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sábado, 21 de abril de 2018

Redes e Poder no Sistema Internacional: A indústria da "guerra de likes" no Facebook

A seção "Redes e Poder no Sistema Internacional" é produzida pelos integrantes do Grupo de Pesquisa Redes e Poder no Sistema Internacional (RPSI), que desenvolve no ano de 2018 o projeto "Redes da guerra e a guerra em rede" no UNICURITIBA, sob a orientação do professor Gustavo Glodes Blum. A seção busca compreender o debate a respeito do tema, trazendo análises e descrições de casos que permitam compreender melhor a relação na atualidade entre guerra, discurso, controle, violência institucionalizada ou não e poder. As opiniões relatadas no texto pertencem aos seus autores, e não refletem o posicionamento da instituição.


A indústria da "guerra de likes" no Facebook

Letícia Laíze Alves *

As redes sociais estiveram entre as bases dos protestos da Primavera Árabe, que se iniciaram em 2010, derrubaram regimes e reconfiguraram a política no Norte da África e no Oriente Médio. Este evento histórico é um exemplo do potencial que estes meios de comunicação têm de viabilizar a troca de informações, o debate e a organização entre cidadãos. Por trás da bolha das aparências das redes sociais se esconde uma indústria integrada por empresas de consultoria e trabalhadores freelancers. Esse setor presta serviços a políticos, grandes corporações, artistas, esportistas advogados, médicos e pequenos empresários que buscam aumentar sua popularidade e encher sua carteira. Outros procuram a manipulação pública, lançando campanhas de desinformação.

Essas fábricas de exploração de cliques, na verdade, são escritórios minúsculos equipados com mais de 10 mil aparelhos de smartphones enfileirados e usados para disparar curtidas e seguidores, aumentando a popularidade online dos clientes.

Outros protagonistas desse negócio trabalham de casa em seu tempo livre para ter uma renda extra. Eles publicam anúncios em lojas online, como Amazon e eBay, ou em sites de microsserviços, como Fiverr, OlimpoSEO e Por5pavos. Não é muito dinheiro por um só serviço desse tipo, mas a demanda é enorme e, por isso, às vezes chove dinheiro. Existem, atualmente, milhares de contas falsas no Facebook, Instagram e YouTube.

As contas potencialmente falsas no Facebook caíram de 2% para 1% do total de registros do site, segundo o balanço de 2017 da empresa, resultado de um esforço significativo da empresa. Apesar dessa redução, as click farms seguem firmes na Ásia, contratando mão de obra das Filipinas, Paquistão, Índia, China e outros países. Isso ocorre porque nesses países eles contam com inúmeros funcionários dispostos a trabalhar por poucos dólares na criação manual das contas falsas. Assim, burlam os controles do Facebook, Twitter e outras redes sociais destinados a impedir que uma máquina crie milhares de contas falsas: cada novo usuário precisa fornecer um número de telefone, um endereço de correio eletrônico ou passar por um captcha (um teste visual).

Nos últimos anos, ficaram conhecidos alguns casos de anomalias nas redes graças, principalmente, à análise da visualização de big data. Soube-se, por exemplo, que a conta do primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, no Twitter ganhou em apenas um dia 60.000 seguidores, sendo que várias dessas contas vinham de países do Oriente Médio.

Através desse mecanismo, seria possível instigar protestos de rua, pela revogação do mandato de um político, por exemplo, através de uma custosa campanha on-line. Ela envolveria, por exemplo, inflar 20 grupos de discussão contrários à visão do político em questão com mil infiltrados, a um custo de cerca de US$ 40 mil.

As redes sociais têm levado a sério o cerco contra essas contas falsas, a julgar pelas recentes medidas tomadas pelo Facebook. Ano passado, a empresa de Mark Zuckerberg anunciou melhoras em seu sistema de monitoramento, que se baseia no aprendizado de máquina (machine learning) para detectar atividade automática maciça. O problema é que nenhum programa é totalmente preciso. Alguns críticos propõem que as redes sociais exijam maiores controles, como a apresentação de um documento de identidade oficial como requisito indispensável para a criação de uma conta.


* Letícia Laíze Alves é acadêmica do curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Curitiba (UNICURITIBA), pesquisadora do Grupo de Pesquisa RPSI - Redes e Poder no Sistema Internacional e Bolsista FUNADESP de Iniciação Científica.

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