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domingo, 4 de novembro de 2012

Impactos no cenário internacional marcam corrida eleitoral


Jason Reed/Reuters


Com fotografia na mão, apoiadora de Barack Obama assiste a comício do presidente americano em Pueblo, no Colorado.

Por Rafael Pons Reis

Faltam apenas dois dias para a decisão da eleição presidencial norte-americana, marcada para 06 de novembro, que decidirá qual dos dois partidos terá a maioria nas duas casas do Congresso.

Mas afinal, qual seria o significado e a repercussão dessa eleição em nível internacional? Em tese, a eleição nos Estados Unidos tem sido retratada pelos meios de comunicação em todo o mundo como um evento global, em que diversos analistas debatem sobre como a vitória de cada candidato poderia afetar a situação interna dos Estados Unidos, a política externa e o papel do país nas relações internacionais. Mesmo apresentando um relativo declínio de sua hegemonia, os Estados Unidos ainda possuem uma notável capacidade em formular e implementar respostas sistêmicas no plano internacional. Assim sendo, diante da relevância e do peso político e econômico projetados pelo país no sistema internacional, o resultado da eleição passa a ser uma variável importante e ao mesmo tempo preocupante para todos os países do mundo.

Seja qual for o resultado da eleição, são muitos os desafios que o vencedor terá pela frente, e certamente as questões econômicas ocuparão grande parte da agenda dos problemas emergenciais a serem resolvidos pela Casa Branca e pelo Congresso. O país apresenta uma situação econômica e financeira fragilizada, com o desemprego superando a marca de oito por cento, uma crescente dívida pública e um baixo desenvolvimento econômico.

Além da economia, emergem outras questões críticas relacionadas ao papel dos Estados Unidos no mundo e temas estratégicos e de segurança vitais ao país, como: a continuidade do combate ao terror em escala global; esforços em direção a não-proliferação, dando ênfase ao desmantelamento do programa nuclear do Irã e da Coreia do Norte; a delicada relação de aliança e rivalidade com a potência chinesa; no Oriente Médio, a relação com os países árabes, sobretudo com o Paquistão, Afeganistão, Palestina e Síria, e atentando-se aos desdobramentos desencadeados pela Primavera Árabe; a tentativa de gerar confiança na liderança do país na Ásia, de construir uma nova ordem liberal internacional, compartilhando mais responsabilidades e encargos com outros países, sobretudo com os países do G20 em uma possível reestruturação – em marcha lenta –  de governança global.

Além dessas questões é possível suscitar outras, tais como oferecer soluções para a saúde pública norte-americana, para a mudança climática e para as políticas energéticas, dentro de um contexto de crise econômica tanto interna, iniciada pela crise imobiliária de 2008, quanto externa, agravada pela crise da zona do Euro na União Europeia.

Assim sendo, quais seriam as possíveis implicações do resultado desta eleição para a América Latina e, em especial, para o Brasil? Segundo pesquisa internacional feita pela BBC com mais de 21 mil pessoas em 21 países, cerca de 20 países, incluindo o Brasil, México, Panamá e Peru, torcem pela reeleição de Obama. Em relação aos temas relacionados à política externa norte-americana, verificou-se que foram mínimas as diferenças entre as propostas apresentadas pelos candidatos, cujos temas gravitaram em questões mais globais, com foco na China, e as relações complicadas com países como Afeganistão, Irã e Paquistão, portanto, não atribuindo relevância para a atuação dos Estados Unidos na região hemisférica nem para a América do Sul em particular.

Seja quem for o ganhador da eleição, o Brasil dará continuidade na condução de um dos tradicionais vetores da política externa brasileira, qual seja a de manter um estável e bom relacionamento com os Estados Unidos - segundo maior partner comercial do Brasil. É importante para o Brasil não apenas reforçar os laços com este país, desde que resguardados sob o princípio da defesa do interesse nacional, mas construir caminhos que possam contribuir para melhorar substancialmente na qualidade desta relação.

A política externa do Governo Dilma vem sinalizando nesse sentido ao demonstrar um diálogo mais construtivo e participativo em relação ao governo anterior, em grande parte devido à figura de Antônio Patriota, que antes de ser o atual Ministro das Relações Exteriores, foi embaixador brasileiro em Washington, possuindo, assim, maior aderência e sensibilidade diplomática no diálogo com Estados Unidos do que seu antecessor Celso Amorim.

* Parte deste texto foi publicado no Jornal Gazeta do Povo em 04 de novembro de 2012.

Rafael Pons Reis é internacionalista, Mestre em Relações Internacionais pela UFRGS e doutorando em Sociologia Política pela UFSC. É professor do Curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Curitiba e Diretor Acadêmico do Comitê Internacionalista de Curitiba (CINC).

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