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sexta-feira, 4 de maio de 2018

Redes e Poder no Sistema Internacional: Ameaças transnacionais ou oportunidades? As mudanças climáticas e a segurança na Rússia


A seção "Redes e Poder no Sistema Internacional" é produzida pelos integrantes do Grupo de Pesquisa Redes e Poder no Sistema Internacional (RPSI), que desenvolve no ano de 2018 o projeto "Redes da guerra e a guerra em rede" no UNICURITIBA, sob a orientação do professor Gustavo Glodes Blum. A seção busca compreender o debate a respeito do tema, trazendo análises e descrições de casos que permitam compreender melhor a relação na atualidade entre guerra, discurso, controle, violência institucionalizada ou não e poder. As opiniões relatadas no texto pertencem aos seus autores, e não refletem o posicionamento da instituição.


Ameaças transnacionais ou oportunidades? As mudanças climáticas e a segurança na Rússia


Mariana Carvalho*

Desde os anos 90, as mudanças climáticas se tornaram uma pauta de grande relevância na agenda internacional por trazerem uma série de riscos à estabilidade ambiental, social e econômica dos países. As ações antrópicas - aquelas causadas pelos seres humanos - excessivas que se fortaleceram no processo de globalização, agravaram os problemas ambientais e o equilíbrio climático da Terra, . Isso fez com que o Sistema Internacional se reorganizasse para combater essa ameaça transnacional, através de ações mais integradas e complexas para restabelecer a segurança doméstica e a internacional.

Procurando dar corpo e respostas a essa preocupação de forma conjunta, os Estados produziram conferências e tratados a respeito das mudanças climáticas. Entre elas, a mais importante foi a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), criada em 1992 e que até os dias de hoje avança através de conferências, para a ampliação dos compromissos ao combate dessa preocupação transnacional. O Acordo de Paris é a conferência mais recente da UNFCCC. Realizado em 2015, alargou ainda mais o engajamento dos países, em razão da responsabilização internacional dos Estados em desenvolvimento e em menor desenvolvimento.

Os Estados, a partir da constatação da ameaça, usufruirão de uma visão mais abrangente das práticas securitárias para mitigação das mudanças climáticas. Essas medidas envolvem o trabalho da sociedade civil, dos agentes governamentais, dos agentes privados, e dos dispositivos securitários, permitindo que o desenvolvimento social e econômico possa prosseguir de forma sustentável.

Porém, em determinadas regiões do globo alguns Estados estão declarando que as mudanças climáticas não são fatores de instabilidade ambiental-econômico-social, mas que estão sendo motivadoras de desenvolvimento para seus países. É o caso da Rússia de Vladimir Putin, que afirma, por exemplo, que o aquecimento global e o derretimento das calotas de gelo no Ártico são benéficos para a exploração de recursos naturais, fonte de energia e minérios, para a construção de novas rotas de transporte na região e para fins econômicos, entre outros. 

Longe de romper com os compromissos do Acordo climático de Paris, a Rússia admite que as mudanças climáticas sejam causas inevitáveis no planeta, mas que estão de certa forma contribuindo para o progresso financeiro, já que o Ártico representa 10% do PIB russo. O aumento das temperaturas médias no país também traz benefícios à população, que segundo o presidente “não precisariam de casacos de pele”, gerando assim a melhoria da qualidade de vida.


O posicionamento do governo russo aparenta ser uma afronta as atividades realizadas frente as mudanças climáticas, já que seu ponto de vista visa os interesses internos para o progresso de seu país. Evidentemente a Rússia dispõe de uma posição geopolítica privilegiada no sistema internacional, e em razão desta sua configuração é capaz de discursar e agir de modo diferente dos demais estados. Portanto, o estado russo expressa que “o fato” que provoca uma alta instabilidade na esfera global, de fato traz desenvolvimento ao seu país, e em razão desse discurso a Rússia poderia atuar produzindo suas propensões, por ser um agente decisório enquanto gerador de poder.


* Mariana Carvalho é acadêmica do curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Curitiba (UNICURITIBA), e pesquisadora do Grupo de Pesquisa "Redes e Poder no Sistema Internacional".

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