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quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Política Externa Brasileira em Foco: A busca de uma maior Inserção Internacional do Brasil por meio da Cultura e da Língua.


A seção "Política Externa Brasileira em Foco" é produzida por alunos do Curso de Relações Internacionais da UNICURITIBA, com a orientação da professora de Política Externa Brasileira, Dra Janiffer T. Gusso Zarpelon. As opiniões relatadas no texto pertencem aos seus autores e não refletem o posicionamento da instituição.

A busca de uma maior Inserção Internacional do Brasil por meio da Cultura e da Língua.

                                                                                                                              Felipe Dalcin Silva

Joseph Nye em sua obra “The Future of Power” (2010), coloca que o jogo pelo poder é disputado em diversos tabuleiros simultaneamente, o Soft Power se apresenta como peça essencial desse jogo. Isso significa que um Estado pode buscar influenciar outro Estado através de vias como a cultural, ideológica ou política, não utilizando o Hard Power que é basicamente a intervenção por meios da força ou ameaça do uso da força (DIAS, 2014).
Dessa maneira a cultura, mais especificamente o idioma, pode se configurar em um instrumento utilizado pelos Estados para lograr seus objetivos. Língua e cultura são o cerne da identidade nacional, todavia a primeira é o elemento chave para maior conhecimento da segunda (ANDRADE, 2015). O Brasil levou certo tempo para perceber isso.
A diplomacia cultural brasileira apresenta maior solidificação depois da Segunda Guerra mundial (pós 1945). O que antes se objetivava era demostrar para o mundo exterior, principalmente para os Estados considerados mais desenvolvidos, que o Brasil não era uma terra de selvagens “largada ao relento no meio de uma selva” (DUMONT; FLÉCHET, 2014, p. 204-205).
Contudo por volta dos anos de 1930 Élysée Montarroyos e Ildefonso Falcão – duas figuras importantes, defensoras ativas da propagação cultural brasileira – identificaram que a América Latina deveria receber investidas da diplomacia cultural brasileira por diversos motivos: criar uma maior unidade entre os Estados latino-americanos que poderia ser ameaçada diante das transformações globais; aumentar a empatia dos nossos vizinhos com o nosso país; e, garantir o status brasileiro de grande líder latino americano (DUMONT; FLÉCHET, 2014, p. 208).
Nesse mesmo período África e Ásia não eram visto como alvos importantes de politicas e incentivos semelhantes. Diferentemente de Portugal, que por questão cultural, linguística e histórica poderia ser uma zona de convergência certa da cultura brasileira. O que o Brasil tentou em terras lusas foi o modo francês, em que se busca influenciar através da língua, nesse caso especifico o português falado no Brasil (DUMONT; FLÉCHET, 2014, p. 209).    
Posteriormente, entre 1945 e por volta de 1980, segundo Dumont e Fléchet (2014, p.210), a propagação da cultura brasileira seguiu três diferentes caminhos: o tema ganhou relevância em diferentes camadas da política brasileira; começou-se a valorizar a disseminação de não só da cultura erudita do Brasil como também a popular; e, se ampliou os alvos de atuação.
Vale destacar que para que tais caminhos fossem trilhados era necessário maior investimento na área, e, o que tudo indica isso ocorreu, apesar da dificuldade da obtenção de dados relativos a divulgação cultural do Brasil no exterior. Porém de acordo com o diplomata Sérgio Arruda (1983) havia ainda uma grande carência de investimentos, ele argumenta que o Brasil em 1978 investiu 3,4 milhões de dólares na divulgação cultural do país enquanto os Estados Unidos capitanearam sete milhões de dólares somente no Brasil (DUMONT; FLÉCHET, 2014, p. 211).
Já nos anos 80 principalmente o Brasil e Portugal começam a dar mais atenção a maior interação cultural e principalmente linguística entre os países lusófilos, ficando mais nítido com a criação de algumas organizações: Instituto Internacional da Língua Portuguesa, 1989, que buscava, através da língua portuguesa, maior aprofundamento das relações culturais, educacionais, cientificas e tecnológicas; Instituto Camões, 1992, desenvolvimento de programas para maior disseminação da cultura e da língua; e, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), 1996, com a participação de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe – com entrada mais adiante do Timor Leste depois de sua independência em 2002 (ANDRADE, 2015).
O que Andrade (2015) ressalta de forma categórica é tentar entender os reais motivos que levaram países lusófilos a entrarem nessa empreitada; pois, se se é feito uma comparação entre principalmente Brasil e Portugal com os demais países falantes do português se nota uma clara assimetria, principalmente econômica. Mesmo entre Portugal e Brasil nota-se que esse possui um peso muito maior na economia global do que aquele. Principalmente para os países africanos a CPLP serve como um espaço de acareação -- através da cooperação com seu par europeu e sul americano – tecnológica, científica e também de educação. Já para Brasil e Portugal objetivam aumentar sua presença nesses países.
Entretanto, nem todos os acordos entre os países lusófilos são vistos com bons olhos por parte da população. O mais claro caso disso é o Acordo Ortográfico, ratificado em 2008, que sofre grande resistência principalmente em Portugal. Segundo Mamede (2015) há uma grande parcela de portugueses que enxergam no Acordo imposição da versão linguística brasileira e não realmente a busca de uma maior sintonia das diferentes formas que o idioma é empregado nos países que o utilizam. De forma quantitativa ocorreu uma mudança na forma de se escrever de 0,8% do português brasileiro, enquanto do ibérico houve 1,3% de transformações.
Em 2015 começaram diversas manifestações nas ruas contra o Acordo Ortográfico, entre os participantes é possível averiguar a participação ativa de políticos, acadêmicos e artistas. O ponto de maior questionamento é a falta de abertura para a população discutir com os seus governantes se estão de acordo ou não com o Acordo, já que todas as decisões são tomadas no âmbito político sem praticamente nenhuma consulta a população. No entanto há portugueses que insistem no viés econômico do acordo, já que como a população brasileira é de mais de 200 milhões e a portuguesa está em volta dos 10 milhões, uma maior aproximação com o português do Brasil poderia significar um acesso mais fácil ao mercado consumidor brasileiro, que é muito maior do que o português (MAMEDE, 2015).
Não obstante, na verdade, é uma via de mão dupla, a cultura brasileira tem grande penetração em Portugal, não somente devido ao grande número de brasileiros em solo luso, mas também graças a iniciativas ligadas a música e telenovelas que atraem a atenção dos portugueses com o que ocorre no Brasil; e, como já mencionado em cima a cultura -- mais especificamente a língua, o cinema, a música, entre outros – são fatores de Soft Power que podem ser usados para o Brasil não só ganhar economicamente, como também ver o seu prestigio internacional aumentado.
Não é só nos países que já falam o português que a vertente brasileira se espalha, mas também ao redor do globo. O destaque econômico vivido pelo país e a realização de eventos esportivos como a Copa do Mundo FIFA 2014 e as Olimpíadas 2016, ajudaram ainda mais o país e o português brasileiro atraírem atenção. O Itamaraty, através da Rede Brasil Cultural, busca promover internacionalmente o português brasileiro e também a cultura do país, em 2015 o programa contava por volta de 200 professores brasileiros espalhados pelo mundo em 44 países. De acordo com o chefe da Divisão de Promoção da Língua Portuguesa, Jorge Tavares, a busca internacional desse serviço, muitas vezes prestado nas embaixadas do Brasil em diversos países, é tão grande que o Brasil sofre para suprir a demanda. Tavares também destaca que importantes universidades de várias partes do planeta tem o interesse de incluir o português falado no Brasil como opção de curso (GARCIA; MACEDO, 2015).
Andrade (2015), vê com bons olhos tentativas de divulgação do português, não só para o Brasil, para todos os países que adotam essa língua como idioma oficial pois:
É fato que a implantação efetiva das estratégias de internacionalização geraria uma maior visibilidade dos países de língua portuguesa no cenário internacional, inclusive daqueles que possuem uma imagem mais fraca, podendo fortalecê-la tendo mais poder de decisão no sistema internacional... Esse elemento – o idioma – possibilita também aos grupos que compartilham a mesma língua, mesmo que distantes geograficamente, uma maior integração, mesmo que não fronteiriça, ou gerando outras integrações fronteiriças. (ANDRADE, 2015).

Apesar de poder beneficiar a comunidade lusófila em geral, pois terão o seu idioma em destaque, é óbvio que o Brasil é o grande condutor e beneficiário do alastramento do português no mundo. Para o idioma português subir degraus, como para o Brasil também, falta maior relevância dessa língua em foros e organizações internacionais. Tornar o português uma das línguas oficias da ONU seria um grande passo para o idioma e principalmente para as ambições internacionais brasileiras.

Referências: 

ANDRADE, Fernanda. Internacionalização da Língua Portuguesa: Cooperação e Soft Power. Relações Internacionais.com.br, 2015. Disponível em https://relacoesinternacionais.com.br/internacionalizacao-da-lingua-portuguesa-cooperacao-e-soft-power/ . Acesso em 11/09/2016.
DIAS, Ana Paula. O Soft Power da Língua. Ponto Final, 2014. Disponível em: https://opiniaopontofinal.wordpress.com/2014/05/20/o-soft-power-da-lingua/ . Acesso em 10/09/2016.
DUMONT, Juliette; FLÉCHET, Anais. “Pelo que é nosso!”: a diplomacia cultural no século XX. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 34, nº 67, p. 203-221 – 2014.
GARCIA, Giselle; MACEDO, Danilo. Cresce procura pelo ensino do português do Brasil no mundo. EBC, 2015. Disponível em http://www.ebc.com.br/noticias/internacional/2015/05/cresce-procura-pelo-ensino-do-portugues-do-brasil-no-mundo . Acesso em: 13/09/2016.

MAMEDE, ‘Imposição do Brasil’ ou língua do futuro? Acordo ortográfico divide Portugal. BBC Brasil, 2015. Disponível em : http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/10/151007_acordo_ortografico_polemica_mf . Acesso em 10/09/2016.

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