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sexta-feira, 15 de julho de 2016

Redes e Poder no Sistema Internacional: Hooliganismo e futebol na Eurocopa 2016


A seção Redes e Poder no Sistema Internacional é produzida por integrantes do Grupo de Pesquisa “Redes e Poder no Sistema Internacional”, que desenvolve no ano de 2016 o projeto “Controle, governamentalidade e conflitos em novas territorialidades” no UNICURITIBA, sob a orientação do professor Gustavo Glodes Blum. A seção busca promover o debate a respeito do tema, trazendo análises e descrições de casos que permitam compreender melhor a inter-relação entre redes e poder no SI. As opiniões relatadas no texto pertencem aos seus autores, e não refletem o posicionamento da instituição.


Engajamento e debate na era do Facebook



Erlon Murilo Madeira*



Em junho deste mês teve início a décima quinta Eurocopa. O campeonato reuniu países tradicionais no futebol como Inglaterra, Espanha, Itália e também algumas surpresas que chegaram longe na competição como Hungria e Islândia. A seleção campeã foi Portugal, mas o apoio que toda as equipes receberam durante o campeonato, transformaram o evento em algo a ser admirado e acompanhado pelo mundo todo.

Infelizmente, houve casos que roubaram a cena por alguns dias. Diversas brigas entre hooligans de diferentes países aconteceram pelas ruas das cidades sede. Estes torcedores, conhecidos por arranjarem brigas e causarem tumultos nos países e cidades que recebem jogos, têm sido uma constante no futebol europeu, sobretudo no apoio às suas seleções nacionais. Ingleses, russos, italianos e húngaros foram destacados pela truculência e maior incidência de participação nas arruaças que envolviam arremessos de cadeiras e assustaram aqueles que imaginavam que um continente com países tão desenvolvidos, não tivessem problemas de violência relacionada ao futebol. 

Ao analizar-se o comportamento desses grupos fica mais fácil entender os acontecimentos que mancharam a Eurocopa. Há ocorrência de brigas hooligans em diversos países europeus, e já haviam históricos de confrontos entre torcedores de clubes vindo dos mais diversos países europeus. Porém, nesta Eurocopa, os casos foram mais destacados e com maior relevância que em outros campeonatos realizados anteriormente.

Muito se fala a respeito de uma ligação entre o hooliganismo e as crises econômicas, e é possível que esta relação tenha surgido neste ano. Enquanto em seus países de origem esses torcedores enfrentam os problemas causados pela quebra financeira ocidental desde 2008, alguns deles se dedicaram à torcida e práticas de violência ou xenofobia dentro destas torcidas.

Em seus países de origem, eles enfrentam uma dificuldade econômica muito grande representada pelo preço dos ingressos dos campeonatos nacionais. Em países como a Inglaterra, uma das saídas para evitar cenas como o Massacre de Heysel, em 1985, no qual mais de 30 pessoas foram mortas e mais de 600 ficaram feridas em um confronto entre as equipes do Liverpool e da Juventus, na final da Liga dos Campeões da Europa.

O aumento na segurança e no preço dos ingressos revelam que as federações nacionais e os próprios países viram no aumento da dificuldade de acesso a estes jogos uma forma de evitar casos desta natureza. Porém, eles continuam a acontecer, mesmo que reprimidos pelo lado institucionalizado do futebol.

Isso representa uma das leituras que podemos fazer a respeito das relações entre o Estado e os seus subordinados. Como afirma Claude Raffestin em seu livro "Por uma geografia do poder", é possível afirmar que existem pelo menos duas facetas do poder: uma voltada à análise do Estado, e outra voltada para outras questões de poder. O Poder, com letra maiúscula, institucionalizado, se basearia nas capacidades do Estado de comandar seu território e sua população. O poder, com letra minúscula, se revelaria como as capacidades de ação e nas diversas relações possíveis de poder. 

De uma certa forma, pode-se afirmar que, com o aprofundamento da crise, os hooligans demonstram uma volta deste poder, com letra minúscula, às relações com os Estados. Fica claro a grande influência que os brigões tiveram na imagem da Eurocopa, sendo estes algumas vezes mais citados nos jornais que os próprios jogos. A ação de grupos que agem cada um em seu país mas tem histórico de atritos, fugiu de controle do Poder estatal.

* Erlon Murilo Madeira é acadêmico do curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Curitiba (UNICURITIBA), e membro do Grupo de Pesquisa "Redes e Poder no Sistema Internacional".

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