Páginas

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Primavera Árabe! E os Emirados?

Por Amanda Marques da Silva*


“(...) capacidade para fazer ou resistir à mudança” ou em outras palavras, de “conseguir o que queremos”[1] são umas das possíveis definições de poder apresentadas por Joseph Nye Jr. E na Primavera Árabe conseguimos visualizar como as diferentes utilizações desse poder podem realmente garantir a manutenção de regimes políticos, ainda que com pressões internas e externas a esse território.



Emirados Árabes Unidos, localizado no Golfo Pérsico, é uma confederação composta por sete monarquias, equivalentes a principados, regidos por um Presidente eleito pelos emirati[2]. Uma monarquia, ainda que próxima cultural e geograficamente dos países em que a onda revolucionária foi mais intensa, não vivenciou com toda a plenitude as manifestações. Todavia, houve uma antecipação por parte do governo central em abafar qualquer possível foco de revolução interna, tanto com políticas mais brandas quanto com uma repressão mais violenta.
Os EAU não tiveram manifestações internas, mas se anteciparam concedendo benefícios à população por meio de políticas de bem-estar social. Assim como foram utilizadas de medidas sociais e econômicas, também foram colocadas em prática a repressão de forma exagerada, com prisões de potenciais influenciadores de revoltas, mostrando claramente o que passou a ser ameaça para o governo no poder. Uma pauta com demandas reformistas rejeitadas pelo poder central e a imensa desigualdade socioeconômica de Abu Dhabi e Dubai em relação aos outros emirados, poderiam ser a chave para o descontentamento generalizado, promovendo a oposição à monarquia. No entanto, nenhuma das tensões, ainda que regionalizadas, questionou o direito das famílias reais ao governarem o país.
Havia a necessidade em legitimar um governo monárquico, diante dos acontecimentos no mundo árabe, por parte dos emirados. E além das tensões citadas anteriormente, ainda existiam iniciativas de grupos islamistas radicais, possivelmente aliados com a “Irmandade Muçulmana”. Ainda que esses grupos islamistas não constituíssem uma ameaça real à manutenção da monarquia emirati, pois não contam com o apoio da sociedade, representavam uma tentativa de desestabilizar o regime, utilizando-se de ações internas e externas para perturbar as monarquias do Golfo Pérsico. Em reposta a essas ameaças, os EAU agiram com mais violência e praticaram dezenas de prisões de islamistas.
            O regime autocrático arrisca perder a legitimidade diante da população, quando se utiliza de demasiada repressão, e não se pode negar que os Emirados exageraram em políticas violentas. Se agiram com tamanha rigidez com movimentos que nem conquistaram a população local, até “onde” iriam as aspirações emirati em defesa do regime monárquico?




REFERÊNCIAS

CORREA, Humberto M. Legitimidade como estratégia: legitimação política nos Emirados Árabes Unidos (EAU). 67f. Monografia (Graduação) – Instituto de Relações Internacionais, Universidade de Brasília. Brasília, 2014.

NYE Jr., Joseph S., O Futuro do Poder. – São Paulo: Benvirá, 2012.

FONTE DA IMAGEM: disponível em: http://jronaldoleite.blogspot.com.br/2010/01/dubai-inaugura-maior-predio-do-mundo.html, acessado em 1 de outubro de 2015.






[1] NYE, Joseph S. (2012) página 26.
[2] Emirati – representantes de cada emirado, que se reúnem em conselho a cada cinco anos, para eleger o novo presidente e vice-presidente para os Emirados Árabes Unidos.




* Amanda Marques da Silva é graduanda do 7° período do curso de Relações Internacionais. Este texto foi desenvolvido como parte da disciplina de Análise das Relações Internacionais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário