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domingo, 10 de junho de 2012

Primeira Guerra Mundial Africana: análise sobre os interesses dos atores externos





Gisele Passaúra

A segunda guerra congolesa é considerada como a primeira guerra mundial africana, justamente pelo fato de ter envolvido um número considerável de países africanos, na sequência analisar-se-ão os principais interesses e justificativas que levaram cada um desses países a entrar no conflito.

 

Ruanda


O relacionamento entre Ruanda e o presidente da República Democrática do Congo (Kabila), construído durante a primeira guerra foi aos poucos se deteriorando. Kabila à vista de Ruanda e Uganda era incapaz de conduzir uma política coerente no que concernia o comércio, o que impedia a estabilização da economia. Ruanda também percebia Kabila como incapaz de promover um consenso nacional, uma vez que excluía todos os oponentes de participação política.

Kabila, entretanto, não apenas falhou em conseguir suprir os temores ruandês e ugandês, como ainda se afastou dos dois países rumando ao direcionamento mais nacionalista, tentando desenvolver a república Democrática do Congo. Para tanto, em seu primeiro ano de liderança, por exemplo, promoveu uma aproximação das étnicas em detrimento dos Tutsis. Para aprofundar a situação, Kabila queria diminuir a influência dos ruandeses que haviam permanecido em território congolês.

No que tange à segurança, Kabila era visto como inábil ao não prevenir extremistas Hutus e guerrilhas Ugandesas de um eventual ataque a Ruanda. De fato, Ruanda entrou na guerra após diversos assassinatos de Tutsis na capital congolesa. Os massacres em Ruanda e as mortes na capital congolesa foram responsáveis por uma aproximação dos Tutsis em Ruanda, Congo, Burundi e Uganda, pois se percebiam ameaçados como etnia em um conflito entre distintos interesses.

Concernente aos interesses econômicos, Ruanda ainda percebia a possibilidade de conseguir obter o controle dos recursos naturais congoleses e se tornar autossuficiente especialmente na mineração.

Uganda


A justificativa ugandesa para a entrada no conflito foi que havia um acordo anterior feito entre Uganda e Kabila concernente à segurança e de acordo com a percepção ugandesa fora quebrado, pois Kabila malogrou conter assassinatos promovidos pelo grupo guerrilheiro ADF. Em Setembro de 1998, o presidente da Uganda Museveni revelou que controlava os principais aeroportos do leste congolês para exigir garantias do Congo de que Sudão e seu movimento de guerrilha não os utilizariam para promover ataques à Uganda.

Entretanto, as reais intensões de Uganda eram mais profundas, especialmente no que concerniam assegurar influências políticas e comerciais no nordeste congolês onde já possuía vários acordos comerciais que garantiam grandes montantes direcionados à Uganda e o governo ugandês não estaria disposto a perder esses contatos comerciais favoráveis.

Burundi


As tensões entre Hutus e Tutsis também aconteciam em Burundi assim como em Ruanda, as disparidades econômicas entre as duas etnias era dissonante. O genocídio que aconteceu em alguns meses em Ruanda, continuou por anos no Burundi, logo pode-se perceber as semelhanças entre as percepções dos dois países. Congo, era visto como um apoiador dos interahamwe em território congolês.

Como resultado, Tutsis dos três países (Ruanda, Congo e Burundi) colocaram suas diferenças de lado e juntaram forças, pois se percebiam ameaçados pelos Hutus em território congolês.

Zimbábue


Zimbábue foi o primeiro país a responder ao pedido de ajuda do presidente Kabila, quando a rebelião conquistava sucessivas vitórias. Os interesses de Zimbábue eram em primeira instância, de ordem econômica. Em especial no setor de mineração, pois em troca de sua participação na guerra exigiu uma compensação financeira imediata ou se o dinheiro não estivesse disponível aceitaria concessões ou transferências diretas de recursos naturais.
Zimbábue também pretendia criar uma distração para os próprios problemas internos ao copilar esforços ante um objetivo comum.

Sudão


O principal motivo da entrada do Sudão no movimento é que Sudão acusava Uganda de apoiar o movimento de guerrilha no sul de seu país, chamado de Sudanese People’s Liberation Army (SPLA).

Sudão se tornou um participante indireto no conflito de duas maneiras: ao apoiar o governo de Kabila contra a coalizão Ruanda-Uganda e financiando o movimento de guerrilha Ugandês anti-Museveni, composto pelo Allied Democratic Forces (ADF), West Nile Bank Front e Lord’s resistance Army (LRA).

Angola


Angola já havia participado na primeira guerra apoiando a rebelião de Kabila. A segunda guerra, entretanto, é justificada pelo desejo de impedir o UNITA de ganhar vantagens estratégicas no contexto da guerra civil congolesa e que isso pudesse influenciar sua própria guerra civil (angolana).

A motivação tinha fundamento, pois o UNITA possuindo patrocínio de Mobutu estabeleceu bases no Congo antes da tomada de poder por Kabila. Durante o governo de Kabila, a organização fora dispersa, entretanto, havia o temor por parte de Angola que o grupo tirasse proveito do caos promovido pela guerra civil e retomasse sua rede de financiamento. Angola também estava consciente de que UNITA possuía fortes laços com os antigos membros da FAZ de Mobutu.

Namíbia


O envolvimento da Namíbia no conflito só pode ser explicado em termos do relacionamento entre seu presidente (Sam Nujoma), o presidente de Zimbábue (Robert Mugabe) e Kabila. A amizade entre Nujoma e Mubage teve início quando ambos combatiam pela liberdade contra a minoria branca que governava em seus países. Já Nujoma e Kabila pertenciam anteriormente, a grupos informais de discussão marxista quando estavam no exílio na década de 1960. Após ter tomado o poder, Kabila beneficiou seus amigos com acordos comerciais favoráveis, com Nujoma formou um companhia de diamantes.

Os custos de guerra para a Namíbia foram modestos e refletem mais o engajamento simbólico do que expressão de algum real interesse na guerra.
Como percebido, a sobreposição de percepções individuais assim como necessidades e interesses foram distintos e por isso devem ser analisados de maneira individual em cada peça desse xadrez internacional.


Gisele Passaura é acadêmica do 8º semestre do Curso de Relações Internacionais do UniCuritiba.


REFERÊNCIAS


Congo at War. A Briefing on the internal and external players in the Central African conflict. International Crisis Group Report n°2, Nov. 1998, p. 1.
DAGNE, T. The Democratic Republic of Congo: background and current developments, Report for American Congress, 2011.
PRENDERGAST, J; SMOCK, J. Putting humpty dumpty together: reconstructing peace in Congo. Special report from United Institute of Peace. 1999.
VEHNAMAKI, M. Diamonds and warlords: the geography of war in the democratic republic of Congo and Sierra Leone. Nordic Journal of African Studies.
WEINSTEIN, J. M. Africa’s scramble for africa. World policy journal. 2000.
The agreement on a cease-fire in the Democratic Republic of Congo. International Crisis Group Democratic Republic of Congo Report N° 5, 1999.

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