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sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Redes e Poder no Sistema Internacional: O Golpe Militar de 1973, o Terrorismo de Estado e a Teatralidade


A seção "Redes e Poder no Sistema Internacional" é produzida pelos integrantes do Grupo de Pesquisa Redes e Poder no Sistema Internacional (RPSI), que desenvolve no ano de 2018 o projeto "Redes da guerra e a guerra em rede" no UNICURITIBA, sob a orientação do professor Gustavo Glodes Blum. A seção busca compreender o debate a respeito do tema, trazendo análises e descrições de casos que permitam compreender melhor a relação na atualidade entre guerra, discurso, controle, violência institucionalizada ou não e poder. As opiniões relatadas no texto pertencem aos seus autores, e não refletem o posicionamento da instituição.

O Golpe Militar de 1973, o Terrorismo de Estado e a Teatralidade

Mariana Carvalho de Jesus *

Assim como no Brasil e em outros estados latino americanos, o Chile sofreu um golpe militar na segunda metade do século XX. O Onze de Setembro chileno representou os vários “denominadores comuns” que estavam se sucedendo na América Latina: a derrubada de governos de esquerda eleitos democraticamente, o contexto da Guerra Fria, o medo do comunismo, as intercessões dos Estados Unidos através da CIA, o apoio das elites nacionais, as crises econômicas, as juntas militares, a suspensão do Estado Democrático de Direito, as perseguições, as torturas, os exílios, as guerrilhas, as resistências... Em síntese, um conjunto de episódios que protagonizaram o maior terror dos anos 90 na América do Sul.

A ditadura militar chilena (1973-1990), que destituiu o ex-presidente Salvador Allende em 1973, apresentou também, porém, as suas particularidades. Augusto Pinochet, o maior ícone que representa esse período, perdurou no poder durante os 17 anos de regime. Guiado pelo discurso de combate aos males do comunismo e da instabilidade econômica, o Estado ditatorial chileno utilizou-se desses discursos para aplicar uma das intervenções mais violentas de toda a história da América Latina.

O governo de Pinochet, organizado em torno da sua Força Maior de Defesa, executou diversas brutalidades contra os grupos e indivíduos que eram considerados inimigos do Estado. Houveram diversas formas de torturas, homicídios e perseguições por parte do governo ditatorial. Ao analisar as técnicas de violência física cometidas no regime, é nítido que há uma enorme brutalidade em como eram planejadas e exercidas tais práticas.


O procedimento violento mais exercido na ditadura chilena foi intitulado de La Parrilla (representado na figura acima), que consistia em um palete de metal que era amarrado nos corpos nus dos presos políticos, em locais muito sensíveis, como os lábios, as genitais e feridas, para aplicar descargas elétricas até a morte. Como se pode observar, a brutalidade praticada chama muita atenção pela sua “teatralidade”. Os métodos violentos realizados pelo governo poderiam ser menos desceriominiosos para eliminar o inimigo. Porém, segundo Michel Foucault (2008), em sua obra Segurança, Território e População, a violência exacerbada desempenhada pelo regime foi necessária para impactar os opositores, demonstrando para a sociedade que a intervenção era duradoura e que tinham o absoluto controle social.

O golpe de estado ocorrido no Chile demonstra que o governo de Pinochet ultrapassou as leis e todos os mecanismos legais para instaurar um gerenciamento extremamente violento, que excedeu o direito comum. O discurso de “eliminar os comunistas” e “retomar a economia” fez que com que os militares chilenos - que foram apoiados pela elite nacional - legitimassem suas próprias ações, transformando o Estado em uma instituição impetuosa, capaz de condicionar sua autoridade através de atos extremamente violentos com a implementação do terror sobre seus inimigos.

* Mariana Carvalho de Jesus é Acadêmica do curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Curitiba (UNICURITIBA) e pesquisadora do Grupo de Pesquisa RPSI - Redes e Poder no Sistema Internacional.


REFERÊNCIAS

FOUCAULT, Michel. Segurança, Território e População : Curso dado no Collège de France (1977-1978). São Paulo: Martins Fontes, 2008.

ROBERTO, Nigro. Violência de Estado, Golpe de Estado, estado de exceção. Org. In: BRANCO, Guilherme Castelo. Terrorismo de Estado. 2 ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora. 2013.

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