Páginas

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Seção Relações Internacionais em Destaque: "A importância do 'Soft Power' americano para a manutenção da sua hegemonia no sistema internacional".

Artigo apresentado na disciplina de Teoria das Relações Internacionais I, ministrado pelo Profa Dra Janiffer Zarpelon, do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba.

Por: * Eron W A Ferreira


O poder pode ser visto e analisado de diferentes formas, como o poder militar, poder econômico, poder de influencia, entre outros. Porem é comum nas relações internacionais o poder ser classificado em duas formas distintas, o “Hard Power” e o “Soft Power”. O primeiro abrange o poderio militar de um país e a sua eficiência em um combate armado, enquanto o segundo ocorre através de um poder de influência, persuasão ou propagação da cultura e valores de um determinado país sobre outra nação. Embora muitos países utilizem o Soft Power como um meio para alcançar seus objetivos, não há como negar que quando se trata de uma potencia hegemônica, o Soft Power deste país tende a ter grande influência no sistema internacional e por esta razão me proponho a analisar o Soft Power norte americano.
Devido ao fato de ser uma grande potencia econômica, os EUA exercem uma grande influência sobre os organismos financeiros internacionais, muitas vezes levando os países subdesenvolvidos a abrirem seus portos, contribuindo para o interesse norte americano, porem, às vezes o próprio Estado Unidos adota medidas ou políticas protecionistas em relação à entrada de produtos estrangeiros em seu país, com a criação de taxas alfandegárias ou exercendo uma forte dominação sobre o mercado internacional. 
Em seu livro “Soft Power: The Means To Success In World Politics” Joseph S. Ney, criador da expressão “Soft Power” afirma que esta expressão refere se a “quando um país consegue atrair investimentos ou parcerias de outros atores pela admiração a sua cultura, valores, língua, instituições e ações no âmbito internacional“. 
A propagação da cultura americana ao redor do mundo acontece através de veículos de comunicação em massa, como filmes, seriados, propagandas, musicas, assim como pela expansão de empresas multinacionais americanas que buscam influenciar nos hábitos alimentares como as empresas de fast food.
Esta “supervalorização” da cultura norte americana influenciou e influencia até hoje pessoas ao redor do mundo, seja no modo de se vestir, no consumo de produtos ou mesmo na forma de pensar. Para uma hegemonia como os EUA esta grande influência no sistema internacional o permite fortalecer ainda mais o seu status como potencia hegemônica, pois quanto maior o seu poder de persuasão maior será a sua influência e liderança no sistema internacional.
Joseph S. Nye defende a idéia de que o Soft Power é mais eficiente do que o poder de coerção. Pois é muito mais fácil conseguir fazer com que o outro coopere pelo uso da persuasão. Nye faz uma analogia comparando os Estados a empresas das quais tentam por meio de estratégias buscam atrair e convencer os seus clientes persuadindo-os. O autor defende que ainda que seja uma hegemonia, nenhuma nação conseguiria se manter completamente isolada no sistema internacional, dependendo assim de fazer acordos e cooperações, quando estas forem provenientes aos seus interesses.
A disseminação da cultura norte americana ganhou força a partir da década de 1920 após a primeira grande guerra mundial, quando o país se tornou uma potencia mundial aumento consideravelmente a sua exportação de produtos agrícolas e industrializados para o mundo e principalmente para o continente europeu. Este aumento na industrialização e na exportação favoreceu os Estados Unidos, não somente obter lucros, mas também propagar a sua cultura já naquela época através do cinema, da literatura, da musica, aproveitando se de uma Europa fragilizada pela crise do pós guerra, e com grande expertise os norte americanos vendiam não somente produtos aos outros povos, mas também através de propagandas de carros, refrigerantes, produtos industrializados “vendiam” a idéia de felicidade vinculada ao consumo de seus produtos, propagando fortemente naquele momento a cultura e os valores estadunidenses que ficaram famosos como o “american way of life”.
Este Soft Power norte americano que se propaga com força desde o século xx contribui para que o país se fortalecesse se ainda mais e se torna se a grande potencia que é hoje, pois como a disseminação de sua cultura e valores, o poder econômico gerado pela expansão de empresas multinacionais americanas e consecutivamente o desenvolvimento econômico do país influenciaram para que o inglês se tornasse se a principal língua utilizada em âmbito internacional.
Além disto, o desenvolvimento econômico e a liderança dos EUA no sistema internacional contribuíram para que o dólar se tornasse  a principal moeda de uso internacional, aumentando a zona de influência e o poder dos EUA no sistema internacional. Estes avanços americanos podem reforçar a idéia defendida por Joseph S Nye, de que o Soft Power é mais efetivo e duradouro do que o poder de coerção (embora muitas vezes os Estados Unidos exerça sim o poder de coerção sobre alguns países). Assim, questionamos se os EUA não tivesse usado esse tipo de poder, será que o mesmo teria conseguido se manter como hegemonia?
O fato é que não há uma resposta simples e prática que responda esta questão de modo convincente e esclarecedora, mas devemos ponderar que somente o Soft Power possa não ser efetivo o bastante para a defesa dos interesses de um país e o seu destaque no sistema internacional. A partir desta questão podemos perceber que embora uma nação exerça liderança em sua região e tenha saiba exercer a sua política de Soft Power, a ausência do poder militar pode ser prejudicial para os interesses de um Estado pela sua fragilidade ou vulnerabilidade perante o sistema internacional.
Se analisarmos o período da guerra fria, a tensão entre os Estados Unidos e a União Soviética, só não tomou outros patamares pelo poder de destruição em massa das duas potencias na época, levando a disputa a uma guerra armamentista e ideológica. Porém o que teria acontecido se uma das nações não tivesse uma força de coerção similar à outra? Provavelmente a nação mais fragilizada não teria como competir e se manter apenas com seu “Soft Power”.
A partir da reflexão sobre qual a importância tanto do Soft Power e do Hard Power, podemos chegar à mesma conclusão que Joseph Ney, de que os dois poderes juntos e combinados geram uma maior eficiência, tendo a capacidade para usar a força e a coerção quando necessário, como também a persuasão quando for mais conveniente, o que Nye chama de “Smart Power”.
Em seu livro “ Soft Power: The Means To Success in World Politics” Nye defende que a Vitoria dos Estados Unidos na Guerra Fria ocorreu pelo uso deste “Smart Power”, pois o Hard Power norte americano segundo o autor serviu como um instrumento de contenção frente a URSS, enquanto as políticas de Soft Power corroeram o sistema soviético por dentro, afirmando que seria um erro ignorar toda a atração que cultura pop americana proporcionou, como por exemplo através do canal da BBC e da musica como a banda Beatles.
Embora hoje os Estado Unidos tenha uma grande influência no sistema internacional por conta do seu Soft Power, não sabemos se este fato garantira aos EUA a mesma influencia com o passar dos anos, ou se outra nação terá o potencial para rivalizar com os EUA, e propagar a sua cultura do mesmo modo, mas é fato que com um mundo cada vez mais globalizado e interdependente, as políticas de Soft Power tendem a ser cada vez mais utilizadas pelos Estados a fim de garantir os seus interesses e o seu desenvolvimento, mas enquanto os EUA mantiverem o mesmo poderio econômico e militar, o seu Soft Power e a sua influencia serão fortes e abrangentes.

Fontes bibliográficas:

Nye, Joseph S. Soft Power: The means to success in world politics. 2004. New York: Public affairs.
Nye, Joseph S. Jr. The Paradoxes of American Power: Why the World’s Only Superpower Can’t Go It Alone. 2002. New York: Oxford University Press.

http://nationalinterest.org/blog/paul-pillar/the-american-perspective-hard-soft-power-4669

Eron W A Ferreira é acadêmico do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário