A seção "Por onde anda" entrevista egressos do Curso de Relações Internacionais do UNICURITIBA sobre experiências acadêmicas, profissionais e de vida concretizadas após o término do curso e é coordenada pela Prof. Michele Hastreiter e pelo Prof. Andrew Traumann.
Nome Completo: Hugo
Freitas Peres
Ano de ingresso no
curso de Relações Internacionais: 2006
Ano de conclusão do
curso de Relações Internacionais: 2009
Ocupação atual:
Diplomata
Blog Internacionalize-se: Conte-nos um
pouco de sua trajetória profissional após a formatura no curso de Relações
Internacionais.
Hugo: Após formar-me no curso de
Relações Internacionais, iniciei meus estudos para o concurso de admissão à
carreira diplomática. Foram dois anos de estudos até a aprovação. Uma vez
aprovado, estudei por mais um ano e meio no Instituto Rio Branco. Nesse
período, tive a oportunidade de trabalhar temporariamente (é uma espécie de
estágio, em que os alunos do IRBr passam meio período do dia trabalhando em
unidades do Itamaraty para conhecê-las melhor) nas áreas administrativa e protocolar.
Posteriormente, fui lotado na Divisão da Ásia Meridional, que acompanha
assuntos relacionados aos países daquela região do mundo, quais sejam,
Bangladesh, Butão, Índia, Maldivas, Nepal e Sri Lanka. Também assumi a
encarregatura de negócios da embaixada do Brasil em Cartum, no Sudão, por
período de dois meses, e participei de curso para diplomatas oferecido pelo
Ministério dos Negócios Externos da Índia, em Nova Délhi.
Blog Internacionalize-se: Como você decidiu seguir a carreira
diplomática?
Hugo: Decidi seguir a carreira de
diplomata no último ano da faculdade. Havia pensado nisso antes, mas não estava
disposto a fazer os sacrifícios que essa escolha implicaria. Ao longo do curso,
decepcionei-me um pouco com as oportunidades existentes para um bacharel em
Relações Internacionais no setor privado, ainda mais na cidade de Curitiba.
Hoje, acredito que o curso já seja mais bem aceito. Além disso, vendo outros
colegas meus, muito bem empregados na área privada, acho que eu é que não soube
procurar direito. De todo modo, buscava algo que tivesse forte conteúdo
acadêmico, e identifiquei na diplomacia uma profissão que valoriza o
conhecimento acadêmico, mas que não se atém à análise, possibilitando também
influenciar em decisões de política externa.
Blog Internacionalize-se: Como foi o
período de preparação para o concurso do Instituto Rio Branco? Depois de quanto
tempo de estudo veio sua aprovação?
Hugo: A preparação para o
concurso requer bastantes sacrifícios. É muito assunto para estudar e muita
gente boa competindo. Adotei uma rotina de estudos castrense, que seguia
inclusive em finais de semana e feriados.
Sentia-me um pouco inseguro por estar estudando em Curitiba, enquanto a
maioria das aprovações ocorria em Brasília, no Rio de Janeiro e em São Paulo. No
entanto, com a disponibilidade de cursos a distância e levando em consideração
que nada substitui o estudo sozinho, acho que não há desvantagem nenhuma em
estudar fora daquelas capitais. A
aprovação veio depois de dois anos.
Blog Internacionalize-se: O que mudou na
sua vida após o ingresso no Instituto Rio Branco?
Hugo: Acho que o ingresso no IRBr marcou a superação da
fase universitária (ou de desempregado mesmo, dependendo do ponto de vista), apesar
de continuar estudando. No âmbito pessoal, as responsabilidades e preocupações
eram outras. Intelectualmente, mudei bastante também. É uma experiência muito
interessante presenciar como uma burocracia estatal funciona na prática, e como
ideias abstratas são aplicadas no dia a dia.
Blog
Internacionalize-se: Como é o dia a dia na diplomacia?
Hugo: O dia a dia na diplomacia varia muito com a área e o
local de atuação. Eu (e acho que quase todos meus colegas) não sabia muito bem
o que um diplomata fazia quando passei no concurso. Mas o que torna a carreira
diplomática tão interessante, em minha opinião, é a possibilidade de atuar em
diversas áreas e funções. Uma coisa é trabalhar em uma “divisão geográfica”,
que trata precipuamente de questões políticas relacionadas a países específicos.
Nesse caso, passa-se muito tempo na frente do computador, lendo e redigindo
comunicações telegráficas, informativos e discursos. Outra coisa é trabalhar em
uma área temática, que acompanha temas como direitos humanos, meio ambiente,
segurança internacional etc. Nesse caso, também se passa muito tempo na frente
do computador, mas há forte participação em eventos e conferências
internacionais. Já o trabalho administrativo é muito diferente: o diplomata
deve preocupar-se com a gestão dos recursos do Itamaraty, tentando adequar as
prioridades da política externa às capacidades e ao orçamento disponíveis. Fora
da Secretaria de Estado, em Brasília, há outras possibilidades de atuação, que
também variam bastante, em função de ser em consulados, embaixadas ou missões
em organismos internacionais.
Blog Internacionalize-se: Quais são as
atividades que você realiza ou já realizou no MRE?
Hugo: Como mencionado, estagiei
nas áreas administrativa e protocolar do Ministério. Foram experiências muito
enriquecedoras, que me propiciaram perceber como questões administrativas podem
influenciar a política externa e familiarizar-me com os procedimentos que os
Estados usam para comunicar-se entre si. Atualmente, trabalho na Divisão da
Ásia Meridional, que acompanha as relações políticas do Brasil com os países
daquela região. Gosto muito do que faço, pois tenho a oportunidade de aprender
muito sobre uma região do mundo em franco desenvolvimento econômico e crescente
projeção internacional. Além disso, posso trabalhar pelo fortalecimento de
nossas relações com aqueles países, o que se refletiria em benefícios
econômicos e políticos ao Brasil. Tive outras experiências profissionais
interessantes. Fiz cursos em Nova Délhi e em Macau, além de ter servido como
encarregado de negócios em Cartum, no Sudão. Neste último caso, além de ter
tido a oportunidade de conhecer um país muito interessante, aprendi como
funcionam os diferentes setores de uma embaixada. Não foi um trabalho fácil:
como havia poucos funcionários no posto, sobrava muito trabalho para mim.
Cheguei a passar finais de semana na embaixada. A cidade também tem muitas
restrições, há que se adaptar. Mas gostei muito da experiência.
Blog Internacionalize-se: Qual foi a experiência mais desafiadora que
já teve profissionalmente?
Hugo: Pouco tempo depois de
entrar no Itamaraty, Brasília sediou uma cúpula do Mercosul. Fui selecionado
para trabalhar na área de transportes, com recepção e despedida de autoridades.
É um trabalho muito tenso, em que cronogramas mudam o tempo todo, há muitos
detalhes com que se preocupar e qualquer erro gera efeitos diretos para chefes
de estado e chanceleres. Acho que em três dias trabalhei umas 60 horas. Nunca
tinha estado sob tanta pressão em toda minha vida. No final das contas deu tudo
certo, e situações estressantes tornaram-se histórias engraçadas.
Blog Internacionalize-se: Quais as aptidões
e conhecimentos desenvolvidos no curso de Relações Internacionais que mais o
ajudam no seu dia a dia?
Hugo: Todas as matérias estudadas
guardam alguma relação com meu campo de atuação. Acho que o aproveitamento do
que estudei no curso, tendo como parâmetro meu dia a dia no trabalho, é
bastante satisfatório. Uma coisa de que na época da faculdade não gostava
muito, mas cuja importância reconheço hoje, eram os trabalhos expositivos.
Aqueles trabalhos que temos de preparar e apresentar aos colegas, no final das
contas, ajudam muito na vida profissional, pois constantemente precisamos falar
em público e explicar assuntos a outras pessoas. Se posso me permitir dar um
conselho a meus futuros colegas internacionalistas, é que tirem proveito desse
tipo de atividade.
Blog Internacionalize-se: Qual a lembrança
mais marcante do período de faculdade?
Hugo: Acredito que a faculdade é, para todos nós, um
período de amadurecimento, tanto intelectual quanto pessoal. Não me recordo de
um momento específico mais ilustrativo, mas, olhando em retrospectiva,
identifico esse processo de amadurecimento como a experiência mais marcante do
período. Tornei-me mais politizado e preocupado com acontecimentos nacionais e
internacionais, com ideias e discursos políticos.
Blog Internacionalize-se: Qual conselho
deixaria para os nossos alunos que estão em dúvida sobre que rumo tomar após a
faculdade?
Hugo: Quando chegarem ao último
ano de faculdade, aconselharia a começar a pensar no que se quer fazer da vida.
É um momento muito difícil para todos, porque em geral não sabemos que caminho
desejamos seguir, as cobranças começam e as oportunidades nem sempre aparecem.
Ainda assim, acho que é possível identificar aquilo que gostamos e o que não
gostamos de fazer, traçar planos e definir metas. Quando a faculdade termina, é
muito importante já termos um plano a seguir e levá-lo adiante, porque é nessa
fase da vida que praticamente definimos o que faremos pelo resto de nossa vida
profissional. É claro que sempre podemos fazer mudanças, mas o custo pessoal e
profissional disso tende a ser mais alto.
Blog Internacionalize-se: Você daria alguma
dica específica para quem quer se tornar diplomata?
Hugo: Quanto antes identificar o
interesse em seguir a carreira diplomática, melhor. E quando se decidir pela
carreira, mãos à obra: há muito que ler e estudar, isso consome muito tempo,
então é bom começar a estudar desde cedo, principalmente aqueles temas que
exigem mais tempo de leitura, como história do Brasil e história da política
externa brasileira. A prova do concurso é cheia de peculiaridades, de modo que
é importante entender com ela funciona e o que os avaliadores esperam do
candidato. Cursinhos e bons professores ajudam, mas não fazem milagre. Nada
substituirá o esforço pessoal. Acho que o curso de Relações Internacionais
propicia embasamento muito bom ao candidato. Aliás, parece-me que a proporção
de internacionalistas nas turmas recentes do Instituto Rio Branco vem
aumentando. Logo, um bom aproveitamento do curso ajudará bastante na
preparação.
Ótima entrevista com o Hugo. Homem inteligente e amadurecido pelos estudos e experiências profissionais, Hugo se mostra um diplomata refinado com enorme talento no trato com as palavras. Foi meu aluno e orientando; um dos mais brilhantes que tive a honra de orientar. Foi muito prazeroso reencontrá-lo aqui nas páginas do Internacionalize-se.
ResponderExcluirParabenizo os colegas Michele e Andrew pela iniciativa do "Por Onde Anda" - com certeza teremos grandes exemplos como o do Hugo para auxiliar futuros alunos a se decidirem pelo curso e os atuais a direcionarem suas carreiras!!!
ResponderExcluir