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quarta-feira, 4 de maio de 2016

Resenha de filme: “Ponte dos Espiões”




Resenha elaborada pela aluna Diana Lumi Nishida, do 3° período de Relações Internacionais, com base no filme "Ponte dos Espiões" exibido na filmografia realizada durante a Semana de Extensão do Curso de Relações Internacionais e seguida de debate conduzido pelos Professores Andrew Traumann, Gustavo Glodes Blum, Jaqueline Afonso e Michele Hastreiter.



Resenha sobre o filme “Ponte dos Espiões”

Diana Lumi Nishida

O filme “A Ponte dos Espiões”, de Steven Spielberg, é baseado em fatos reais e retrata o ápice da Guerra Fria, em que Estados Unidos e União Soviética vivem um clima de tensão e temem um ataque mútuo. As duas grandes potências mundiais possuem uma grande capacidade nuclear e militar, além de uma desavença que pode acarretar graves consequências. Dentro desse espectro, ambos utilizam espiões a fim de obter informações um sobre o outro. A obra traz algumas discussões interessantes para as Relações Internacionais, exemplificando e debatendo conceitos como soberania nacional, crise do patriotismo, negociação e gestão de conflitos entre países e diplomacia.

James Donovan, o personagem de Tom Hanks, é um advogado especializado em seguros que é designado por seu chefe para trabalhar na área de direito penal e defender um espião russo que foi pego e preso pelo FBI, Rudolf Abel. Donovan aceita e recusa-se a dar uma defesa fraca, fazendo o possível para que seu cliente seja inocentado. Destaque-se que o papel de Donovan evidencia o que todo advogado deve fazer de acordo com os preceitos do Estado de Direito, como o direito à ampla defesa, que o próprio personagem evoca no filme. No entanto, com as propagandas anticomunistas na mídia naquela época de Guerra Fria, o advogado sofre retaliações por parte dos americanos, que o consideravam um traidor.

As altas instâncias jurídicas do direito americano são mostradas como parciais - pois queriam de qualquer forma que o espião fosse condenado - enquanto a população desejava a morte do acusado. Entretanto, o filme evidencia uma grande carga humanista em Donovan, sendo ele um defensor dos direitos humanos acima de qualquer divergência de ideologia política.

Paralelo a esse caso, um piloto norte-americano, Gary Powers, é mandado à URSS no avião U-2. Todavia, ele fracassa em sua missão de espionagem e é capturado pelo governo da potência comunista. Donovan, então, é enviado para Berlim Oriental - bem na fase de construção do muro de Berlim - para realizar uma negociação diplomática para trocar Abel por Powers, a fim de cada país repatriar seu conterrâneo.

Chegando lá, ele descobre que um estudante norte-americano de economia também foi capturado, acusado de espionagem, e resolve trocar os dois por Abel, contra a vontade de seus superiores, pois inicialmente, só o piloto Gary Powers fazia parte da negociação, mostrando-nos como o governo norte-americano queria repatriar seus nacionais apenas para dizer que não os deixam desprotegidos.

Apesar do nacionalismo norte-americano de sempre, não há um maniqueísmo forçado nesse filme - em que os EUA é o lado bom contra uma malvada URSS; ao contrário, os dois lados da Guerra Fria são expostos de maneira bem realista, mostrando-nos o equilíbrio de poder entre as superpotências, a soberania entre os Estados, as negociações internacionais, o jogo diplomático e o uso da informação.


Um comentário:

  1. Este filme é grande, muito completo. Ponte dos Espiões marca o retorno de Steven Spielberg à boa forma e ao modo mais gostoso de se fazer cinema: com criatividade e amor pela arte. Como sempre, Hanks traz sutilezas em sua atuação. O personagem nos cativa, provoca empatia imediata graças a naturalidade do talento do ator para trazer Donovan à vida. Mark Rylance (do óptimo Filme Dunkirk ) faz um Rudolf Abel que não se permite em momento algum sair da personagem ambígua que lhe é proposta, ocasionando uma performance magistral, à prova de qualquer aforismo sentimental que pudesse atrapalhá- lo em seu trabalho, sem deixar de lado um comportamento espirituoso e muito carismático. O trabalho de cores, em que predominam o cinza e o grafite, salienta a dubiedade do caráter geral do mundo. Ponte dos Espiões levanta uma questão muito importante: a necessidade de se fazer a coisa certa, mesmo sabendo que isso vai contra interesses políticos ou de algum grupo dominante. A história aqui contada é baseada em fatos reais, mas remete também ao caso recente do ex-administrador de sistemas da CIA que denunciou o esquema de espionagem do governo americano em 2013 e foi tratado como um traidor, mesmo que tenha tido a atitude correta. É uma crítica clara à hipocrisia norte-americana, que trabalha sempre com dois pesos e duas medidas em se tratando de assuntos como esse.

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