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segunda-feira, 12 de março de 2012

Centenário da Morte do Barão do Rio Branco, Patrono da Diplomacia Brasileira.


por Rafael Pons Reis



José Maria da Silva Paranhos Júnior, mais conhecido como Barão do Rio Branco, é uma das maiores e mais notáveis personalidades da História do Brasil. Foi o principal responsável pela configuração territorial do país, o que lhe rendeu o status de herói nacional. Sua morte, em 10 de fevereiro de 1912, causou grande comoção. Na edição de 11 de fevereiro do jornal Gazeta de Notícias, podia-se ler: “Dizer do Barão do Rio Branco uma rápida impressão de dor, de luto, de lágrimas, quando o país inteiro soluça é bem difícil. E sua obra foi enorme e grandiosa". As autoridades declararam luto oficial e adiaram o Carnaval de fevereiro para abril.

Juca Paranhos, como era chamado pela família, nasceu no Rio de Janeiro em 20 de abril de 1845. Aos 17 anos entrou na Faculdade de Direito de São Paulo. Ali demostrou grande interesse pela história nacional, em particular pelos feitos diplomáticos e militares na Bacia do Prata. Seus primeiros passos nos palco internacional foram dados em 1870, quando, atuando como Deputado, acompanhou seu pai, o Visconde do Rio Branco, em uma missão para negociar o tratado de paz definitivo entre Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai.

Em 1876, foi designado cônsul na cidade portuária de Liverpool, na Inglaterra. Ao longo de 20 anos de atividade consular, Rio Branco notabilizou-se por defender os interesses brasileiros em disputas de fronteiras. Sua primeira vitória nesse campo ocorreu em 1895, quando resolveu a Questão de Palmas, também conhecida como Questão das Missões, com a Argentina a favor do Brasil, assegurando ao país boa parte dos territórios que hoje conformam os Estados de Santa Catarina e do Paraná. Mais tarde, em 1898, obteve sua segunda vitória, desta vez contra a França, que reivindicava a posse do estado do Amapá. Por essas vitórias e excelente desempenho em negociações com os EUA e Suiça, Rio Branco foi representante diplomático permanente em Berlim. (FUNAG, p. 132).

Quando Rio Branco assumiu a pasta do Ministério das Relações em 1902, o país estava envolvido em mais uma disputa de fronteira, agora com a Bolívia. A assinatura do Tratado de Petrópolis, em 17 de novembro de 1903, pôs fim a um impasse de anos de negociação entre os dois países, marcados também por choques armados na fronteira e ameaça de guerra. Por meio deste acordo, o Brasil incorporou ao seu território cerca de 190 mil Km2, correspondentes ao atual Estado do Acre. Em compensação, o país comprometeu-se a pagar cerca de dois milhões de libras esterlinas, a construir uma ferrovia (a Madeira-Mamoré) e a realizar pequenas concessões territoriais. Para Viotti, o “(...) significado do Tratado, o mais importante de toda a obra de Rio Branco, como ele próprio afirmou, transcende seus objetivos imediatos ao assentar as bases de uma maior aproximação entre os dois países, por meio da integração viária” (VIOTTI, 2000, p. 188).

Além das vitórias fronteiriças, a diplomacia de Barão do Rio Branco destacou-se por aprofundar as relações do Brasil com os Estados Unidos. Em 1905, foi instalada em Washington a primeira embaixada brasileira. De forma pragmática, Rio Branco procurou estabelecer um novo eixo estratégico para a diplomacia brasileira, trocando a relação preferencial com a Grã-Bretanha pela com os EUA, então o maior comprador do café brasileiro. Rio Branco construiu uma “aliança não escrita” com os norte-americanos a fim de a contrabalancear a influência e as pretensões imperialistas dos países europeus, bem como as pressões dos vizinhos sobre o Brasil.

Em sua gestão como Ministro das Relações Exteriores (1902-1912), a segunda maior na história da diplomacia brasileira, Rio Branco buscou amealhar prestígio e reconhecimento global para o Brasil. Desse modo, em 1907, o país participou da II Conferência de Haia, tendo por delegado Rui Barbosa, que defendeu eloquentemente a igualdade jurídica entre os Estados. Complementarmente, em sua gestão registrou-se um grande aumento do número de representações do país no exterior: entre 1905 e 1911, foram criados vinte e cinco novos consulados.

Não é possível em poucas linhas dar conta de analisar a influência e o extenso legado de Barão do Rio Branco sobre a diplomacia e a sociedade brasileira. Entretanto, é certo que a presença de Juca Paranhos no panteão nacional certamente revela sua importância e relação com a construção da identidade brasileira. Nesse contexto, alguns analistas sugerem uma reflexão mais apurada sobre a vinculação em torno da força do mito de Rio Branco como um “fundador” da nacionalidade brasileira, “a disputar espaço importante na memória e no imaginário como um dos formadores da nação brasileira.” (ALMEIDA, 2010). Por fim, ressaltamos aqui a necessidade de conhecer e compreender melhor um estudo pouco explorado na literatura especializada, qual seja, o processo da construção da imagem que o povo faz de si mesmo, a ideia da nação e da identidade do país a partir da política externa do Brasil.

Rafael Pons Reis é Doutorando em Sociologia Política pela UFSC, Mestre em Relações Internacionais pela UFRGS, professor do Curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Curitiba. O autor gostaria de agradecer à George Sturaro por seus comentários e sugestões no texto.


ABREU, A. A; LAMARÃO, Sérgio. Personalidades da Política Externa Brasileira. Brasília: Fundação Alexandre Gusmão, 2007.
ALMEIDA, P. R. de. O Dia em que Adiaram o Carnaval: Barão do Rio Branco - livro de Luiz Claudio Villafane Gomes Santos. Diplomatizzando, 31 out. 2010. Disponível em: <http://diplomatizzando.blogspot.com/2010/10/o-dia-em-que-adiaram-o-carnaval-barao.html>. Acesso em: 05 mar. 2012.
LINS, Álvaro. Rio Branco (Biografia). Editora Alfa-Omega / FUNAG. São Paulo, 1995.
RICUPERO, Rubens. José Maria da Silva Paranhos, Bardo do Rio Branco, uma biografia. Fotográfica 1845-1995. FUNAG. 1995. 
VOTTI, Maria Luiza Ribeiro. As relações Brasil-Bolívia sob o signo da cooperação energética (1930-1990). In: ALBUQUERQUE, José Augusto Guilhon (Org.) Sessenta anos de política externa brasileira (1930-1990): o desafio geoestratégico. v. 3. São Paulo: 2000.

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