Afundamento do Cruzador General Belgrano em 2 de maio de 1982 por forças britânicas: o navio pertencera aos EUA (como USS Phoenix) e havia escapado aos ataques japoneses à Pearl Harbour na II Guerra Mundial sendo repassado aos argentinos em 1951.
Por Andrew Patrick Traumann*
Na semana em que a Guerra das Malvinas completa trinta anos,o tema tem voltado à pauta dos fóruns internacionais,não pela efeméride,mas por seguidas manifestações do governo de Cristina Kirchner acerca da reivindicação da soberania argentina sobre as ilhas. Há um viés ideológico anticolonialista nessa visão a partir do momento em que um dos argumentos utilizados é que o fato de um país possuir uma base militar a mais de doze mil quilometros de distância de sua capital se configura inaceitável no século XXI. O governo argentino apresentou uma queixa formal á ONU e sanções às empresas britânicas que exploram petróleo e gás na região. Aliás, este componente econômico acirrou ainda mais as posições dos dois oponentes desde que o petróleo foi descoberto no litoral das ilhas Malvinas na década de 1990.
Se a Argentina considera a posse das ilhas como um objetivo “permanente e irrenunciável” de sua política externa,a posição britânica é de aceitar eventuais projetos de cooperação com mas de que a discusão sobre a soberania das ilhas é algo fora de questão. Do mesmo modo os 2748 habitantes das ilhas chamados kelpers se consideram britânicos “há nove gerações”, se comunicam exclusivamente em inglês e rechaçam totalmente qualquer tentativa de domínio sul-americano.
Apesar de existirem discussões intermináveis sobre quem teria chegado primeiro ás ilhas (os argentinos argumentam que foi Fernão de Magalhães a serviço da Espanha em 1520 e os britânicos de que foi John Strong em 1690),o fato é que a instabilidade política causada pelo processo de independência da América Latina no século XVIII abriu uma brecha para novos conflitos quando os espanhóis que ocupavam as Malvinas desde 1767,as abandonaram com a independência argentina em 1816. Os argentinos se sentiram os legítimos herdeiros daquele terrítorio mas acabaram expulsos por uma fragata britânica em 1833.
Mais de cem anos depois o general Leopoldo Galtieri chega ao poder na Argentina após um acordo com a Marinha no qual prometia “resolver a questão” das Malvinas em troca de apoio. E em 2 de abril de 1982 a Argentina invade as Malvinas expulsando o diminuto contingente militar britanico que lá se encontrava numa tentativa de unir o país em torno de uma causa popular e salvar um regime moribundo,afundado numa crise econômica e em acusações de violações dos direitos humanos.
A Argentina,porém cometeu alguns erros primários na execução de seu plano: primeiro não se preparou adequadamente para uma ocupação. Após algum tempo faltavam mantimentos aos soldados. Além disso equipamentos pesados como helicópeteros e blindados foram deixados no continente. E por fim a Argentina subestimou a capacidade de reação britânica (não se acreditava que a Grã-Bretanha pudesse atravessar o oceano por causa das ilhas) e o mais inacreditável : ignorando laços históricos e culturais que unem Grã-Bretanha e EUA os argentinos acreditavam que os EUA não interfiririam no conflito,permancendo neutros ou até alinhados a Argentina devido aos acordos de defesa mútua da OEA (Organização dos Estados Americanos). Os norte-americanos não só apoiaram ostensivamente o governo de Margaret Thatcher como passavam aos britânicos informações sobre as posições militares argentinas facilitando e muito a vitória britânica em pouco mais de dois meses.
A posição oficial do Brasil no conflito foi neutralidade,apesar de uma inclinação ás posições argentinas. O então chanceler Saraiva Guerreiro reiteradamente lembrava que o Brasil apoiava à reivindicação argentina às ilhas desde 1833,e que isso não mudaria. Apesar de fazer o tradicional apelo ao fim das hostilidades e pela negociação entre as partes,o Brasil agiu tanto na OEA,costurando uma resolução que ordenava aos países-membros que não colaborassem com a Grã-Bretanha quanto fornecendo armamentos aos argentinos como aviões de patrulha EMB-111, mísseis balísticos e caças Xavantes.
Os militares brasileiros buscavam consolidar uma tendência de dentro das Forças Armadas que consistia numa renovação de concepções e orientações doutrinárias e uma aproximação com os países sul-americanos: a conduta diplomática brasileira solidária à Argentina e dirigida à busca de uma solução pacífica do conflito nas Malvinas, ajudou a dissipar antigos receios, esvaziar uma rivalidade histórica e contribuiu decisivamente para incrementar as relações Brasil e Argentina durante os governos civis da década de 1980. O alinhamento do Brasil a favor de uma causa nacional Argentina, mesmo que tímido, criou sólidos vínculos que influenciaram diretamente os acordos de integração regional assinados posteriormente.
* Andrew Patrick Traumann é professor de História das Relações Internacionais do UNICURITIBA e doutorando em História,Cultura e Poder pela UFPR.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirA névoa da guerra parece que está voltando, ou são apenas restos de fumaça que ainda sobrevoam sobre os céus argentinos. Ou podemos dizer que é um pesadelo que perturba as noites de sono de Cristina Kirchner. Sendo assim ou não é uma inocência por parte de suas estratégias e de seus assuntos políticos e externos. Querer reaver uma ilhota perdida anteriormente por forças militares estrangeiras superiores às suas, é sem dúvida querer mergulhar seu país em um caos, ou até mesmo a região das Américas. Pois bem sabe que não terá apoio algum por parte de seus vizinhos e até mesmo por aqueles estados de expressão significativa da comunidade internacional. Estas atitudes defensivas de angariação de forças políticas e apoios tanto na América Latina como em âmbito internacional, adotadas pela presidenta da Argentina, é um pouco estranha, em se tratando de países democráticos, parece uma onda de chavismo que assola a região. Eu entendo que é um retrocesso aos processos de manutenção da estabilidade política e de paz na região. E que estas disputas sejam elas com interesse pelo petróleo das Ilhas Malvinas e ou pela honra do povo e da pátria Argentina, simplesmente não é do gosto da comunidade internacional e nem tampouco da ONU. Esta reivindicação com relação à soberania das Ilhas Malvinas já foi protocolada junto a ONU, pelo governo argentino. E cá entre nós já meio que sabemos qual será a solução do conselho de segurança da ONU, para esta reivindicatória.
ResponderExcluir