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segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Por Onde Anda: Bruno Hendler, professor adjunto e coordenador do curso de Relações Internacionais na Universidade Federal de Santa Maria

 


Nome Completo: Bruno Hendler
Ano de ingresso no curso de Relações Internacionais: 2007
Ano de conclusão do curso de Relações Internacionais: 2010
Ocupação atual: Professor adjunto e coordenador do curso de Relações Internacionais na Universidade Federal de Santa Maria
Cidade em que reside: Santa Maria/RS

Blog Internacionalize-se: Conte-nos um pouco sobre sua trajetória profissional.
Bruno: “Sou graduado em Relações Internacionais pelo Unicuritiba, mestre em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e Doutor em Economia Política pela UFRJ. Durante o mestrado eu passei um mês como pesquisador visitante na Johns Hopkins University, no departamento de sociologia e no doutorado fiquei quatro meses na Renmin University, que é uma das principais universidades em Pequim, na China. Atualmente eu sou professor da graduação e da pós-graduação da Universidade Federal de Santa Maria, e eu também coordeno o curso de Relações Internacionais nesta instituição. É também relevante lembrar que passei dois anos no Unicuritiba como professor da casa.”

Blog Internacionalize-se: Quando tomou a decisão de seguir a carreira acadêmica? Como se preparou durante a graduação em Relações Internacionais para essa escolha?
Bruno: “Antes de decidir pela carreira acadêmica eu fui experimentando outras coisas, acho que esse é o segredo para os alunos de graduação: você ampliar o máximo possível o leque de oportunidades e de experiências que você tem, e com o passar do tempo você vai descobrindo suas principais afinidades e aquilo que você é bom e o que você não é tão bom.

Durante a graduação eu fiz estágio numa Trading de exportação de madeira, trabalhei na Câmara Americana de Comércio, e aí eu fui gradualmente sentindo que tinha vocação para a carreira acadêmica. Ao longo da graduação eu passei dois anos dando aula num cursinho beneficente, chamado Creação e vinculado ao CREA, onde eu dei aula de história moderna e contemporânea, ali eu tive certeza que trabalhar com ensino e sala de aula era o que eu queria - no cursinho eu descobri e senti um pouco da importância social que o professor tem, para preparar os alunos, não só para o mercado de trabalho, mas como seres humanos, como seres pensantes. Eu também trabalhei em eventos internacionais que aconteceram em Curitiba na época que eu estava na graduação, eventos do Mercosul, da ONU, a COP.

Eu também cursei um ano de história da UFPR junto com a graduação de RI, e isso foi bem importante para minha pesquisa que viria depois. Assim fui me preparando, me envolvi em grupos de iniciação científica, o tema de TCC que construí já fiz pensando em como amarrar para uma possível pesquisa de mestrado, e participei de eventos acadêmicos - quando você vai amadurecendo você vai vendo, eu hoje que sou doutor vejo que publicações escritas valem muito mais que eventos acadêmicos, em termos profissionais, porém quando você está construindo seu caminho de pesquisa, participar de encontros acadêmicos é fundamental, inclusive de ser cara de pau e entrar em contato com os grandes pesquisadores da tua linha de pesquisa, pedir dicas, indicações, falar sobre sua própria pesquisa, ouvir críticas. Então eu diria que me preparei ao buscar coisas diferentes do que eu imaginava, fazendo testes e buscando nos diversos campos de atuação em RI, e quando eu decidi pela carreira acadêmica, fui construindo o caminho com iniciação científica, eventos.”

Blog Internacionalize-se: Como é o dia a dia no teu trabalho?
Bruno: “Bom, existe o antes e o depois da pandemia, né? As atividades como coordenador tem um lado burocrático e um lado de pensar em longo prazo. O lado burocrático é despacho, processo, revalidação de diplomas do exterior, assinaturas de certificados de alunos - não é nada muito emocionante. Mas o segundo aspecto é interessante, que é pensar na reestruturação das disciplinas com base nas diretrizes do MEC, fazer o rastreamento dos egressos, para entender como os nossos alunos estão se inserindo no mercado de trabalho, pensar também em mecanismo de auto-avaliação das disciplinas.
Além da gestão, tem também os trabalhos mais convencionais da docência (que são o ensino, a pesquisa e a extensão): eu leciono duas disciplinas por semestre na graduação e alterno com uma disciplina no mestrado em RI, também faço a orientação (que gosto muito) de TCC e dissertações de mestrado, e relativo com o TCC tenho também um grupo de pesquisa em Ásia Pacífico, que estuda a ascensão da China, ou do Ásia Oriental, a partir de uma perspectiva da economia internacional - e os grupos de pesquisas são muito interessantes e muito valiosos para quem tá começando, e a ideia é essa escadinha, de colocar para trabalhar graduandos, mestrandos, doutorandos, e professores para orientar os trabalhos de pesquisa.

E também temos a parte de extensão, com a comunidade, de cursos beneficentes (que os alunos aqui tocam), projeto de carreiras internacionais - que é exatamente para trazer profissionais de RI para conversas com nossos alunos - tem também o pessoal que faz o trabalho com a região de fronteira, e trabalha com comunidades locais e humildes nessa região de fronteira. Enfim, o dia a dia, ainda que as atividades de gestão sejam mais burocráticas, as atividades de pesquisa e de ensino principalmente, me agradam muito e eu me sinto muito realizado pela carreira em que segui.” 

Blog Internacionalize-se: Quais as aptidões e conhecimentos desenvolvidos no curso de Relações Internacionais que mais o ajudam na sua carreira atualmente?
Bruno: “Em primeiro lugar eu acho que é pensar os problemas de forma sistêmica e multidisciplinar, que é a vocação do curso de Relações Internacionais. Junto com isso são bem importantes as atividades de simulação de organismos internacionais, que trazem as habilidades de negociação, de busca de consenso, de empatia, de entender os interesses e as posições da sua contraparte de negociação - essas foram as habilidades que eu desenvolvi ao longo do curso, né? 
E além disso, o pensamento crítico e científico. Os professores que eu tive aí no Unicuritiba e depois nas pós-graduações foram muito importantes para pensar a realidade de uma forma mais objetiva possível e de forma crítica a origem das RIs como disciplina é essencialmente norte-americana, então é muito interessante como a gente do Sul global tem que subverter um pouco os princípios que a gente aprende a partir do viés norte-americano e trazer para a nossa realidade.” 

Blog Internacionalize-se: Qual foi a experiência mais desafiadora que já teve profissionalmente?
Bruno: “Acho que o primeiro grande desafio para mim foi na graduação mesmo, identificar que a minha vocação era a carreira acadêmica. Há muitos preconceitos em relação a isso, a desvalorização, tanto salarial como social da carreira do professor, e todos os desafios que envolvem a pesquisa no Brasil, né? A falta de condições de trabalho, o pesquisador e pós-graduando não ser visto como trabalhador, mas como um estudante - como se ser cientista não fosse uma carreira, não fosse uma profissão. Então no final da graduação para o mestrado, em termos pessoais, foi muito desafiante isso de reconhecer e estar seguro dessa opção acadêmica, mas com o passar do tempo fui vendo como é maravilhoso, e que os perrengues são muito poucos, ainda que a gente precise avançar em muitos setores, é uma carreira maravilhosa.
Em termos profissionais, de pesquisa, o principal desafio que eu tive foi fazer a minha pesquisa e cumprir com o que eu me propus, que foi estudar a ascensão da China e compreender a sociedade chinesa. É muito desafiante você conseguir penetrar na academia chinesa, nos principais centros de pesquisas, com os pesquisadores, é tudo muito diferente. Até hoje é um desafio que eu não superei totalmente, mas viver na China por quatro meses, como estudante, entendendo a cultura e os meandros da política e da economia da China, com professores chineses, e estando imerso na cultura chinesa foi, e continua sendo, um dos grandes desafios da minha carreira - principalmente para tentar trazer um pouco dessa experiência, dos contatos e da minha pesquisa para gestar aqui no Brasil o pensamento crítico sobre como lidar com a ascensão da China.” 

Blog Internacionalize-se: Qual a lembrança mais marcante do período de faculdade?
Bruno: “A primeira lembrança, que não é bem uma lembrança em si, mas é o convívio com os colegas e os professores, e o ótimo nível das aulas e de conteúdo que a gente teve - você sabe bem que no começo tinha algumas lacunas na grade, mas ao longo do tempo as coisas foram melhorando bastante e eu acho que me marcou muito essa fase das aulas mesmo. Como eu já sabia que queria ser professor, eu sempre buscava entender os pontos fortes dos professores, quais métodos deles estavam sendo bem utilizados e bem aproveitados pela turma, quais não eram tão legais, e eu pensava: ‘quando eu for professor, acho que eu mudaria isso, ou me inspiraria nisso, naquilo’. Enfim, a lembrança mais marcante é essa, eu podendo entender o jeito de cada professor e utilizando aquilo pro momento em que eu me tornasse professor.
Mas um segundo momento, de forma mais objetiva, foi a participação nas simulações. Eu adora as simulações de organismos internacionais - eu já representei a Rússia, a Venezuela, os Estados Unidos, enfim... Eram momentos de confraternização e de aprendizado na prática, de como as coisas funcionam.” 

Blog Internacionalize-se: Qual conselho deixaria para os nossos alunos, em especial para aqueles que ainda estão em dúvida quanto ao futuro profissional?
Bruno: “Eu diria que não é uma forma tão objetiva e clara, mas aproveite os dois primeiros anos da faculdade para experimentar de tudo em termos acadêmicos. Não diga não a nada, tudo que aparecer tope, abrace, vá e faça, experimente, que então aos poucos você começa a se descobrir e a entender quais são as suas aptidões, suas vocações, suas habilidades, inclusive seus defeitos, suas lacunas. 
Então eu diria que aproveitem o começo da faculdade para isso, para experimentar todas as possibilidades que aparecerem dentro da carreira de RI, e quando você for chegando mais para o final da faculdade, aí é a hora de começar a afunilar, a se dedicar, não só no TCC, mas àquilo que você foi acumulando ao longos dos anos na faculdade. Se dedicar ao estágio numa área que você descobriu que você tem mais afinidade, fazer um intercâmbio pela Universidade mesmo, ou não - e no caso da carreira acadêmica, que é o meu caso, se você tem interesse, se você participou de grupo de pesquisa, de iniciação científica ou mesmo de simulações e acha que tem vocação para pesquisa, comece já a utilizar o que você estudou nas disciplinas para pensar num tema de TCC que seja também útil, válido e apto para continuar como um projeto de mestrado. Vá atrás dos professores, tente descobrir quais são as correntes de debate de pesquisa dentro do tema que você tá estudando, entre em contato com os professores medalhões - porque às vezes a cara de pau compensa, foi assim que eu consegui estágio na Johns Hopkins, consegui ir pra China, é você dando a cara a tapa, você entrando em contato com as pessoas que estão mais a sua frente.” 

Blog Internacionalize-se: Gostaria de acrescentar mais alguma informação?
Bruno: “Sobre ser acadêmico, eu diria que é muito gratificante. Eu no começo tinha esse dilema, essa coisa de ‘um engenheiro constrói uma ponte, um médico salva uma vida, e professor, faz o quê?’ Mas o legado do professor não é material, ele é imaterial. Então eu acho que talvez seja a carreira mais importante, porque você molda a forma como outras carreiras são, e o internacionalista molda a forma como as pessoas vão ver o mundo, e é um legado imaterial essa coisa de pensar a partir de uma forma científica, de pensar a partir de um viés crítico, e isso é o que molda a cabeça das pessoas. Por isso eu acho que essa carreira é tão importante e precisa tanto de pessoas preocupadas e até um pouco idealistas, para tornar o mundo um lugar melhor.” 

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