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sábado, 18 de maio de 2019

Me indica uma série: Game of Thrones e as Relações Internacionais


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 Por Manuela Paola*

Game of Thrones, uma das séries mais famosas dos últimos tempo, deixará muitos fãs saudosos no próximo domingo - 19 de maio - quando seu último episódio for ao ar. Desde 2014, a série conquistou milhões de fãs ao redor do mundo com seu enredo sempre surpreendente, personagens principais morrendo e, mais importante, a maneira como os personagens jogam o jogo dos tronos. 

O objetivo de muitos personagens sempre foi sentar no Trono de Ferro, representação simbólica do poder, e governar os Sete Reinos. E como fazer isso? É claro que a guerra é um importante fator, mas saber como fazer política e diplomacia faz uma grande diferença nesse caso, podendo até mesmo evitar conflitos tão comuns para essa história. Dessa forma, mesmo que GoT se passe em uma época muito distante da nossa, é possível perceber as semelhanças com o mundo atual. 

            As Teorias das Relações Internacionais têm o objetivo de explicar porquê os Estados se comportam de determinadas formas e de que instrumentos eles usam para alcançar seus objetivos. Apesar de desenvolvidas para acontecimentos mais recentes, é possível aplicar essas teorias a fim de entender as ações dos personagens. Hans Morgenthau, pensador da corrente realista, afirma que “a política, como aliás a sociedade em geral, é governada por leis objetivas que deitam suas raízes na natureza humana”. Esse princípio é muito claro em basicamente todos os personagens, que desejam uma coisa em especial: o poder, seja ele na forma de governante, seja ele na forma de conselheiro. Mas, nesse caso, conhecimento é poder?

Para um dos melhores jogadores da série, Petyr “Mindinho” Baelish sim. Ele acredita que quanto mais conhecimento se possui, melhor poderá fazer suas jogadas e tirar mais benefícios delas. Mas, o mesmo não pode ser dito sobre a Cersei, uma das personagens mais emblemáticas da série. A maximização de poder é o que move muitos dos reis e até mesmo conselheiros do próprio rei, e Cersei foi certeira ao dizer que poder é poder. De acordo com a corrente de pensamento Realista, essa maximização é o objetivo final dos Estados, assim como de muitos personagens, e ambos vão usar dos artifícios ao seu alcance para chegar até esse objetivo.

            As Grandes Casas de Westeros - Stark, Lannister, Baratheon, Tyrell, Martell - apesar de subordinadas ao rei dos Sete Reinos, têm autonomia dentro do seu próprio território, já que são terras extensas. Dessa forma, podem ser comparadas aos nossos Estados (a única diferença é que não há um Estado maior que comande todos os outros). Afinal, têm o interesse de se proteger e de maximizar seu poder. Portanto, outra relação que pode ser feita é com a teoria realista ofensiva, de John Mearsheimer. Para esse teórico, o sistema internacional é anárquico, ou seja, competitivo. Em Game of Thrones, isso também é verdade. Logo na primeira temporada, acontecimentos drásticos levaram a uma emergência de reis em cada canto do continente, competindo para ver quem seria o legítimo governante de Westeros, ou, como ocorreu no caso do Norte, um movimento separatista dessa região. Alguns atores, ou Casas, possuem fatores que o colocam numa posição muito mais vantajosa nessa luta pelo Trono. A Casa Lannister, por exemplo, é extremamente rica e possui um grande poderio militar.

Mesmo que as Casas dos Setes Reinos tenham uma boa relação entre si, tanto econômica quanto diplomática, há sempre uma desconfiança em relação ao  próximo passo dos atores, o que gera uma postura agressiva por parte dos soberanos das Casas com o objetivo de se proteger.

            A análise individual também pode ser empregada para comparamos o mundo real com o mundo fictício de Game of Thrones. Thomas Hobbes, um dos mais famosos contratualistas, afirma que, no estado de natureza, o homem é o lobo do homem. Ou seja, é uma situação de todos contra todos. Para mudar esse cenário, é necessária a assinatura de um contrato que permita que uma única pessoa atue como a detentora do interesse de todos. Do contrário, as pessoas vivem em constante medo de conflito. No entanto, na série, temos os dois cenários. Enquanto num nível geral há um governante soberano, que defende os interesses de todos - ou, ao menos, deveria -, no nível individual, são os personagens que, entre si, estão em constante estado de todos contra todos.

Por esse motivo é tão importante, nesse caso, não apenas saber estratégias de guerra, mas também saber lidar com seus inimigos, entender o poder da barganha e perceber que a negociação pode ganhar guerras. Cersei Lannister, Lorde Varys, Petyr Baelish, Daenerys Targaryen, Tyrion Lannister e Sansa Stark são perfeitos exemplos de que você não precisa ser uma guerreira/o para conquistar o que deseja. Esse personagens são alguns dos mais poderosos em termos de política, pois souberam muito bem sobreviver às mais diversas situações apenas com o poder de sua fala: um atributo muito importante nas relações internacionais dos dias de hoje. 

            Game of Thrones, assim como a série de livros que originou o programa de TV, As Crônicas de Gelo e Fogo, orquestraram com maestria as relações entre Casas e personagens, e permitem traçar interessantes paralelos com o jogo da política internacional. 



* Manuela Batista é acadêmica do terceiro período de Relações Internacionais do UNICURITIBA e integra a equipe editorial do Blog Internacionalize-se, Projeto de Extensão coordenado pela Profa. Michele Hastreiter.

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