A
seção Redes e Poder no
Sistema Internacional é produzida por integrantes do Grupo de Pesquisa
“Redes
e Poder no Sistema Internacional”, que desenvolve no ano de 2016 o
projeto “Controle,
governamentalidade e conflitos em novas territorialidades” no
UNICURITIBA, sob
a orientação do professor Gustavo Glodes Blum. A seção busca promover o
debate a respeito do tema, trazendo análises e descrições de casos que
permitam compreender melhor a inter-relação entre redes e poder no SI.
As opiniões relatadas no texto
pertencem aos seus autores, e não refletem o posicionamento da
instituição.
As redes mundiais de movimentos sociais antiglobalização e o caso da Via Campesina
Nathalie Ribeiro*
Em sua evolução, o processo globalizatório,
além de permitir o estímulo
pelo desenvolvimento dos meios de comunicação e transporte resultando numa
sociedade mais evoluída tecnologicamente, tem sido um agente muito importante para se compreender as atuais mobilizações populares. Isto decorre do fato de que tal processo também é
responsável pela geração
de desigualdades que impulsionarão a construção de movimentos
sociais chamados “antiglobalizatórios”, ou seja, aqueles que se posicionam contra a tentativa de liberalização econômica desenfreada leva a cabo sobretudo nos anos 1990 pelo governo dos Estados Unidos da América e sua agências internacionais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (BM).
Tais movimentos antiglobalização
se caracterizam, num sentido mais amplo, como uma mobilização global que une
redes e movimentos sociais diversos, como movimentos feministas, sindicais e ambientalistas.
Conectando o local e o global através da mesma tecnologia que permite a fluidez de capital nas bolsas de valores, essa rede de mobilização social se define também
através de sua flexibilidade, inovação e seu constante movimento, sempre
sugerindo uma transformação econômica, política, cultural, e social antagônica
à resultante do processo hegemônico do capitalismo globalizatório.
Composta principalmente de Organizações Não-Governamentais (ONGs), essa rede traz à tona um
tipo de ativismo social transnacional, agindo em diversos territórios concomitantemente, lutando contra as mudanças associadas à
globalização neoliberal que incidiram de maneira drástica na vida de famílias
que têm o campo ou a cidade tanto como moradia como local de trabalho e meio de
subsistência. É então que os movimentos sociais começam a buscar um
espaço em que seja possível negociar com grandes instituições e gerar uma
mobilização mais abrangente que resultasse na ação coletiva.
Um dos principais exemplos deste tipo de mobilização é a Via Campesina, uma rede transnacional de movimentos
sociais rurais, isto é, que reúne diversos movimentos sociais rurais regionais que
juntos conseguem maior influência internacional do que estando sozinhos. Enquanto
representa os camponeses e seus interesses no cenário mundial, a Via Campesina é
também o espaço no qual os diversos grupos sociais e atores (nacionais,
regionais e subnacionais) que dela fazem parte negociam e estabelecem metas,
objetivos e campanhas comuns, fortalecendo-se mutuamente.
A Via Campesina já alcançou muitos de seus objetivos, sempre
procurando defender a pauta agrícola do movimento antiglobalização, a ideia da
“soberania alimentar” e fortalecendo a unificação das organizações que fazem parte dela mesma.
Tendo a Organização Mundial do Comércio (OMC) como maior e mais forte adversário, a Via Campesina se reuniu para
mobilizar o mundo frente à Conferência Ministerial da OMC em 1999 na cidade de
Seattle, que foi desmantelada pela enorme mobilização na cidade.
O episódio de Seattle teve grande importância para a Via
Campesina, pois marcou o início da parceria da rede com ONGs, no sentido de
desenvolver alternativas à globalização neoliberal. A mobilização e seu
resultado se mostraram um instrumento extremamente importante na luta contra a
OMC e a favor da luta contra a agricultura transgênica. Ainda que a Via
Campesina estivesse presente na lista de ONGs da Sociedade Civil presentes à cúpula em Seattle, a rede já estava convencida da
impossibilidade de reforma desta organização, de forma que adotou a estratégia de
“globalizar a luta, globalizar a esperança” e ratificou o compromisso de lutar
para retirar a agricultura da competência desta organização.
Hoje, a Via Campesina constitui uma nova onda de atores
transnacionais não governamentais que exercem grande poder de influência. Fica clara sua importância na articulação de movimentos sociais
antiglobalização, surgidos como resultado de toda uma evolução da
globalização neoliberal. Portanto, o processo globalizatório será gerador não
somente das desigualdades combatidas por esses movimentos, mas também
viabilizador das próprias mobilizações antiglobalização que se utilizarão dos
avanços em vários campos para se tornarem atores com maior importância e
relevância.
* Nathalie Ribeiro é Internacionalista, formada Bacharela em Relações Internacionais pelo Centro Universitário Curitiba (UNICURITIBA).
Muito bom!
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