue-se entender esta afirmação ao assimilar a Guerra da Independência, em 1948, em que houve a primeira grande diáspora palestina, onde migraram em peso para os países árabes vizinhos; a Guerra dos Seis Dias, em 1967, na qual Israel anexou diversos territórios de seus vizinhos, aumentando seu poder de barganha perante eles e modificou as fronteiras locais; e a Guerra do Yom Kippur, em 1972, que desencadeou a primeira Crise do Petróleo, afetando em grande escala a economia mundial e, por consequência, a política dos Estados.

Rhodes must fall

Por Carlos-Magno Esteves Vasconcellos*


A independência política e a construção da identidade e soberania nacionais são processos complexos e geralmente levam longo tempo para se completarem, principalmente em sociedades vitimadas por colonização estrangeira. As chagas na alma e as lembranças da dominação custam a se dissipar. Dependendo do legado dos tempos e da forma de dominação, seus vestígios perduram por gerações. Algumas heranças culturais permanecem para sempre.

sábado, 9 de maio de 2015

The Falkland Islands Case: diplomatic alternatives for its resolution


Jaqueline Ananias Ferronato*

            The “Islas Malvinas” as called by the Argentinians, or the Falkland Islands as named by the British, are composed by more than 700 islands close to Antarctica. Due to that, the islands have never had an indigenous population. As object of conflict between Argentina and the UK since the XIX century, it is considered by the Argentinians as part of their heritage from the former settler, Spain, although the United Kingdom has claimed it since 1811, from when they affirm the British arrived in the islands, before the French and Spanish. This claim is based on the strategic position of the islands, considering that by then the Panama Canal had not been built yet. So after the expulsion of the Argentinians from the mentioned territories in 1833 by the UK, British people have been invited to live in the territory and colonize it.
During the 80’s, Argentina under a dictatorship regime was motivated to invade the Islands another time, but the UK turned out to be the winner by its powerful navy. The consequences were strong: the Argentinian military dictatorship got weak and the Falkland Islands conflict allowed the conservative party in UK to thrive under the mandate of Prime Minister Margaret Thatcher.
Nowadays the population of the Islas Malvinas consists of 2,840 people, predominantly British descendants, with an HDI of 0,874, which is considered very high. The democratic institutions in the Islands work very well. They are financially self-sufficient and almost self-governing, considering the UK takes care only of their defense and foreign affairs. Another important fact is that in the recent years petroleum was found it the islands, what increased the competition between Argentina and the UK.
            By now Argentina not only complains that the UK explores the natural resources of the region, but also keep affirming that the islands belong to the Argentinians. Because of that, all the Falkland Islands’ attempts to maintain a good neighborhood relationship with Argentina have failed, since Argentina wasn’t willing to cooperate. These failures can be very clear on the words used by the Falkland Islands government website:

More recent actions such as attempts to ban their ships from entering the South America ports, Decree 256 which denies innocent passage of vessels transiting Argentine waters, the banning of charter flights in support of our tourism industry, laws threatening sanctions against companies involved in peaceful commerce in both countries, all point to a desire by Argentina to frustrate our international trade and attempt to isolate us.

            According to the self-determination principle applied by the United Nations as a fundamental human right, a plebiscite is ordered to decide to whom the islands must belong. As the article 21, 3, of the Universal Declaration of Human Rights sets:

The will of the people shall be the basis of the authority of government; this shall be expressed in periodic and genuine elections which shall be by universal and equal suffrage and shall be held by secret vote or by equivalent free voting procedures.

The last plebiscite occurred in 2013, when the Argentinian president Cristina Kirchner claimed that the Falkland’s population didn’t want to be under the British authority. But opposed to the president’s opinion, the Falklands Islands confirmed the will of 99.8% of the population to keep as British Overseas Territory. By a process of constructivism, the Falkland islanders formed an identity which shows the world they are able to keep their autonomy in the building of their institutions and economic issues, but they also make clear they are not interested in paying the defense expenses nor taking the lead on their foreign affairs.
            When we analyze this conflict, we are able to associate it with the first principle in Article 2 of the United Nations Charter, since both countries involved in the conflict have ratified the United Nations Convention: “The Organization is based on the principle of the sovereign equality of all its Members”. This principle justifies the right of both countries to fight for the Falkland Islands territory. Nevertheless, since the UK has a permanent seat in the United Nations Security Council, it will always have an advantage, so the following article also featured in the UN Charter can easily be used as a defense argument by the UK: Article 24: “(…) the UN (…) confer on the Security Council primary responsibility for the maintenance of the international peace and security”. That being considered, it can be applied by UK as protection from Argentina not just against an armed conflict (which could easily involve the NATO), but this position can also be used for its own benefit, because of the British veto power. This scenario can be changed in the future, if eventually a reform in the Security Council happens, which could lead to a consequent power shift in the global balance.
            Looking to that scenario and assuming that a reform in the United Nations Security Council is hard to occur, then a call on the diplomatic affair is necessary for the resolution of this conflict. At first it would be required a Best Alternative to a Negotiated Agreement (BATNA), consisted in the meeting of a Zone of Possible Agreement (ZOPA) between the countries. This way, both States can be pleased to accomplish its accorded obligations. Since Argentina, in the recent years, hasn’t demonstrated willingness in giving in, thus a good proposal by the UK must be offered. Possibly, any economic issue would be very welcomed by the Argentinians, due to the current economic crisis they are facing. In exchange, Argentina would have to yield in some points, included in their current embargo in the UK and mainly the one which involve the Falkland Islands. It would drive forward the economy not just in trade topics, but also in touristic sector.
            If a bilateral negotiation doesn’t work, then surely a mediation with muscle shall be pursued to act like was aforementioned. The mediator in this case must be a State which has the confidence of both countries to ensure the mediation effectiveness. Seeing the current global power balance and considering the MERCOSUR existence, Brazil could be a valid mediator, because even if Argentina in theory is always against Brazil’s positions, in practice both countries are very dependent on each other and of course trading relations with the Falkland Islands would be a Brazilian interest. In addition, the last years have shown to the world that the emerging countries also have power which can affect the global balance. In the eyes of the developed countries, those emerging powers have been shifting the diplomatic agenda, and as Brazil is included in that category, its foreign policy has also changed accordingly. Because of that, the country has turned into a potential mediator between the developed countries and the Latin America ones.
            Considering the complex context currently experienced by Argentina and the UK in the matter of the Malvinas or Falkland Islands, it is possible to deduce that the accomplishment of a solution for the conflict is achievable, but by all means a BATNA is needed for Argentina and UK to give in, finding a common ground and developing a better way thru a pacific relationship.

References:
<www.falklands.gov.fkAccessed on 26th January 2015.
<www.un.org/en/documents/charter/index.shtml >Accessed on 26th January 2015.
Prola, Gabriel Sobolewski. A Disputa pela Soberania das Ilhas Falkland (Malvinas) na Perspectiva do Direito Internacional Público. Porto Alegre, 2013.


*Jaqueline Ananias Ferronato é aluna do sétimo período do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba e integrante do Grupo de Iniciação Científica "Educação para a Paz" coordenado pelo Professor Thiago Assunção.