Gisele
Passaúra
A segunda guerra congolesa é considerada como a primeira
guerra mundial africana, justamente pelo fato de ter envolvido um número
considerável de países africanos, na sequência analisar-se-ão os principais
interesses e justificativas que levaram cada um desses países a entrar no
conflito.
Ruanda
O relacionamento entre Ruanda e o presidente da República
Democrática do Congo (Kabila), construído durante a primeira guerra foi aos
poucos se deteriorando. Kabila à vista de Ruanda e Uganda era incapaz de
conduzir uma política coerente no que concernia o comércio, o que impedia a
estabilização da economia. Ruanda também percebia Kabila como incapaz de
promover um consenso nacional, uma vez que excluía todos os oponentes de
participação política.
Kabila, entretanto, não apenas falhou em conseguir suprir os
temores ruandês e ugandês, como ainda se afastou dos dois países rumando ao
direcionamento mais nacionalista, tentando desenvolver a república Democrática
do Congo. Para tanto, em seu primeiro ano de liderança, por exemplo, promoveu
uma aproximação das étnicas em detrimento dos Tutsis. Para aprofundar a
situação, Kabila queria diminuir a influência dos ruandeses que haviam
permanecido em território congolês.
No que tange à segurança, Kabila era visto como inábil ao
não prevenir extremistas Hutus e guerrilhas Ugandesas de um eventual ataque a
Ruanda. De fato, Ruanda entrou na guerra após diversos assassinatos de Tutsis
na capital congolesa. Os massacres em Ruanda e as mortes na capital congolesa
foram responsáveis por uma aproximação dos Tutsis em Ruanda, Congo, Burundi e
Uganda, pois se percebiam ameaçados como etnia em um conflito entre distintos
interesses.
Concernente aos interesses econômicos, Ruanda ainda percebia
a possibilidade de conseguir obter o controle dos recursos naturais congoleses
e se tornar autossuficiente especialmente na mineração.
Uganda
A justificativa ugandesa para a entrada no conflito foi que
havia um acordo anterior feito entre Uganda e Kabila concernente à segurança e
de acordo com a percepção ugandesa fora quebrado, pois Kabila malogrou conter
assassinatos promovidos pelo grupo guerrilheiro ADF. Em Setembro de 1998, o
presidente da Uganda Museveni revelou que controlava os principais aeroportos
do leste congolês para exigir garantias do Congo de que Sudão e seu movimento
de guerrilha não os utilizariam para promover ataques à Uganda.
Entretanto, as reais intensões de Uganda eram mais profundas,
especialmente no que concerniam assegurar influências políticas e comerciais no
nordeste congolês onde já possuía vários acordos comerciais que garantiam
grandes montantes direcionados à Uganda e o governo ugandês não estaria
disposto a perder esses contatos comerciais favoráveis.
Burundi
As tensões entre Hutus e Tutsis também aconteciam em Burundi
assim como em Ruanda, as disparidades econômicas entre as duas etnias era
dissonante. O genocídio que aconteceu em alguns meses em Ruanda, continuou por
anos no Burundi, logo pode-se perceber as semelhanças entre as percepções dos
dois países. Congo, era visto como um apoiador dos interahamwe em território congolês.
Como resultado, Tutsis dos três países (Ruanda, Congo e
Burundi) colocaram suas diferenças de lado e juntaram forças, pois se percebiam
ameaçados pelos Hutus em território congolês.
Zimbábue
Zimbábue foi o primeiro país a responder ao pedido de ajuda
do presidente Kabila, quando a rebelião conquistava sucessivas vitórias. Os
interesses de Zimbábue eram em primeira instância, de ordem econômica. Em
especial no setor de mineração, pois em troca de sua participação na guerra
exigiu uma compensação financeira imediata ou se o dinheiro não estivesse
disponível aceitaria concessões ou transferências diretas de recursos naturais.
Zimbábue também pretendia criar uma distração para os próprios
problemas internos ao copilar esforços ante um objetivo comum.
Sudão
O principal motivo da entrada do Sudão no movimento é que
Sudão acusava Uganda de apoiar o movimento de guerrilha no sul de seu país,
chamado de Sudanese People’s Liberation
Army (SPLA).
Sudão se tornou um participante indireto no conflito de duas
maneiras: ao apoiar o governo de Kabila contra a coalizão Ruanda-Uganda e
financiando o movimento de guerrilha Ugandês anti-Museveni, composto pelo Allied Democratic Forces (ADF), West Nile Bank Front e Lord’s resistance Army (LRA).
Angola
Angola já havia participado na primeira guerra apoiando a
rebelião de Kabila. A segunda guerra, entretanto, é justificada pelo desejo de
impedir o UNITA de ganhar vantagens estratégicas no contexto da guerra civil
congolesa e que isso pudesse influenciar sua própria guerra civil (angolana).
A motivação tinha fundamento, pois o UNITA possuindo
patrocínio de Mobutu estabeleceu bases no Congo antes da tomada de poder por
Kabila. Durante o governo de Kabila, a organização fora dispersa, entretanto,
havia o temor por parte de Angola que o grupo tirasse proveito do caos
promovido pela guerra civil e retomasse sua rede de financiamento. Angola
também estava consciente de que UNITA possuía fortes laços com os antigos
membros da FAZ de Mobutu.
Namíbia
O envolvimento da Namíbia no conflito só pode ser explicado
em termos do relacionamento entre seu presidente (Sam Nujoma), o presidente de
Zimbábue (Robert Mugabe) e Kabila. A amizade entre Nujoma e Mubage teve início
quando ambos combatiam pela liberdade contra a minoria branca que governava em
seus países. Já Nujoma e Kabila pertenciam anteriormente, a grupos informais de
discussão marxista quando estavam no exílio na década de 1960. Após ter tomado
o poder, Kabila beneficiou seus amigos com acordos comerciais favoráveis, com
Nujoma formou um companhia de diamantes.
Os custos de guerra para a Namíbia foram modestos e refletem
mais o engajamento simbólico do que expressão de algum real interesse na
guerra.
Como percebido, a sobreposição de percepções individuais
assim como necessidades e interesses foram distintos e por isso devem ser
analisados de maneira individual em cada peça desse xadrez internacional.
Gisele Passaura é acadêmica do 8º semestre
do Curso de Relações Internacionais do UniCuritiba.
REFERÊNCIAS
Congo
at War. A Briefing on the internal and external players in the Central African
conflict. International Crisis Group
Report n°2, Nov. 1998, p. 1.
DAGNE,
T. The Democratic Republic of Congo:
background and current developments, Report for American Congress, 2011.
PRENDERGAST, J; SMOCK, J. Putting
humpty dumpty together: reconstructing peace in Congo. Special report from
United Institute of Peace. 1999.
VEHNAMAKI, M. Diamonds and warlords: the geography of war in the
democratic republic of Congo and Sierra Leone. Nordic Journal of African Studies.
WEINSTEIN, J. M. Africa’s scramble for africa. World policy journal. 2000.
The agreement on a cease-fire in the
Democratic Republic of Congo. International Crisis Group Democratic
Republic of Congo Report N° 5, 1999.
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