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quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Tik Tok: a dança das tensões entre China e Índia


Por Laura Marrie 

 

O aplicativo de vídeos TikTok viralizou aqui no Brasil durante o isolamento social que a crise do Covid-19 causou, e tem sido a nova febre não somente entre os adolescentes. O aplicativo chinês apresenta muito bem conteúdos de relevância para o usuário, trazendo as trends de danças, moda e comédia, além de ser usado como ferramenta de trabalho e divulgação de diferentes tipos de conteúdo.

Na Índia não foi diferente. O aplicativo tinha um número excepcional de usuários no segundo país mais populoso do mundo: cerca de 120 milhões, o que representava quase 30% dos usuários do TikTok. Mas é exatamente com a relevância que os problemas começam a surgir. Depois da ameaça de Donald Trump, em agosto deste ano, e do banimento do aplicativo TikTok pelo governo indiano em junho, o país agora anunciou a extensão da proibição de outros 118 aplicativos chineses. Segundo o Ministro de Relações exteriores da Índia, o banimento dos aplicativos foi baseado “no interesse de soberania e integridade da Índia, na defesa da Índia e segurança do Estado. E utilizando dos poderes de soberania, o governo da Índia decidiu bloquear o uso de certos apps”.

Os banimentos mais recentes aconteceram um dia após o Ministério das Relações Exteriores indiano acusar a China de “ações provocativas” na fronteira do Himalaia. A primeira leva de proibições também aconteceu em meio ao agravamento nas tensões entre os países, em junho, quando houve um enfrentamento entre soldados de ambos países na citada fronteira, deixando 20 mortos. A área em questão fica exatamente na fronteira entre os dois países, na região da Caxemira, objeto de disputa entre a China, a Índia e o Paquistão. As tensões no vale de Galwan têm se deteriorado desde o começo do ano, sendo que muitos incidentes entre as patrulhas dos países têm sido registrados. 

A inquietação na região é histórica. Desde os anos 1950, a China se recusa a reconhecer as fronteiras resultantes da era colonial britânica, e desde então os países se acusam de invasão. Apesar de não haver um acordo sobre a região, a questão tem se mantido em relativa estabilidade, não havendo registro de mortes relativas ao impasse em mais de 40 anos — até este ano. Ademais, os países têm se empenhado em construir uma infraestrutura para apoiar os patrulheiros: a construção de estradas na região sob o governo de Narendra Modi tem previsão de término em dezembro de 2022, da mesma forma a China vem construindo estradas e infraestrutura na área, uma vez que conecta sua Província de Xinjiang ao oeste do Tibete. Além dessas questões, é interessante relembrar que em agosto de 2019 a Índia retirou a relativa autonomia de Jammu e Caxemira, remodelando o mapa da reformulou o mapa da região, sendo tal ação referida como hostil pela China. 

A questão é que, assim como os vídeos no TikTok, as provocações entre Índia e China têm seus picos de relevância. Apesar de constituir uma questão complexa, podemos dizer que os conflitos na região precisam ser muito mais profundos para abalar seriamente as relações entre os países. Isso porque, apesar das tensões, os países têm mantido diálogo e parecem dispostos a manter a situação estabilizada. Ainda em junho, oficiais militares de ambos países se reuniram para discutir a questão, da mesma forma, nesta semana, o Chefe do exército indiano afirmou que acredita o problema da fronteira pode ser resolvido através de conversas. Além disso, os dois países vêm dizendo repetidamente que estão interessados em negociações para resolver a questão, e reuniões com oficiais militares têm acontecido vários dias nesta semana ao sul do lago Pangong Tso, onde ocorreu a última erupção, como afirmado pela Al Jazeera. É claro que prever acontecimentos no Sistema Internacional é sempre muito incerto, por isso vale acompanhar os eventos envolvendo os países. Quem sabe o que pode acontecer com a próxima trend, não é mesmo?

 

Referências:

China e Índia: o que há por trás da escalada de tensão que deixou 20 soldados mortos em choque na fronteira. G1, 16 de junho de 2020. Disponível em: <https://g1.globo.com/mundo/noticia/2020/06/16/china-e-india-o-que-ha-por-tras-da-escalada-de-tensao-que-deixou-20-soldados-mortos-em-choque-na-fronteira.ghtml>.

Depois de TikTok, Índia proíbe mais 100 aplicativos chineses. G1, 2 de setembro de 2020. Disponível em: <https://g1.globo.com/economia/tecnologia/noticia/2020/09/02/depois-de-tiktok-india-proibe-mais-100-aplicativos-chineses.ghtml>.

India army chief says talks can resolve border row with China. Al Jazeera, 4 de setembro de 2020. Disponível em: <https://www.aljazeera.com/news/2020/09/india-army-chief-talks-resolve-border-row-china-200904074507962.html>.

Índia proíbe TikTok e outros 58 aplicativos em meio a crescente sentimento anti-China e conflitos na fronteira.Global Voices, 8 de agosto de 2020. Disponível em: <https://pt.globalvoices.org/2020/08/08/india-proibe-tiktok-e-outros-58-aplicativos-em-meio-a-crescente-sentimento-anti-china-e-conflitos-na-fronteira/>.

Trump assina ordens que podem banir aplicativos chineses TikTok e WeChat dos EUA em 45 dias caso não sejam vendidos. G1, 6 de agosto de 2020. Disponível em: <https://g1.globo.com/economia/tecnologia/noticia/2020/08/06/trump-assina-ordens-banindo-aplicativos-tiktok-e-wechat-dos-eua-em-45-dias.ghtml>.

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