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quarta-feira, 17 de outubro de 2012

A Europa segundo o Reino Unido



Foto: o ministro britânico para a Europa, David Lidington, e a diretora do Utrikespolistika Institutet, Anna Jardfelt, em Estocolmo no dia 02 de outubro de 2012. Fonte: arquivo pessoal.

Por Gabriela Prado 

Em tempos de crise do euro e crise na União Europeia (UE), os contrastes dentro do continente europeu ficam mais visíveis — vide post anterior, sobre a pesquisa Transatlantic Trends 2012, publicado em 03 de outubro — e a ambiguidade do projeto europeu de integrar e respeitar as individualidades ao mesmo tempo fica praticamente palpável. Não se trata aqui de acrescentar uma voz ao coro que prega o fim da UE — até porque como já vimos a maior parte dos europeus de fato acredita no projeto (segundo a Transatlantic Trends 2012, 61% acham que a UE foi positiva para seus países), mas de observar de perto as expectativas para o futuro.

No dia 02 de outubro o ministro britânico para a Europa, David Lidington, esteve no Instituto de Política Externa sueco (Ui) para falar sobre como o Reino Unido vê a Europa. Durante mais de uma hora o ministro falou e respondeu à perguntas sobre os desafios à frente para a UE, o compromisso que o Reino Unido pretende — ou não — assumir e sobre algumas similaridades entre as políticas britânica e sueca em relação à UE. E deixou bem claro: o Reino Unido quer participar ativamente da UE, desde que o bloco respeite as diferenças e particularidades de cada Estado-membro. Participar sim, mas com autonomia.

Os três principais desafios levantados pelo ministro foram: competitividade, comprometer-se a olhar para fora e ter responsabilidade democrática. Segundo Lidington, a Europa vai precisar ser mais competitiva frente às economias emergentes da América Latina e ao gigante chinês se quiser manter o status e os benefícios sociais que tem hoje, por exemplo. Ainda que o mercado comum tenha sido um excelente passo nessa direção, existem poucos avanços em áreas estratégicas como um mercado comum no âmbito digital e energético, setores-chave para melhorar a competitividade do bloco. É preciso também tornar as regras mais “business-friendly” - leia-se flexibilização - e investir em acordos ambiciosos de livre comércio com países-chave, como o acordo com a Coreia do Sul que entrou provisoriamente em vigor em 2011.

Pensando ainda na expansão das relações para fora do que hoje é o bloco europeu, Lindinton foi claro ao defender a inclusão dos países a leste dos Bálcãs e da Turquia — desde que, claro, cumpram com as condições necessárias para a entrada no bloco. É curioso que haja uma defesa tão categórica dessa ampliação em um momento de crise como esse (resultada parcialmente de uma integração muito rápida e pouco monitorada de economias tão diferentes), mas compreensível sob a luz da necessidade de maior dinamismo a determinadas áreas da economia europeia.

No que diz respeito à responsabilidade democrática, o governo britânico considera que a UE precisa aprender a lidar com as demandas democráticas dos países: usar ou não o euro, fazer ou não parte do espaço Shengen e por aí vai. Não é surpresa que essa seja uma demanda do Reino Unido que, por motivos próprios, não participa nem do espaço Shengen e nem adotou o euro. A Europa precisa, assim, “respeitar a diversidade” ao tratar de como os países vão se integrar, e será necessário para isso uma nova arquitetura da UE – diferente desta que está sendo moldada desde os anos 50.

A questão sobre a “nova arquitetura” da Europa, assim, é absolutamente central para a Europa em geral e para o Reino Unido em especial, que quer fazer parte mas não quer abrir mão de sua identidade e autonomia (não era essa uma das condições dos tais blocos econômicos?). O governo britânico busca uma forma de “estar na Europa mas sem ser governado por ela”, o que resume a percepção e objetivo britânicos para o continente. Num âmbito em que as nuances são fundamentais, como declarou a ex-secretária sueca para a Europa, a declaração acima não deixa dúvidas sobre a direção que o Reino Unido defende para a UE. Ficamos esperando os próximos capítulos.


Gabriela Prado é internacionalista formada pelo Unicuritiba em 2009 e concluiu em 2012 o MSc International Business Negotiation pela École Supérieure du Commerce de Rennes. Atualmente mora em Estocolmo e é membro do Utrikespolitiska Institutet (Swedish Institute of International Affairs). 

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