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sexta-feira, 14 de abril de 2017

Redes e Poder no Sistema Internacional: 6 anos de Guerra na Síria e as crianças envolvidas no conflito



A seção "Redes e Poder no Sistema Internacional" é produzida pelos integrantes do Grupo de PesquisaRedes e Poder no Sistema Internacional (RPSI), que desenvolve no ano de 2017 o projeto "Redes da guerra e a guerra em rede" no UNICURITIBA, sob a orientação do professor Gustavo Glodes Blum. A seção busca compreender o debate a respeito do tema, trazendo análises e descrições de casos que permitam compreender melhor a relação na atualidade entre guerra, discurso, controle, violência institucionalizada ou não e poder. As opiniões relatadas no texto pertencem aos seus autores, e não refletem o posicionamento da instituição.



6 anos de Guerra na Síria e as crianças envolvidas no conflito



Matheus Henrique de Souza *



Este é um breve relato, que se dedica a apresentar como o conflito na Síria, e diversos conflitos internacionais, afetam alguns dos mais vulneráveis: as crianças.

1º ano
A história da revolução na Síria começa com crianças.

No dia 6 de março de 2011, quinze estudantes, de 10 a 15 anos, eram presos por pichar os muros da cidade de Daraa com o slogan da revolução do Cairo e da Tunísia:

As-Shaab / Yoreed / Eskaat el nizam! 


O povo / quer / derrubar o regime! 

Poucos dias após o desaparecimento das crianças, seus familiares e lideranças locais marcham até a casa do Governador de Daraa: Faisal Kalthoum e em pouco tempo, o protesto pacífico se torna alvo de ataques com canhões de água, bombas de gás e armas de fogo. Depois de passar duas semanas em cárcere, os meninos são soltos com marcas de queimadura, agressão e tortura (com as unhas das mãos arrancadas).

A brutalidade do governo com as crianças e a repressão dos protestos geram cada vez mais levantes, até que soldados dissidentes do próprio exército de Bashar al-Assad (Free Syrian Army) se juntam aos rebeldes. Em pouco tempo, o conflito passa a chamar a atenção de grupos Jihadistas e extremistas, que começam a migrar para a região e se unir aos insurgentes. Buscando estabelecer um governo que siga seus interesses, uma ramificação da al-Qaeda passa a auxiliar o grupo contrário ao regime: Jabhat al-Nusra.

2º ano

Enquanto os países do Golfo Pérsico passam a auxiliar os rebeldes com o envio de recursos e armas por meio da Jordânia e da Turquia, o governo de Assad recebe apoio do Estado do Irã e do Hezbolah. Ao norte, os Curdos, passam a buscar autonomia e abandonam o governo de Assad. Os grupos armados curdos possuem sua própria agenda de objetivos, e não se alia aos rebeldes o que gera conflito entre os dois grupos em diversos locais ao redor do país.

Neste período, as crianças passam a ser usadas pelo governo sírio como escudos humanos.

No final de 2012, cerca de 3.000 civis se voluntariam na Síria para realizar operações de busca e resgate de vítimas da guerra: são os chamados "capacetes brancos" (White Helmets). Calcula-se que o grupo seja responsável por salvar mais de 60.000 pessoas em situação de vulnerabilidade desde o início de suas atividades.

3º ano

O número de crianças que buscava refúgio em outros países já atingia a marca de 1 milhão.

Conforme o conflito prossegue, gerando um número cada vez maior de mortos e refugiados, a utilização de armas químicas em regiões com número elevado de civis gera comoção no cenário internacional. Os EUA emitem uma ordem secreta à CIA para que passem a treinar rebeldes contra o regime de Assad, que consideravam tirânico, enquanto o presidente Obama discursa contra o ataque do dia 21 de Agosto. Obama buscava apresentar o caso como uma forma de violação do direito de guerra. Em um período muito próximo de tempo, a Rússia declara seu reconhecimento ao governo de Assad e passa a apoiá-lo, aumentando a tensão entre os países.

4º ano

Em Aleppo, Mahmud Idlibi de apenas 2 meses era salvo de escombros após um bombardeio. O menino, apelidado de "criança do milagre", havia passado 16 horas soterrado. Seu pai e irmão não resistiram ao ataque.

Dissidentes da al-Qaeda e declarados inimigos de curdos e rebeldes, o Estado Islâmico desponta na região da Síria e Iraque, sendo o 4º grupo de importante relevância na região. Os EUA muda o alvo de seus ataques e passa a treinar soldados contra grupo terrorista, ao invés de continuar sua campanha em oposição à Assad. A Turquia (aliada norte-americana) passa a enfrentar diretamente curdos, não apoiando decisão estadunidense de combater grupo terrorista.


5º e 6º ano

Após 6 anos da pichação em Daraa, a Síria continua dividida em 4 grandes polos: Curdos, Governo sírio, Rebeldes e Estado Islâmico. Com o fracasso da comunidade internacional em encontrar soluções para a guerra mais letal do século XXI, cada polo passa a receber apoios externos bilaterais e seguir seus próprios interesses.

Casos isolados de crianças são recorrentes, causam espanto e indignação ao redor do globo, como o caso do garoto morto em praia turca ou de Omran Daqneesh, a criança em estado de choque após ser resgatada de um ataque aéreo. A guerra entra no seu sétimo ano com 465.000 mil mortos e 6.3 milhões de pessoas internacionalmente deslocadas, do número total de refugiados, apenas 1% é reintegrado com sucesso.

No dia 4 de Abril de 2017 um ataque com armas químicas provoca uma reação direta dos EUA contra o governo de Assad, que bombardeia uma suposta base militar em Damasco. Apesar da interferência americana no conflito e o surgimento de novas tensões na região, a certeza que permanece é a de que as crianças continuarão sendo as maiores vítimas do confronto.

* Matheus Henrique de Souza é acadêmico do curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Curitiba (UNICURITIBA), e membro do Grupo de Pesquisa "Redes e Poder no Sistema Internacional".

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