No Más Violencia : o histórico acordo de paz entre as FARC e Governo na Colômbia
Por Andrew Patrick Traumann*
Após meio século de conflito,
200 mil mortos,45 mil desaparecidos e o deslocamento forçado de quase 7 milhões
de pessoas,finalmente parece chegar ao fim o mais longo conflito das Américas.
Foram dois anos de negociações secretas e quatro de negociações públicas em
Havana. Durante esse tempo o ceticismo predominou na sociedade
colombiana,cansada de cinco décadas de um conflito que parecia insolúvel. No
entanto,no último dia 22 de junho as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da
Colômbia) e o governo colombiano chegaram finalmente a um cessar-fogo que
pretende ser bilateral e definitivo.
As FARC se comprometem a
entregar as armas a um comitê de monitoramento internacional coordenado pela
ONU. As armas caseiras e os explosivos serão entregues em até 60 dias após a
assinatura. O restante será entregue em até 180 dias, em três etapas. O
resultado final, depois do abandono completo das armas e da verificação por parte
da ONU,onde o cumprimento dos acordos serão celebrados: um na sede da ONU,
outro em Cuba, sede das negociações, e o terceiro na Colômbia, em local a ser
acordado entre o Governo e as FARC.Do mesmo modo as milícias paramilitares de
direita prometem cessar a violência contra civis e membros do grupo. Além
disso, ficou estabelecido pelas partes que um plebiscito será realizado entre
setembro e outubro para a aprovação do plano.
O acordo é fruto de um encontro de interesses: de um lado é interesse do Estado voltar a fazer sentir sua presença nas selvas do sudeste do país e nas planícies da região andina,na chamada "Colômbia profunda" e é do interesse das FARC participar da politica nacional pelas vias institucionais. As FARC,fundadas em 1964 na esteira da Revolução Cubana como um grupo em defesa da reforma agrária e contra a violência no campo,entraram em confronto com grupos paramilitares financiados por grandes latifundiários e apoiado pelo próprio exército colombiano. No entanto, a partir da década de 1980,o grupo de desvirtuou de seu propósito inicial,apelando para sequestros,extorsões e íntima colaboração com o narcotráfico,passando a ser considerado um grupo terrorista pelos EUA,Canadá, União Europeia,além,evidentemente do próprio governo colombiano.
Nos últimos anos,as FARC
vinham perdendo cada vez mais apelo,tanto por suas táticas violentas,quanto por
seu isolamento no interior do país,recrutando muitos menores de idade das zonas
rurais que se uniam a luta armada muitas vezes mais por vê-la como um tipo de
emprego do que por questões ideológicas.
Por
outro lado os paramilitares de direita colombianos são responsáveis por 80% das
mortes e torturas de civis e também estão associados ao narcotráfico. Seus
métodos de intimidação que incluem decapitações e mutilações com motosserras e
facões a suspeitos de colaborar com a guerrilha ou por serem ativistas dos
direitos humanos levaram o terror ao interior do país.
Para
que o acordo seja efetivo, no entanto, é necessário que o Tribunal Especial que
será constituído puna violações de ambos os lados, e que o Estado Colombiano
passe a investir em infraestrutura e geração de empregos nas áreas outrora
dominadas pela guerrilha. Evidentemente, o Cessar-Fogo por si só não vai acabar
com os problemas do país, já que o narcotráfico, embora tenha em boa parte
migrado para países como Peru e Bolívia ainda é forte,assim como há o risco de
violações do acordo. No entanto como afirmou o presidente Juan Manuel Santos: “Liderar um país em guerra é relativamente fácil. A
gente mostra os troféus, aplaude e se mantém popular. Hoje, é mais difícil,
porque é preciso mudar os sentimentos do povo, as percepções, ensinar que em
lugar de clamar por vingança é necessário aprender a perdoar. E que, em vez de
odiar, é possível se reconciliar”
*Andrew Patrick Traumann é professor de História das Relações Internacionais do UNICURITIBA.
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