*Paula Belotto André
A Carta, de Belatrix Mundusnovus.
Caros concidadãos marcianos,
Posta
a inegável indispensabilidade de realizar um registro inicial da enorme
descoberta feita pelo excelentíssimo grupo de exploradores galácticos, venho
por meio desta carta informar-lhes sobre o planeta azul que encontra-se em
terceiro grau de proximidade ao sol, o qual batizamos de Barbarium.
Assim
como imaginávamos, a biodiversidade e a multiplicidade de seres vivos que habitam
o planeta é assombrosa. Entretanto, acreditávamos que encontraríamos uma
natureza intacta, infelizmente, nos deparamos com um gigantesco nível de áreas
depredadas, muitas das florestas que nossas pesquisas científicas haviam
previsto foram substituídas por construções arcaicas e de aparência muito
desgostosa, além disso, a água, que pensávamos deter as tonalidades do azul ou
verde, encontra-se majoritariamente tingida de um tom muito estranho, tendo
como habitantes animais aquáticos e também dejetos e objetos estranhos, não
sendo possível identificar qual sua utilidade neste ambiente, todavia, acredita-se
firmemente que os oceanos não estariam sendo usados como depósito de lixo, pois
nenhum ser vivo seria tão estúpido de o fazê-lo.
Seguindo
as pesquisas dos teóricos Afrus e Indigenus sobre habitantes galácticos, o
planeta Barbarium teria uma espécie de ser vivo detentora de nível médio/alto
de racionalidade: os autointitulados “seres humanos”. Tendo em vista o contato
empírico adquirido durante a jornada ao planeta aqui discutido, tais teorias
tornam-se ultrapassadas, os Egocentricóides, nome atribuído após o contato e
profunda investigação da espécie, seriam, na realidade, detentores do nível
dois de racionalidade, segundo o medidor de Racionalidad Superioris (zero
à dez).
à dez).
Tais
seres organizam-se ainda de forma muito primitiva. Primeiramente, os
supracitados organismos vivos complexos ainda utilizam-se da classificação de
gênero, considerando os órgão genitais como definidores de seu papel social e
de um comportamento padrão pré-estabelecido. Além disso, muitos desses seres
consideram que o local que habitam, a língua que utilizam para comunicar-se e a
aparência estética os tornam superiores aos demais, não compreendendo que todos
fazem parte da mesma espécie, fato que nos surpreendeu muito, despertando até
mesmo pena por tamanha ignorância.
Maior
choque veio quando descobrimos que os Egocentricóides detém uma orientação
predatória para com os outros seres de sua espécie, diversos exemplos podem ser
utilizados: escravizam uns aos outros para a produção de roupas, máquinas,
eletrônicos e demais objetos, sendo tais artefatos, posteriormente, adquiridos,
guardados e descartados, em um ciclo desenfreado e patológico; proíbem seus
cobarbariuns de adentrar certas áreas, pois acreditam que a divisão
político-jurídica de território é mais importante do que uma livre circulação
de seres, muitas vezes, utilizando-se da força e da violência física e moral
para inferiorizar pessoas que habitam outros espaços limitados por linhas
imaginárias; apesar de um alto nível de produtividade alimentar e da grande
possibilidade oferecida por seus recursos naturais, deixam que muitos seres
desfaleçam por falta de alimento, água e outros fatores indispensáveis para a
sobrevivência.
Entretanto,
nada nos desestabilizou e surpreendeu tanto quanto descobrir que tais seres
ainda utilizam-se da guerra para solucionar problemas e divergências, tendo os
Egocentricóides enorme dificuldade para realizar uma real comunicação uns com
os outros, desconfiamos que esses seres detenham sérias falhas no aparelha
auditivo. Com o fim de dirimir disputas são utilizadas máquinas e aparatos que
causam enorme destruição e, pasmem, acabam com a vida dos próprios habitantes
de Barbarium, sim, este povo desenvolveu máquinas que causam sua própria
destruição, ainda estamos tentando investigar quais seriam os fatores causais
para este comportamento doentio.
Finalmente,
além de aterradoras descobertas que destroem as teorias sobre a avançada
racionalidade dos habitantes do planeta azul, descobriu-se que tal povo não
preza por sua reprodução e nem pela permanência da espécie no planeta, tendo em
vista que não direcionam suas ações de forma compatível com a possibilidade de
existência de gerações futuras, poluindo seus recursos, evitando a comunicação
efetiva, criando delimitações jurídicas e políticas prejudiciais ao seu próprio
desenvolvimento, produzindo artefatos desnecessários, e, mais do que isso,
determinando a finitude da vida de seus cobarbariuns. Em nossas últimas
pesquisas descobrimos que tal comportamento gira em torno de um conceito ainda
estranho pra nós: chamam-no de poder.
* Paula Belotto André é graduanda do 7° período curso de Relações Internacionais do Unicuritiba.
** FONTE da imagem: Latuff
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