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terça-feira, 7 de novembro de 2023

Entrevista Marcelo Grendel

 


Entrevista e transcrição realizada por Laurielle; Revisado por Nathaly

Como você se chama?

Marcelo Grendel Guimarães.

 

Qual é a sua formação acadêmica?

Me formei em Administração de Empresas e Comércio Exterior, realizei uma Pós-Graduação em Comércio Exterior, Negócios Internacionais e também fiz um Mestrado em Gerenciamento de Negócios Internacionais.  


Quais são suas ocupações atualmente?

 Encontro-me há 23 anos no Magistério Superior e atuo como professor na Unicuritiba há 20 anos. Também tenho uma empresa de equipamentos eletrônicos que fabrica equipamentos de sinalização náutica, envolvendo importação, venda no mercado interno e exportações. Presto consultoria, principalmente em eletrônica e internacionalização de empresas; e também atuo no Consulado Honorário de Bangladesh.  

 

Como o senhor se tornou professor na Unicuritiba?  

Minha trajetória profissional começou nos EUA, onde concluí meu mestrado e, embora inicialmente visasse o comércio exterior, acabei lecionando na Florida International University, na área de logística - devido a dificuldades econômicas após o 11 de setembro. Eventualmente, retornei ao Brasil e lecionei por nove anos em comércio exterior antes de assumir um cargo no curso de relações internacionais.  

 

Existe algum momento na sala de aula que te faça pensar que é gratificante ensinar? 

Minha dedicação à educação é motivada pelo desejo de promover o comércio exterior no Brasil e pelo impacto positivo que a educação pode ter. Acredito que a educação é uma ferramenta para o crescimento no mercado internacional.  

Fico satisfeito quando os alunos lembram das minhas aulas e tomam decisões que os beneficiam em suas carreiras. Minha própria jornada para o comércio exterior começou de forma inesperada, mudando da carreira médica para seguir a influência do meu pai na área de comércio exterior. 

Além disso, descobri que muitos compartilham uma trajetória similar de transição para o comércio exterior a partir de carreiras iniciais diversas, o que mostra a versatilidade do campo. Também destaco a importância da experiência prática no mercado de trabalho e a influência positiva de professores que fornecem ferramentas para resolver problemas cotidianos.  

 

Quando seu interesse em ser um profissional de comércio exterior surgiu? 

Meu mestrado no exterior expandiu meus horizontes, enfatizando a importância do relacionamento interpessoal e da compreensão das diferenças culturais em negócios internacionais.  

Durante minha carreira, tive a oportunidade de viajar para 35 países, focando principalmente na cultura e na negociação com base em aspectos culturais. Sempre que viajo, reservo um tempo para estudar a cultura local, observando como as pessoas vivem, comem e trabalham. Uma prática interessante que adotei foi pegar um táxi e dar uma volta sem destino certo, o que me permitia obter uma visão real da economia e política de um país.  

Ao longo de minha jornada, aprendi a superar meu medo de matemática e a lidar com números, habilidades essenciais no comércio exterior. O conhecimento de matemática financeira, assim como a habilidade de operar o Excel, tornaram-se cruciais para o sucesso em meu campo de atuação. Além disso, o domínio do inglês provou ser fundamental para a comunicação internacional.  

No geral, minha jornada me ensinou que a flexibilidade e a busca constante de conhecimento são essenciais. Embora o início de minha carreira tenha sido inesperado, encontrei minha paixão no comércio exterior e na educação, e estou comprometido em ajudar os alunos a descobrirem seu próprio caminho.  

A capacidade de adaptar-se e abrir novas portas é essencial na carreira de comércio exterior. Por exemplo, engenheiros civis que decidem trabalhar com exportação de materiais industriais demonstram como é importante ser flexível e explorar oportunidades onde quer que elas surjam. Nem sempre você consegue seguir um caminho linear, mas, muitas vezes, ao abrirmos portas alternativas, encontramos novas paixões e caminhos surpreendentes.  

A experiência durante minha formação acadêmica foi valiosa. Minha faculdade me proporcionou uma boa base e me deixou bem classificado ao final do curso. No entanto, ao iniciar minha pós-graduação, percebi que havia muito mais a aprender. Foram sete anos para concluir a primeira pós-graduação, e quando finalmente me formei, senti uma carência de vivência prática no mercado de trabalho. Nessa fase, enxerguei meus professores como mentores e percebi que, embora a teoria fosse importante, a aplicação prática do conhecimento era fundamental.  

Após minha pós-graduação, decidi realizar meu mestrado no exterior, o que expandiu minha mente de maneiras incríveis. Ter contato com estrangeiros, sentar-me à mesa com pessoas de diferentes culturas e países e vivenciar a diversidade do mundo me ensinou a importância do relacionamento interpessoal e da negociação baseada em aspectos culturais em negócios internacionais.  

 

Quais aptidões e conhecimentos desenvolvidos ao longo de sua vida acadêmica que mais ajudaram em sua profissão?  

Operar bem o Excel e criar fórmulas, planilhas era essencial no meu trabalho. Passei 15 anos usando o Excel para gerenciar minha empresa, lidando com estoques, compras, preços e impostos. Minhas habilidades com números se tornaram valiosas. Hoje, até brinco com meus alunos e digo: Façam curso de matemática financeira, porque entender porcentagens e juros, fazem toda a diferença nos negócios.  

Quando se trata do meu domínio da língua inglesa, foi uma jornada interessante. A princípio, relutei em aprender o idioma e, aos 30 anos, finalmente me dediquei a dominá-lo. Tive que aprender rapidamente pois após minha graduação recebi uma oportunidade da faculdade nos Estados Unidos, e eu somente precisava realizar um teste em inglês. Adotei uma abordagem autodidata e, em seis meses, estava falando inglês.  

Dominar o inglês foi um divisor de águas na minha carreira. Isso me permitiu trabalhar com a internacionalização de empresas, viajar e participar de feiras no exterior. Aprendi que a comunicação é mais importante do que a gramática quando se trata de aprender um idioma, e você não deve se bloquear por medo de cometer erros. É uma via de mão dupla, pois os estrangeiros também entendem que você está fazendo um esforço para falar a língua deles.  

Hoje, estou confiante em minha capacidade de falar inglês, embora eu ainda tenha um sotaque característico. Isso não me impede de me comunicar eficazmente e alcançar meus objetivos internacionais.  

Sobre a importância de buscar conhecimento e formação, minha experiência me mostrou que até os 30 anos é o período em que a maioria das pessoas adquire conhecimento e experiência. Depois disso, as oportunidades começam a surgir, mas é essencial investir em educação desde cedo. Alguém que escolhe um emprego melhor a curto prazo, em vez de investir em sua educação, pode estagnar sua carreira quando chegar a hora de promoções, porque lhe faltará a base educacional necessária.  

 

Quais orientações o senhor daria tanto para os alunos de Relações Internacionais, quanto para os de Comércio Exterior? 

Quando eu entrei na faculdade de comércio exterior, as pessoas me perguntavam: O que faz um profissional de comércio exterior? Às vezes me perguntava o que estava fazendo neste curso, então coloquei na minha cabeça que queria trabalhar nesta área e comecei a persistir e insistir até conseguir.  

Essa experiência me ensinou que as oportunidades nem sempre são dadas de bandeja, no entanto, se você persistir e se dedicar aos seus objetivos, pode alcançá-los, mesmo que seja necessário abrir mão de algumas coisas. Além disso, é essencial investir em educação.  

Resumindo, minha jornada acadêmica e profissional enfatiza a importância da flexibilidade, aprendizado contínuo e compreensão das culturas na carreira de comércio exterior e na educação. Inicialmente, enfrentei dificuldades com a matemática, mas com o tempo, desenvolvi habilidades em planilhas de Excel e matemática financeira, o que foi essencial na gestão de minha empresa e na educação. Além disso, o domínio do inglês tornou-se crucial para a comunicação internacional e negociações. Compartilho essas experiências com meus alunos, preparando-os para desafios globais e capacitando-os para ter sucesso em um mundo interconectado.  

 


Como o senhor se tornou cônsul de Bangladesh?  

Tudo começou com a professora Patrícia, que era coordenadora do curso de Relações Internacionais na Unicuritiba, então num certo dia, ela me pediu um favor, pois a embaixadora de Bangladesh estava vindo a Curitiba para dar uma palestra na faculdade e perguntou se eu poderia buscá-la no aeroporto. Aceitei a tarefa e fiquei ansioso para conhecê-la. Quando soube que era de Bangladesh, decidi pesquisar sobre a cultura desse país, pois era importante saber como tratá-la. Descobri que Bangladesh é um país muçulmano e fiquei um pouco nervoso, pois não sabia como me comportar ao receber uma embaixadora muçulmana.  

Fui ao aeroporto com um cartaz escrito "Bangladesh" e esperei ansiosamente pela chegada dela. Quando ela apareceu, me surpreendi, pois não era o que eu esperava. Ela estava vestindo calça jeans e uma camiseta branca simples. Ela se apresentou e começamos a conversar em inglês. Fui educado e ofereci para carregar sua mala, mas ela recusou, e além disso, preferiu se sentar no banco da frente do carro. Durante o trajeto até a faculdade, ela me contou sobre Bangladesh e como o país é muçulmano, mas também laico, com uma grande representação feminina na política, incluindo uma primeira-ministra. Eles até tiveram um caso de sucesso com o prêmio Nobel relacionado ao microcrédito.  

Levei ela para conhecer a cidade, e quando ela retornou a Brasília, me pediu para realizar umas pesquisas de mercado, e eu fui realizando, assim que terminou o mandato dela e a mesma regressou a Bangladesh, ela me perguntou sobre o que eu achava dela realizar uma indicação minha para ser um representante no Brasil de Bangladesh. Esse processo iniciou em 2018, e durante esse tempo estudei sobre a história, a política e cultura do país. Primeiramente, me tornei Cônsul designado, e após 5 anos, com muitos trâmites documentais, fui nomeado Cônsul Honorário de Bangladesh, onde a embaixadora me chamou até Brasília para realizar a entrega da carta patente assinada pelo ministro e oficialmente me tornei Cônsul.  

 

Quais são suas responsabilidades como cônsul honorário? 

A minha função principal como cônsul honorário é divulgar Bangladesh no Brasil. Faço palestras em escolas, participo de eventos e procuro despertar a curiosidade das pessoas sobre o país. Além disso, trabalho no desenvolvimento de parcerias educacionais, como intercâmbios de curta duração, e também parcerias comerciais, ligando empresários brasileiros e de Bangladesh.  

 

Existe algum momento ou experiência durante sua carreira como Cônsul que te marcou de alguma forma? 

Uma das experiências mais marcantes da minha carreira foi estudar a história de Bangladesh. A história desse país é repleta de sofrimento, e quando conto essa história em palestras, às vezes me emociono. É incrível como esse povo superou desafios e conseguiu prosperar.  

É importante destacar que meu trabalho como cônsul honorário é dedicado a fortalecer os laços entre o Brasil e Bangladesh e a promover o entendimento mútuo entre essas duas nações. Bangladesh é um país com uma história rica e um potencial significativo, e estou empenhado em contribuir para o desenvolvimento das relações entre nossos países.  

 

O senhor teria alguma indicação de livros ou filmes?  

Um dos livros que eu mais gosto, que inclusive utilizei como tema do meu mestrado, foi o “Software of the mind”, de Geert Hofstede. Esse autor fez uma pesquisa em 68 países e descobriu que certos problemas eram resolvidos de acordo com a orientação cultural de cada povo, com isso, ele compilou dados para auxiliar no entendimento de diferentes culturas.

Um filme que eu utilizo muito nas aulas de negociação é os “Treze dias que abalaram o mundo”, onde conta a história da Crise dos Mísseis em Cuba, tendo em vista que ele traz muito conteúdo relacionado a negociações.



Um comentário:

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