* Bruna Barbieri
Angell era um pacifista e defendia cooperação entre os
Estados para a obtenção da paz e que a ideia de que a guerra traria o poder
político é apenas uma ilusão, sendo assim, portanto, tenta dissuadir seus
leitores de que a guerra não traria benefícios para os vitoriosos e muito menos
para os perdedores, principalmente da perspectiva econômica dos países
envolvidos. Ele então propõe que a “paz armada” não é tão ruim e que poderia
trazer certos benefícios uma vez que as potências envolvidas evitariam atacar a
outra temendo que a sua tecnologia e seu poder de destruição pudessem causar a
destruição mútua, mantendo assim um certo equilíbrio entre os países.
O grande temor de invasões por parte de inimigos fez
com que se instaurasse nas potências europeias no fim do século XIX e início do
século XX uma corrida armamentista, buscando sempre novas tecnologias e
mantendo o exército alerta em caso de ataque, impulsionando a modernização de
seus equipamentos. Esse episódio acarretou a chamada ”paz armada”, a qual foi
questionada pelos principais teóricos da época. Para Angell, entretanto, o
constante clima de tenção poderia ser benéfico na medida em que as Nações
estariam receosas em atacar seus inimigos, pois nenhum Estado começaria uma
guerra sem saber se seu potencial bélico seria mais poderoso do que o de seu
adversário, não se reservando apenas ás grandes potências, mas influenciando
até mesmo regiões onde houvessem conflitos menores.
A principal teoria defendida por ele era de que a
guerra não é economicamente viável, nem para o Estado conquistador nem para o
Estado conquistado, pois a concepção de que a conquista de novos territórios
aumentaria a riqueza dos Estados conquistadores era um teoria antiquada, e que
no sistema financeiro no qual as economias estavam inseridas a posse e o
saqueio de outros países tenderia a prejudicar a economia dos países vencidos,
tendo em vista a interdependência das economias em decorrência da difusão das
comunicações nas transações comerciais.
Para alguns a
guerra, é da natureza uma, sendo assim, seria inevitável o conflito de
interesse, o que levaria os governantes a se envolverem em disputas,
sacrificando alguns em nome do bem de toda a Nação. O estadista deve enfrentar
a guerra quando ela tiver um papel importante na realização dos interesses da
nação. Fazem ainda uma comparação com os trabalhadores, que se submetem a
trabalhos perigos apenas para enriquecer, então não haveria problema em o
governante sacrificar seus soldados para garantir o que seria melhor para o
desenvolvimento daquele Estado. Para contestar essa lógica dos defensores da
guerra como algo que vá beneficiar a economia dos Estados, Angell afirma que
devido à interdependência no mercado mundial, a segurança das riquezas de um
Estado depende de outros fatores que não o bélico. Somente a extensão do
território administrado de uma potência não implica na prosperidade dos
habitantes desse território. A extensão do território poderia inclusive
prejudicar o status de grandes potências. Ele completa dizendo que no caso de
alguns países de extensão territorial pequena e de um exército militar limitado
conseguem manter a sua economia estável mesmo depois de uma invasão militar de uma
grande potência. Muitas vezes a renda per capita de tais nações é igual ou
superior à renda das grandes potências. Porém, isso não garante a estabilidade
desses países.
Para os
defensores da cooperação entre as nações, a invasão de território implica em
prejuízo na economia do vencido, e isso não é interessante para a economia
internacional. Uma nação não aumenta sua riqueza ao expandir o seu território,
pois ao anexar um Estado o conquistador anexa também seus habitantes, esses sim
são os únicos proprietários da riqueza correspondente, e o conquistador nada
ganha. Além disso, a hegemonia no comércio internacional está ligada ao preço
de seus produtos e a qualidade que ele é ofertado no mercado; nessa perspectiva
é possível que um país arruíne outro sem precisar de um conflito.
Para manter uma
balança comercial favorável no mercado mundial o país deve importar e exportar
de forma equilibrada, se um país conquistar a economia de outro país acabará
com o seu mercado consumidor para a exportação. É seguindo essa lógica que a
maior parte dos defensores da paz mundial irá argumentar para tentar evitar um
conflito mundial, o que já era previsível na virada do século XIX para o século
XX.A ciência da política internacional surge nesse contexto com a intensão de elaborar
teorias que viabilizassem a relação entre os estados europeus de tal forma que
impossibilitasse a guerra. Os pensadores utópicos defendiam a cooperação entre
os estados, baseando-se no argumento de que a economia dos países europeus era
interdependente e, portanto, nenhuma nação deveria guerrear com outra, pois
estaria colocando em risco a sua prosperidade e soberania nacional. Já os
pensadores realistas não elaboravam teorias para evitar a guerra, apenas se
preocupavam em analisar os fatos.
Ao longo de seu
livro “A Grande Ilusão” Angell levanta a sua principal questão: que para
garantir o desenvolvimento de sua economia e manter um status de bem-estar
social na população não é preciso que os Estados entrem em guerra uns contra
outros em busca por novos territórios. A disputa por territórios, o saqueio da
economia dos conquistados assim como tomar por escravos os homens que outrora
foram livres do país conquistado pertence a um período anterior a consolidação
do Estado moderno, um período em que as economias nacionais eram independentes.
Contudo, com o
desenvolvimento das comunicações e a interação entre as economias, o
desenvolvimento econômico e social dos Estados passa a não depender mais da
expansão de suas fronteiras, a supremacia militar de um povo não garante uma
economia forte. Mesmo sendo vitoriosa a guerra não necessariamente é lucrativa
para o conquistador. A divisão do trabalho, intensificado pela disseminação da
comunicação é um dos fenômenos que pode ser observado como causador da
interdependência financeira das nações civilizadas.
Em seu terceiro
capítulo, Angell comenta sobre os axiomas, verdades universalmente aceitas e
inquestionáveis sobre o modo como o poder era atribuído à política, descritos
no capítulo anterior por Frederick Harrison. a estabilidade financeira e
industrial de cada nação, sua segurança no campo comercial, sua prosperidade e
bem-estar dependem da aptidão para defender-se contra os ataques dos outros
países, os quais estarão prontos, sempre que possível, a tentar uma agressão,
para aumentar seu poder e, portanto, o seu bem-estar e sua prosperidade, às
custas do fracos e dos vencidos, como ele mesmo coloca.
Esses axiomas são
manifestações vividas e evidentes, constituem um dos erros mais enganosos e
perigosos que se possa cometer, erro que tem em alguns dos seus aspectos, o
caráter de uma ilusão de ótica, de outros o de uma simples superstição, a qual,
além de ser profunda e universal, possui males tão graves como o de deslocar
dos seus caminhos normais um imenso caudal de energia
humana, desviando-o de tal forma que, se de tal superstição não nos conseguirmos
despojar, representará uma verdadeira ameaça a civilização. Angell
fundamenta sua opinião mediante sete proposições que abarcam o campo das
afirmativas características da política adotada na Inglaterra e na Alemanha. Essas
sete proposições podem ser resumidas em uma só: em nossos dias, a única conduta
possível para o conquistador é deixar a riqueza de um território em mãos de seus
habitantes, que são os únicos e verdadeiros proprietários da riqueza correspondente.
Norman Angell vai
contra a ideia de outros autores como Edward Carr, que a partir de estudos
empíricos os estados buscam objetivar particulares, ou seja, os estados não
buscam o bem da sociedade, ele busca os interesses particulares dos mais abastados,
riquezas e os estados são contrários a harmonia de interesses. O autor também
discute nesse capitulo o equilíbrio ou balanço de poder. A ação é fundada
na política de poder. Que se contrapõe a harmonia de interesses. Afirma que
todos os estados consideram o poder e se fundamentam nele. Angell desqualifica
o poder querendo que a sociedade internacional não se fundamente no poder, indo
contra Carr. Para ele, sem equilíbrio de poder nada funciona.
REFERÊNCIAS:
ANGELL, Norman. A grande ilusão. Brasilia: UNB, 2002.
* Bruna Barbieri: estudante do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba.
Muito bom. Até posso acrescentar... que o equilíbrio do poder possa estar justamente na harmonia da equalização entre os Estados. Buscar nessa relação aproveitar de forma otimizada a "boa troca". Assim, todos sairiam ganhando, e o resultado final seria positivo para todos os lados, uma parceria duradoura e produtiva.
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