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segunda-feira, 25 de março de 2019

Opinião:“I'm just a girl, what's my destiny?” Capitã Marvel: um filme que aborda o feminismo, a guerra e a segurança humana.

Brie Larson em pôster de "Capitã Marvel".

* Bruna Galani Silva


        O filme “Capitã Marvel”, lançado recentemente pela Marvel, traz em destaque uma mulher como super-heroína. Não é o primeiro filme lançado com esse contexto. “Mulher Maravilha”, de 2017, da DC Comics, e distribuído pela Warner Bros Pictures, fora o primeiro que estava em planejamento em ser realizado desde 1996. No entanto, Capitã Marvel se destaca por focar na história desta super-heroína, colocando as mulheres como protagonistas de suas próprias histórias.
       Já quando se trata de afirmação feminina, vale ressaltar a escolha fenomenal da Marvel ao garantir a presença forte e marcante de mulheres tanto na frente das câmeras (como Brie Larson, Lashana Lynch e Annette Bening), quanto nos bastidores. Além da direção de Anna, que marca a primeira vez que uma mulher assume um filme da Marvel, a trilha sonora é assinada por Pinar Tropak.
         Ao falar sobre Brie Larson, recebe destaque toda a preparação que a atriz teve para protagonizar o primeiro filme solo de uma super-heroína do MCU.  Além do condicionamento físico para as filmagens, ela se encontrou com Jeannie Marie Leavitt, que foi a primeira piloto de caça feminina da Força Aérea dos EUA (1993) e a primeira mulher a liderar uma ala de combate. A general do 57º Comando Aéreo dos EUA foi a responsável por introduzir o mundo da aeronáutica pra a futura Carol Danvers.

Brie Larson e Jeannie Marie Leavitt na Base Aérea de Nellis, Las Vegas.


         O filme “Capitã Marvel” é uma aventura ambientada num período nunca visitado antes na história do Universo Cinematográfico da Marvel, os anos 90, e, quando se trata da trilha sonora, esse é um dos pontos altos do filme. Além de conter a clássica “Come As You Are”, do Nirvana, o filme nos mostra músicas de várias bandas lideradas por mulheres, como "Just A Girl" (No Doubt), "Celebrity Skin" (Hole) e "Only Happy When It Rains" (Garbage).
      Esse protagonismo feminino presente até na trilha sonora do filme faz lembrar do movimento Riot Grrrl: um movimento punk feminista underground que teve seu auge no início da década de 1990. Esse movimento causou uma mudança real na cultura da música ao retratar temas como estupro, sexualidade, racismo e patriarcado.
          Os anos 1990 também está associado a Terceira Onda do feminismo, que teve como foco na crítica a Ideologia de Gênero. As pautas giraram em torno da legalização do aborto, equivalência no trabalho, violência contra as mulheres, e a busca pela mudança de estereótipo nos retratos da mídia e na linguagem usada para definir as mulheres.
       A produção e direção do filme abordam, de forma suave, o feminismo em diversas situações e fazem piada com as ideias ultrapassadas que o machismo estrutural esconde. Como por exemplo, o que conecta Carol com seu passado na Terra é amizade com Maria Rambeau (Lashana Lynch). São nas lembranças de Maria que vemos a sororidade estre as amigas, seja enfrentando os preconceitos como pilotas, ou no suporte para criação de sua filha, Monica Rambeau (interpretada por Akira Akbar). A esperta e criativa Monica se destaca ao representar uma nova geração de meninas que crescerão com figuras muito além das clássicas princesas da Disney.
          A primeira metade do filme é dedicada pela busca da personagem em descobrir o seu passado. Sua verdadeira história é revelada, aos poucos, por meio de flashbacks. Após descobrir quem realmente ela é, torna-se consciente do seu passado na terra bem como a origem dos seus poderes. A Capitã Marvel mostra, então, que não precisa provar nada a ninguém.
       Mar-Vell, que era originalmente personagem um masculino e que teria interesse romântico por Carol Danvers, foi mudada nas telas para uma representação feminina. Interpretada por Annette Bening, Mar-Vell é uma cientista que cria uma forma de energia, e é essa que, quando explode, acaba dando os poderes à Carol. Vale ressaltar, agora esses poderes não vieram de um homem, mas sim da criação de uma cientista!

Nas HQs como um personagem masculino, no filme, Mar-Vell (Annette Bening) é uma cientista.


       O ponto forte da personagem principal é o seu lado humano, e isso é o que nos aproxima dela. Todos erramos, nos decepcionamos, caímos, não uma, mas muitas vezes durante a vida. E a mensagem que ela nos passa é que o mais importante, não importa a situação, é encontrar forças para se levantar e tentar de novo, até conseguir.
      Uma personagem, mas, acima de tudo, uma mulher que não precisa de qualquer amparo masculino para fundamentar seu protagonismo. Uma heroína extremamente poderosa e independente, e que decide os espaços que pode (e deve) ocupar. Essa é Carol Danvers e esse é o objetivo de Capitã Marvel, fazer o público conhecer e entender quem ela é.
       Outro ponto importante retratado no filme são as consequências de uma guerra.  O conceito de Segurança Humana, desenvolvida pelo PNUD em 1994, coloca a relevância da segurança ser centrada no bem-estar do povo, assegurando sua sobrevivência para que assim possam criar sistemas políticos (sociais, ambientais, econômicos e culturais) que lhe permitam viver com dignidade tendo seus direitos respeitados.
        Encaixamos esse contexto com a civilização “Skrull”, que não têm um lugar para viver, muito menos como garantir a sua segurança comunitária, política, econômica, alimentar, da saúde, ambiental dos seus. Acabam assim espalhados por toda a galáxia. Os Skrulls podem ser os curdos, os palestinos, os sírios, os pobres e os refugiados, por exemplo.
      Por mais que muitos acusem que haja certas falhas de roteiro e direção, seu significado vai muito além; e, afinal, outros filmes de super-heróis também apresentam problemas semelhantes e até piores... Mas, nenhuma falha diminui o esplendor do que o longa representa: uma sutil, poderosa e necessária mensagem sobre a importância do feminismo, a igualdade de gênero e as consequências de uma guerra. Capitã Marvel vem para mostrar o que é ser “apenas uma garota”.


* Bruna Galani Silva aluna do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba e monitora da disciplina de Instituições Internacionais ministrado pela Profa. Dra Janiffer Zarpelon. 

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