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sexta-feira, 10 de maio de 2019

Redes e Poder no Sistema Internacional: As fronteiras de linguagem na academia


A seção "Redes e Poder no Sistema Internacional" é produzida pelos integrantes do Grupo de Pesquisa Redes e Poder no Sistema Internacional (RPSI), que desenvolve no ano de 2018 o projeto "Redes da guerra e a guerra em rede" no UNICURITIBA, sob a orientação do professor Gustavo Glodes Blum. A seção busca compreender o debate a respeito do tema, trazendo análises e descrições de casos que permitam compreender melhor a relação na atualidade entre guerra, discurso, controle, violência institucionalizada ou não e poder. As opiniões relatadas no texto pertencem aos seus autores, e não refletem o posicionamento da instituição.

As fronteiras de linguagem na academia

Amanda Anzolin *

Nos últimos anos, a pasta da educação tem enfrentado diversos cortes, e mesmo quando tivemos investimentos maciços em universidades públicas, esses investimentos foram voltados muito mais para a estrutura que para pesquisas. 

Atualmente, o presidente Jair Bolsonaro anunciou um corte de verbas públicas às universidades e institutos federais, levando essas instituições a anunciarem que não podem garantir o funcionamento básico pelo resto do ano caso os cortes realmente aconteçam, uma vez que não teriam condições de suprir nem ao menos os gastos de luz e água sem esses repasses, sem levar em consideração os cortes em bolsas de mestrado e doutorado. Consequentemente, a já sofrida produção acadêmica brasileira agoniza. 

Não é à toa que existe uma massa populacional apoiando os cortes nas universidades. O acesso à educação nunca foi democratizado, então o que deveria ser motivo de revolta para a população, se torna uma comemoração, mesmo que reforce o fato de que a educação nunca foi uma prioridade para os governos brasileiros. 

Essa falta de acesso a educação de qualidade sempre foi um projeto de poder: as pessoas são mais fáceis de dominar quando não são ensinadas a questionar. É muito mais fácil legitimar uma relação de dominação quando esta é automaticamente aceita. 

E vale ressaltar que estamos vivendo em uma era com excesso de informações. Qualquer pessoa pode ter acesso a qualquer tipo de informação, em qualquer lugar, a qualquer momento. E numa sociedade cujo déficit educacional é imenso, esse acesso amplo a informações se torna perigoso. 

Principalmente nas redes sociais, pessoas sem qualquer capacidade ou conhecimento disseminam as mais diversas informações de forma irresponsável, sem base científica para isso. O fato de a internet ser considerada uma terra sei lei, corrobora para que essas pessoas cresçam cada vez mais, fazendo com que não seja mais raro o surgimento de verdadeiras aberrações como os movimentos anti-vacinas, ocorrendo no mundo inteiro e causando surtos de doenças que há muito haviam sido controladas ou erradicadas. 

Porém, essa situação nos mostra uma falha enquanto acadêmicos: nós não fazemos a produção de conhecimento chegar nas pessoas. Esse fato pode até ser responsabilidade de uma estrutura elitista de educação, uma vez que o conhecimento é uma relação de poder, mas é nossa responsabilidade enquanto acadêmicos – de graduandos à pós-doutores – resolver esse problema. 

Em nossa terra, onde terminar o ensino médio é uma conquista para poucos privilegiados pelos mais diversos fatores sociais, e que tem uma academia extremamente elitizada, não é surpreendente que se acredite cada vez menos na ciência e cada vez mais na corrente de Whatsapp ou no Youtuber. Como mostrar para as pessoas que as falas difíceis e os termos técnicos de cada área servem para alguma coisa? Como fazer isso sem perder qualidade acadêmica? O que nós, pesquisadores, podemos fazer para chegar novamente nessas pessoas quando o “textão” inflamado no Facebook já definiu o pensamento delas de que somos doutrinados/doutrinadores? Como abrir essas mentes para a ciência? 

Todos sabemos que a chave para a solução de qualquer problema está na educação, mas nunca teremos força para exigir mais investimento enquanto não mostrarmos para a sociedade como um todo para que servimos.


* Acadêmica do Curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Curitiba (UNICURITIBA), e pesquisadora do Grupo de Pesquisa "RPSI - Redes e Poder no Sistema Internacional".

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