Páginas

sexta-feira, 1 de junho de 2018

Opinião: A Colômbia entrou para a OTAN?





A Colômbia Entrou para a OTAN?


                                                                       Por Andrew Patrick Traumann*



Na semana passada a América Latina foi surpreendida com o anúncio da entrada da Colômbia na OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Neste artigo procuraremos abordar de forma breve as relações entre Colômbia e EUA e em seguida no que consiste  o ingresso colombiano na organização e suas principais motivações.

Desde a década de 1920 quando a Colômbia do presidente Marco Fidel Suárez  adotou a política Respice Polum (Olhar para o Norte), o país, num misto de pragmatismo e admiração pelo poderio norte-americano optou por uma relação estreita com os EUA. O Respice Polum têm suas origens logo após a separação do Panamá, quando o presidente Rafael Reyes enviou um representante para falar com os EUA a respeito em termos amigáveis. Tal gesto surpreendeu os norte-americanos que não podiam deixar de aproveitar a oportunidade de restabelecer boas relações com o país mais afetado pela independência panamenha, o que daria maior legitimidade á Construção do Canal perante a Comunidade Internacional. 

Assim, os EUA aceitaram “pedir desculpas” por seu papel no separatismo panamenho e ainda pagaram uma indenização à Colômbia no valor de 25 milhões de dólares em troca de seu reconhecimento definitivo da independência do Panamá. Desde então nenhum país sul-americano tem adotado uma política de tamanho alinhamento com os EUA como a Colômbia. Em 1950, a Colômbia foi o único país latino americano a enviar tropas para a Guerra da Coreia. Na década seguinte foi um dos articuladores da expulsão de Cuba da OEA, enquanto, por exemplo, Brasil, Argentina e México se abstiveram. Por fim, nos anos 2000, a Colômbia recebeu 7,5 bilhões de dólares em ajuda militar norte-americana e  permitiu a criação de sete bases militares daquele país em seu território, sendo o único país da América Latina a apoiar George W. Bush em sua “Guerra ao Terror”, que aliás, foi utilizada pelo então presidente Álvaro Uribe, que cunhou o termo “narcoterrorismo” para caracterizar esta guerrilha como um grupo terrorista e assim atrair a simpatia de Bush para o seu governo.

Agora, após negociações que vinham avançando desde 2013 (incluindo a cooperação colombiana numa operação contra a pirataria no Chifre da África em 2015), o presidente Juan Manuel Santos oficializou a entrada do país na OTAN, que no entanto, não será  considerado um membro pleno, mas sim um Global Partner, estando assim no mesmo nível que países não europeus como Japão, Coreia do Sul, Austrália e Nova Zelândia, e cooperando com a OTAN em nível individual. Os Global Partners não precisam enviar tropas em caso de guerra de um país membro da OTAN, nem recebem auxílio militar imediato e irrestrito, mas suas tropas recebem treinamento especial e acesso a tecnologias militar sofisticada, além de auxílio de serviços de inteligência no combate ao narcotráfico e expertise em cibersegurança.

Já as razões específicas da entrada da Colômbia estão totalmente ligadas ao já citado histórico de boas relações com Washington, sua localização geográfica e a questão da Venezuela. Como sabemos o governo de Nicolás Maduro, encontra-se isolado internacionalmente e está cada vez mais próximo de China e Rússia, especialmente após as sanções impostas pelo governo de Donald Trump. Imediatamente após a divulgação das sanções, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, anunciou uma reestruturação da dívida venezuelana enquanto o chanceler Sergei Lavrov definiu as relações Moscou-Caracas como “mutuamente benéficas”. Essa aproximação que vem se aprofundando paralelamente a crise econômica e humanitária no país vizinho é vista por Washington como uma aliança que pode se tornar estratégico-militar numa região que os EUA sempre viram como o seu quintal. 

Assim, utilizando a entrada da Colômbia na OTAN como fator de dissuasão o EUA ficam menos expostos ao criticismo internacional, enquanto a União Europeia por sua vez ao concordar com a entrada do país sul-americano, encoraja Washington a permanecer na Organização do Tratado do Atlântico Norte num período em que o desengajamento de organismos internacionais têm sido um dos pilares da política externa norte-americana.

*Andrew Patrick Traumann, Doutor em História, Cultura e Poder pela UFPR, é professor de História das Relações Internacionais e História das Relações Internacionais do Brasil no UNICURITIBA.

Nenhum comentário:

Postar um comentário