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sexta-feira, 23 de junho de 2017

Redes e Poder no Sistema Internacional: Eufrates - o limiar da tensão russo-americana



A seção "Redes e Poder no Sistema Internacional" é produzida pelos integrantes do Grupo de Pesquisa Redes e Poder no Sistema Internacional (RPSI), que desenvolve no ano de 2017 o projeto "Redes da guerra e a guerra em rede" no UNICURITIBA, sob a orientação do professor Gustavo Glodes Blum. A seção busca compreender o debate a respeito do tema, trazendo análises e descrições de casos que permitam compreender melhor a relação na atualidade entre guerra, discurso, controle, violência institucionalizada ou não e poder. As opiniões relatadas no texto pertencem aos seus autores, e não refletem o posicionamento da instituição.



Eufrates - o Limiar da Tensão Russo-Americana

Lucas Andrade Quental Martins *


No dia 18 de Fevereiro de 2017, no espaço aéreo sobre a zona rural ao sul de Raqqa, um caça (F/A-18E Super Hornet) da marinha estadunidense derrubou, sob ordens superiores, um caça (SU-22) do exército sírio. O ato constituiu o primeiro abate ar-ar dos militares dos Estados Unidos da América (EUA) desde 1999, quando a Força Aérea do país participou das ações da OTAN nas guerras de desintegração da ex-Iugoslávia. A justificativa de Washington foi afirmar que o caça havia soltado bombas perto de forças apoiadas pelos estadunidenses. De seu lado, Damasco disse que a aeronave foi abatida enquanto voava em uma missão contra os militantes do Daesh (Estado Islâmico).

Em seguida, na segunda-feira, dia 19 de fevereiro, a Rússia comunicou, através de seu Ministro da Defesa, Sergey Shoygu, que qualquer veículo aéreo, inclusive caças de combate, dos E.U.A. e seus aliados, que ultrapassassem o Rio Eufrates seria considerado um alvo. Shoygu afirmou que 



“Em áreas em que a aviação russa está conduzindo missões de combate no céu sírio, qualquer objeto voador, incluindo jatos e veículos aéreos sem tripulantes da coalizão internacional descobertos a oeste do Rio Eufrates será seguido pelas defesas aéreas e terrestres russas como alvos aéreos.”



Tal posição é justificada pelo ministro como um mecanismo de defesa das aeronaves russas e aliadas, já que o comando das forças da coalizão não usou o canal existente entre o comando aéreo da base aérea Al Udeid, do Catar, e a base aérea russa em Hmeymim, na Síria, para evitar incidentes sobre a Síria. 




“A partir da sua entrada em vigor, (...) garantirá o estabelecimento de linhas de comunicação operacional 24-horas entre os quartéis-generais militares da Rússia e dos Estados Unidos, assim como mecanismos de interação, incluindo a provisão de assistência mútua em caso de emergência. Os EUA se comprometeram a informar a todos os membros da Coalização Anti-ISIS por eles liderada as regras concordadas e os membros das forças aéreas da Coalização [em todas as instâncias] aderirão a esses acordos”. 



Em sequência, após três dias do fatídico incidente, os Estados Unidos ainda não haviam formulado uma resposta pública para lidar com a declaração russa, como expressado pelo Secretário de Estado dos E.U.A. Rex Tillerson afirmou que as partes “estão negociando”, mas não especificou quem estaria participando de tais negociações. 

Mais um elemento que demonstra o agravamento das tensões entre as forças da coalizão e as forças que são favoráveis ao atual presidente da Síria, Bashar al-Assad, foi a eliminação de um VANT (Veículo Aéreo Não Tripulado, um drone) iraniano, de modelo Shaheed-129 das forças pró-Regime sírio, por parte de uma aeronave de combate estadunidense. O vice-Chanceler russo, Sergei Ryabkov, condenou o novo incidente, afirmando que “na Síria esse tipo de ataque se assemelha à cumplicidade com o terrorismo”. Além disso, Ryabkov anunciou que cancelara a reunião marcada com o vice-secretário para Assuntos Políticos dos Estados Unidos, Thomas Shannon, marcada para a sexta-feira , dia 23 de Junho, que teria como objetivo a normalização das relações. Além da tensão militar na Síria, outro motivo indicado pelo vice-chanceler russo é a decisão dos E.U.A., anunciada na terça-feira, dia 20 de Junho, de ampliar as sanções contra a Rússia. 

Por fim, no meio da tormenta política-militar, a Austrália – uma das principais aliadas dos Estados Unidos na Síria – anunciou, na terça-feira, dia 20 de Julho, que todas as suas missões aéreas sobre a Síria estão suspensas. O Departamento de Defesa Australiano justificou a decisão afirmando que “como uma medida preventiva, as operações de ataque da Força Aérea Australiana (RAAF) na Síria estão temporariamente cessadas”. 

Todos os acontecimentos aqui citados, certamente, demonstram um nítido escalamento da tensão russo-americana sobre os conflitos atualmente acometidos na Síria, e resultam em uma prospecção pessimista quanto a situação na região, principalmente após a possível – mas tido como certo por muitos especialistas – derrocada do Daesh, vulgo Estado Islâmico. 



* Lucas Andrade Quental Martins é acadêmico do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba, e pesquisador do Grupo de Pesquisa "Redes e Poder no Sistema Internacional".

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