Páginas

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Opinião: O descaso com a nossa Amazônia







Eram três horas da tarde e o céu de São Paulo estava escuro, mas não foi apenas a chuva que fez o dia virar noite. Uma frente fria que atingiu São Paulo somada com partículas da fumaça provenientes de incêndios florestais fez com que a capital paulista ficasse na escuridão no meio da tarde. 


Desde o fim de julho, a região amazônica no estado de Rondônia vem sofrendo com incêndios. Especialistas dizem que o clima seco é propício para as queimadas, mas há um agravante: o incêndio intencional. Nos dias 10 e 11 de agosto, fazendeiros no Sudoeste do Pará promoveram o que foi chamado de Dia do Fogo, um ato que consistiu em queimar pastos e áreas em processo de desmate para “mostrar apoio às palavras” do presidente Jair Bolsonaro, que por sua vez, anunciou em julho que não confiava nos dados divulgados sobre o desmatamento da Amazônia pelo Inpe, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, um dos órgãos de mais credibilidade do Brasil. Hoje, em 12 de agosto, Bolsonaro comentou sobre os incêndios, alegando que eles foram promovidos por ONGs para “chamar atenção” contra o governo brasileiro. 


            Você deve estar se perguntando: não há nenhum projeto que auxilie e preserve a Amazônia? Ele existe e se chama Fundo Amazônia. Gerido pelo BNDES, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, seu objetivo é captar recursos e doações junto aos países desenvolvidos para investimentos em operações de prevenção, monitoramento e combate ao desmatamento. Desde o começo, a Noruega era foi a principal doadora, seguida da Alemanha. O atrito com o governo brasileiro e os dois países começou quando foram surgiram desejos de alterar a configuração do COFA, o Comitê Orientador do Fundo Amazônia que determina as diretrizes e acompanha os resultados obtidos. O COFA é formado pelo governo federal, governos estaduais e sociedade civil. O governo Bolsonaro deseja aumentar a participação de representantes próprios; logicamente, Alemanha e Noruega se opuseram.


            As doações dos dois países europeus são condicionadas ao índice de desmatamento - ou seja, quanto menos Amazônia, menos dinheiro. Foi por isso que, na última semana de agosto, a Alemanha decidiu cortar o apoio financeiro para o Fundo Amazônia, dizendo que tem dúvidas quanto ao empenho em proteger a floresta do desmatamento e preservar o meio ambiente. Em resposta à chanceler alemã Angela Merkel, o presidente do Brasil disse “Pega essa grana e refloreste a Alemanha, tá ok?”.


            Seguindo o exemplo da Alemanha, a Noruega também cancelou repasses para o Fundo. O ministro do Clima e Meio Ambiente norueguês Ola Elvestuen afirmou que o Brasil quebrou um acordo com os dois países europeus supracitados, fazendo referência ao fato de que o Brasil suspendeu a diretoria e o comitê técnico do Fundo Amazônia sem concordância da Alemanha e da Noruega. “O que o Brasil fez mostra que eles não querem mais parar o desmatamento.", disse o ministro.


            A Amazônia queima, mas a atenção se volta para ela apenas quando chega nas capitais. Cidades em Rondônia já haviam experienciado a escuridão que os paulistas viram nesta terça-feira, mas isso não foi noticiado. O Brasil vive a maior onda de incêndios dos últimos cinco anos, com quase 72.000 focos, segundo o Instituto de Pesquisas Ambiental da Amazônia e o Inpe. O nível de queimadas é tão grande que as fumaças são visíveis pelo satélite da NASA. A Amazônia é de extrema importância para o equilíbrio e estabilidade ambiental do planeta. Apesar de voltar atrás na decisão de extinguir o Ministério do Meio Ambiente, o governo deixou a pasta ficar praticamente vazia. A decisão de se retirar do Acordo de Paris, que rege medidas de redução de emissão de gases estufas, foi também infeliz e cruel. Reservas indígenas e animais estão sofrendo e pouco se fala sobre eles. 


            A Amazônia está morrendo. E nada está sendo feito.



Referências











https://br.sputniknews.com/brasil/2019082014413370-temos-cidades-em-rondonia-cobertas-pela-fumaca-das-queimadas/






*A opinião expressa no artigo pertence à autora - e não necessariamente reflete um posicionamento institucional.

Nenhum comentário:

Postar um comentário