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terça-feira, 17 de maio de 2016

Redes e Poder no Sistema Internacional: O impacto das redes sociais na participação política dos jovens estadunidenses


A seção Redes e Poder no Sistema Internacional é produzida por integrantes do Grupo de Pesquisa “Redes e Poder no Sistema Internacional”, que desenvolve no ano de 2016 o projeto “Controle, governamentalidade e conflitos em novas territorialidades” no UNICURITIBA, sob a orientação do professor Gustavo Glodes Blum. A seção busca promover o debate a respeito do tema, trazendo análises e descrições de casos que permitam compreender melhor a inter-relação entre redes e poder no SI. As opiniões relatadas no texto pertencem aos seus autores, e não refletem o posicionamento da instituição.

O impacto das redes sociais na participação política dos jovens estadunidenses


Henrique Albuquerque *

As redes sociais virtuais, como uma das principais ferramentas do processo globalizatório, têm moldado um novo sistema de relação e comunicação entre as pessoas, não só em um âmbito virtual, mas também político. A facilidade com que informações e opiniões são difundidas na rede possibilita o fortalecimento de agentes políticos que se tornam peça-chave no meio. Dentre esses agentes estão os jovens que, como um dos principais componentes das redes sociais, ganharam voz e poder no cenário político, adquirindo a capacidade de interferir diretamente no curso da política local e global. Este fenômeno, frequentemente destacado na Primavera Árabe de 2011, pode também ser analisado em pratica através do atual momento político estadunidense. 
  O ano de 2016 é de extrema importância para a política norte-americana, uma vez que, ao fim do ano, acontece a 58ª eleição para Presidente do país. Desde seu início, a corrida presidencial vem sendo marcada por diferentes e inovadores fatores: a participação e a grande visibilidade do polêmico magnata Donald Trump; a potencial primeira mulher presidente dos EUA, Hillary Clinton; o candidato inicialmente independente, que foge ao tradicional modelo político americano, Bernie Sanders; e, por fim, a situação a ser aqui analisada, a grande participação política dos jovens e sua consequente importância.
Primeiramente, é necessário ressaltar que essa exponente participação da juventude não se deve estritamente às redes sociais; o aumento da taxa de desemprego e a crescente discussão política dentro das universidades e escolas são de suma importância para entender este fenômeno. Porém, como muitos estudiosos apontam e como eu, um jovem estudante nos Estados Unidos, pude analisar, as redes sociais se destacam como fator determinante desta situação.

Perspectiva Pessoal e Dados

Antes de embarcar nesta experiência de estudar nos EUA, eu compartilhava da ideia estereotipada de que o cidadão norte americano - em especial o jovem - é alheio às questões políticas. Isso se dava pois, enquanto em terras brasileiras e internacionais a juventude era protagonista no meio político-social conturbado, a normalidade estadunidense passava uma sensação de conformismo e desinteresse de sua população. Porém, após a convivência na comunidade “real” e virtual norte-americana, pude examinar que a difusão de informações e as discussões abrangendo o meio político estão cada vez mais presentes no cotidiano do jovem ianque. A bagagem informativa trazida pelos meios de comunicação social virtuais vem influenciando muito a maneira em que a juventude se vê enquanto cidadão, além de gerar um crescente senso de responsabilidade social e política.
De acordo com o instituto Pew Research Centerdentre os jovens norte-americanos de 18 a 24 anos que utilizam a internet – correspondendo a mais de 28.3 milhões de usuários -, 72% participaram, através das redes sociais, de pelo menos uma atividade política. Segundo a pesquisa, 48% desses jovens está envolvido diretamente em uma atividade cívica e outros 45% falam e debatem publicamente sobre questões política. Com relação direta às eleições, o centro de apoio a estudantes Niche realizou uma pesquisa com jovens que fazem parte da “Geração Y” ou “Millenials” – geração que cresceu sob influência direta da tecnologia -  e apontou que 80% desses pretende votar nas eleições presidenciais de 2016; um percentual expressivo quando comparado ao das eleições de 2012, no qual apenas 38% dos jovens foram às urnas.

Empoderamento e Conexão Política do Jovem

A conexão política da juventude americana é algo que pode ser percebido através do contato com essa comunidade. A aluna Sasha Abdalla, de 19 anos, que cursa Estudos Globais pela Northampton Community College, acredita que hoje, frente aos acontecimentos ao redor do mundo, a internet empodera o jovem a atuar diretamente na política. Segundo ela, que é descendente direta de Egípcios, os protestos da Primavera Árabe, que derrubaram longos regimes autoritários, fizeram com que a juventude compreendesse o seu real poder de transformação político-social. Sasha afirma que esse fato se reflete no crescente número de páginas com cunho político nas redes virtuais e também na grande intenção de voto por parte da juventude estadunidense na eleição deste ano.
Por sua vez, a doutora em Ciência Política Vasiliki Anastasakos afirma que hoje, como nunca antes na história, informações e questões políticas estiveram tão acessíveis, possibilitando aos jovens um intercâmbio de informações e opiniões. De acordo com ela, as redes sociais permitem com que a juventude se conecte e, em rede, “coloque a mão na massa”, formando movimentos sociais e políticos que reivindiquem os seus ideais.
A Organização Não Governamental americana NYRA (National Young Rights Association), é um grande exemplo desta conexão de jovens em prol da propagação e reivindicação de ideias. A Organização, que é composta e gerida por jovens, tem como principal objetivo lutar pelos direitos e liberdade civis da juventude estadunidense. De acordo com a ONG, sua missão é “escrever um novo capítulo e criar um mundo onde pessoas não são julgadas pela data de nascimento, e sim pelo talento, inteligência, integridade e competência”. Criada em 1998, a NYRA se fortificou com o surgimento das redes sociais, e hoje é composta por 10 mil membros de todos os cinquenta Estados Americanos.  

Impactos na Eleição de 2016

Apesar da relação entre as redes sociais e a participação política da juventude ser um fenômeno relativamente novo com dados ainda incertos, são visíveis os impactos gerados na atual corrida presidencial Norte Americana.
 O candidato democrata Bernie Sanders, por exemplo, que possui amplo apoio dos jovens, tem voltado grande parte da sua campanha às redes sociais. Acompanhado de uma eficiente assessoria de imprensa, Sanders vem ganhando grande visibilidade com suas páginas no FacebookTwitter e Instagram, e também através de sua famosa hashtag #FeelTheBern (alusão a “Feel the Burn”, “sinta queimar” em português). O candidato, que posta diariamente em todas suas páginas, já soma 4 milhões de curtidas no Facebook, 2 milhões no Twitter e 927 mil no Instagram, sendo esses em sua grande maioria jovens. Até mesmo o atual Presidente Americano, Barack Obama, durante um discurso no tradicional jantar para correspondentes jornalísticos da Casa Branca, exaltou o sucesso de Sanders com os jovens nas redes sociais.  
A candidata democrata Hillary Clinton e o republicano Donald Trump também estão focando na internet como ferramenta crucial para atrair eleitores. Hillary, que tem como base de apoio as jovens que lutam pela igualdade de gênero, posta constantemente vídeos de suas viagens de campanha e propostas; a candidata possui 3 milhões de curtidas no Facebook e 6 milhões de seguidores no Twitter. Já Donald Trump, apesar de não possuir um apoio maciço da juventude, é o candidato que recebe o feedback mais positivo da internet. Devido à fama adquirida como apresentador do programa de TV norte-americano The Apprentice (adaptado para o Brasil como “O Aprendiz”), o empresário possui 7 milhões de seguidores no Twitter e de curtidas no Facebook.
Independentemente do resultado das eleições, é incontestável que os jovens e as redes sociais se tornaram peças essenciais da política estadunidense e mundial. A difusão informativa virtualizada em rede, possibilitada pela internet, vem fazendo e fará ainda mais com que os jovens adquiram poder para atuar e interferir na rota político-social. Está na mão desses agentes, portanto, refrescar a atual ordem política global e, assim, construir uma sociedade mais justa e sustentável.

* Henrique Albuquerque é acadêmico do Curso de Relações Internacionais do UNICURITIBA, e atualmente está em mobilidade internacional na Northampton Community College, no estado da Pensilvânia - EUA. É membro do Grupo de Pesquisa "Redes e Poder no Sistema Internacional".

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