Páginas

sexta-feira, 6 de março de 2020

Resumão: O que aconteceu enquanto você estava de férias?




Por Ligia Penia, Manuela Paola, Maria Leticia Cornassini e Vinicius Canabrava



O relaxamento acadêmico do final do ano foi um mergulho entre várias tensões políticas: um quase “fim do mundo” nuclear, um possível fim virótico, repressões religiosas, protestos em Hong Kong, Líbano, Índia, perfeito para um post polêmico com updates de algumas situações de grande impacto que aconteceram no período.

CORONAVÍRUS
O coronavírus, vírus que está assustando a comunidade global como a mais nova emergência internacional, é uma classe virótica antiga que afeta a capacidade respiratória; apesar de antigo, foi nos últimos meses que a proporção e evolução de contágio se intensificou, vinda de uma variação originada na China, a partir do contato com algum animal. Foi no início deste ano, entretanto, que a primeira morte ocorreu.
Hoje, o contágio pode acontecer a partir do consumo de algum animal silvestre, mas também a partir das pessoas infectadas. As pessoas mais vulneráveis são as com mais idade e algum outro problema de saúde, o que as faz ficarem mais frágeis.
Relativas ao vírus, entretanto, estão diversas fake news e desproporcionalidades; vários casos de violência estão acontecendo às pessoas com traços orientais, com discursos de ódio e violência física, que foi o que motivou a criação da hashtag #JeNeSuisPasUnVirus (Eu não sou um vírus), uma vez que a epidemia -  apesar de ter se originado na China – não pode servir para desumanizar nacionais chineses, além dos traços serem confundidos com pessoas de outras origens (Vietnã, Japão, Coréia…).

EUA X IRÃ
          Logo após a virada de 2019 para 2020, o mundo ficou paralisado com a possibilidade de uma Terceira Guerra Mundial - o que, de fato, é muito difícil de acontecer. No dia 2 janeiro, um ataque aéreo foi autorizado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para acontecer em Bagdá, na capital do Iraque. O ataque ocasionou a morte do general Qassem Soleimani, um dos homens mais poderosos do Irã. O general comandava a força Al Quds, uma unidade especial da Guarda Revolucionária, o que significava que Soleimani estava por trás de toda estratégia geopolítica e militar do país. As relações entre os dois países esfriaram ainda mais após esses assassinato, levando o aiatolá Ali Khamenei - um dos principais líderes iranianos - falar sobre vingança. A retaliação foi uma série de mísseis em bases aéreas americanas no Iraque, sem vítimas fatais.

BREXIT
          O BREXIT - saída do Reino Unido da União Europeia – é uma história longa, que começou pouco de três anos atrás. O Reino Unido ingressou no bloco em 1973, quando ainda era chamada de Comunidade Econômica Europeia. Em 2016, 52% da população decidiu, em um plebiscito, que o país deveria deixar o bloco. De acordo com o Tratado de Lisboa, o desligamento deve ser feito 2 anos depois do comunicado. No entanto, em 2019, a primeira-ministra Theresa May ainda estava fazendo acordos de saída, quando 3 deles foram rejeitados pelo Parlamento do Reino Unido. Antes de conseguir um acordo, May deixou o posto de primeira-ministra. Em seu lugar, Boris Johnson foi eleito, prometendo conseguir o Brexit com ou sem acordo. Coincidência ou não, o Parlamento Britânico aprovou uma lei que impedia a saída da União Europeia sem um acordo. O bloco deu um novo prazo para o desmembramento: 31 de janeiro de 2020. Como os parlamentares não chegavam a um consenso sobre a polêmica, Johnson fez uma jogada audaciosa: convocou novas eleições gerais. Vencendo com a maioria avassaladora, ele colocou o parlamento ao seu lado e aprovou o acordo de retirada. Até o dia 31 de dezembro de 2020, ocorrerá o período de transição, necessário para que o Reino Unido e a União Europeia negociem um novo acordo de livre comércio. Durante esse tempo, o país seguirá as mesmas regras da UE, assim como sua relação comercial permanecerá a mesma.

IMPEACHMENT DO TRUMP

Teve fim o processo de impeachment do Presidente Donald Trump. Em dezembro, a Câmara dos Deputados dos EUA aprovou que duas acusações fossem feitas contra ao Presidente norte americano, uma por abuso de poder, e a outra por obstrução de Congresso. Figurando como o terceiro presidente do país e ser réu de um processo de impeachment, Trump foi acusado de pressionar o Governo da Ucrânia a investigar seu possível adversário nas eleições de 2020 e de proibir algumas pessoas a prestar depoimentos ao Congresso. Contudo, quando o processo prosseguiu para o Senado norte americano, muitos já sabiam que o resultado seria favorável ao atual presidente. De fato, o Presidente Trump sai deste processo mantendo seu cargo e com as acusações contra ele derrubadas. Muitos apontam, por outro lado, que o processo pode trazer consequências negativas para a tentativa de reeleição de Trump.

HONG KONG

Em Hong Kong a tensão começou ainda em abril de 2019 quando o projeto de lei que propôs possível a extradição de pessoas condenadas por certos crimes para a China. O medo, desde então, foi da forte repressão e dos julgamentos arbitrários e injustos. O projeto foi retirado, mas as manifestações continuaram, em busca de outros pontos, tal como a possibilidade de escolha do chefe executivo localmente.
Hong Kong tem suas peculiaridades por conta de ter sido, por longo tempo, colônia britânica desvinculada da China. Apesar de hoje estarem vinculados novamente, o sistema ainda é diferente, com maiores liberdades e direitos, tudo isso dentro do prazo estipulado na união acordada, sendo que assim que ele acabar, estarão vinculados inclusive politicamente. O prazo ainda não acabou, o que não impediu o governo chinês de propor o projeto, e de ser o responsável por escolher o líder político na região.
Fato é que esse jogo de controle e liberdade esteve, apesar de pouco falado, movimentando milhares de pessoas em protestos e muitos confrontos.




INCÊNDIO NA AUSTRÁLIA

Os incêndios na Austrália foram alarmantes: pela extensão da destruição, totalizando uma área maior que a de vários países, morte de pessoas e 1 bilhão de animais, além da destruição de casas, redes de energia. Os incêndios começaram em setembro, com a combinação da alta temperatura, da seca e fortes ventos. Mesmo as cidades não afetadas foram tomadas pela fumaça e cinzas. Diversas personalidades fizeram grandes doações para ajudar na contenção do incêndio. Os incêndios continuam e podem ser acompanhados a partir da plataforma “MyFireWatch”  criada a partir da parceria entre o Landgate (departamento do governo australiano voltado à terra) e a universidade Edith Cowan.

OMC
Dezembro marcou o início das férias e também o fim da atuação -sem tempo definido para retorno- do Órgão de Apelação da Organização Mundial do Comércio. O encerramento das atividades vem após um longo período de turbulência dentro da Organização, em que uma das maiores partes, os Estados Unidos vem fazendo ataques à sua existência desde 2017, o início do mandato Trump. Apesar de outros  mecanismos de solução de controvérsias da OMC continuarem funcionando, o fechamento do Órgão de Apelação põe fim à possibilidade dos países de levarem suas causas à segunda instância.
 O fechamento, ao contrário do que pode se pensar, não decorreu de problemas financeiros, e sim, pela falta de juízes. Ocorre que, mesmo tendo espaço para a contratação de 7 juízes, são necessários somente três juízes para que os julgamentos possam ser realizados. Era este o número de magistrados na composição do Órgão de Apelação, mas chegou ao fim, em dezembro, o mandato de 2 dos 3 juízes. Todas as sugestões de nomes para novos juízes, que deveriam ocupar todos os 7 lugares do Órgão de Apelação, vinham sendo vetadas pelos EUA desde 2017. Como a OMC funciona pela regra de consenso de seus membros, os nomes não puderam ser aprovados por conta dos vetos estadunidenses. Como consequência, o Diretor Geral da OMC, Roberto Azevedo, teme que os países passem a tomar medidas unilaterais, tornando a OMC obsoleta.

ÍNDIA - LEI DA CIDADANIA

A Índia é o lar de diversos estrangeiros de países próximos, muitos que foram para lá para fugir de perseguição religiosa, vindos de Bangladesh, Afeganistão e Paquistão, que receberão cidadania desde que se identifiquem entre religiosos que seguem o hinduísmo, cristianismo e outras que acabam sendo minorias nesses países. O questionamento, entretanto, é se a fé pode ser considerada um requisito de cidadania, o que não deveria acontecer considerando a constituição do país. O fato se torna mais preocupante quando a religião islâmica não é incluída na lei, sendo que também sofrem perseguição sendo grupos minoritários no Paquistão e em Myanmar, por exemplo - e por isso foi considerada discriminatória. Fato é que a implementação da lei provocou diversos protestos e motivou cenas de violência contra muçulmanos em diversas cidades: muitas pessoas foram espancadas e quatro mesquitas foram queimadas em Délhi, a capital do país. O conflito é consequência da grande polarização do país, e não foi resolvido até agora.

MORTE DE MUBARAK

          Após passar várias semanas na UTI, o ex-presidente egípcio Hosni Mubarak veio a falecer no dia 25/02/2020, com 91 anos.
Mubarak governou o Egito de forma ditatorial por 30 anos, de 1981 a 2011, utilizando de um Estado de Emergência para restringir o direito dos cidadãos e impedir a ação de militantes islâmicos. Dentre seus feitos, o ex-ditador reconstruiu as relações diplomáticas com os países árabes, que foram quebradas quando Egito e Israel assinaram o acordo de paz. Além disso, Mubarack mantinha relações econômicas e políticas com os Estados Unidos e Israel, o que o fez ser odiado no Oriente Médio e sofrer alguns atentados terroristas, que ele utilizava para justificar seu governo autoritário. Enquanto esteve à frente do Estado egípcio, a situação da população não melhorou, a pobreza persistiu e seu partido foi acusado de corrupção e manipulação das eleições de 2010 no país.
Com isso, em 2011, o povo se revoltou, inspirado nas grandes manifestações que estavam ocorrendo no mundo árabe, como na Tunísia. Mubarak não acreditou que os protestos trariam resultados e os reprimiu fortemente. No entanto, ao perder grandes aliados, como os Estados Unidos, que passou a apoiar as demandas populares, o então presidente renunciou. Mais tarde, em agosto do mesmo ano, Mubarak foi preso e na época já doente, respondia pelos crimes de conspirar para matar manifestantes. Por fim, Hosni Mubarak foi absolvido de seus crimes, após o processo ser abandonado em 2014 e o Egito viveu um curto período de democracia, em 2012, com Mohamed Morsi, vencendo as eleições, porém o poder foi tomado por um militar, Abdel Fattah al-Sisi, que comanda o país até hoje.

Nenhum comentário:

Postar um comentário