Por: * Laura Neves da Silva
*Laura Neves da Silva: estudante do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba.
O crescente poder econômico,
político e militar da China é o desenvolvimento mais geopolíticamente
significativo deste século. No entanto, ao passo que a magnitude deste poder é
amplamente compreendida no âmbito internacional, uma percepção generalizada da
dinâmica desse crescimento exige uma avaliação mais sistemática da profundidade
do poder da China. Especificamente, as implicações estratégicas,
econômicas e políticas dos esforços de Soft
Power da China exigem um olhar mais cauteloso. Pretende-se portanto, por meio deste trabalho, ressaltar a
adoção desta política estratégica por parte do governo chinês, e suas
respectivas consequências, mantendo um foco no Leste Asiatico, área de
principal atuação do país.
Na medida que se é discutido
as dimensões do Soft Power, e a possibilidade
de se seguir caminhos que essencialmente procuram priorizar a ação mediante a
persuasão, assim evitando o uso da força como meio de se atingir um objetivo,
faz-se necessário a utilização da Teoria da Interdependência como forma de
respaldo para as questões futuramente discutidas, á medida que, a mesma aborda
o comportamento dos atores internacionais (Estados e Organizações) no cenário
internacional. Analisa-se o comportamento desses atores devido a sua
abrangência e influência nas Relações Internacionais a partir dos anos 1970,
através dos trabalhos desenvolvidos pelos autores Robert Keohane e Joseph Nye.
A interdependência aborda a cooperação recíproca, ou seja, dependência
mútua e contempla a interferência de forças externas que influenciam atores em
diversos países. A teoria não afirma que a arena internacional seja um ambiente
de cooperação apenas, mas que no jogo para obter os resultados propostos é
necessário manipular os fatores de interdependência.
Desta forma, é possível elucidar o conceito de Soft Power desenvolvido por Nye, e o modo como o
mesmo envolve a habilidade de um ator para
definir estratégias e atrair apoio com base em seus valores, cultura, políticas
e instituições. Não obstante, e como já observado pelo autor Joshua
Kurlantzick, devido a relevância econômica incontestável da China, exige-se uma
ampliação desta definição para que inclua qualquer método fora do domínio
militar e de segurança, ou seja, incluindo não apenas a cultura popular e a diplomacia pública, como
também métodos mais coercitivos nas áreas da economia e da diplomacia tais como participação em organizações
multilaterais e a realização de investimentos estrangeiros.
Tendo isso em mente, a prática do Soft Power vem se tornando uma opção atrativa para uma potência em ascensão
como a China, buscando ser utilizada para demonstrar o comprometimento da nação
em ter uma ‘’ascensão pacífica’’, procurando dar ênfase a sua potencialidade e
contribuição no âmbito internacional, como também sendo utilizada para reprimir os medos externos relacionadas a potenciais
ambições revisionistas. Nos últimos anos, o governo chinês vem tentando usar uma série crescente de
ferramentas de política externa além do Hard
Power em suas interações no Leste Asiático. Essas abordagens não militares incluem assistência
estrangeira ao desenvolvimento, atividades comerciais, comércio e intercâmbios
culturais, diplomáticos e econômicos, que se enquadram na ampla noção de soft power.
Um dos maiores exemplos dessa recém
tendência do governo chinês em seguir essas políticas é o relatório político
divulgado em 2002 no 16º Congresso do PCC, o qual afirma que "no mundo de
hoje, a cultura se entrelaça com a economia e a política, demonstrando uma
posição e um papel mais proeminentes na competição pelo poder nacional
abrangente.’’ Posteriormente, em janeiro de 2006, o presidente chinês, Hu
Jintao, disse ao Grupo Central de Liderança dos Negócios Estrangeiros que o
aumento da reputação e do status internacional da China "terá que ser
demonstrado em hard power, como
economia, ciência e tecnologia e defesa, bem como em soft power, como a cultura ". Pequim se baseou essencialmente
em duas estratégias importantes de diplomacia pública: promoção cultural e
envolvimento na mídia.
Conquanto, resta saber se
a estratégia de soft power de Pequim,
mantendo enfoque na promoção cultural e mídia de massa, é efetiva. Internamente,
as elites da política chinesa demonstram-se pouco otimistas sobre o estado
atual do soft power chines. Embora
reconheçam publicamente o grande potencial no uso desta política, o sentimento
que prevalece é de grande carência do Soft
Power chinês em comparação com o dos Estados Unidos e de outras potências
regionais. Perpetua-se também um sentimento de frustração: apesar do rápido
desenvolvimento econômico da RPC e status como a segunda maior economia no
mundo, seu soft power ainda
encontra-se em um estado muito atrasado em contraposição ao seu hard power.
Tendo, portanto, discutido como as elites da política chinesa
avaliam o Soft Power, é importante
também avaliar as reações regionais quanto as atitudes ‘’não-ofensivas’’
tomadas pelo Estado chinês. O quão eficaz é a busca da China pelo status através
de abordagens de soft power e quais
são as percepções das outras regiões?
Possivelmente,
a melhor maneira para se responder as questões abordadas acima seja através dos
estudos de Gregory G. Holyk, acerca do poder
Chinês e sua influência no leste asiático. Holyk divide o Soft Power em cinco componentes (economia, cultura, política,
diplomacia e capital humano) e mede cada componente por meio de pesquisas realizadas
no Japão, Coréia do Sul, China, Indonésia, Vietnã e nos Estados Unidos. Ele
chega á conclusão, através de sua análise metodológica, de que o Soft Power Chinês aparenta estar
crescendo, contudo ainda é considerado relativamente fraco.
De acordo com Holyk, o crescimento do Soft Power chinês está correlacionado
com a força crescente de hard power
do país. A influência militar e econômica chinesa no leste asiático cresceu a um ritmo surpreendentemente
rápido desde a década de 1980, mas, ao mesmo tempo, a influência do soft power chinês também cresceu, assim
evidenciada na tentativa de Pequim em aplicar uma ofensiva diplomática com o
objetivo de aumentar sua influência na região e mudar sua imagem. Como parte
desta estratégia, a China começou a se retratar como uma nação buscando
vínculos positivos e progressivos com outros países, aumentando seus laços
diplomáticos no Leste Asiático, especialmente com a Coréia do Sul, Japão,
Vietnã, Indonésia, Tailândia e Filipinas. Proscreveu a diplomacia e as
abordagens políticas não ameaçadoras, o aumento do comércio regional, tornou-se
um membro ativo em organizações regionais, como a ASEAN e a Cúpula do Leste
Asiático, e aumentou fortemente sua ajuda externa incondicional, que tem um
apelo especial aos cidadãos dos países em desenvolvimento. Conquanto, deve-se
notar que, apesar das ações realizadas, este cenário pode ser alterado a
qualquer momento devido a mudanças políticas na China e nos Estados Unidos.
O
estudo de Holyk parece ser corroborado por levantamentos recentes da opinião
pública internacional. Os resultados de estudos de atitudes sobre o Soft Power
da China na Austrália, Japão e Coréia do Sul indicam um declínio na
afinidade com a China, apesar da expansão dos negócios, comércio e vínculos
econômicos com esses países. Da mesma forma, em 2008, o Chicago Council on
Global Affairs liderou um estudo pioneiro sobre as atitudes regionais,
comparando os efeitos do soft power da
China, Japão, Coréia do Sul e Estados Unidos na Ásia. Este inquérito
internacional considera que a China está na posição mais baixa. Curiosamente, a
afinidade regional com a China registou um declínio constante desde 2004.
Jung-Nam Lee, um especialista regional, observa o seguinte: o soft power da China na região permanece
em um nível baixo em comparação com o seu hard
power. De fato, o nível de soft power
da China na região não é apenas inferior aos dos Estados Unidos e do Japão,
como também ao da Coréia do Sul. Por conseguinte, a significante influência da
China na região é vista pelas nações vizinhas como desconfortável e até
intimidante.
Ao
analisar e avaliar a eficácia da promoção de soft power da China nos últimos anos, é válido questionar se, no
futuro, a China se parecerá mais com o Leste Asiático, ou o mesmo se parecerá
mais com a China. Os dados já elucidados revelam, sem sombra de dúvidas, graves
deficiências nas tentativas da China de melhorar sua imagem. Por um lado, os
países mais ricos e mais desenvolvidos da Ásia Oriental, particularmente o
Japão e a Coréia do Sul, têm visões e percepções negativas sobre a China;
enquanto por outro, os países em desenvolvimento da região, com algumas
exceções notáveis, têm preocupações, mas mantêm uma visão menos pessimista da
China.
Como o
soft power chinês é fortemente
centrado no estado, qualquer tentativa da China de projetar sua imagem no
exterior, inevitavelmente, chama a atenção para o seu sistema político, o seu
senso de excepcionalismo e o comportamento altamente imprevisível de sua
política externa. Esta é talvez a maior limitação do apelo da China na região.
Enquanto
as liberdades políticas e civis estiverem severamente restritas na China, o
país não será aceito como um poderoso poder regional e global. As limitações à
liberdade de expressão, imprensa e religião continuam profundamente
problemáticas em muitos países da região. Dado que essas normas são cada vez
mais aceitas como direitos universais, não apenas como valores dos EUA ou
ocidentais, será cada vez mais difícil para o governo chinês impedir que seu
comportamento doméstico afete a credibilidade e o status quo do país.
Referências:
HUANG, Chin-Hao. China’s
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WHITNEY, B. Christopher.;. Soft Power in Asia: Results of a 2008 Multinational Survey of Public
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HOLYK, G. Gregory.;. Paper
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Disponível em:
http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/j.1538-165X.2011.tb00700.x/abstract
BRITO, R.
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2010. 118 – 121 p.
RODRIGUES, Noeli;. Teoria da Interdependência: os conceitos de
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http://www.humanas.ufpr.br/portal/conjunturaglobal/files/2015/01/Teoria-da-Interdepend%C3%AAncia-Os-conceitos-de-sensibilidade-e-vulnerabilidade-nas-organiza%C3%A7%C3%B5es-internacionais.pdf
*Laura Neves da Silva: estudante do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba.
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