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quinta-feira, 28 de abril de 2016

A saída do Brasil na Liga das Nações: fiasco da diplomacia brasileira ou fracasso da organização internacional?

Resenha crítica desenvolvida na disciplina de Instituições Internacionais do Curso de Relações Internacionais do Unicuritiba, orientado pela Profa Dra Janiffer Zarpelon.

* Por Larissa Helen






Do artigo da autora Norma Breda dos Santos: “Diplomacia e fiasco. Repensando a participação brasileira na Liga das Nações: elementos para uma nova interpretação” traz consigo o conjunto de pensamentos e explicações sobre a participação do Brasil na Liga das nações, em como esse momento trouxe um impacto para o papel do Brasil, tanto para como a própria Liga.          
A criação da Liga das Nações foi uma tentativa de trazer a paz e entendimentos para sociedade em um cenário conturbado após a Primeira Guerra Mundial. Traz consigo a ideia de uma segurança coletiva. Junto aos aliados dessa Guerra, o Brasil torna-se membro fundador da Liga das Nações.    
A autora cita em sua obra, que por parte do Brasil em entrar na Liga da Nações não havia certo interesse pelos problemas europeus no contexto, mas sim porque a participação do Brasil traria aumento do orgulho nacional, bem como seu reconhecimento.
Ao ocupar um dos quatro assentos não permanentes no Conselho da Liga em seu primeiro ano de funcionamento, 1920 e sendo reeleito até 1925 para o mesmo assento, o Brasil estabelece uma participação expressiva comparado a qualquer outro país latino-americano, também como há de lembrar a recusa dos EUA em decidir não participar da Liga, (outro ponto de destaque para o Brasil).  Vejamos aqui, que a autora traz um momento importante do Brasil na Liga, visto que eles agiam com certa espontaneidade e autonomia, principalmente em relação a ocupação dos assentos temporários do conselho com ausência de algumas regras efetivas.           
A busca pelo assento permanente:
Entretanto, se de um lado a ocupação do assento temporário foi de certa maneira fácil, a busca do Brasil pelo assento permanente não foi tão fácil assim, isso porque a autora explica em seu artigo, uma mudança de chefe para delegação brasileira, junto com novas regras que foram impostas na Liga para efetiva ocupação desses assentos.  Havia um certo desentendimento entre os membros da liga, pois o novo chefe da delegação Mello Franco, ao chegar na delegação sugeriu criar dois novos assentos permanentes, um ocupado pela Espanha até Alemanha adentrar na liga (outro problema que é citado mais além) e o outro assento o Brasil ocuparia no lugar dos Estados Unidos. De certa maneira, Mello Franco sugeriu essa proposta para facilitar a conquista do Brasil para esse assento, o que obviamente fica claro a “bagunça” em relação a escolha desses assentos.  
Porém, sua proposta é bem recebida pelos membros do conselho, deixando de lado Robert Cecil, represente britânico que não concorda com o número de assentos, e do representante Espanhol que declara que seu país jamais aceitaria guardar um lugar para Alemanha, como a autora cita em seu artigo.
Mello Franco resistente, faz um possível acordo entre as partes adversas, e em uma de suas tentativas cria uma embaixada junto a liga em 1924, no mesmo ano o governo brasileiro elabora uma campanha no Brasil para divulgar o objetivo de obter o assento permanente.  Fica claro a participação efetiva do Brasil junto a liga para conquistar um passo a mais dentro dela, talvez por busca de interesses? Ou por realmente buscar os objetivos concretos?                       
Em 1924, a assembleia reelege ao Conselho o Brasil e os demais cinco países membros temporários.  As tentativas de Mello Franco deram certo, pelo menos por esse período em darem a notícia ao governo Brasileiro.                       

O problema alemão:
No começo ao criar a Liga, Alemanha fica de fora, (juntando aqui o Tratado de Versalhes), porém o governo alemão deseja adentrar na Liga. Mas ao adentrar na liga, o país já ocuparia um assento permanente, isso seria um reconhecimento da Alemanha como grande potência, mas para isso precisava da aceitação do Conselho e de seus membros. O Brasil até então, oferece apoio a entrada Alemã, e não se opõe a que esse novo membro obtenha um lugar no conselho, porém isso foi somente de imediato. Aqui, mais uma vez, Brasil não fica de lado, e não se abstém em dar sua voz.
Regis de Oliveira é nomeado embaixador em Londres, e ao contrário de certas posições, afirmando em um memorando que é entregue ao embaixador Chamberlain, diz que a entrada da Alemanha ao Conselho agravará o desequilíbrio, e surgirá uma desigualdade, pois enquanto a Europa terá quatro representantes no Conselho, a América não terá nenhum. Essa afirmação confirma a opinião dos Estados Unidos, que vinha afirmando “ a Liga das Nações é um instrumento de política europeia a serviço de uma aliança entre os governos das grandes potencias” De um lado surge o apoio a entrada da Alemanha, mas de outro fica claro a não representatividade da América, esse memorando objetiva essa representação, demostrando que a solução mais justa seria de manter o Brasil no Conselho.
O que fica claro, é a voz das grandes potencias, Alemanha nem tinha adentrado na Liga e já possuía “certa força” enquanto Brasil e Espanha continuavam com suas reivindicações. Outro problema, seria a crise da escolha do Conselho, novamente com ausência de regras.

Os (Des)Acordos de Locarno:     
A dificuldade para se escolher os membros do Conselho se segue, e possui opiniões divergentes de diversos países.
Como a autora explica em seu artigo, o acordo de Locarno seria a reaproximação franco-alemã o que fortaleceria a segurança europeia e dariam mais voz para Alemanha frente a Liga. Chega-se então a um igualmente acordo para que a Alemanha fosse admitida na Liga reconhecida como grande potência, o que significaria que teria um lugar permanente no Conselho, o que não ficou claro se haveria mudanças ou não frente a isso, como a autora explica.       
Mas não só a Alemanha seguia nessa questão, a Polônia também começou a “reivindicar seus direitos” pedindo que a mesma seja admitida com mesma igualdade perante à Alemanha no Conselho.
Mas o que se segue adiante, é uma série de acordos, relações, tentativas para se chegar a conclusões das escolhas do Conselho: aumenta o Conselho? Diminuiu? Da voz a Alemanha? A Polônia? Ao Brasil, e a Espanha? O que fica claro são as dificuldades de resoluções como a própria autora relata em seu artigo:  “Chamberlain menciona as dificuldades que estava enfrentando para decidir sobre o que melhor conviria aos interesses do Conselho em razão das reivindicações apresentadas nos últimos meses por diversos países, pg 95”
Fica resolvido em primeira parte, a adesão da Polônia ao Conselho, com isso, obviamente as grandes potencias passam a ter mais forças em suas reivindicações, até porque surge a eventualidade de um aumento no número de assentos permanentes no Conselho, o que faz os países a terem mais motivos de exigirem seus direitos.          
E recurso ao veto? Em um dos seus pontos a autora explica: “A possibilidade do recurso ao veto? ”
Sim, os países membros do Conselho ainda que não permanentes poderiam dar o poder do veto, e esse fato ocorreu em relação a Alemanha.
No dia 8 de fevereiro de 1926 o governo Alemão entrega à Liga sua solicitação oficial de admissão, e é convocado uma Assembleia Extraordinária, a fim de votar a entrada alemã.  A relação de Países a favor ou contra que se seguiu foi essa:
-Japão: contra ampliação do Conselho.
-Itália: apoia o pedido da Polônia, assim como não fica contra ao Brasil.
-Tchecoslováquia: a favor de assentos permanentes a Espanha e Brasil.
-Bélgica: apoia Polônia, e estava pronta a negociar.
-Espanha: aceita a candidatura da Polônia e do Brasil, mas impõe sua vontade de ver sua solicitação aceita.     
-Uruguai: somente quer ter seu mandato renovado, mas possui simpatia ao governo Brasileiro.
-China: vontade de assento permanente.
- Suécia: Não aceita criação de Conselhos Permanentes, somente á Alemanha.
Percebendo as opiniões desses Países, é que cada um segue de acordo com sua política, ora, obviamente, se um país quer prorrogar seu assento, seria favorável apoiar quem queira também, ou ao contrário, o fato é que há certas influencias e interesses por trás de cada escolha.         
Brasil segue firme na sua decisão de veto para entrada na Alemanha no Conselho, pois como deixa claro, essa entrada acentuaria mais a “desigualdade” sem oportunidade de nenhum País representar a América, aumentando o reconhecimento da Europa.
Podemos, de certa maneira, compreender a decisão do Brasil até o momento. Pois, o Brasil sempre esteve presente na Liga, ainda que no conselho temporário e talvez por interesses não tão verdadeiros, como reconhecimento próprio, não dá para negar sua presença ativa, e com certeza, ele não aceitaria nenhum País entrar diretamente no Conselho ocupando assento permanente sem ter tido uma significativa presença, por mais que esse País fosse a Alemanha com grande influência pela Europa.

Não resta dúvida, de como fica claro a oposição da Europa (principalmente Alemanha) frente ao Brasil.
Mas o que explica esse fato? A autora cita que uma explicação provável seria o fato das lideranças europeias ainda viverem no século XIX, onde suas diplomacias regulavam o mundo ganhando qualquer decisão, não permitindo nenhuma opinião divergente. Lembrando que esses fatos coincidiram ainda com a crise de 1926.    
Sobre alguns olhares e pesquisas de estudiosos sobre a participação do Brasil na Liga das Nações, pode-se dizer que não foi tão bem vista como deveria ser, ainda que ressaltam pontos positivo, entretanto como a própria autora cita no artigo: “.... Caracterizam os episódios em torno da retirada brasileira da Liga como um verdadeiro fiasco, pg 104”
                                                                                   
Elementos para uma nova interpretação:         
A batalha brasileira finalmente obteve seu fim, e o fim, infelizmente, não se deu por o estimado objetivo: o assento permanente. No dia 18 de março de 1926, uma Comissão foi encarregada de estudar a composição do Conselho. Dessa comissão faziam parte os dez membros e mais cinco membros. O Brasil participou da primeira sessão de reuniões, mas não participou da segunda reunião, pois o Governo Brasileiro comunica sua retirada da Liga no dia 10 de junho de 1926.                        
Mas qual foram os principais erros do Brasil, ou da própria Liga, para a participação do Brasil se dá por fim?
Um dos pontos que a autora cita, é a falta de apoio das delegações latino-americanas ás pretensões brasileiras na Liga. Brasil sempre deixou claro a busca pela representatividade da América no Conselho, e não recebeu apoio efetivo vindo dos países latinos.            
A figura de Melo Franco, de certa maneira prejudicou o Brasil frente a Liga, pois como a autora explica, os argumentos de Franco eram incompatíveis entre si, visto a divergência de suas frases, apresentando o Brasil como substituto legitimo dos Estados Unidos e em seguida como represente natural dos países latino-americanos, deixando a contradição em que o Brasil se mostrava.           
Inevitável não citar a diplomacia como um dos pontos principais, pois era ela quem representava o País. Apesar de seus esforços, Mello Franco, Bernades e Pacheco, perderam-se em seus erros, deixando a imagem do “fiasco” brasileiro.                   
Por fim, e não menos importante, a autora cita a vontade do Brasil para um lugar no assento permanente do Conselho de Segurança da ONU. Para não cometer o mesmo erro da Liga, o Brasil e principalmente seus representes precisam estudar, analisar devidamente o que se passa no contexto internacional, e também buscar um objetivo, que não seja esse só por interesse (desejo de prestigio) ou talvez pelo voluntarismo do governo Brasileiro e Itamaraty, e sim por objetivos claros e busca da cooperação internacional, obviamente o contexto atual é diferente, mas lembrar é sempre bom.
Em relação à Liga, temos que reconhecer a participação ativa do Brasil, suas opiniões, suas ideias, tentativas de acordos, ainda que foram mais erros do que acertos, o que não dá para negar, é que infelizmente a Liga das Nações errou como um todo.
A busca pelos interesses próprios, a luta de ego, a hierarquia vinda da Europa, a crise de escolha de assentos, não representatividade de países como Espanha e Brasil, infelizmente o objetivo principal foi esquecido como a busca da reorganização, ajudaram para que o fim se culminasse.

Porém, foi um passo, um passo para tentativa de ordem e paz, que não deve ser desmerecido na história, pois abriu caminho para o surgimento de novas Instituições Internacionais, como a própria ONU.

* Larissa Helen - aluna do 4 período do Curso de Relações Internacionais do Unicuritiba. 

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