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segunda-feira, 4 de abril de 2016

Direito Internacional em Foco: A Indicação de Dani Dayan como Embaixador Israelense no Contexto Diplomático Brasil-Israel



A seção "Direito Internacional em Foco" é produzida por alunos do 3° período do Curso de Relações Internacionais da UNICURITIBA, com a orientação da professora de Direito Internacional Público, Msc. Michele Hastreiter, e a supervisão do monitor da disciplina, Gabriel Thomas Dotta. As opiniões relatadas no texto pertencem aos seus autores e não refletem o posicionamento da instituição. 


A Indicação de Dani Dayan como Embaixador Israelense no Contexto Diplomático Brasil-Israel
Alexandre Schmid Baranhuk, Lucas Broto e Pedro Paulo Fernandes Monteiro

            O Brasil é o maior parceiro comercial de Israel na América Latina, e tradicionalmente os dois países mantêm boas relações. Tudo começou a mudar, no entanto, a partir do momento em que o Brasil afirmou reconhecer a Palestina como Estado nas regiões de Gaza, na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, em 2010.

            Um relevante incidente ocorreu em 2014, quando o Brasil ordenou a retirada de seu embaixador a Tel Aviv, capital de Israel, em protesto ao que chamou de uso desproporcional da força por parte de Israel em sua ofensiva no verão daquele ano em Gaza. Um porta-voz do ministério das relações exteriores israelense respondeu chamando o Brasil de “anão diplomático”. Após tal fervor, não pareceu haver qualquer outro momento de estranheza entre os dois países. Até a indicação israelense de Dani Dayan como embaixador ao Brasil, em 2015.

            O indicado viria para substituir Reda Mansour, o moderado de etnia drusa que ocupava o cargo, já que este tinha de voltar ao seu país por motivos pessoais.

            Dani Dayan é um político  israelense de origem argentina, além de empresário. O indicado presidiu por seis anos, de 2007 a 2013, o Conselho Yesha, representante dos 500 mil colonos israelenses em Jerusalém Oriental e na Cisjordânia, em meio ao processo de criação de assentamentos israelenses na Palestina, Dayan habita, inclusive, em uma dessas regiões, reivindicadas pelos palestinos.

            O Brasil, bem como grande parte da comunidade internacional, condena os assentamentos, vistos como ocupação ilegal e como ações diretas para frustrar o objetivo palestino de ascensão à condição de Estado através da alteração demográfica das regiões. É importante notar, aliás, que a própria Corte Internacional de Justiça, já em 2004, considerou os assentamentos israelenses como ilegais. A Assembleia Geral da ONU, no mesmo sentido, já aprovou uma série de resoluções com aprovação de representativa maioria condenando as ações israelenses moral e legalmente.

            Os ideais de Dayan mostram-se, é certo, completamente contrários às diretrizes brasileiras na situação palestina. É assumidamente opositor, por exemplo, até a hipótese de criação do Estado Palestino, o que vai contra à perspectiva de defesa brasileira da solução de dois Estados para dois povos, em divisão territorial baseada nas fronteiras de 1967, anteriores à Guerra dos Seis dias. A indicação de um político ligado de forma radical aos temas sensíveis citados foi, portanto, no mínimo uma falta de sensibilidade ou – até mesmo - provocação.

            Além do passado do indicado, é importante notar que o Primeiro Ministro israelense Benjamin Netanyahu fez o anúncio de sua indicação pelo Twitter, sem consultas diretas com o Itamaraty, como praxe diplomático, portanto ainda sem ter o Agrément, aceitação formal do país acreditado, o que também exacerbou a tensão entre os Estados.

            A indicação causou forte repercussão tanto no Brasil quanto em Israel. Lá, os diplomatas aposentados Alon Liel, ex-diretor geral do Ministério das Relações Exteriores, Eli Barnavi e Ilan Baruch, ex-embaixadores na França e na África do Sul, pronunciaram-se considerando completamente justo que o Brasil recusasse a indicação.

            Aqui, um grupo de quarenta diplomatas aposentados lançou uma carta aberta criticando Israel, como segue:

“Nós, [...] lembrando a memória do Embaixador Luís Martins de Sousa Dantas, que salvou centenas de judeus do Holocausto; orgulhosos do papel desempenhado pelo Brasil nas Nações Unidas quando, sendo Osvaldo Aranha Presidente da Assembleia Geral, foi sancionada a criação do estado de Israel, consideramos inaceitável que o primeiro ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, haja anunciado publicamente o nome de quem pretendia indicar como novo embaixador de seu país no Brasil antes de submetê-lo, como é norma, a nosso governo. Essa quebra da praxe diplomática parece proposital, numa tentativa de criar fato consumado, uma vez que o indicado, Dani Dayan, ocupou entre 2007 e 2013 a presidência do Conselho Yesha, responsável pelos assentamentos na Cisjordânia considerados ilegais pela comunidade internacional, e já se declarou contrário à criação do Estado Palestino, que conta com o apoio do governo brasileiro e que já foi reconhecido por mais de 70% dos países membros das Nações Unidas. Nessas condições, apoiamos a postura do governo brasileiro na matéria [...].”

            Essa queda de braços entre os dois países durou cerca de sete meses. Israel, de início, disse que não trocaria sua indicação. Em 28 de março de 2016, entretanto, embora sem fazer qualquer menção ao Brasil, Netanyahu anunciou publicamente um novo cargo a Dayan: cônsul-geral em Nova York, Estados Unidos, maior parceiro de Israel. Dayan considerou sua indicação como uma “vitória contra o BDS (movimento internacional de boicote a Israel)”, afirmando arrogantemente: “aqueles que não queriam ver um líder colono em Brasília acabaram tendo que ver um líder colono na capital do mundo.”

           Com relação ao seu comentário, notamos, no entanto, que seu exercício como cônsul significa uma representação de caráter notarial, comercial e administrativa, bastante diferente da que exerceria como embaixador, no Brasil, como representante político do Estado israelense.

            De toda forma, Israel acabou por abrir mão da disputa com relação ao Brasil. Esse recuo israelense, para nós, mostra uma força diplomática brasileira que não estamos acostumados a ver no frágil governo Dilma.


FONTES CONSULTADAS:
http://www.opopular.com.br/editorias/mundo/ex-diplomatas-lan%C3%A7am-carta-aberta-a-israel-1.1018273

FONTE DA IMAGEM:



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