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segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Redes e Poder no Sistema Internacional: As relações de poder na escravidão sexual infantil no Afeganistão - os Bacha Bazi


A seção "Redes e Poder no Sistema Internacional" é produzida pelos integrantes do Grupo de Pesquisa Redes e Poder no Sistema Internacional (RPSI), que desenvolve no ano de 2018 o projeto "Redes da guerra e a guerra em rede" no UNICURITIBA, sob a orientação do professor Gustavo Glodes Blum. A seção busca compreender o debate a respeito do tema, trazendo análises e descrições de casos que permitam compreender melhor a relação na atualidade entre guerra, discurso, controle, violência institucionalizada ou não e poder. As opiniões relatadas no texto pertencem aos seus autores, e não refletem o posicionamento da instituição.


As relações de poder na escravidão sexual infantil no Afeganistão
Os Bacha Bazi

Camila Duda *

A República Islâmica do Afeganistão é um Estado que possui uma emaranhada e complexa composição ética, religiosa e histórica. Entre inúmeras particularidades, está uma tradição conhecida como Bacha Bazi, a qual consiste na prática em homens adultos pagam para assistirem meninos de dez a dezoito anos travestidos de meninas dançarem e entreterem convidados. A origem da tradição não possui relato histórico, mas acredita-se que se originou em grupos tribais na região da fronteira entre Paquistão e Afeganistão, lugar aonde ainda é praticado com mais frequência.

Esta tradição secular possui práticas contestadas internacionalmente e que podem vir a ferir os direitos básicos daqueles submetidos a elas. Os meninos que realizam este tipo de performance quase sempre se encontram em situação de rua, ou foram sequestrados de suas famílias. Uma vez sobre a tutela de seu captor, o menino aprende a dançar, usar maquiagem e vestidos, tocar instrumentos e entreter cavalheiros. A partir desse momento, ele passa a ser, efetivamente, propriedade de seu senhor, que pode praticar vários tipos de transações econômicas com a vida de seu capturado: alugar, vender ou para uso próprio, entre outras atitudes.

O Afeganistão, enquanto inserido em um contexto quase constante de conflitos, se tornou um cenário perfeito para o aprofundamento e uso dessa violenta tradição como arma de guerra. A violência sexual contra crianças neste país possui diversas camadas de historia, opressão e relações de poder. Porém, muito mais do que um problema regional, as dinâmicas do conflito e as esferas de influência, bem como os mecanismos que perpetuam esses abusos, possuem um caráter internacional.

O tratamento das crianças e seu uso como objeto desafiam os princípios mais básicos de Direitos Humanos. Entretanto, em um país periférico e fortemente marcado pela instrumentalização política de algumas interpretações da religião, onde imperam os interesses das elites e das potencias internacionais, tal prática se mantém estável e por vezes crescente. O que resta a população, que não possui voz frente a um Estado controlado por governantes que protegem e tomam parte nas mais nefastas disseminações de violência infantil?. 

É necessário analisar esta situação sobre uma ótica aguçada, tendo em mente a complexidade e as fragilidades envolvidas nessa forma de violência estrutural. Não podemos deixar de lado a importância e o papel da religião enquanto principio guiador dessa sociedade, as concepções de família e as relações de poder entre homens e mulheres, todas circunstancias as quais de alguma forma possibilitaram o florescimento de uma tradição desumana.

Outro ângulo importante para o estudo dessa particularidade seria o efeito sobre as crianças inseridas nesta pratica, qual seria o real dano e as consequências enfrentadas pelas crianças afegãs.

* Camila Duda é acadêmica do curso de Relações Internacionais, e pesquisadora do Grupo de Pesquisa RPSI - Redes e Poder no Sistema Internacional.

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