Por: * Vinícius Prado Gimenez Corrêa
A construção de
um poder não trabalha apenas com forças capazes de destruir povos ou causar
terror, ou não apenas por inseminação cultural em outras regiões, mas a
estratégia é perceber o que ocorre em sua volta para assim compor a melhor
ideia de estratégia, e o trabalho da China na sua expansão demonstra o porquê
dos maiores especialistas em relações internacionais e política externa
apontarem essa nação sendo a futura detentora do mundo.
O país asiático
possui história milenar, escrita a mais de 6 mil anos já passou por diversos
governos, tanto dinásticos quanto republicanos, e possui 1/5 do planeta em seu
território, possuindo até mesmo um controle sobre a natalidade de sua população
mediante ao grande crescimento. Sua economia é a segunda do mundo, com um aumento
poderoso dentro dos últimos 25 anos com um recente crescimento (2016) de 6,7%
do seu PIB, que, apesar de uma queda com relação aos outros anos, se manteve
dentro do esperado pelo seu governo. De forma admirável a China se estabelece
pelo mundo a cada ano que passa, muito em voga pelo que prega em sua política
externa. Em sua filosofia de política externa a China apresenta os 5 princípios
da coexistência pacifica[1]
dentro do seu programa de princípios fundamentais de política, que buscam
respeitar a soberania dos países, buscar a paz, reconhecimento de igualdade e
até de não intervenção de assuntos internos de outros países, o que transforma
a China em um país que busca acima de tudo manter o status quo dentro do
sistema internacional, não tendo uma atitude agressiva de exploração por territórios
e disputas políticas com outros Estados, muito especificado em um de seus
pontos que fala “desenvolver a cooperação
amistosa com todos os países e promover a prosperidade econômica conjunta.”[2]
A política
externa de um país constitui-se de uma união entre a área internacional e
doméstica[3],
não apenas as relações entre os países em si, mas o que internamente se busca
também é muito considerado, pois o interesse nacional é criado de forma
complexa[4],
com os detalhes internos de uma nação. Por consequente muitas das teorias
presentes em política externa apresentam essa leitura de analise, como o jogo
de dois níveis. Apresentado inicialmente por Robert Putnam em sua obra “diplomacia e política doméstica” analisa
os comportamentos encontrados em negociações e pressões que nelas existem, com
duas características, chamadas de níveis (I e II). O nível I é o internacional,
realmente os interesses dentro do sistema internacional, suas barganhas sendo
feitas entre os países, porém a maior influência se encontra no nível II, o
nível doméstico, sendo ele que ratifica os acordos feitos pelo nível
internacional. Putnam anuncia que os níveis são iguais, porém o caso Chinês se
encaixa na mesma análise, porém feita pela autora Helen Milner e seu livro “Interest, instituition and Information”
onde prega que o nível doméstico é o mais importante.
O Estado chinês
buscou sempre a cooperação entre os diversos países, com a abertura econômica e
a diminuição de barreiras de investimentos proporciona uma maior aceitação do
internacional estando de acordo com a política interna do país. Em trabalho
conjunto com diversos atores internacionais a China busca reduzir os setores
fechados ao investimento externo, demanda do banco central chinês, para que
ocorra uma valorização de bancos, seguradoras, bancos de investimentos e
empresas de pagamentos, e a troca seria que a China tenha esse mesmo tratamento
justo no exterior. Então alinhar os interesses mútuos apresentados pelo país
ocasiona um “win-set” maior, um
cenário positivo, ou seja, o nível doméstico está de acordo com o nível
internacional, podendo ocorrer mais concessões e menos barganhas, diferente de
uma rejeição externa, um “win-set”
menor, onde a procura pelo alinhamento é maior pelo risco de não ocorrer
ratificação interna, barganhando mais, por isso a China busca um tratamento
justo no exterior, para que os acordos não venham de forma rápida, mas sim de
estrutura fortificada.
Percebe-se
então uma das características apresentadas por Milner, que é o foco triangular,
ou seja, grupos de interesse (sendo empresas, sociedade, etc.) pressionando o
setor legislativo, que é o principal fornecedor de leis, que por sua vez
pressiona o executivo pela motivação de grupos de interesse, gerando esse
ciclo, o acordo aqui se encontra positivo pelo governo Chinês buscar sempre
essa cooperação com os demais países. O maior desafio do governo chinês seria
com a maior potência da atualidade, os Estados Unidos, que, apesar de estarem
perdendo a hegemonia para a própria China e ser uma grande dependente do país
asiático, sofre pelo governo do presidente Trump, crítico do país e ter duras
opiniões sobre o mesmo.
Para um “win-set” coeso decorre alguns fatores
que o influenciam, entre eles a distribuição de poder, escolhas políticas e
coalizões possíveis do nível doméstico, uma localização de quem são os atores
necessários para uma vitória mais concreta, alinhar os temas necessários e
saber colocar as necessidades com uma união entre outros atores, pois um país
autossuficiente possui um “win-set”
muito menor, uma clara vitória aos chineses. Em seus pontos de política externa
destaca a busca por cooperação, “promover
a prosperidade econômica conjunta.”[5] E
principalmente uma correlação direta com o terceiro mundo. Pregado como parte
desse terceiro mundo a China se mostra a frente para garantir o maior pedaço
desse relacionamento, em tempos onde o populismo volta a crescer nos países
mais desenvolvidos gera uma oportunidade de crescimento do chamado “sul-sul”,
um escape da dependência com o norte os países sulistas podem (e devem) olhar
de forma horizontal para novos acordos e serviços.
Do ano de 2015
para cá mais de 21 empresas brasileiras foram compradas por chineses, o
indicativo é que a fragilidade político-econômica do país o torna mais barato,
o que atrai o investimento da China com o Brasil, em áreas de energia, setor do
agronegócio, onde o Brasil é líder de commodities
então o investimento é certo, e a área de transportes. Hoje a China coloca
suas forças muito em industrias, com crescimento de 6,3% com relação ao último
ano, isso só afirma o “win-set” sendo
realizado de aceitação do interno para o externo, um aumento da produção
interna pode buscar novos setores, exportando as empresas para fora, o que
demonstra os 20 bilhões sendo investidos dentro do Brasil, uma força que muito
vem a calhar para ambas as regiões. Não somente no maior país da américa
latina, mas muitos outros de terceiro mundo, como os outros países de língua
portuguesa como a Angola e o Timor-Leste, foram 100 mil milhões de dólares no ano
passado. Não menos importante surgiu nos últimos tempos um novo movimento do
país oriental em questão, a “nova rota da
seda”, um movimento paralelo com o acontecimento do século II a.C. até o
século XVI, um eixo comercial que ligava a China até Veneza, sendo não apenas
caravanas com iguarias para os diversos povos, mas um meio de comunicação entre
o oriente e o ocidente.
Em meio a um
crescimento, um superávit de 4 trilhões dentro da China e perceber que esse
crescimento pode ser projetado para fora, faz com que o populoso país defina um
novo caminho de relações entre países, podendo também reforçar regionalmente a
força chinesa. Esse movimento segue da própria China indo desde Moscou,
passando por Nairóbi no Quênia até mesmo a Indonésia, e os movimentos devem ser
calculados, com o medo do terrorismo em voga a questão de armamento da China
tem que ser calculados na equação, apesar da China desde seus princípios não
buscar a corrida armamentista, incentivando até mesmo um desarmamento nuclear
com os outros países, pois a cooperação e respeito mútuo é de interesse
nacional. Outro indicativo de Helen Milner dentro da nova rota vem também do
foco triangular e da importância do doméstico em decisões que influenciam o
nível internacional, a ideia desse novo caminho ocorreu de escalões menores
dentro do ministério de comércio, com o objetivo de enfrentar o grande excesso
capacitório encontrado dentro da siderurgia e industrias, surgindo assim um
novo plano de exportações.
Ocorre também
nesse caminho as três variáveis de Milner, com as preferências dos atores
domésticos com suas instituições e a distribuição de informações, que será gerada
nessa nova rota por possuir a ideia já antiga do século II a.C. com seus
benefícios mútuos. A comunicação é hoje também um investimento encontrado pelas
ideias chinesas, uma forma de construir uma identidade, construído menos por
coisas materiais e sim por ideias, uma fusão do processo histórico e a produção
de discursos, uma análise chamada de construtivismo dentro da política externa.
Muito ligado também ao soft power, o construtivismo é uma busca por uma
construção social, uma identidade para os países, um novo desafio para a China,
que “jamais buscará a hegemonia e
opor-se-á firmemente ao hegemonismo”[6].
Como as palavras de discurso são importantes essa criação de identidade vale o
destaque para o discurso proferido na 71ª Assembleia Geral da ONU em 2016, no
tema “Metas do Desenvolvimento
Sustentável: Uma Promoção Universal para Transformar o Mundo”, onde o
premiê chinês Li Keqiang destacou a urgência de terem sido os primeiros a
entregar o relatório da ONU sobre a implementação da “Agenda para o desenvolvimento sustentável 2030”, e ressaltou que
para que ocorra os objetivos sustentáveis deve-se manter as atuais normas de
relações internacionais, que ocorrem desde a segunda guerra mundial.
Muitas empresas
criticaram e ainda criticam o mercado chinês por ele ser restrito, todavia o
premiê afirmou que “Alguns setores na
economia chinesa ainda não se tornaram “maduros”. O seu processo amadurecimento
é também um processo de aprofundamento da abertura”, e um desafio da China
como um todo é alinhar todos os crescimentos recorrentes dentro do país com o
mercado internacional, dentro das novas políticas implementadas por grandes
países, mas o seu lugar de destaque dentro das novas relações, principalmente
com o Sul/terceiro mundo, e parcerias com os países emergentes como o caso do
BRICS e o seu banco que surge como uma alternativa para o próprio FMI, mostra
que a China é um ator de grande relevância mundial pelo que faz e tem
capacidade de fazer, pelas introduções em vários setores econômicos, a China
avança para se tornar o bastião dentro da economia mundial e das políticas
externas.
Referências:
Instituto de
Estudos avançados da Universidade de São Paulo – Política Exterior da China - Chen
Duqing
http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/01/1851500-pib-da-china-avanca-67-em-2016-menor-crescimento-em-26-anos.shtml
- Folha de São Paulo, PIB da China
avança 6,7% em 2016, menor crescimento em 26 anos
Introdução à
Análise de Política Externa - Ariane Roder Figueira - Vol. 1 - Col. Relações
Internacionais, Capítulo 2 - Como se faz
política externa
http://exame.abril.com.br/economia/china-vai-se-abrir-mais-para-investimento-estrangeiro-bc-do-pais/
- Exame, China se abrirá mais para
investimento estrangeiro, diz BC
http://epocanegocios.globo.com/Economia/noticia/2017/03/chineses-querem-investir-us-20-bilhoes-no-brasil.html
- Época,
Chineses querem investir US$ 20 bilhões no Brasil
http://exame.abril.com.br/economia/producao-industrial-e-investimento-tem-forte-avanco-na-china/
- Exame, Produção industrial e
investimento têm forte avanço na China
http://jornaldeangola.sapo.ao/economia/investimentos/chineses_investem_milhares_de_milhoes
- Jornal de Angola, Chineses investem
milhares de milhões
http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/10/1695869-politica-externa-chinesa-busca-criar-uma-nova-estrada-da-seda.shtml - Folha de São Paulo, Política externa
chinesa busca criar uma nova 'Rota da Seda'
http://universodahistoria.blogspot.com.br/2010/09/rota-da-seda-onde-caravanas.html - O fascinante universo da história, Rota
da Seda: Onde caravanas transportavam mercadorias e ideias
http://portuguese.people.com.cn/n3/2016/0922/c309809-9118386.html - Diário do Povo Online, Premiê chinês
promete nova rodada de abertura do país
[1] DUQING,
CHEN - Instituto de Estudos avançados da
Universidade de São Paulo – Política Exterior da China, p. 4
[2]
DUQING. Ibidem p. 3
[3] RODER
FIGUEIRA, ARIANE - Introdução À Análise de Política Externa - Vol. 1 - Col.
Relações Internacionais, p.25
[4] RODER
FIGUEIRA, ARIANE. Ibidem, p.21
[5]
DUQING. Ibidem p. 3
[6]
DUQING. Ibidem p. 3
* Vinícius Prado Gimenez Corrêa: estudante do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba.
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