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terça-feira, 27 de junho de 2017

Teoria das Relações Internacionais em destaque: "O Soft Power chinês no Leste Asiático"

Artigo apresentado na disciplina de Teoria das Relações Internacionais, orientado pela Profa Dra Janiffer Zarpelon, do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba.

Por: * Laura Neves da Silva




O crescente poder econômico, político e militar da China é o desenvolvimento mais geopolíticamente significativo deste século. No entanto, ao passo que a magnitude deste poder é amplamente compreendida no âmbito internacional, uma percepção generalizada da dinâmica desse crescimento exige uma avaliação mais sistemática da profundidade do poder da China. Especificamente, as implicações estratégicas, econômicas e políticas dos esforços de Soft Power da China exigem um olhar mais cauteloso. Pretende-se portanto, por meio deste trabalho, ressaltar a adoção desta política estratégica por parte do governo chinês, e suas respectivas consequências, mantendo um foco no Leste Asiatico, área de principal atuação do país.
Na medida que se é discutido as dimensões do Soft Power, e a possibilidade de se seguir caminhos que essencialmente procuram priorizar a ação mediante a persuasão, assim evitando o uso da força como meio de se atingir um objetivo, faz-se necessário a utilização da Teoria da Interdependência como forma de respaldo para as questões futuramente discutidas, á medida que, a mesma aborda o comportamento dos atores internacionais (Estados e Organizações) no cenário internacional. Analisa-se o comportamento desses atores devido a sua abrangência e influência nas Relações Internacionais a partir dos anos 1970, através dos trabalhos desenvolvidos pelos autores Robert Keohane e Joseph Nye.
A interdependência aborda a cooperação recíproca, ou seja, dependência mútua e contempla a interferência de forças externas que influenciam atores em diversos países. A teoria não afirma que a arena internacional seja um ambiente de cooperação apenas, mas que no jogo para obter os resultados propostos é necessário manipular os fatores de interdependência.
Desta forma, é possível elucidar o conceito de Soft Power desenvolvido por Nye, e o modo como o mesmo envolve a habilidade de um ator para definir estratégias e atrair apoio com base em seus valores, cultura, políticas e instituições. Não obstante, e como já observado pelo autor Joshua Kurlantzick, devido a relevância econômica incontestável da China, exige-se uma ampliação desta definição para que inclua qualquer método fora do domínio militar e de segurança, ou seja, incluindo não apenas a cultura popular e a diplomacia pública, como também métodos mais coercitivos nas áreas da economia e da diplomacia  tais como participação em organizações multilaterais e a realização de investimentos estrangeiros.
Tendo isso em mente, a prática do Soft Power vem se tornando uma opção atrativa para uma potência em ascensão como a China, buscando ser utilizada para demonstrar o comprometimento da nação em ter uma ‘’ascensão pacífica’’, procurando dar ênfase a sua potencialidade e contribuição no âmbito internacional, como também sendo utilizada para reprimir os medos externos relacionadas a potenciais ambições revisionistas. Nos últimos anos, o governo chinês vem tentando usar uma série crescente de ferramentas de política externa além do Hard Power em suas interações no Leste Asiático. Essas abordagens não militares incluem assistência estrangeira ao desenvolvimento, atividades comerciais, comércio e intercâmbios culturais, diplomáticos e econômicos, que se enquadram na ampla noção de soft power.
Um dos maiores exemplos dessa recém tendência do governo chinês em seguir essas políticas é o relatório político divulgado em 2002 no 16º Congresso do PCC, o qual afirma que "no mundo de hoje, a cultura se entrelaça com a economia e a política, demonstrando uma posição e um papel mais proeminentes na competição pelo poder nacional abrangente.’’ Posteriormente, em janeiro de 2006, o presidente chinês, Hu Jintao, disse ao Grupo Central de Liderança dos Negócios Estrangeiros que o aumento da reputação e do status internacional da China "terá que ser demonstrado em hard power, como economia, ciência e tecnologia e defesa, bem como em soft power, como a cultura ". Pequim se baseou essencialmente em duas estratégias importantes de diplomacia pública: promoção cultural e envolvimento na mídia.
Conquanto, resta saber se a estratégia de soft power de Pequim, mantendo enfoque na promoção cultural e mídia de massa, é efetiva. Internamente, as elites da política chinesa demonstram-se pouco otimistas sobre o estado atual do soft power chines. Embora reconheçam publicamente o grande potencial no uso desta política, o sentimento que prevalece é de grande carência do Soft Power chinês em comparação com o dos Estados Unidos e de outras potências regionais. Perpetua-se também um sentimento de frustração: apesar do rápido desenvolvimento econômico da RPC e status como a segunda maior economia no mundo, seu soft power ainda encontra-se em um estado muito atrasado em contraposição ao seu hard power.
Tendo, portanto,  discutido como as elites da política chinesa avaliam o Soft Power, é importante também avaliar as reações regionais quanto as atitudes ‘’não-ofensivas’’ tomadas pelo Estado chinês. O quão eficaz é a busca da China pelo status através de abordagens de soft power e quais são as percepções das outras regiões?
Possivelmente, a melhor maneira para se responder as questões abordadas acima seja através dos estudos de Gregory G. Holyk, acerca do poder Chinês e sua influência no leste asiático.  Holyk divide o Soft Power em cinco componentes (economia, cultura, política, diplomacia e capital humano) e mede cada componente por meio de pesquisas realizadas no Japão, Coréia do Sul, China, Indonésia, Vietnã e nos Estados Unidos. Ele chega á conclusão, através de sua análise metodológica, de que o Soft Power Chinês aparenta estar crescendo, contudo ainda é considerado relativamente fraco.
De acordo com Holyk, o crescimento do Soft Power chinês está correlacionado com a força crescente de hard power do país. A influência militar e econômica chinesa no leste asiático cresceu a um ritmo surpreendentemente rápido desde a década de 1980, mas, ao mesmo tempo, a influência do soft power chinês também cresceu, assim evidenciada na tentativa de Pequim em aplicar uma ofensiva diplomática com o objetivo de aumentar sua influência na região e mudar sua imagem. Como parte desta estratégia, a China começou a se retratar como uma nação buscando vínculos positivos e progressivos com outros países, aumentando seus laços diplomáticos no Leste Asiático, especialmente com a Coréia do Sul, Japão, Vietnã, Indonésia, Tailândia e Filipinas. Proscreveu a diplomacia e as abordagens políticas não ameaçadoras, o aumento do comércio regional, tornou-se um membro ativo em organizações regionais, como a ASEAN e a Cúpula do Leste Asiático, e aumentou fortemente sua ajuda externa incondicional, que tem um apelo especial aos cidadãos dos países em desenvolvimento. Conquanto, deve-se notar que, apesar das ações realizadas, este cenário pode ser alterado a qualquer momento devido a mudanças políticas na China e nos Estados Unidos.
O estudo de Holyk parece ser corroborado por levantamentos recentes da opinião pública internacional. Os resultados de estudos de atitudes sobre o Soft Power da China na Austrália, Japão e Coréia do Sul indicam um declínio na afinidade com a China, apesar da expansão dos negócios, comércio e vínculos econômicos com esses países. Da mesma forma, em 2008, o Chicago Council on Global Affairs liderou um estudo pioneiro sobre as atitudes regionais, comparando os efeitos do soft power da China, Japão, Coréia do Sul e Estados Unidos na Ásia. Este inquérito internacional considera que a China está na posição mais baixa. Curiosamente, a afinidade regional com a China registou um declínio constante desde 2004. Jung-Nam Lee, um especialista regional, observa o seguinte: o soft power da China na região permanece em um nível baixo em comparação com o seu hard power. De fato, o nível de soft power da China na região não é apenas inferior aos dos Estados Unidos e do Japão, como também ao da Coréia do Sul. Por conseguinte, a significante influência da China na região é vista pelas nações vizinhas como desconfortável e até intimidante.
Ao analisar e avaliar a eficácia da promoção de soft power da China nos últimos anos, é válido questionar se, no futuro, a China se parecerá mais com o Leste Asiático, ou o mesmo se parecerá mais com a China. Os dados já elucidados revelam, sem sombra de dúvidas, graves deficiências nas tentativas da China de melhorar sua imagem. Por um lado, os países mais ricos e mais desenvolvidos da Ásia Oriental, particularmente o Japão e a Coréia do Sul, têm visões e percepções negativas sobre a China; enquanto por outro, os países em desenvolvimento da região, com algumas exceções notáveis, têm preocupações, mas mantêm uma visão menos pessimista da China.
Como o soft power chinês é fortemente centrado no estado, qualquer tentativa da China de projetar sua imagem no exterior, inevitavelmente, chama a atenção para o seu sistema político, o seu senso de excepcionalismo e o comportamento altamente imprevisível de sua política externa. Esta é talvez a maior limitação do apelo da China na região.
Enquanto as liberdades políticas e civis estiverem severamente restritas na China, o país não será aceito como um poderoso poder regional e global. As limitações à liberdade de expressão, imprensa e religião continuam profundamente problemáticas em muitos países da região. Dado que essas normas são cada vez mais aceitas como direitos universais, não apenas como valores dos EUA ou ocidentais, será cada vez mais difícil para o governo chinês impedir que seu comportamento doméstico afete a credibilidade e o status quo do país.

Referências:
HUANG, Chin-Hao. China’s Soft Power in East Asia. Seattle e Washington, DC: Janeiro, 2013. Disponível em: http://chinhaohuang.weebly.com/uploads/5/4/6/7/54678237/huang_final_china_soft_power_and_status.pdf
WHITNEY, B. Christopher.;. Soft Power in Asia: Results of a 2008 Multinational Survey of Public Opinion. Chicago, Illinois: 2009. 48 p. Disponível em: https://www.brookings.edu/wp-content/uploads/2012/04/0617_east_asia_report.pdf
HOLYK, G. Gregory.;. Paper Tiger? Chinese Soft Power in East Asia. : Junho, 2011.  223–254 p. Disponível em: http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/j.1538-165X.2011.tb00700.x/abstract
BRITO, R. Brigita;. HARD, SOFT OU SMART POWER: DISCUSSÃO CONCEPTUAL OU DEFINIÇÃO ESTRATÉGICA? : 2010. 118 – 121 p.
RODRIGUES, Noeli;. Teoria da Interdependência: os conceitos de sensibilidade e vulnerabilidade nas Organizações Internacionais  : Junho, 2014.  107-116 p. Disponível em: http://www.humanas.ufpr.br/portal/conjunturaglobal/files/2015/01/Teoria-da-Interdepend%C3%AAncia-Os-conceitos-de-sensibilidade-e-vulnerabilidade-nas-organiza%C3%A7%C3%B5es-internacionais.pdf


*Laura Neves da Silva: estudante do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba. 

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