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terça-feira, 26 de novembro de 2013

Acordo Nuclear Irã-Ocidente: um realinhamento de forças?

        
As delegações norte-americana e iraniana se cumprimentam após chegarem a um acordo provisório.

*Por Andrew Patrick Traumann

Os próximos seis meses serão decisivos para o tabuleiro do Oriente Médio. O presidente norte-americano Barack Obama tem mostrado muito mais disposição á paz do que  seu antecessor George W. Bush. Primeiro cancelou um ataque que parecia iminente á Síria após a Rússia obter um acordo com o governo de Damasco e agora,contra seus principais aliados na região Arábia Saudita e Israel,e também a oposição doméstica, vem se aproximando daquele que é considerado por muitos o mais obstinado rival norte-americano: o regime islâmico de Teerã.

      

       O Acordo Nuclear anunciado na madrugada de domingo  têm sido bastante comemorado  no Irã  pela população em geral e não apenas pela liberação de fundos congelados em bancos ocidentais,mas porque o alívio nas sanções fará com que a cambaleante economia iraniana ( isolada,mesmo sendo o quarto maior produtor de petróleo do mundo) possa se recuperar. A inflação é de 39%,a moeda perdeu 75% de seu valor nos últimos 18 meses e o desemprego é altamente preocupante. Tudo isso levou o Líder Supremo Ali Khamenei a autorizar o recém-eleito  presidente Rohani a tentar negociar com o Ocidente. O urânio a  20% terá que ser diluído e toda a produção acima de 5% deve ser interrompida. A AIEA fiscalizará o cumprimento das exigências por parte de Teerã,que caso satisfeitas podem levar a um acordo definitivo em maio de 2014.

        
        Da parte israelense a desconfiança é de fácil compreensão: o Acordo permite que o Irã continue mantendo um estoque de urânio levemente enriquecido  e isso é intolerável para o governo de Netanyahu que queria um desmantelamento completo do programa nuclear iraniano . O Irã argumenta que por ser signatário do TNP (Tratado de Não-Proliferação Nuclear) desenvolver um programa nuclear pacífico é um direito inalienável. Já os sauditas, enfurecidos com o não-ataque a Síria em setembro estão ainda mais contrariados com a aproximação entre Washington e Teerã. Não só não querem ver o Irã novamente disputando o mercado petrolífero mundial, como temem que o Irã a médio e longo prazo se torne um aliado norte-americano de peso na região. Pouco provável dada a natureza do regime de Teerã e ao trauma norte-americano com a tomada da embaixada de Teerã, ainda não totalmente curado. 
      
      De todo modo, o receio de Arábia Saudita e Israel, dois países que sequer possuem relações diplomáticas, mas que hoje se unem no sentimento de traição é o mesmo: os EUA tem cada vez mais agido unilateralmente no Oriente Médio, indicando um possível realinhamento das forças da região.

*Andrew Patrick Traumann é professor de História das Relações Internacionais do UNICURITIBA e Doutor em História,Cultura e Poder pela UFPR 

Um comentário:

  1. A diplomacia estadunidense nos últimos anos vem mudando consideravelmente principalmente com a ascensão de Barack Obama a presidência dos EUA,isto em partes significa um sinal verde par a paz no Oriente Médio. De fato os EUA com toda a decadência no SI,ainda assim tem tomado ações,meio que multilateral que de certa forma tem agradado muitos Estados que não estão de acordo com suas políticas externas para os demais Estados. O Oriente Médio é um bom exemplo disso,casos como o da Síria e do próprio Irã são bons exemplos de como a política externa dos EUA,tem sido laceada e mudada com o passar dos anos. Eu creio que estas tomadas de ações dos EUA, podemos classificar isto como uma transição do Unipolar para o Multipolar,já que o unipolarismo perdeu forças pós atentados 11 de setembro de 2001.

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