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quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Resenha crítica do Filme "The Siege of Jadotville" sobre a Missão de Paz da ONU no Congo em 1961.

Resenha apresentada na disciplina de Instituições Internacionais, ministrada pela Profa Dra Janiffer Zarpelon, do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba. As opiniões dos autores não retratam o posicionamento da instituição. 



* Por: Bruna Galani e Fernanda Tapada

Jadotville, ou em inglês “ The Siege of Jadotville ” conta a história dos ataques sofridos pelas forças de Operações de Paz das Nações Unidas em 1961, em meio à Guerra Fria, no território do Congo, que enfrentava uma guerra civil e grandes empresários europeus mantinham e defendiam as minas de Urânio na região que havia sido privatizada pelo Presidente Lumumba.
As consequências da Guerra Fria (1947–1991) se estenderam para além dos territórios dos Estados Unidos e da então URSS; se espalharam por outras partes do mundo como forma de disputa de poder e interesses. Um desses lugares foi a África, e em especial o Congo, por conta da riqueza mineral, palco do conflito retratado no filme.
Em 1961, o Congo elegeu seu novo primeiro-ministro, que adotou uma postura protecionista em relação aos bens naturais e de exploração do seu território. Isso levou ao assassinato do governante e iniciou uma guerra civil no Congo.
Logo no início do filme, Tshombe que assume o poder da província do Congo, indica não saber o porquê da presença das Nações Unidas em seu território, já que não foram solicitadas ou aprovadas por parte do Congo. Esse primeiro momento da recepção dos soldados Irlandeses ao Congo explicita o fato de as tropas não serem bem-vindas na região que explorava a extração de Urânio das minas e enfrentava uma guerra interna no país.
A Operação Mothor, que seria para a retomada da rádio da cidade de Katanga, então dominada por rebeldes de Tshombe, resultou na morte de civis desarmados que se encontravam no local durante a ocupação das tropas das Nações Unidas que já se encontrava no local antes da chegada dos irlandeses. Este episódio foi a premissa que Tshombe precisava para justificar um ataque às tropas irlandesas posicionadas desprotegidas na clareira. General O’Brien optou por ocultar a informação do fracasso da missão da rádio de Katanga e em uma de suas falas menciona o fato da perda de credibilidade das missões de paz da ONU, a situação faria parecer que se tratava apenas de mais outra nação em guerra e não de uma tentativa de apaziguamento, como era o objetivo.
Assim, a Irlanda – neutra em relação aos interesses que estavam em disputa no respectivo país – enviou uma tropa de 150 soldados irlandeses (como parte da Força de Paz da ONU), direcionada a Jadotville e liderada pelo Comandante Patrick Quinlan (Jamie Dornan).
Colocados em uma situação crítica, a tropa ficou presa no meio das jogadas políticas de Conor Cruise O'Brien – um diplomata interpretado por Mark Strong – e os ataques do exército mercenário francês, contratado por Moïse Tshombe (Danny Sapani) – primeiro ministro da província de Katanga após o golpe de Estado no Congo.
A sequência de fatos relacionados aos acontecimentos no Congo geram uma tensão global quando os Estados Unidos passam a questionar o secretário geral das Nações Unidas por não haver enviado as tropas antes do início da guerra civil, quando ainda havia paz para se manter no local dos conflitos, quando o então presidente Lumumba solicitou os reforços para ajudar a manter uma situação mais próximo de amena o possível.
Os soldados irlandeses lutaram bravamente por 6 dias e só se renderam quando a munição se esgotou, sendo feitos de reféns e liberados um tempo depois. Mesmo resistindo o máximo que conseguiram, eles voltaram para casa como os “patetas de Jadotville”; “os covardes que se renderam ao inimigo”, uma vez que a ONU omitiu a verdadeira história, por ser o mais conveniente para a Organização.
Foi apenas em 2005 que os veteranos da batalha foram admitidos como heróis de guerra na Irlanda; foram condecorados com medalhas e receberam um monumento na cidade de Athlone como homenagem.
No âmbito das Relações internacionais, o filme faz questionar como eram as Missões de Paz da ONU; observa-se que a Organização Internacional não escapou dos interesses políticos da Guerra Fria.
A Organização das Nações Unidas foi criada com o objetivo de assegurar e promover a paz mundial e as Missões de Paz são a face mais visível da atuação da ONU para esse fim. Por conta dos problemas que ocorreram durante a Guerra Fria, como a ineficácia da operação no Congo, que é retratada no filme, e as alegações de que as Missões de Paz eram utilizadas para uma “imposição” da paz e da democracia, hoje tem-se a Segunda Geração das Missões de Paz.
Na Primeira Geração havia apenas o Peacemaking (busca pela restauração da paz por meios pacíficos, utilizando-se normalmente ações diplomáticas neste contexto) e o Peacekeeping (manutenção da paz). Na Segunda Geração foi adicionado o Peacebuilding, que envolve uma série de medidas voltadas para a redução do risco de retomada do conflito a partir do fortalecimento das capacidades nacionais; construção de mecanismos e estruturas; um processo complexo e de longo prazo.
 Além do Peacebuilding, surge oficialmente em 2001 o princípio da Responsabilidade de Proteger (R2P). Ele conecta a soberania estatal à capacidade de manutenção dos direitos humanos em seu território; caso o Estado não o conseguisse manter, uma intervenção militar se tornaria legítima e tal intervenção deveria seguir os princípios da Carta da ONU. Ou seja, não seria mais necessário o consentimento de todas as partes envolvida como era antes.
Ao longo do filme é possível observar algumas premissas inerentes às Operações de Paz das Nações Unidas, como o não uso da força contra civis, que quando ocorrido O’Brien tenta esconder na certeza da descredibilização da organização frente à sociedade internacional, e também pela equipe de Quinlan, que estando sob ataque utilizou-se da força para auto-proteção, bem como a autonomia exercida pelo comandante da tropa ao negociar com o mercenário no campo de batalha, alegando que tinha autoridade suficiente para aceitar “cessar fogo” e rendição.
O ato de ocultação dos fatos cometido por O’Brien trata-se de uma violação dos padrões de execução das operações de paz, visto que toda e qualquer ação deve ser reportada quão imediatamente possível.

A operação no Congo fracassou, mas deu impulso para uma melhora na concepção das Missões de Paz. “The Siege of Jadotville” não é só para quem gosta de filmes de guerra, vai além da ação desenfreada: conta a verdadeira história dos irlandeses que foram chamados de covardes aos olhos do mundo e fornece um bom exemplo para se observar a evolução das missões de paz da ONU.

REFERÊNCIAS

* Por: Bruna Galani e Fernanda Tapada: estudantes do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba.

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